Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 21
Capítulo XX


Notas iniciais do capítulo

Como prometido: o ultimo capítulo!
Esperamos que vocês tenham gostado.
Ontem nós percebemos que postamos a fic pela primeira vez no dia 10/09/2012, e, pra ficar simbólico e bonito, vamos postar o epilogo no dia 10, no aniversário da fic.
Sendo assim, nos vemos em breve.
Um abraço!



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Graças ao sucesso da operação, tanto o Sun’s Town quanto o Imperius tiveram as portas fechadas por tempo indeterminado. Nomes como o de Bartolomeu Crouch, Bellatriz Lestrange, Rodolphus Lestrange, Walden McNair e Antonin Dolohov foram indiciados e, a julgar pelo excessivo numero de provas e a tremenda comoção da mídia, todos estariam em Askaban em breve. Com este fato e o advento da morte de Voldemort, tornou-se claro que Harry Potter e Ronald Weasley, juntamente com a força policial que selecionaram a dedo – alem de seus consultores civis – tinham conseguido o que parecia impossível até então: desmantelar o esquema criminoso de maior amplitude de Londres.

Os detetives eram conscientes de que muitos dos envolvidos escapariam impunes. Um negócio como o de Voldemort envolvia muitos políticos, muitos funcionários públicos e muitas empresas privadas. Nem todas as mortes seriam diretamente relacionadas aos seus assassinos. Nem todo mundo que merecia iria para a prisão. O mundo real estava longe de ser o ideal, mas os dois homens estavam felizes por trabalharem para que ele fosse, no mínimo, mais justo. E ele parecia, de fato, um pouco mais razoável do que estava antes daquela madrugada em que havia sido reportado o assassinato de Tom Riddle. A ideia agora era continuar fazendo o que estava ao alcance deles para que esse sentimento, vez ou outra, se sobressaísse mais do que os negativos.

Harry – que recebera a alcunha de herói por todos os grandes meios de comunicação – estava se sentindo tão vingado que começara a pensar pela primeira vez em tirar umas férias. Sabia que sua realidade podia ser diferente naquele momento. Não fosse o excelente trabalho de Snape servindo de agente duplo e, mais especificamente, o fato de que o comissário nunca chegara realmente a assinar sua suspensão, ele poderia estar agora mesmo entre as pessoas que estavam sendo investigadas, o que poderia comprometer toda a operação.

Potter não se arrependia de seus atos e conseguia listar todas as suas razões pessoais para agir da maneira como tinha agido. Mas isso não significava que a sorte e seu senso de justiça estariam sempre ao seu favor. Era importante descansar, absorver tudo o que tinha acontecido e, por fim, crescer com isso.

Foi por essa razão que recusou a promoção para trabalhar com o serviço militar em operações secretas. Promoção essa que também foi ofertada ao seu parceiro por seu trabalho imprescindível e a qual foi igualmente negada porque Ron gostava muito de Londres e de sua namorada nova para ousar se comprometer com qualquer coisa que lhe tirasse mais tempo do que o serviço habitual.

Era possível mudar o mundo com pequenos gestos e ele tinha certeza disso toda vez que Hermione lhe sorria.

– Você está bem? – Ele perguntou, segurando sua mão pequena quando a viagem de carro foi chegando ao fim.

Granger, que até então parecia distraída com a passagem idílica e campestre do interior da Grã-Bretanha, o encarou. O rosto dele estava bem melhor agora. Os olhos claros pareciam simétricos outra vez e os poucos machucados que ainda lhe pontuavam o rosto bonito haviam sumido temporariamente frente ao bom trabalho que ela havia feito com maquiagem por ele, para que a Sra. Weasley não se desesperasse muito.

– Sim. – Respondeu, suavemente. – Foi uma longa estrada.

Ron concordou, sabendo que ela não estava se referindo à viagem de carro que estavam fazendo juntos pela primeira vez à Toca, apelido carinho da casa de seus pais.

– Mamãe faz o melhor chá da Inglaterra. É revigorante. Você vai ver.

– Só a oportunidade de sair da cidade durante todo esse alvoroço com a resolução do caso já é incrível, Ronald. Obrigada.

