Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 4
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Oi :) Então, antes de mais nada a gente queria agradecer a todos os reviews recebidos até agora. Ficamos felizes com a recepção de vocês, especialmente porque essa fanfic não tem exatamente como gênero o romance.
É claro que nenhuma de nós resiste a casais, mas o ponto é que a gente acha importante, desde agora, pedir paciência. Perguntaram sobre Romione e a respeito deles vocês terão que ter mais paciência ainda haha.
No inicio da história o foco em Hermione é fraco e dizemos isso justamente pra não gerar expectativas. São muitos personagens principais, mas o carro chefe é Harry/Gina, então... Bom, achamos que, por enquanto, isso é tudo o/
Ah sim! Sobre regularidade de posts: A ideia era postar diariamente, mas infelizmente isso não será possível. Os capítulos são razoavelmente extensos e nós, infelizmente, temos outras obrigações.
Mas estaremos nos esforçando pra postar com agilidade :)



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A euforia por ter matado alguém - e por conta própria! - como nos velhos tempos, estava se dissipando demasiadamente rápido. Não seria prudente sujar as mãos mais uma vez só pelo prazer da atividade, embora a ideia fosse tentadora. Ele andava com uma calma que não sentia, de um lado para o outro, apreciando parcialmente a vista do enorme chafariz, alem de algumas luzes de seu cassino.

Ficara fora do jogo por tempo demais e agora precisava controlar os próprios impulsos para não ser novamente imprudente. Retornara ao poder, ao seu lugar por direito e nada nem ninguém o faria se submeter outra vez a um exílio forçado.

Sorriu ao pensar nisso e se permitiu sentar na poltrona pessoal. Ignorou a pequena mancha de sangue no estofado, proveniente do homem que se atrevera a utilizar seu lugar anteriormente e observou a tela imensa de TV a frente, programada no modo mudo. Mostrava algumas de suas câmeras de segurança, mas Voldemort estava sentindo-se entediado demais para ver seus homens enganando clientes ou suas prostitutas em vídeos íntimos ao vivo.

Olhou para o relógio de pulso e colocou no canal que passaria a noticia da morte de Tom Riddle com exclusividade dali a instantes.

Aquilo sim teria o poder de entretê-lo.

Estava contando com isso desde que matara o pai. Na verdade, executara a morte imaginando como a imprensa lidaria com aquilo e como ele se divertiria por todo reboliço que causara. Esticando o sorriso o máximo que podia naquele rosto deformado por cirurgias, ele aumentou o volume e aguardou.

A chamada para o jornal nunca soara tão melodramática e sensacionalista.
Separaram um quadro inteirinho para o mistério da morte de Tom Riddle – houve um monologo lamurioso da governanta que o fez se arrepender de não ter dado cabo à vida dela também - antes de finalmente rodarem a entrevista com os responsáveis pelo caso.

Ele inclinou o corpo para frente quando o rosto muito velho de seu maior inimigo encheu a tela.

– O tempo não lhe fez bem afinal de contas, Dumbledore. – Comentou e riu sozinho, quase desejando ter um saco de pipoca de cinema para acompanhar aquele momento.

O comandante se mostrava reservado e cauteloso, como era desde os tempos de patrulha. Voldemort o conhecia desde essa época: O homem que não se corrompia. Sentiu a raiva lhe tomar o corpo de forma súbita e precisou de força para não quebrar a televisão.

Ele o liquidaria com as próprias mãos no tempo certo.

– Afortunadamente, conto com uma equipe de profissionais competentes que estarão trabalhando com eficácia para que o caso seja encerrado. – Foram as ultimas palavras dele, antes de uma pequena entrevista com dois policiais que pareceram a Voldemort tremendos boçais: Dino Thomas e Simas Finnigan;

Houve também um tal de detetive Weasley – o sobrenome lhe pareceu vagamente familiar – que embora fosse mais convincente do que os outros dois, não era lá grande coisa.

Se aqueles eram os homens de Dumbledore, seu critério havia baixado muito ao longo dos anos ou ele estava simplesmente caducando.

Mas então chamaram o investigador principal do caso e ele voltou a sentir a euforia florescer no momento em que o nome apareceu na tela. Harry James Potter.

Obviamente podia ser qualquer Potter, mas ele sentiu, no instante em que bateu os olhos no homem de rosto duro, que a vida estava fazendo as honras e lhe facilitando o caminho. Quando uma brisa ou qualquer coisa do tipo varreu para longe da testa o cabelo do detetive, mostrando-lhe a cicatriz, Voldemort gargalhou de prazer.

Pela primeira vez sentiu que poderia passar por tudo de novo só para poder chegar àquele instante. Analisando o rosto congelado de Harry, ele se levantou e se aproximou como se estivesse diante do homem real.

E acendeu um charuto cubano em homenagem ao detetive e aos seus curtos, turbulentos e últimos dias de vida.

Sentia a testa pegajosa de suor, a garganta estava tão seca quanto à de um peregrino perdido no Saara. Tateou em busca dos óculos, mas as mãos não estavam firmes como gostaria, por isso, ao invés de segurar os óculos, os derrubou no chão, junto ao radio relógio e terceiro abajur que comprara aquele mês.

