Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 3
Capítulo II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/267228/chapter/3

– Inferno! – Grunhiu quando o táxi parou no meio de um cruzamento. O engarrafamento matinal só poderia ser proveniente de um acidente mais a frente ou azar de Harry, já que aquela avenida era tão tranquila que costumava ser usada como atalho.

O detetive não era o único nervoso. As buzinas ecoando de todos os lados pareciam fazer coro ao que ele estava sentindo. Tomando coragem, olhou o relógio de pulso. O horário que marcava só o fez praguejar ainda mais. Olhou o taxímetro, jogou as notas da corrida no banco da frente e antes de saltar do automóvel, gritou um ‘fica com o troco’, apesar de a informação ser desnecessária.

Correndo, ele fez as cinco quadras que faltavam para o seu destino em milagrosos sete minutos. Alguma parte de sua consciência viu quando ele derrubou um colega policial sem querer na entrada do Departamento, mas todo o resto do cérebro parecia concentrado na ultima sala do andar, a única que tinha as persianas fechadas, de modo a conferir privacidade a quem estava lá dentro.

E a questão é que Harry sabia bem quem estava:

Alguém que não deveria estar apreciando muito o seu atraso.

– Comandante – Ele arquejou para dentro da sala depois de ter permissão para adentrá-la. Viu a expressão que Ron lhe enviou e foi quase como ouvir a voz dele dizendo um irritado “você enlouqueceu?”.

– Harry. – Dumbledore o saudou com seu modo cortês, como se estivesse prestes a sentar para tomar chá com amigos íntimos. Fazia questão de chamar seus homens pelo primeiro nome, uma atitude que tomava na tentativa de inspirar segurança, embora fizesse isso até sem dizer coisa alguma.

Nenhum policial, de qualquer departamento que fosse, se deixava enganar pelo rosto complacente e calmo do homem que comandava a divisão de homicídios. Embora não tivesse mais idade para sair a campo, era respeitado por toda força policial por ser a lenda viva que por décadas vinha colocando criminosos considerados intocáveis atrás das grades. Mesmo agora em que a força física deixava a desejar, seu intelecto e vitalidade seguiam imaculados, e era através das instruções dele que mais e mais assassinos vinham sendo enjaulados.

– Senhor, me desculpe o atraso. – Pediu, ao recuperar o fôlego.

– Certamente o que quer que estava fazendo era de considerada importância Harry, já que o fez passar por cima do caso de prioridade máxima que lhe encarreguei, alem do horário para o relatório oral. Na verdade, estou mais preocupado em saber se escolhi devidamente os encarregados deste assassinato. – Dumbledore o encarou por cima dos oclinhos em forma de meia lua. Potter sentiu como se algo despencasse do estomago. Seria muito melhor enfrentar raiva do que decepção.

Era curioso como sempre se sentia menor e consideravelmente mais estúpido na presença do comissário.

– Sim, senhor. – Respondeu de imediato e então, desconcertado, meneou a cabeça. – Não, senhor. – Odiando-se, acrescentou, recompondo-se: – O que estou tentando dizer é que o motivo do meu atraso é de extrema relevância para o caso... – E já que estava encrencado de qualquer forma, tomou coragem. - Bem como outro caso, há muito tempo encerrado. Não justifica o meu comportamento, senhor, mas acabo de receber provas de que Voldemort pode ter relação direta com a morte de Tom Riddle e, com a sua permissão, poderei explicar melhor sobre isto após o relatório.

– Ronald já me deixou a par do caso. – Dumbledore disse e Harry encarou o parceiro por um instante.

Não sabia se estava grato ou furioso por ele ter desatado a falar ao invés de tentar segurar as pontas enquanto ele não chegava. Sabendo que estava sendo injusto só pela indecisão, afastou os pensamentos antes de tornar a encarar Dumbledore. Obviamente esperava que ele, Harry, começasse a falar agora.

– Senhor, eu estive no necrotério. A Doutora Greengrass, ao despir o corpo da vitima para os procedimentos padrões, notou um X marcado a fogo no peito da mesma. – Os olhos de Dumbledore adquiriram um novo tipo de interesse. – A doutora está ciente de que o caso é prioritário, por isso me comunicou, por meio de uma ligação, a respeito da nova informação.