– O prazer é meu. Significa muito que você tenha aceitado vir comigo. – Ele mal podia acreditar que ela continuava saindo com ele. Segurar suas mãos pequenas sem nenhum motivo, aliviar a tensão sexual com coisas mais divertidas do que a implicância mutua, abraçá-la toda vez que ela parecia cansada era muito melhor do que qualquer coisa que ele tivesse feito até então. Melhor até mesmo que ter ajudado a derrotar Voldemort.

– Há algo entre seus olhos de filhote abandonado e queixo de menino pidão que torna as coisas realmente difíceis para o meu lado, detetive.

– Ah, é?

– É, mas não banque o convencido. – Preveniu, fazendo-o rir.

– Está bem, mas vou me utilizar dessa informação posteriormente, doutora.

Ela simulou uma careta e voltou a encarar a janela. Em poucos minutos, pôde observar a silhueta de um casebre torto se impondo entre a paisagem natural. Parecia um lugar recém-saído de um livro para crianças. Era lindo de uma maneira caricata e humilde.

Hermione tentou imaginar Ron crescendo ali e surpreendeu-se ao perceber que conseguia uma imagem nítida: um menino desengonçado entre seis irmãos, posteriormente afetado profundamente pela perda de um deles...

De algum modo, tudo o que ele era poderia ser associado com aquela imagem e Granger sentia uma comoção sem tamanho no peito ao perceber isso. Guardou a memória com carinho e, quando o detetive estacionou, já sabia que ia adorar as pessoas que viviam ali, antes mesmo de conhecê-las.

– Querido! – Molly, rechonchuda e com as bochechas vermelhas de emoção, correu para seu garoto. Não importava quanto seus filhos crescessem, sempre seriam crianças para ela. Envolvendo Ron em um abraço apertado, deixou-se ser afetuosa por exatos quinze segundos antes de começar a ralhar com ele por não retornar ligações e nunca visitá-la aos domingos.

O detetive apenas concordou passivamente com a cabeça, um tanto quanto consternado. Chegou a abrir a boca uma ou duas vezes para apresentar Hermione, mas parecia impossível encontrar uma pausa boa o suficiente no monologo da mãe para tal ato.

– Oh! E você deve ser a Dra. Granger. – A Sra. Weasley disse quando seus olhos tornaram a enxergar outras coisas alem do filho. – Me desculpe pela indelicadeza. Ron sabe como despertar o meu lado furioso.

– Eu entendo perfeitamente, senhora. – Hermione sorriu e Molly lhe sorriu de volta, o que para Ron pareceu um ótimo sinal. Ele não tinha como supor ainda, mas Molly dera pulinhos ao ouvir falar de sua nova namorada. Não era como se ela desgostasse da antiga, mas Gina fizera uma propaganda imensa da advogada e se Gina gostava de alguém, era quase impossível para a Sra. Weasley ter uma opinião contrária.

– Vamos entrando. Eu preparei bolinhos e o chá está quase pronto. – ela encaminhou gentilmente os dois até a porta da frente, mas, antes de fechá-la, berrou em direção ao jardim: - ARTHUR!

Recompondo-se enquanto alisava o próprio vestido, fez com que Ron e Hermione sentassem-se nas cadeiras rotas da mesa redonda que ficava na cozinha.

– Seu pai está novamente enfurnado na garagem. Alguém deveria lhe contar que existe mais no mundo do que modelismo naval.

– O principal hobby de papai é construir barcos em garrafas. – o detetive explicou para Hermione em um sussurro.

– ARTHUR! – Dessa vez, Molly gritou pela janela. Em pouco tempo, um senhor de cabelo ralo e fino e óculos de aro redondo entrou pela porta da cozinha. Ele não parecia abalado pelos gritos. Sorrindo para a esposa, apresentou-se animadamente para Hermione.

Antes que percebesse, a advogada estava submersa em assuntos aleatórios e familiares com o Sr. e a Sra. Weasley e Ron.

Nos dias anteriores, quando ela acordara insuportavelmente feliz com sua nova realidade, se controlara o suficiente e se forçara a ser racional. Havia pensado muito sobre seu relacionamento prematuro com o detetive e no que tudo isso poderia abarcar/significar. Mas ali, sentada junto a ele, vendo-o sorrir de maneira leve e descontraída, naquele ambiente familiar e aconchegante, ela descobriu que não importava, pois independente do que viria a seguir, valia a pena.