Odiava quando isso acontecia. Quando os rostos dos pais mortos nas fotos dos arquivos se misturavam aos gritos de sua mãe e com as imagens das outras vítimas de Voldemort, aliados a sensação de perder o que nunca chegou a conhecer direito. Ele sabia que fisicamente era muito parecido com o pai, embora tivesse os olhos da mãe, o que não era consolo algum.

Seus pais nunca veriam o homem que ele se tornara. O policial forte, honesto e bom no que fazia. A não ser que que ele cogitasse as ideias existencialistas sobre vida após a morte e outras tantas questões das quais ele nutria tremenda apatia e preguiça.

Para Harry, era difícil acreditar em conceitos como céu e paraíso, quando o trabalho dele era prender pessoas e empilhar corpos no necrotério. Se existisse divindade ou algum plano superior, não existiria injustiça. Ele não seria sozinho, ele não teria vivido uma infância medíocre com uma família mais medíocre ainda, vivendo de sobras.

Ronald sempre dizia que não existiria justiça se não houvesse a injustiça, Harry achava que isso era besteira filosófica. Possivelmente era por isso - por serem diferentes, mas conseguirem rir juntos ainda assim - que se davam bem.

– Veja o que eu achei nos arquivos que sua fonte amiguinha mandou. – Ron disse contrariado, assim que Harry entrou em sua sala. – Quer dizer, fonte anônima.

– Melhor assim. – Harry falou, estendendo o copo de café quente e sendo o policial, não o bebê dos pesadelos. Isso significava: colocando qualquer vestígio de pesar para trás. – Manda.

– Tom Riddle não era tão solitário assim quanto imaginávamos. – Ronald falou, lendo um pedaço do enorme Dossiê de Malfoy – Na idade de dezenove anos, fugiu com uma moça que morava na vila praticamente pertencente a sua família e casou-se com ela. Dizem por aí, que ele casou-se com ela porque ela estava grávida, mas quando voltou para casa estava sem a moça e ninguém nunca soube dizer sobre a mulher e a criança.

– Parece que Tom Riddle não era nenhum santo. – Harry observou, tirando o aparelho das mãos de Ron. – O que mais você achou?

– Nada relevante. Parece que o seu amiguinho loiro estava obtendo sucesso em comprar tudo e qualquer coisa que o velho defunto possuía e que em no máximo dois anos ele já teria perdido tudo. – Ron falou, girando na cadeira. – Mas ele sabia manter as aparências como ninguém. Poucas pessoas sabiam de seu vício em apostas.

– Ok, agora podemos investigar cassinos, casas de jogos e qualquer porão sujo em Tottenham. – Harry falou. – Mas como vamos descobrir a ex-mulher de Riddle, e com sorte o filho?

– Pedindo “por favor”. – Uma voz feminina e sedutora ecoou na pequena saleta que Ron chamava de sala.

– Gina, achei que já tínhamos falado sobre a sua mania de escutar as conversas alheias. – Ronald falou, cruzando os braços. – Acho que sua mão não cairia se você simplesmente batesse antes de entrar.

– Eu gosto de me fazer presente, maninho. – Ela disse, desfilando até a mesa do irmão e sorrindo para Harry. – Eu vim aqui negociar informações.

– Não estamos interessados. – Harry falou, e Gina girou os olhos.

– Vocês nem ouviram minha proposta, e nem sabem que informações eu tenho. – Gina sorriu, passando as mãos nos cabelos ruivos. – Garanto que tenho mais informações que vocês, tanto sobre Tom Riddle quanto Voldemort, e com certeza tenho mais facilidade em desenterrar assuntos.

– Ótimo, nunca é tarde para se alistar na academia de polícia. – Harry, sorrindo com um quê de deboche, cruzou os braços. – Quando você estiver em posse de um distintivo, quem sabe possamos tomar um café e discutir assuntos oficiais. Até lá, você é a irmãzinha jornalista pentelha do meu parceiro não autorizada a se meter no meu caso.

– Au. – Ron disse, não conseguindo segurar o riso.

– Tudo bem, Harry Potter, o menino que sobreviveu. – Ela continuava sorrindo, diante ao olhar confuso no rosto de um detetive durão. – Em menos de vinte e quatro horas você estará implorando por qualquer tipo de informação que eu tenha, mas felizmente eu não sou de guardar rancor.

– Se eu fosse a senhorita, não contaria muito com isso.

– A boa notícia, é que eu não sou de contar muito com as coisas, Potter. – Ela falou, piscando o olho direito. – Eu me considero mais uma pessoa de ação, sabe? Quando vocês estiverem procurando por respostas, sabem onde me achar.

Ele até tentou, mas não conseguiu deixar de assistir a ruiva irritante caminhar até a porta. Naquele dia, ela usava um par de botas de salto agulha e calças justas acompanhadas por uma camisa social de botões. Também não pôde deixar de notar que os cabelos ruivos bem alaranjados estavam soltos dessa vez, a cor contrastava com os belos olhos castanhos e fazia com que eles parecessem mais brilhantes. As sardas no seu rosto davam um ar de inocência que Harry sabia que ela não tinha.

Era realmente uma pena que ela fosse tão irritante.

– Cara, se você não parar de olhar desse jeito para a minha irmã, o próximo assassinato a ser investigado será o seu. – Ron falou, rabugento. – Agora que tal uma visita à pequena vila dos Riddle?

– Excelente plano. – Harry sacudiu a cabeça e pegou as chaves do carro.