– Um X marcado à fogo? – Ron não se conteve e inquiriu, o rosto contorcido em uma breve careta.

Não era como se precisasse realmente de explicações.

Qualquer policial que honrasse o distintivo que carregava sabia sobre os tipos mais famosos de assassinos e suas devidas características pessoais na forma de matar. Mas parecia tão improvável...

Depois de todos aqueles anos sem noticia...

Logo agora em que corriam mais especulações sobre sua morte do que sobre seus feitos em vida...

– Um X marcado à fogo. – Harry tornou a afirmar com convicção. – Por isso eu sugiro que, paralelamente ao caso, o arquivo de Voldemort seja reaberto, senhor.

– Você acha que ele vai acatar a sua ideia? – Rony perguntou quando foram dispensados e estavam devidamente longe da sala.

– Não sei. Dumbledore não é um homem previsível, certo? – Weasley concordou com a cabeça. – Talvez ele aceite e me tire do caso. – Disse com voz amarga.

– Ele não faria isso. Você é o pupilo dele. – Harry lhe lançou um olhar zangado. - Ah, qual é, você entendeu.

– Ele pode alegar que o meu envolvimento pessoal com o caso poderia atrapalhar a investigação. – Harry lembrou, o maxilar repentinamente travado.

– Ah, é... – A voz de Rony morreu por um instante.- Escuta, me desculpe por ter feito o relatório sozinho.

– Era a sua obrigação.

– Sim, mas eu estava meio puto com você. – Rony confessou e coçou o cabelo, envergonhado. Isso fez com que Harry pudesse ter um vislumbre de suas orelhas vermelhas. – Pensei que tinha perdido a hora com a bunda colada numa das cadeiras confortáveis daquele babaca.

Se Harry não conhecesse Rony há tanto tempo, poderia ter socado seu rosto só por ter cogitado a ideia de que ele pudesse colocar qualquer coisa que fosse acima do trabalho. Mas sabia que o que realmente afetara o humor de seu amigo era Malfoy. Os dois eram desafetos desde que Harry pudesse se lembrar e a verdade é que não tinha tempo, disposição ou saúde para se intrometer naquela briga ridícula que eles insistiam em manter.

– Ok. – Harry encolheu os ombros.

– Eu estou morrendo de fome. – Ron reclamou, querendo desesperadamente reparar aquela tensão. – Você já comeu? Porque se não, eu posso pagar o almoço hoje. Se continuarmos no caso depois disso, não teremos muito tempo para apreciar comida, concorda?

Harry assentiu, mais para agradá-lo do que por fome de verdade. Sua cabeça ainda girava em torno da marca no corpo de Riddle, a mesmíssima marca que havia no corpo dos pais no dia em que ele se tornara órfão... Sentiu a raiva percorrer as entranhas e cerrou os punhos com as mãos escondidas dentro do bolso.

– Falando em encrenca... – Ron resmungou e Harry tornou à realidade. Ele ouviu o barulho do salto antes mesmo de ver a dona do sapato, embora pudesse reconhecer aquele passo ritmado e preciso em qualquer lugar.

– Dia, Granger. – Ele saudou a mulher de terno e cabelo castanho que o brindou com um sorriso bonito.

– Bom dia, Potter. – E ignorou Ron com precisão. – Você me parece cansado. É sobre o caso que estão comentando ali no gabinete? – Inquiriu curiosa, juntando as sobrancelhas.

– Intrometida. – Ron falou, abafando a voz numa tosse falsa. Hermione Granger se voltou para ele, o rosto de traços finos agora ligeiramente carrancudo.

– Ah, você está ai. – Disse como se não houvesse reparado. – Eu diria que você também está com uma cara péssima Weasley, mas me ocorre agora que esse é o seu natural. – Ele abriu a boca, furioso, pronto para rebater quando Harry interrompeu, prevendo uma das brigas diárias:

– Soube que está de mudança, é verdade?

– É sim. Pretendo reabrir a firma em uma loja mais perto aqui do centro. Na realidade, ficarei há apenas uma ou duas quadras daqui. – Sorriu orgulhosa.