– Estou certa de ter dito a palavra repouso doze vezes por telefone, Malfoy. - Astoria ralhou ao encontrá-lo sentado naquele mar de cama com lençóis bonitos de seda, encarando uma televisão de proporções gigantescas.

– Estou repousando. - Avisou, sem tirar os olhos do noticiário. - Mas você sabe que tenho um gosto por comoções públicas. Me divirto.

– Se esse é o seu jeito de tentar fingir que não está assistindo isso por se preocupar com Potter, é importante saber que falhou.

Ele suspirou e a olhou de esguelha.

– Você está se importando a toa, Draco. - desde o acidente, ela vinha repetindo esporadicamente seu primeiro nome.

Era sempre uma alegria e uma surpresa.

– Dra Granger está cuidando do caso e eles têm todas as provas substanciais para alegar legítima defesa.

– Tenho advogados melhores. - Contestou, mais por teimosia do que por outra coisa.

– Ele vai ficar bem. Mesmo se ele tivesse contratado o pior advogado do mundo... Mesmo se ele tivesse praticado homicídio doloso, o que sabemos não ser o caso... Ainda assim, ele estaria livre. As pessoas o amam agora. Ele acabou de alcançar o mesmo patamar que Lady Di. Nenhum júri o condenaria.

Draco resmungou algo incompreensível e então, com um gesto de mão, fez a TV se apagar. Astoria ainda estava tentando se habituar a não girar os olhos para o excesso de riqueza e tecnologia presentes naquele apartamento.

– Tudo bem. - Disse, por fim. - Então sente-se aqui e me ajude a relaxar.

Ela fez uma careta em desaprovação, mas, de fato, sentou-se na beira da cama, desabotoando-lhe a camisa do pijama.

– Hm. - O sorriso sugestivo e bobo dele a fez rir.

– Fique quieto! - Pediu, enquanto tirava da maleta o estetoscópio, a máquina de auferir pressão e o oxímetro portátil. Malfoy se calou e a assistiu realizar o procedimento padrão. Aquela era a melhor parte dos seus dias de repouso. Ambos sabiam que ele já estava relativamente bem, mas Astoria fazia questão de conferir ainda assim, como se, caso não fizesse ou caso deixasse outra pessoa o fazer, ele fosse começar a verter sangue loucamente, mesmo sem tiro algum.

– Tudo bem. - Constatou, orgulhosa de si mesma.

– Obrigado. Mesmo. - Draco murmurou, segurando-lhe a mão gentilmente. - Espero que você me deixe ao menos te levar para jantar quando eu for humano outra vez.

Astoria riu do exagero.

– Pode ser. - Ela supôs, ingenuinamente, que ele estivesse se referindo a algum restaurante em Londres e não à ilha particular no meio do oceano atlântico da qual ele era dono.

– Pode ser? - Sorriu, cheio de expectativa. - Nunca sei exatamente o que fazer quando você concorda comigo.

Ela encolheu os ombros.

– Gosto quando você não se esforça muito, Malfoy.

Ele anotou isso mentalmente e sorriu. Passaram minutos agradáveis em silencio, apenas encarando um ao outro.

– Como você está se sentindo? - Astoria perguntou, por fim. Draco sabia que ela não se referia a sua saúde física e, por essa razão, se permitiu mais alguns minutos de silencio, antes de decidir o que fazer.

Poderia pensar em alguma frase de efeito e sustentá-la com seu sorriso de lobo, mas parecia cada vez mais difícil agir dessa maneira com a legista.

– Eu não sei, Astoria. - Foi sincero. - Guardo toda uma caralhada de sentimento dúbio pelo meu pai. Quando eu era pequeno eu costumava venerá-lo. Com o tempo, comecei a achá-lo um tremendo babaca. Não que eu não seja um também. Mas me esforcei para ser de outra classe de babaca. - Seus olhos perderam o foco por um instante. Ele parecia estar ponderando sobre algo muito pessoal. - As vezes, ainda parece que só estou tentando provar um ponto.

– Mas não é isso que estamos fazendo todos nós? - Inquiriu, confortando-o.