Não se passavam nem das dez da manhã e Neville já sentia a respiração quente dela em sua nuca. Era irritante como ela sempre o pressionava por informações e, impaciente, não o deixava trabalhar; mas a verdade era que não existia alguém que ele admirava mais que Gina, não só profissionalmente como pessoalmente: ela nunca desistia até alcançar seus objetivos – e geralmente alcançava – e nunca se deixava abalar. Era uma fortaleza a prova de balas.

– Eu nunca vou conseguir me concentrar se eu continuar sentindo o seu bafo de café na minha nuca. – Neville reclamou pela terceira vez. – Além de ser complicado e ilegal, invadir sistemas leva tempo.

– Nem deve ser tão complicado assim. – Ela disse, andando de um lado ao outro. – Só tem que digitar umas coisas, aí ler uns códigos e pronto.

– Você é muito bem-vinda a tentar. – Ele girou os olhos, e ela apenas cruzou os braços e bateu o pé no chão, em sinal de clara inquietação. – Foi o que eu pensei. Agora me diz, porque eu estou pesquisando dados de orfanatos de há, no mínimo, cinquenta anos?

– É uma pista do assassinato de Tom Riddle. – Gina falou, sentando-se na mesa ao lado de Neville. – Se eu conseguir essa pista, quer dizer, se conseguirmos essa pista vamos ajudar na investigação do assassinato, e, portanto, vamos ajudar a prender Voldemort.

– Então você é parte da equipe agora? – Neville ergueu a sobrancelha.

– Ainda não. – Gina sorriu, e ele acenou negativamente com a cabeça – O que foi?

– Me arrasta para a criminalidade, mas quer se juntar a polícia. – Neville falou, sem tirar os olhos da tela do computador.

– Vamos apenas dizer que temos interesses em comum. – Gina piscou para Neville que apenas riu.

Foram interrompidos por uma batida baixinha na porta. Neville apavorou-se de imediato e quase fechou todas as janelas de suas pesquisas, porém, por pouco, lembrou-se de apenas abrir um arquivo em seu desktop que coincidentemente era uma foto de um detetive ao qual andara investigando para Gina.

– Luna, você me assustou. – Gina falou, sorrindo.

– Deve ser toda essa cafeína no seu sangue. – Ela fez uma careta para a xícara de café de Gina. – Você deveria tentar substancias purificantes, não poluidoras. Posso te trazer mais algumas ervas para o chá, se você quiser.

– Lu, você já conhece Neville, certo? – Gina a ignorou, girando os olhos e mudando de assunto. – Estamos trabalhando.

– Ér, hey... Oi Luna. – Neville acenou, voltando a encarar o computador para que ninguém notasse seu rosto em chamas.

– Olá, Neville. – Luna disse serenamente com um sorriso e depois voltou a encarar Gina. – Eu só vim deixar os convites da amostra cultural de hoje, a qual você prometeu que iria. Será a estréia da minha exposição. Você pode vir também, Neville.

– Hoje? – Gina pensou em reclamar e inventar uma desculpa, mas Luna continuava a encará-la.

– Sim, hoje à noite. – Ela confirmou, segurando a bolsa carteiro azul claro em frente ao vestido laranja. – Espero os dois lá.

Enquanto Neville sentia uma fisgada no coração, Gina sentia um principio de dor de cabeça. Tinha trabalho a fazer, mas não podia decepcionar a amiga.

– Está bem. - A jornalista cedeu, descontente.

– Agora preciso ir. Temos outra manifestação em frente à sede da Corporação Malfoy. Estou certa de que em algum momento ele cederá.

– Ah, claro que vai. – Gina sorriu, tentando evitar girar os olhos mais uma vez.

– Hey, eu conheço aquele cara. – Luna disse apontando para a tela do computador de Neville. – Ele é policial.

– Conhece? – Gina perguntou surpresa.

– Sim, ele tem olhos verdes bonitos. Muito bonitos. – Ela falou, lembrando-se da conversa que tivera com ele no dia anterior. – Muito educado, mas vive em perigo.

– Educado, ham? Acho que estamos falando de outra pessoa. – Gina riu, fazendo careta.

– Não, não. Tenho certeza que era ele. – Luna disse séria. – Estava saindo ontem do Calabouço Malfoy.

– Ele estava saindo do prédio do Malfoy? – Ela perguntou quase que retoricamente.

– Sim. – Luna confirmou. – Preciso voltar para o meu protesto agora, tchau.

Gina a assistiu ir embora, pensativa.

Luna sempre oscilava de um assunto a outro e costumava devanear sem aviso prévio, por isso algumas pessoas a tachavam como louca de pedra – e até a chamavam de Luna Lunática – e outras como ‘alguém sob o efeito de drogas ilegais’.

Mas quem a conhecia de verdade, como Gina – que era sua amiga desde o primário – sabia que julgá-la apenas por não se encaixar em padrões, por sua aparência hippie e seu jeito distraído era um erro. Sendo assim, duvidar da palavra de Luna não apenas era sem sentido como era uma perda de tempo.

O que tinha que saber na verdade era o que Harry queria com Malfoy no dia do assassinato de Tom Riddle.

– Ele é suspeito. – Neville pareceu ler os pensamentos de Gina. – Ou o nosso amigo detetive tem uma fonte de dados bem poderosa.