– Poxa, meus parabéns! – Harry sabia que Hermione era uma advogada competente. Gostava da moça por muitas razões, especialmente porque sabia que ela, assim como ele, nutria um amor à profissão pela qual exercia de um modo que poucas pessoas faziam.

– Obrigada, Harry! – E abriu outro sorriso. – Agora eu preciso ir. Tenho assunto a tratar com o comandante.

– Claro. – Potter deu passagem e acenou quando ela já estava distante.

– Que pesadelo, que pesadelo! – Ron se lamentou. – Uma ou duas quadras de distancia? Que tal um planeta de distancia? Pensando bem, até isso parece próximo demais!

– Hermione é uma boa pessoa, Ronald. Você notaria se conversasse decentemente com ela. – Harry recomendou quando tornaram a andar.

– Ah, é, vou sim. – E mesmo que estivesse sendo irônico, só a ideia o fez estremecer. – Deus é misericordioso. Nunca me colocaria numa fria dessas. – Harry riu do exagero habitual e deixou-se relaxar por um único instante.

Ron tinha razão no fim das contas. Se eles continuassem no caso – e Harry faria tudo o possível para que sim – então teria dor de cabeça o suficiente dali para frente. Não havia motivo para não dispor de um almoço tranquilo antes de se jogar de cabeça naquela investigação.

– Fale menos e ande mais. Até onde eu saiba, você me deve um almoço. – E ao notar o tom natural da voz de Harry de volta, Ron sorriu e esqueceu-se de Hermione por um instante.

Gina acordou por conta da dor latente no pescoço. Abrindo os olhos vagarosamente ela observou a própria sala de estar, ainda em desfoque. Não conseguiu mexer o corpo cansado, por isso permaneceu como estava: O rosto grudado à folhas soltas em cima da mesinha de centro, os joelhos dobrados sobre o tapete, pés dormentes pela má posição e braços jogados a esmo.

Nunca desejou tanto uma xícara de café.

O dia já havia se iniciado para a maior parte das pessoas e ela percebeu que já deveria ter começado para ela há uma hora. Não tinha café, nenhuma roupa limpa e não conseguia achar em lugar nenhum as cópias das três matérias e uma coluna que tinha redigido antes de entrar de cabeça no crime e colocar as mãos nos arquivos que foram motivo de obsessão desde que soube que existiam.

Foi abruptamente distraída da tarefa de procurar uma roupa limpa no seu armário de roupas pretas ao toque do telefone.

– Gina Weasley. – Ela disse, enquanto tentava encontrar o botão que acionava o viva-voz.

– Senhorita Weasley, é bom que seu atraso seja decorrente da morte de alguém. – A voz da editora-chefe, fria e cortante, ecoou do outro lado da linha. – Caso contrário, espero que esteja no rastro do assassinato de Tom Riddle.

Tom Riddle foi assassinado?

Gina evitou berrar no telefone, mas seu queixo caiu. Aquele era o furo do século. E ela estava ali no apartamento, preocupando-se com o que ia vestir e com uma advertência no trabalho! Se todos já sabiam, ela obviamente tinha que saber mais.

– Naturalmente, Senhora McGonagall! – Gina disse, se contorcendo para fechar o zíper de um vestido qualquer. – Estou indo encontrar minha fonte na polícia agora mesmo.

– Espero uma capa e pelo menos página dupla. – Minerva disse e sem mais delongas desligou o telefone.

Droga.

Gina terminou de se vestir, calçou as sandálias vermelhas e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, já que fracassara nas tentativas de deixa-lo controlado. Analisou-se no espelho, sabendo que nem cinco quilos de maquiagem conseguiriam fazer com que o grande vinco no lado esquerdo do rosto sumisse.

Encolhendo os ombros, preparou-se para implorar por informações para o detetive mais chato que conhecia.

Ele até tentou se esconder quando a viu desfilando pela delegacia em um vestido preto justo até os joelhos, saltos vermelhos imensos e finos e aquele batom em um tom quase tão berrante quanto os próprios cabelos, mas ela era mais rápida – algo inexplicável devido aos quinze centímetros embaixo de seus pés. – e bem esperta, já que esperava por ele na porta do banheiro antes mesmo que ele entrasse.

