– Bom, eu... Tudo isso realmente aconteceu?

– Sim. Talvez eu tenha dado um tom literário, até porque me empolguei um pouco ao contar todas essas coisas... antigas.

– Quanto tempo se passou? Uns dez, onze anos? - Então a datilógrafa se calou, achando que estava sendo perguntadeira demais para alguém que era pago apenas para escrever.

– Acho que tempo suficiente para falar e sentir apenas saudades. - Ele olhou longamente para as mãos cobertas de feias cicatrizes. As pontas de vários dedos estavam faltando e era óbvio que isso o incapacitava de digitar por conta própria a história. A datilógrafa ajeitou os óculos finos na ponte do nariz, disfarçando a inevitável má impressão causada pelas mãos desfiguradas. Repentinamente o rosto ainda moço do narrador pareceu envelhecido e cansado. Ele suspirou e sorriu brevemente para a moça sentada diante de um notebook.

– Bom, é melhor continuarmos.