– E pouco ortodoxa. – Gina completou. – Para qualquer uma das opções, devemos estar preparados.

– E vamos estar, já... – Neville falou, sendo interrompido pelo bip da impressora. – Aqui estão, as listas de crianças que deram entrada nos orfanatos das redondezas de Little Hangleton, de Londres e dos condados próximos, há cinquenta anos. Já excluídas as crianças do sexo feminino e crianças com idade superior a dois anos.

– Você é um gênio, sabia? – Gina deu um beijo na bochecha de Neville.

– É o que dizem. – Ele encolheu os ombros, corado. – Agora, para quê queríamos isso mesmo?

– É só um chute, mas eu acho que é uma boa pista. – Gina sorriu para as folhas. – Se tudo der certo, talvez a gente descubra um filho perdido de Tom Riddle.

– Eu já passei da fase em que ousava desconfiar da sua intuição. – Neville comentou soltando um suspiro cansado. – Você vai me por para espionar meu chefe, não vai? – Perguntou com uma cara sofrida, referindo-se a Malfoy. Não tinha nenhuma consideração pessoal pelo homem; Malfoy fazia o perfil de cara que se houvesse o encontrado em épocas escolares, teria praticado bullying contra ele. Mas como isso não acontecera, a relação deles se mostrava bastante cordial. Malfoy apreciava o cérebro de Longbottom para máquinas e informática do mesmo modo que Longbottom apreciava o salário que entrava em sua conta todo maravilho dia 1º do mês. E era por ela que estava sentindo-se triste antecipadamente.

– Não agora. – Gina o tranqüilizou.

– Ok, então eu vou indo. – Ele se levantou da cadeira, estalando os dedos. Gina se precipitou para abrir a porta.

– Nev... Isso que você está fazendo... – Ele meneou a cabeça, mas ela insistiu mesmo assim – Obrigada.

Neville pensou no colegial. Em todas às vezes que aquela garota o defendera, em como ela se esforçava para exaltar seus pontos fortes quando ele mesmo não os enxergava, em como se tornara sua melhor amiga. Depois recordou de como ela precisara dele quando perdera um dos irmãos. Em como convertera sua força em muralha, permitindo apenas que poucas pessoas continuassem próximas de verdade...

E se lembrou que poucos dias depois, ainda em luto por Fred, ela guardou a própria dor e o consolou pela morte da avó, sua única parente viva e em como essa sucessão próxima de desastres os unificou como irmãos.

– Você sabe que não precisa me agradecer. – Respondeu por fim.

Gina sorriu e ele dirigiu-se para o corredor.

– Ah, Longbottom! – Ele se virou – Só mais uma coisinha: eu nunca vou perdoar você se não for à exposição de Luna. – Aquilo era uma baita mentira, mas Gina vira como ele olhara para a amiga e se sentira totalmente idiota por nunca ter pensado em juntar sua melhor amiga do ensino fundamental com o melhor amigo do ensino médio.

Neville ficou púrpura e Gina prendeu o riso.

– Você pegou o convite, não pegou? – Ela insistiu e ele concordou rapidamente com a cabeça, indicando o papel dentro do bolso da camisa xadrez. – Ótimo! – E esperou estar dentro da própria sala de estar novamente para sorrir e pensar nos amigos.

O evento começava as 20. Faltando três minutos para o horário indicado, Gina ainda estava às voltas do hall procurando o maldito brinco que havia caído. Acabara de soltar um palavrão excepcionalmente criativo quando a campainha tocou, fazendo-a soltar outro de seus xingamentos preferidos.

Espiou o olho mágico e quase não acreditou em quem via. Deixou-se desperdiçar um minuto inteiro observando o detetive trocar o peso do corpo de um pé para o outro, claramente desconfortável. Gina se divertiu com a cena até notar a hora em que ele decidiu ir embora, então abriu a porta.

– Ora, ora. – Gina abriu um sorriso torto, inclinando o pescoço ligeiramente para o lado.

Harry precisou prender um suspiro.

Fazia muito tempo que deixara de fantasiar com mulheres como Ginevra Weasley, mas parecia impossível controlar a sensação quase adolescente que o invadia toda vez que a via. Porque raios ela precisava parecer mais bonita a cada maldita vez que se encontravam?

– Senhorita Weasley. – As palavras saíram com esforço e Harry pressionava o maxilar a cada pequena pausa. Gina continuou encarando-o em cima dos seus saltos impecáveis que quase permitiam que os rostos ficassem nivelados. – Eu vim...

– Se desculpar? Pedir minha ajuda? Implorar? – Ela completou por ele, deixando-o ainda mais tenso.

Gina descobriu que adorava deixá-lo naquele estado.

Não esperou por resposta:

– Eu adoraria poder ajudá-lo Harry Potter, mas estou atrasada para um evento. – Ela olhou para o chão e finalmente encontrou o filho perdido. Abaixou-se para apanhar e Harry precisou de um esforço sobrenatural para não encarar o decote que se acentuava daquele ângulo. Levantando-se com extrema elegância para quem usava um vestido justo e sapatos que poderiam ser usados até como arma de crime, ela sorriu, tomada por uma súbita ideia. Ela olhou para o corredor, em busca do irmão. – Cadê a sua sombra, aquela que certamente foi a responsável por lhe dar o meu endereço?

– Rony está com Lilá. – Harry sentiu a garganta arranhar. Aquela jornalista estava, literalmente, fazendo-o ficar sem fôlego.