– Ah, você está aqui. – Ele falou, fingindo surpresa.

– Eu gostava quando você atendia aos meus telefonemas. – Ela falou, cruzando os braços.

– Estava ocupado. – Murmurou, fazendo o caminho de volta para sua mesa. Gina estava nos seus flancos, porque não, ela não daria espaço para que ele respirasse. – E ainda estou.

– Com a investigação da morte de Tom Riddle? – Gina inquiriu, erguendo a sobrancelha direita.

– Como você... A imprensa... Todos já sabem? – Ron perguntou, aturdido. – Vocês são realmente um bando de urubus.

– Obrigada pela parte que me toca. – Fingiu-se de ofendida, mas sorriu. – Estão correndo boatos, mas você foi o único que confirmou, obrigada pela informação.

– Você não vai colocar meu nome em uma das suas matérias de novo, não é? – Ron fez careta.

– Ah, mas eu tenho certeza que você sempre aprecia toda essa atenção e fama. – Ela ironizou, cruzando os braços e sentando-se na ponta da mesa. – Agora, vamos lá, desembuche.

– Em breve será discutida a possibilidade de uma coletiva de imprensa com o principal investigador do caso. Porém neste momento qualquer informação divulgada sobre o caso poderá comprometer a investigação. Obrigado. – Ronald falou, de forma mecânica, enquanto reiniciava seu computador.

– Ai, corta essa porcaria. – Gina disse, cruzando as pernas e atraindo o olhar de todo e qualquer homem presente no recinto.

– Não estou autorizado a debater assuntos oficiais com a imprensa. – Ron disse irredutivelmente.

– Mas eu não sou qualquer imprensa, eu sou sua irmãzinha. – Ela o fitou, com os olhos castanhos suplicantes. Sim, ela era muito boa naquilo. – Que tal debatermos uns assuntos extraoficialmente?

– Que tal não? – Ron falou, assinando alguns papéis e arquivando relatórios. – Até porque eu aprendi há precisamente cinco anos que qualquer coisa que eu debata com você vira manchete.

– Nem tudo. – Ela encolheu os ombros e saiu da mesa. – Você sabe que eu vou encontrar alguém desposto a falar, não sabe? É só saber molhar as mãos certas.

– Ok. – Ele disse, indiferente.

– Droga Ron, esse é o maior furo do ano e você nem para me dar uma mãozinha! – Gina reclamou, fazendo um beicinho bem parecido com o que ela costumava fazer na infância como último recurso para conseguir o queria.

– Isso aí. – Ele falou, encolhendo os ombros.

– Ok, onde está o investigador principal? – Gina falou com o nariz petulante em pé.

– Harry? Está trabalhando por aí. – Ron riu. – E ele é gente boa, mas não costuma ser tão legal com a imprensa.

– Comigo as pessoas sempre são mais legais. – Ela lhe lançou um de seus sorrisos meigos.

– Vai nessa. – Ele disse, levantando-se. – Tchau Gina, adoro suas visitas, sinta-se a vontade para não voltar mais.

– Essa maneira como você demonstra amor por mim é sem dúvidas... Especial. – Gina fez uma careta, e pegou sua bolsa.

Ronald conhecia bem a irmã que tinha, sabia que Gina era impetuosa e que não desistiria fácil, mas esqueceu de que se queria sigilo, deveria ter a conduzido ao elevador.

Gina era esperta.

Esgueirava-se por aí em busca de informações desde sempre, o sorriso angelical e o corpo arrasador eram apenas alguns dos meios para que ela conquistasse seus objetivos. E quando tais características não funcionavam, ela ainda tinha uma porção de cartas na manga.

Um desperdício de talento para o serviço secreto, ela gostava de dizer.

Quando Ron a encontrou, ela estava em frente ao velho quadro que eles usavam como fluxograma para o auxilio da investigação do caso, olhando fixamente para a foto do peito do falecido. Ela, por sua vez, não achava válido o conceito de destino, mas algo parecido com aquilo a guiara até ali. Só podia ser.