Draco sorriu, grato, e guardou para si o fato de que achava que ela não tinha nada a provar. Astoria era uma afirmação pulsante, constante, surpreendente.

Em meio ao seu turbilhão de duvidas, ela era um ponto fixo e certo.

Ele passara a vida inteira procurando por aquilo: uma certeza a se agarrar. Era essa a motivação de toda a trajetória de sua vida, desde quando era uma criança cruel e mimada, passando pela adolescência conturbada e desafiadora, até a vida adulta estável e milionária. Jamais lhe passara pela mente que ela viria em forma de pessoa. Ainda mais em uma pessoa tão bonita que xingava como um caminhoneiro bêbado. Com Astoria por perto, Draco sentia que podia finalmente descansar. Não havia mais nada a procurar.

Tudo estava ali.

Finalmente.

Ele parecia tão feliz que ela achou que ele subiria naquele palanque e dançaria uma salsa de maneira desajeitada e sensual. Seu sorriso era tão brilhante que ela teve a sensação de estar admirando o sol, sentindo seus olhos ardendo e mesmo assim sendo incapaz de desviar os olhos.

Luna pensou que aquele era o conceito de estar apaixonada, então: encontrar algo mais brilhante que o sol.

– Nunca pensei que alguém me daria uma medalha da corporação por uma porção de coisas ilegais. – Neville mostrou a medalha com orgulho para Luna, sorrindo e segurando-a perto do rosto. – Agora eu posso dizer que fiz algo significativo na minha vida.

– Você é especial. – Luna afirmou com enorme certeza.

– Você faz com que eu me sinta especial. – Ele apertou a cintura dela, enquanto ela enlaçava seu pescoço. – A segunda pessoa mais especial do mundo.

– E eu sou a primeira? – As maçãs de seu rosto coraram instantaneamente. – Você me elogia demais.

– E não é apenas porque eu amo você. – Ele falou, com o nariz colado ao dela. – Mas porque os carbonos que te constituem se ligaram de forma diferente que do resto da humanidade, inclusive eu.

Ele a analisou com cuidado, primeiro o rosto rosado com brilho labial e depois seu vestido lilás rodado pouco acima dos joelhos ossudos, seu casaco de balõezinhos que não escondia sua cintura fina ou seu colar com uma enorme medalha de leão. Se arriscaria a dizer que naquele dia ela parecia mais linda que sempre, porém corria o risco de mudar de ideia facilmente. Ela era linda quando acordava de rosto amassado, sem pijamas, com os cabelos loiros acinzentados espalhados por todo o travesseiro. Era linda enquanto tentava curar as dores do mundo com chás ou supervisionava os cartazes que ele fazia quando descobriu que gostava de fazer bagunças com tinta guache.

Ela era linda o tempo inteiro, até quando discutiam as notícias do jornal ou quando se intrometia nas cláusulas do texto que ele apresentaria para Malfoy sobre novas políticas ambientalistas.

– Como assim? – Ela perguntou finalmente.

– Eu poderia te dar toda uma explicação cientifica que você não gostaria de escutar. Mas acho que isso tem mais a ver com algo que nem eu e nem a ciência podemos dizer. – Ele sorriu, segurando suas mãos com ternura.

Lembrou-se que algumas das primeiras discussões “filosóficas” que tiveram foi a respeito de Neville não sentir o que não podia explicar. Também recordou-se de quando isso mudara: quando se vira apaixonado por ela de maneira inexplicável e imensurável. Como se fosse capaz de fazer tudo por ela e para ela.

– O que posso dizer é que você exala um calor tão forte que em seu interior só podem ser formadas ligações fortes, como as de diamantes. – Neville encolheu os ombros. – Logo, você tem diamantes no seu interior. O que te faz a pessoa mais valiosa do mundo.

– Isso não faz o menor sentido. – Ela riu, encostando a testa na dele.

– Alguém me ensinou que nem tudo na vida tem que fazer sentido. – Neville sorriu antes de beijá-la.

Harry deveria permanecer de repouso: não podia mexer a perna direita e nem o braço esquerdo. Mas quando acordou, ele não estava ao seu lado. Esperava que dessa vez tivesse levantado apenas para ir ao banheiro, não para encontrar um psicopata-serial-killer-gangster sem escrúpulos como da última vez.