Gina girou os olhos bonitos.

– Aquela garota é insuportável. A principio, eu achei que eles se mereciam. Mas agora eu sinto realmente pena de Ron. – E ergueu uma sobrancelha – Mas se contar a ele, eu nego;

Harry esboçou um sorriso e se odiou por isso.

– Não queria atrapalhar, senhorita Weasley. – Disse de modo automático.

– Se você espera algo de mim, me chame de Gina, pelo amor de Deus.

– Gina. – Ele repetiu, incomodado.

– Melhor. – Ela abriu um sorriso. – Talvez você queira me acompanhar ao evento cultural que preciso comparecer. Gosto de envolver diversão e trabalho sempre que possível.

Harry a observou por um instante.

– Não estou certo de que estou vestindo roupas apropriadas. – Gina passou os olhos pelas calças jeans, os sapatos gastos, a camisa de flaneta e a jaqueta modesta e pensou que Luna amaria ver ao menos alguém assim em sua exposição.

– Você está perfeito. – E depois de colocar o brinco na orelha, trancou a porta e o apanhou pelo braço sem dar chance para que ele resistisse a proposta. Harry duvidava que resistiria, de qualquer forma. – Anime-se detetive Potter! – Gina riu, analisando o rosto impassível dele. – Você terá suas respostas, alem do privilegio de me trazer para casa no fim da noite.

E por um instante assustador, aquilo pareceu ser a única coisa realmente importante para Potter.

Harry imaginou que usar drogas seria visualmente equivalente ao local em que se encontrava: Um espaço fechado bombardeado de cores e formas psicodélicas.

– Deus do céu. – Ele comentou assim que entraram e a gargalhada de Gina se perdeu em meio a musica alternativa que soava e às conversas dos intelectuais que andavam de um lado para o outro, admirando esculturas, telas e outras coisas que nem se Harry tentasse muito poderia deduzir sobre o que se tratava.

– É uma sorte que isso não seja um primeiro encontro, hum? – Gina cochichou e ele sentiu um arrepio pouco característico. Gostaria de ter respondido algo, mas a fragrância leve de Gina pareceu varrer todos os seus pensamentos para longe. – Veja, aquela é a nossa artista. – Potter olhou para onde ela indicava.

Reconheceria Luna em qualquer lugar, tinha certeza.

Usava roupas ainda mais excêntricas naquela noite e uma espécie de chapéu de... Ou ele estava muito enganado ou aquilo realmente era uma réplica de leão. Era impossível parar de encarar.

– Não se assuste, não é de verdade. – Ela disse naquela voz melodiosa que se lembrava. Mais uma vez, Harry não soube se ela falava sério ou se estava tirando sarro. – Interessante, não é? Meu pai me ajudou na criação. É uma homenagem aos leões da... – Mas ela parou de falar, abruptamente, notando Gina pelo que parecia ser a primeira vez. – Gina! Você veio! – Gin sorriu e adiantou-se para abraçar a amiga. - Estou muito contente por vê-los. – E olhando de Gina para Potter, terminou – Eu disse que o conhecia.

– Disse mesmo, não é? – Gina sorriu.

– Mas pensei que você não gostasse dele. – E virou-se para Harry, a fim de se explicar. – Gina o acha mal educado.

– Ah, acha? – Ele ergueu uma sobrancelha, encarando a acompanhante.

– Acho. – Gina ergueu o queixo, sem se dar ao trabalho de parecer desconcertada.

Eles ficaram se encarando por um tempo indeterminado de tempo.

– Oh. Acho que estou atrapalhando. Aproveitem a exposição. Vejo vocês depois. – Mas nenhum dos dois pareceu notar Luna sair graciosamente no intuito de cumprimentar outros conhecidos

– Detetive Potter, se eu já não soubesse de toda a sua aversão, apostaria cinquenta libras que você se sente muito atraído por mim. – Sua tentativa de voz sedutora resultou em uma voz mais rouca que gostaria.

– Eu? Interessado em uma jornalista irritante como você? – Harry tentou desconversar, claramente desconfortável.

– Uma jornalista irritante que você quer beijar. – Ela tentou sorrir, mas seus olhos se desviaram para os lábios dele. – Confesse, Potter.

– Só se você confessar, Weasley.

Weasley.

Aquela era a irmã do seu melhor amigo e companheiro de trabalho. Por mais que a ideia de beijá-la fosse muito atraente, lembrou-se das ameaças que Ron fizera quando o pegara admirando a beleza de Gina, então imaginou como seria se ele descobrisse que ele a tinha beijado, e que na realidade se idealizava indo além dos beijos, porque, para dificultar ela era muito sexy. Não era como se tivesse medo das ameaças de Ron, mas não tinha muitas coisas importantes na vida, e o pouco que tinha não valia a pena arriscar.

– A nossa relação é estritamente profissional, Weasley. – Ele desviou os olhos dos dela finalmente.

– Que pena. – Ela fingiu uma cara de tédio, e sorriu. – Não seria má ideia se nos divertíssemos nos intervalos de trabalho.

– Não seria... O que? – Engasgou-se nas próprias palavras.

– Relaxe, detetive. – Ela riu, socando o braço dele. – É apenas uma brincadeirinha. – Ela adquiriu um olhar sério e a voz sedutora que tanto queria. – Bem, a não ser que você queira.