– Ele voltou, não voltou? – Gina perguntou, sentindo a presença do irmão as suas costas.

– Não posso falar sobre isso. – Ron falou, com as mãos nos bolsos.

– Você-Sabe-Quem voltou, não voltou? – Ela tornou a perguntar, tentando ignorar a bola que parecia se formar em sua garganta.

– O nome dele é Voldemort. – Outra voz ecoou no cômodo.

Houve um tempo na vida em que a maior aspiração de Ronald era ser goleiro e defender a Seleção Inglesa de futebol. Torcia pelo Manchester City – que não ganha títulos na liga há quase quarenta anos. – e sonhava em ser o nome do time, usar uma braçadeira de capitão e ganhar milhões de libras.

Vomitava seu intestino antes de todos os jogos, mas era realmente bom no que fazia. Porém, aquele tempo passou.

Nunca nem imaginara que pudesse existir tanta raiva dentro dele, e que essa raiva pudesse destruir todos os seus sonhos. A raiva que percorria seu corpo sempre que se olhava no espelho e via traços do seu próprio irmão que nunca tivera justiça. Ninguém nunca trancara atrás das grades o filho da puta que o matara.

Essa era a principal razão para usar uma farda e ajudar a trazer resolução para as mortes de várias outras pessoas, já que nunca pôde encontrar respostas para a morte de Fred. Nenhuma resposta além do nome Voldemort.

Jamais tocara no assunto com Harry ou com qualquer outra pessoa. Já era difícil conviver com isso sozinho, mais ainda seria falar sobre aquilo em voz alta... Fazia mais de dez anos, mas era mais fácil fingir que nunca acontecera, que Fred apareceria a qualquer momento.

Para Gina, no entanto, era diferente. Ela sabia que Fred não voltaria e não conseguia se confortar com nada alem do ódio latente que sentia.

Isso a fez engolir as lágrimas e o nó em sua garganta.

– E quem é você? – Harry perguntou, cruzando os braços.

– Gina, The Daily Prophet. – Ela se apresentou, estendendo a mão e recolhendo quando viu que Harry não tinha a intenção de apertá-la. – Mas que gentleman! Me sinto em Paris.

– Harry Potter, o cara que está te expulsando desse recinto. – Seu semblante de poucos amigos costumava assustar os jornalistas, mas Gina apenas girou os olhos. – Você não tem autorização para estar aqui.

– Autorização é algo que eu nunca tenho, Harry Potter. – Ela disse impaciente. – Apenas responda, ele está de volta?

– Não vou te responder. – Harry falou. – Espere pela coletiva como todos os outros.

– Eu só quero uma confirmação! – Ela explodiu, mas respirou fundo e sorriu. – Agora satisfaça minha curiosidade, detetive.

– Civis não ficam desse lado da delegacia, Senhorita Gina. – Harry disse ríspido. – Você quer que eu te mostre as nossas instalações ou quer que eu te leve ao elevador?

– Eu sei o caminho. – Gina bufou e sorriu em seguida. – Harry, foi um prazer conhece-lo, voltaremos a nos falar muito em breve. Ron, até domingo.

Harry a seguiu com o olhar. Poderia dizer que aquele vestido preto ficava bem nela, mas a verdade é que ela era excepcional. O vestido preto moldava suas curvas perfeitamente, curvas que ela fazia questão de exibir e destacar, remexendo aqueles quadris de um lado para o outro lentamente. Perguntou a si mesmo como ela conseguia andar sobre aqueles saltos altíssimos e decidiu que a resposta não era relevante, mas que se os saltos a ajudavam a rebolar aquele traseiro delicioso ela deveria usá-los até para dormir.

– Cara, para de olhar pra bunda dela! – Ron acertou o braço dele, indignado.

– Ok, ok! Mas Ronald, devo parabenizá-lo. – Harry disse, colocando a mão no ombro dele. – Não deveria ter trazido ela pra cá, ela parece ser meio bipolar e um tanto intrometida, mas ela é muito... - Vendo a cara do parceiro, decidiu não completar a frase. Ao invés disso, perguntou: - O que houve com Lilá?