Pensou se era assim que seria sua vida se um dia resolvesse ser esposa de um policial: acordar e pensar “onde meu marido foi levar um tiro dessa vez?”. Pensou nas vezes que invadira prédios, tiroteios – ou aquela vez que fora cobrir uma guerra no oriente médio. Talvez não fosse fácil ser a pessoa a amar Ginevra Weasley, mas ele não sabia disso ainda e fora ele quem se levantara sem avisar para onde ia. Ela avisaria se tivesse que voltar ao Uzbequistão.

– Isso está se tornando um maldito hábito. – Bufou, enquanto vestia uma camiseta que encontrara no chão. Respirou fundo e sentiu um aroma de café fresco, muffins e ovos mexidos: cheiro de manhã de domingo.

Talvez fosse apenas fome.

– Você deveria estar na cama. – Ela coçou os olhos quando o encontrou na cozinha mexendo em ovos, equilibrando a frigideira com uma mão enquanto apoiado em uma das muletas com o braço que deveria estar mobilizado. – Muitas coisas que você não deveria estar fazendo estão acontecendo aqui ao mesmo tempo.

– Eu quis fazer algo legal. – Ele disse, meio assustado por ter sido surpreendido pela voz de Gina. – E você sempre acorda morrendo de fome, como se não tivesse se alimentado por três dias inteiros.

– Você começa a frase como uma pessoa fofa e termina como um mané. – Gina disse girando os olhos e tomando a frigideira da mão dele, que, com dificuldades, tomou-a de volta.

– Eu já estou terminando. – Ele falou, estalando os lábios em sua bochecha rosada pelo toque. – E se eu fosse uma pessoa boba e romântica o tempo todo você se cansaria de mim.

– Quem disse que já não estou cansada? – Mostrou a língua, enquanto sentava-se à mesa pequena de dois lugares já arrumada por ele. – Você não fica na cama quando eu mando, sai no meio da noite para tentar me causar um ataque no coração e nunca fica de repouso.

– Eu estou de repouso há dezoito dias inteiros. – Semicerrou os olhos. – Você não me deixa levantar nem para pegar um copo d’água.

– Dezoito dias em que você já foi a tribunais, à corporação, ao lance ultrassecreto que você recusou com Ronald. – Ela enumerou com os dedos enquanto ele se divertia vendo seu rosto esquentar por aquela irritação constante que era a falta de repouso de Harry Potter. – Que você foi receber medalhas, que você foi ver Neville receber medalhes e vocês nem são tão amigos assim... Dezoito dias que você parece não controlar seus hormônios de adolescente-

– Opa! – Ele riu interrompendo-a, movimentando-se com dificuldade e levando a frigideira com ovos mexidos para a mesa. – Você que está usando meu corpo e fingindo que a culpa é minha.

Harry não sabia ficar de repouso, mesmo que se sentisse familiar ao apartamento de Gina o suficiente para não se importar em tomar cervejas e ver o jogo. Entretanto, ninguém assiste a tantos jogos assim na vida real, e ver as notícias o irritava porque tinha casos de homicídio rolando há tantos dias que ele podia ter resolvido todos de uma vez. Ás vezes assustava Gina vociferando para TV o quanto estava na cara que o culpado era o vizinho que não sabia dar uma entrevista e não olhava para a câmera por mais de dois segundos.

Depois de terminar de usar a frigideira, sentou-se ao lado dela enquanto dividiam o jornal que ele tinha se aventurado para buscar na portaria logo cedo, batendo um longo papo sobre animais aparentemente perigosos com o porteiro Rúbeo, que Harry decidiu que era sua pessoa favorita dali em diante – principalmente depois daqueles caramelos incríveis.

Enquanto passava jarra de suco e enchia o prato dela com quase toda a porção de ovos mexidos que tinha feito, imaginava-se fazendo isso por todas as manhãs por um período de tempo infinito.

Nas ultimas quase três semanas eles dividiam jornais, beijos de boa noite e acordavam lado a lado, porque Gina não permitia que ele saísse de seu alcance e Harry sabia que, por mais que ela nunca fosse admitir em voz alta, precisava estar com ele como ele precisava estar com ela.