– Eu... Er... O que? – Harry gaguejou novamente, mas sorriu torto – Ah, era brincadeira... Dois podem jogar esse jogo.

– Que jogo? – Perguntou com um ar inocente e Harry girou os olhos, tirando uma mecha ruiva do rosto bonito dela. – Vamos ver quem cede antes.

– Ceder o que? – Ele perguntou com ar inocente, mas sorriu novamente. – Onde fica o bar desse lugar?

– Boa pergunta. – Gina disse, procurando o bar com os olhos.

Seus olhos encontraram-se com os de Neville quando ele chegou ao galpão onde estava ocorrendo a exposição de Luna. Perguntou-se quantas horas ele levou para escolher uma roupa que não o fizesse parecer desleixado demais ou preocupado demais. Seria bem mais fácil se ele simplesmente encostasse Luna à parede e dissesse o que ele sentia, mas sabia, porém, que ele nunca o faria. Algumas pessoas são apenas tímidas demais.

Enquanto Gina cumprimentava Neville – acenando discretamente – Harry observava os vários espécimes que atendiam a festa. Parte dos convidados usavam paletós sobre camisetas de bandas desconhecidas para ele, jeans surrados e um tipo esquisito de sapato nos pés; outra parte usava roupas sofisticadas e bebericavam Martinis com quatro azeitonas dentro.

Sentia-se um peixe fora d’água, mais desconfortável impossível.

– Será que já podemos ir? – Harry perguntou, quando Gina terminou seu Martini sem azeitonas.

– Ora, ora, Detetive Potter, tudo isso é pressa para me levar pra casa? – Gina riu e Harry girou os olhos.

– Vocês formam um casal interessante. – Ouviram a voz de Luna em suas costas.

– Ela não tem tanta sorte. – Virando-se, sorriu para Luna. – Sua exposição está ótima.

– Obrigada, Detetive Potter. – Luna respondeu, beijando o rosto dele. – Eu disse que ele era educado.

– Talvez o problema seja comigo. – Gina fez careta. – Excelente exposição! Nos vemos em breve.

– Tudo bem. – Luna respondeu, também beijando o rosto dela, e sussurrando em seu ouvido. – É melhor viver sem felicidade do que sem amor. William Shakespeare.

– É melhor não misturar remédios com bebidas do que levar um soco no olho. Gina Weasley. – Sussurrou de volta e suspirou, girando os olhos. – Agora, serei escoltada por um policial para casa.

Seguiram em silêncio até apartamento de Gina.

A situação não era desconfortável, por mais surpreendente que isso parecesse. Na verdade, ambos estavam ocupados demais em seus próprios questionamentos para falar.

No silêncio de seus pensamentos Harry permitiu perguntar-se se seria sensato envolver uma civil no caso, ainda mais uma civil como ela: espevitada, irritante, intrometida e, com certeza, resistente em receber ordens. Com certeza não recorreria a ela se tivesse outras opções.

A visita a Little Hangleton não tinha dado em nada além de mais boatos acerca do ‘casamento-relâmpago’ de Tom Riddle; disseram-lhe que ninguém realmente conhecia a moça, pois ela vivia reclusa em uma casa na colina perto da propriedade de Riddle. Ron e Harry foram até tal propriedade e ela parecia ter sido abandonada há um bom tempo, não havia escritura no cartório do condado e, para o governo, nem existia. Ele decidiu que voltaria a tomar depoimentos em Little Hangleton no dia seguinte.

A verdade era que talvez Gina pudesse ter alguma coisa útil para o caso e, mesmo não sendo de seu feitio pedir ajuda, não mediria esforços para fechá-lo. E ele deixaria claro que ela podia ter um corpo escultural, um sorriso sensual e um tom sarcástico no mínimo divertido, mas ele estava no comando.

Enquanto isso, Gina pensava em quais informações valeria a pena partilhar naquele momento. Desconfiava de que se entregasse uma cópia do dossiê talvez ele a deixasse de fora do caso e ela precisava participar daquilo. Precisava se sentir responsável pela prisão dele – já que mata-lo não era o melhor dos planos. Gina precisava apreciar a queda de Voldemort. Ela precisava de justiça. Por outro lado, se ela não mostrasse tudo talvez retardasse a investigação, o que era pior do que não participar dela.

As íris esverdeadas com tons castanho-claros por trás das lentes dos óculos arredondados estavam a distraindo, assim como o fato de que as feições de seu rosto mudavam cada vez que ele parecia ponderar sobre algo diferente. Ela assistiu seu rosto mudar de tenso a irritado, então de irritado a decidido. E por fim, ele quase exibia um sorriso, aquele sorriso arrogante que já lhe era familiar após aquela noite, e que ela tinha que admitir, tinha seu charme.

Ela tinha que admitir também - e talvez fosse o Martini falando - que ela gostaria de esticar a mão e passar a mão naqueles cabelos negros e desgrenhados dele.

– Ok, me mostre o que você tem. – Ele falou, quando nem bem entraram no apartamento de Gina.

– Bem vindo a minha casa. Posso te servir uma taça de vinho? – Gina perguntou, enquanto seus olhos faziam um giro completo. – Sua mãe nunca te ensinou que boas maneiras não?

– Tenho certeza que ela tentou, mas crianças de menos de dois anos tem certa dificuldade em entender regras. – Ele sorriu e completou com uma careta.