– Primeiro, você parece um adolescente no ensino médio; segundo, a Lilá está bem, obrigado. – Ron tirou a mão de Harry de seu ombro. – E, por último, eca, Harry! Aquela é minha irmã! Gina Weasley!

– Aquela é sua irmã? – Harry disse, perplexo. – A genética é boa com uns e terrível com outros.

Ron armou uma cara.

– Deve existir uma lei da física para a situação iminente em que nos encontramos.

– Que situação? – A visão de Gina ainda pairava em sua memória.

– Essa em que meu punho fechado se sente magneticamente atraído pela sua fuça e a acerta sem querer caso você não pare de pensar em Gina agora. – Harry riu e levantou os braços em sinal de rendição.

– Não está mais aqui quem falou. – E na hora em que baixou os braços e o sorriso se desfez, Ron viu a rápida transformação de Harry, seu amigo, para Harry, seu parceiro de trabalho: o rosto tornou a assumir a expressão séria e focada.

Aquilo sempre intrigaria Ron: A maneira como ele conseguia assumir o ar de tira de um segundo para outro.

Para Potter, no entanto, a coisa funcionava de um modo bem mais simples:
Ele era tira o tempo todo. Difícil mesmo era ser Harry nas horas vagas que dispunha.

– Mas que porra é essa aqui?! – Harry pensou alto ao ver o embrulho dourado com laço vermelho de enfeite em cima de sua mesa decadente e lotada de relatórios.

– Isso exala a Malfoy. – Rony respondeu.

– Palhaço. – Harry murmurou. – Não consegue viver sem chamar atenção. – Por um pequeno instante de esperança Ronald acreditou que poderia falar mal do empresário com o amigo. Mas então percebeu que embora resmungasse, sua expressão era satisfeita, e isso foi o suficiente para que ele desistisse.

Harry abriu o embrulho.

O aparelho parecia um tablet. Harry tinha certeza que era mais um dos brinquedinhos de Malfoy em fase de teste que uma vez lançado no mercado venderia mais que água.

– Boa tarde, detetive Potter. – Uma voz desnecessariamente sensual o saudou quando ele ligou o aparelho. Por um instante, Harry se perguntou se aquele timbre automático pertencia a alguma atriz pornô. – Boa tarde, policial Weasel.

– DETETIVE. DETETIVE WEASLEY, SUA... – Ron se exaltou, até se lembrar de que não estava lidando com uma pessoa de fato. Respirando fundo, passou a mão pelo rosto. – Detesto aquele filho da puta. – Mas Harry não partilhava o estado de espírito do parceiro: quando Draco dissera que tinha que tinha um dossiê sobre Tom não estava mentindo.

Naquele instante, jorravam informações da vitima na tela touch screen.

– Não sei que filho da puta, detetive Weasley. Esse é um informante anônimo. – Harry levantou o olhar e assim, fez com que Ron entendesse de uma vez por todas o motivo para ele ter procurado Malfoy pela manhã.

– Santo Deus. – Rony se deixou cair na cadeira ao lado. Harry só se deixava receber informações através de meios não tão ortodoxos quando a coisa estava feia de verdade. – Isso é... – Sussurrou, sem saber como terminar a frase. “O inicio de uma merda muito grande” era tudo o que conseguia pensar, mas de alguma maneira, parecia um mau presságio verbalizar o pensamento.

– Se tivermos sorte, a primeira peça do nosso quebra-cabeça.

Era por aquilo que ele vinha procurando desde que entrara na Academia. Ele sabia que apenas pessoas realmente importunas para o homem que se auto-intitulava Voldemort morriam com sua marca, seu requinte de crueldade. Todas as outras vítimas tinham a vida ceifada por seus capangas. O homem sabia como se proteger e tinha gente o suficiente para morrer ou se entregar por ele, uma das razões principais para que seu rosto e mesmo seu nome verdadeiro permanecessem ocultos por tanto tempo.

Mas ali estava. Harry lamentava por ser outra vida tirada, mas não podia deixar de sentir prazer com a ponta solta que finalmente o levaria de encontro a Voldemort.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!