– Está faltando uma parte do Jornal. – Gina falou, olhando para as páginas sem sequência numérica.

– Eu sei. – Ele disse, tirando uma moldura de trás da bancada. – Achei que nós poderíamos exibir isso um dia na nossa casa.

Harry viu seus olhos brilharem quando ela leu o título da matéria destaque de duas páginas que trabalhara durante as últimas semanas – além das notícias diárias sobre julgamentos e redações sob sua perspectiva de consultora civil. Aquele era o trabalho de sua vida, porque não era apenas uma notícia: era uma história, era um dossiê, era a investigação de uma existência. Não era a primeira vez que olhara para seu trabalho com orgulho, mas era a primeira vez que se sentia parte da notícia e parte fundamental de uma narrativa.

Nunca se sentira tão orgulhosa de si mesma e estava tão feliz por poder dividir isso com Harry que se esqueceu do fato de que ele não podia mexer o braço e quase o derrubou da cadeira sufocando-o com um beijo.

– Eu poderia te despir agora mesmo. – Ela falou sorrindo entre beijos com gosto de café.

– Pervertida. – Ele girou os olhos, fingindo tirar a camisa.

– Mas você não tente me distrair. – Ela falou com as pernas em cima da perna dele que não tinha a bota ortopédica. – Você disse um dia na nossa casa.

– Disse? – Coçou a cabeça envergonhado, apertando os lábios.

Ela concordou apenas com a cabeça, em dúvida se prosseguia destacando o fato que ele disse “nossa” com todas as letras. Poderia ser apenas da boca para fora, nem todas as palavras deveriam significar algo sempre.

– Disse. – Ele confirmou um tempo depois e começou a atropelar as palavras. – E você pode achar precipitado, mas eu tenho uma coisa ou duas para dizer: eu amo você, o que eu já devo ter dito centenas de vezes e quero continuar amando todos os dias. Quero essa vida de dormir na mesma cama, te beijar a noite e acordar sorrindo olhando para esse seu rosto lindo demais para ser real.

– Você disse que se fosse romântico e fofo o tempo todo eu me cansaria de você. – Ela falou, sorrindo tanto que seu rosto doía. Queria dizer naquele instante o quão lindo ele ficava quando nervoso.

–Você me aguentou suspenso e rabugento, ferido e inquieto, triste e culpado. – Ele queria dizer em tom de brincadeira, mas sentiu que seu tom de voz estava mais grave que de costume. – Aí você fez isso de não ser condescendente e sacudir meus ombros, de dividir caixinhas de comida enquanto discutindo séries de TV e me beijar até eu dormir e eu percebi que eu quero isso todos os dias. Em versões diferentes, em doses maiores e regulares, mas todos os dias. De qualquer maneira, você pode me aguentar romântico depois de ter aguentado tudo isso.

– Posso sim. – Gin mal conseguia conter o sorriso.

– Não é para se acostumar. – Harry disse, encostando o nariz ao dela. – Isso tudo é para te convencer a morar numa casa enorme comigo.

– Só se você fizer os ovos mexidos. – Gina respondeu, roçando seus lábios aos dele.

– Todos os dias. – Disse antes de beijá-la.

Lembrou-se da primeira vez que se beijaram, quando ela se auto denominou a mestre da investigação. Também foi a primeira vez que viu seu corpo nu, que se divertiu em tempos e que acordou rindo, que acordou ao lado dela. Lembrou-se do cheiro de baunilha de seu hidratante que quase sumia diante ao cheiro de lavanda fresca do seu cabelo. Gostava da sensação que tinha de que conhecia todas as sardas dos seus ombros e todas as curvas do seu corpo. Eles se prometeram no primeiro dia que não se levariam tão a sério e ali estavam em tão pouco tempo sonhando em morar juntos.

Harry sabia que tinham o próprio tempo e que tinham passado por tantas coisas juntas que ele mal via a hora de passar por mais milhões de primeiras vezes e primeiros dias, aromas de café fresco e cheiro de lavanda com baunilha.

Pela primeira vez na vida, com ela em seus braços e um sentimento de justiça enfim, percebia que o mundo estava finalmente em seu lugar e em paz. Que ele estava onde pertencia e ali ficaria para sempre.


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