Lembrou-se da pesquisa sobre Harry que Neville fizera.

Harry James Potter, Godric’s Hollow, New Hampshire, Inglaterra, 1980. Filiação: James Potter (1959 – 1981) e Lilian Poter (1959 – 1981). Mudou-se para...

– Me desculpe. – Ela disse por fim.

– Você está sem graça e isso é novidade. – Harry observou, sorrindo torto. – Orelhas vermelhas como as de Ronald quando o pego surrupiando chocolates da minha gaveta.

– Você veio falar das minhas orelhas ou sobre a investigação? – Gina falou, cobrindo as orelhas com os cabelos.

– Olha quem quer pular o vinho agora. – Harry disse e cruzou os braços. Ser Harry ‘o policial’ ao lado dela não era uma tarefa tão fácil, não quando sentia um prazer indescritível em alfinetá-la ou deixa-la sem graça. Na verdade, achava engraçado o tom rosado da pele dela e era inexplicável o que sentia quando a via perder a pose de mulher fatal, o que de fato ela era. – E eu acho que eu aceito o vinho.

– Tudo bem. – Ela falou, indo a cozinha e voltando alguns minutos depois com uma garrafa e duas taças. – Você pode se sentar.

– Sim. – Ele disse, enquanto a via tirar os sapatos e encher duas taças. – Um pouco menos para mim.

– Você não está de serviço Detetive Potter ou está? – O sorriso sensual habitual enfeitou os lábios de Gina.

– Não, não estou. – Harry falou, sentando-se na poltrona em frente a ela. – Então, o que tem pra mim?

– Não tão rápido. – Gina tomou um longo gole na taça de vinho. – Eu posso ter muita coisa, um material incrível e extenso que pode ser de grande ajuda para a investigação.

– E o que você quer em troca? – Perguntou desconfiado. – Não suborno ninguém em troca de informações.

– Então temos um impasse, pois o que eu quero é uma forma de suborno. – Ela falou, encolhendo os ombros e bebericando um pouco do vinho. – Eu quero fazer parte da investigação.

– Você quer o que? – Harry quase cuspiu o conteúdo da taça em Gina. – Sem condições. De jeito nenhum.

– Então terei que guardar essas possíveis informações só para mim e fazer minha própria investigação. – Ela falou irredutível.

– E eu terei que te prender por obstrução de justiça. Negar informações à polícia é crime. – Harry sorriu triunfante e terminou de beber a taça.

– Que a polícia então prove que eu tenho informações, porque eu nunca afirmei que as tinha. Ahá! – Cruzou os braços. – Escuta, Potter, eu sei que você me acha irritante, o que é uma unanimidade, mas eu acredito que posso ser de grande utilidade na investigação.

– De jeito nenhum. – Encheu a taça novamente. – Você é uma cidadã londrina, é uma civil, meu dever é te proteger e não te colocar em perigo.

– Então você já está preocupado comigo, que gracinha. – Gina sorriu. – Excesso de cuidado pode ser sufocante, Harry.

– Definitivamente não. – Ele falou, andando de um lado a outro.

– Eu posso ter os nomes de muitos capangas, e alguns depoimentos que nem a polícia tem. – Ela falou, enchendo a taça tranquilamente.

– Desiste. Você não vai participar. – Harry sentenciou. – Eu estou lidando com um serial killer e você não pode... Você não vai... Você não é policial, você não tem treinamento e é muito perigoso.

– Eu posso me cuidar. – Ela encolheu os ombros e suspirou. – Eu nunca pensei que eu imploraria algo para alguém, mas eu estou pedindo, Harry Potter, me deixe participar.

– Eu não entendo, sabe? Isso tudo é por uma história? Por uma primeira página no jornal? – Ele perguntou incrédulo. – É inacreditável você estar disposta a correr um risco sem tamanho por uma capa de jornal.

– Não é sobre uma capa de jornal, tá legal? – Ela gritou, perdendo a compostura. – Não é por uma capa de jornal. – Ela suspirou, se controlando. – Então você não sabe.

– O que eu não sei? – Perguntou.

– Você não sabe por que prender Voldemort é importante para mim. – Ela sussurrou, ingerindo o vinho que estava na taça de uma só vez. – Ronald nunca te disse?

– Não. – Ele perguntou cauteloso.

– Em 1997 eu tinha dezesseis anos. – Ela suspirou mais uma vez e então continuou. – Eu era uma adolescente feliz e normal, com problemas normais. Sabe, eu sou a filha caçula de sete filhos, então o meu maior problema era o controle remoto da única TV lá de casa. Mas eu desconfiei que algo estava errado quando meus pai começou a chegar tarde do trabalho e o humor de mamãe piorou. E tive certeza, quando Bill, meu irmão mais velho, pediu transferência do banco que ele trabalhava no Egito para Londres, e o eremita do Charlie veio para cá... Antes disso, ele não largou os lagartos da Romênia nem para se casar. Percy tinha brigado com minha família, por ser um retardado. Fred e George tinham acabado de montar a Geminialidades Weasley.

“Muitas pessoas estranhas apareciam para jantar, e depois todos eles se reuniam enquanto eu e Ron éramos obrigados a ir para cama. Em algum momento minha curiosidade se tornou insuportável, e o que eu descobri foi que o Ministério de Segurança pública, local onde meu pai trabalhava, estava tentando aprovar uma lei para que fossem proibidos os jogos de azar em Londres. Pela primeira vez meu pai era o encarregado. Acontece que meu pai estava sendo ameaçado ‘anonimamente’ por alguém que, acreditamos, estava se sentindo prejudicado com a possível aprovação da lei. E todas aquelas pessoas eram policiais, e chefes de segurança e uma equipe de pessoas que queriam encontrar o infeliz que estava fazendo as ameaças. As ameaças eram tão pesadas que meus irmãos vieram pra perto da família para ficarem de olho no meu pai.”

Gina evitou olhar para Harry, para que ele não visse que seus olhos já estavam prestes a transbordar.

– Então, não precisei pensar muito para saber que o teto que desmoronou sobre a cabeça do meu irmão não foi acidente, e sim um aviso. – Gina sorriu pesarosa. – Um recado bem dado de que algo pior poderia acontecer a todos nós se meu pai não abandonasse o caso.

“O que não aconteceu, mas depois deram um jeito de afastá-lo. Entretanto, meu irmão tinha morrido, levando parte de George e uma parte de mim. Injusto dizer que não levou partes da família inteira, nós estávamos inconsoláveis. Aliás, é algo de que nunca vamos nos recuperar... Mas a gente tenta de diversas formas. veja Ron, que descontou o ódio que sentia da justiça; que resolveu o caso do meu irmão como acidente mesmo não sendo, se transformando em detetive. E também teve George que continuou com a loja. O meu consolo foi saber que um dia eu descobriria a verdade, que eu colocaria o infeliz atrás das grades ou o mataria. O mataria como ele fez com o meu irmão.”

– Ele era o meu melhor amigo. – Gina secou as lágrimas que começaram a cair, e Harry não soube o que fazer. Então, hesitante, colocou a mão no ombro dela e ela não disse nada.

– O que isso... – Ele ia perguntar, mas não sabia como formular a pergunta, não tinha tato para essas coisas, então só a aconchegou mais em um meio abraço inexplicável e esperou que ela se acalmasse.

– Tem a ver? – Gina soluçou. – O meu dossiê explica, eu tenho motivos para acreditar e Ron também, apesar de ele não admitir, que Voldemort seja o cara por trás disso.

– Como assim? – Harry franziu o cenho.

– Bem, antigamente, tudo e qualquer tragédia que acontecia, colocávamos a culpa em Voldemort. – Fungou, e secou as lágrimas com o dorso da mão. – Mas de acordo com minhas pesquisas grande parte dos cassinos da cidade não pertence aos seus donos.

– Isso não faz sentido.

– Eu também achei isso. – Ela falou, encolhendo os ombros. – Mas, e talvez você não vá gostar de saber disso, eu mexi meus pauzinhos de uma maneira nada ortodoxa e descobri que essas pessoas que se dizem donas dos cassinos são, na verdade, laranjas. São pessoas de confiança de alguém. E essa pessoa é Voldemort.

– Por que você acha isso?

– Porque um dos capangas dele me disse. – Gina contou. Ele não precisava saber o que ela tinha feito para conseguir que ele falasse.

– Disse?

– Disse. – Confirmou, mas então fez uma careta - Antes de morrer misteriosamente.

– Sua fonte está morta. – Harry fechou os olhos. – Me dê uma razão para acreditar nessa loucura.

– Porque, se você pensar bem, faz sentido: ele é rico, poderoso e cheio de capangas, o dinheiro tem que vir de alguma maneira impossível de rastrear e ele foi esperto bastante para legalizar tudo de maneira que a polícia não o importunasse, e aquele que o importune, morra. – Gina falou, servindo Harry e a si mesma de mais uma taça de vinho. – Todos os capangas têm os melhores advogados a serviço e uma equipe de segurança de primeira.

– Mas o imposto de renda certamente desconfia quando o patrimônio de alguém é dez vezes maior do que ele declara ser. – Harry falou, bebendo mais um pouco.

– Não se você não precisasse declarar esse dinheiro, se outras pessoas declarassem por você. – Gina falou.

– E por que essas pessoas não ficariam com o dinheiro?

– Você ouviu a parte de que elas morrem? – Gina suspirou. – E tem mais coisa aí, com certeza, não dá pra investigar tudo sozinha. E é por isso que eu quero participar do caso.

– Gina, isso tudo é muito perigoso. – Harry falou, fechando os olhos.

– Eu juro que eu posso ser útil. – Ela mordeu o lábio inferior e se aproximou perigosamente dele. – Eu consigo informantes mais facilmente, as pessoas não curtem falar com policiais. Eu posso servir de consultoria.

– Tão persuasiva... – Ele não queria transformar o pensamento em palavras, mas foi isso o que fez. Sentiu uma leve vertigem e soube no mesmo instante que não tinha nenhuma relação com o vinho. Gina ainda continuava muito próxima. Talvez ainda mais próxima. Seu rosto estava a apenas milímetros do dele e não havia força de vontade no mundo que o fizesse se afastar.

– E então? – Ela perguntou, a ansiedade quase palpável.

– Okay. – Murmurou.

– Okay? – Ela precisava confirmar.

– Okay. – Repetiu, rendendo-se de vez antes de fechar os olhos e soltar um suspiro cansado ao mesmo tempo.


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