Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 20
Capítulo XIX


Notas iniciais do capítulo

Olá! :)
Aqui é a Lu pra anunciar orgulhosamente - em meu nome e no de Abbie - que este é o penúltimo capítulo da história. Após isso, teremos o capítulo final e o epílogo e, aí então, depois de muitos anos, a história finalmente vai encontrar o fim que merece.
Eu só gostaria de dizer que somos absolutamente gratas pela companhia de vocês ao longo do desenrolar dessa fic. E aqui me refiro a todo mundo: aos antigos leitores, aos novos leitores, aos leitores que permaneceram, aos leitores fantasmas, aos que estão lendo esse recado aleatoriamente, enfim... A todo mundo mesmo.
Obrigada!
De coração!



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Harry não sabia que era capaz de sentir aquela dor tão aguda no peito. Tampouco sabia que seu mundo sempre ágil fosse capaz de congelar por uma fração de segundo que parecera uma eternidade enquanto se via perdendo algo que conquistara há tão pouco tempo.

Acabara de perder a única parte viva de seus pais, a única família, o homem que fugiu de uma prisão de segurança máxima porque se preocupara com ele. O homem que apareceu ali porque queria ajuda-lo.

Isso não é justo.

Com o revolver em punhos, mirou diretamente no coração de Bellatriz Lestrange. Não doeria nela o mesmo que doía nele. A dor dela não seria o bastante, não chegaria nem perto, mas ele tinha que tentar.

– Eu matei Sirius Black! Eu matei meu priminho! – Ela gargalhou e Harry desejou perfurá-la como um pedaço de queijo suíço. – Me diz Potter, o que eu vou dizer no Natal esse ano?

Antes que Harry pudesse pensar em algo para dizer, Bellatriz começou a rir novamente e a atirar para todos os lados com sua arma automática. Harry conseguiu desviar de todas que vinham em sua direção, uma vez que ela atirava ao esmo. Escondido atrás de uma pilastra observou enquanto ela procurava as balas para recarregar a arma. Àquela altura os policiais estavam a caminho.

– Thomas. – Harry sussurrou, apertando o comunicador.

Os policiais do reforço, aqueles que não faziam parte da operação, não podiam vê-lo ali. Ainda estava suspenso.

– Eles sabiam que estaríamos aqui, Potter. – Thomas disse, ofegante em algum lugar. – Eles estavam preparados.

– Eu sei. – Harry manteve o tom de voz baixo. – Onde você está?

– Escapando dos seguranças. – Ele respondeu, enquanto Harry escutava ao fundo o som de um osso se quebrando. – Estou quase aí.

– Se apresse. – Harry falou, antes de respirar fundo e correr.

Deveria correr para longe dali, mas mesmo que não pudesse ouvir sua voz em lugar algum, sabia que Draco ainda estava no ambiente. Precisava levar Draco para um lugar seguro, precisava tirar o corpo de Sirius dali, precisava tirar Gina dali em segurança e precisava disso para já. Quando os quatro capangas de Bellatriz (que provavelmente estiveram ali com ela o tempo todo) surgiram tão de repente como em um passo de mágica, Harry estava tão raivoso que mal se vira quebrando seus narizes, joelhos e braços e, de alguma maneira, desacordando-os. Só queria quebrar mais alguns ossos, talvez as duas mãos de Bellatriz Lestrange e fazê-la chorar as lágrimas secas de seus olhos.

No momento em que vira Draco e uma poça de sangue a sua volta, não pode evitar sentir mais um fiapo de dor antes de decidir que não se importava mais: iria matá-la e depois acharia Voldemort e enfiaria uma bala entre seus olhos. Era melhor para eles que Draco não estivesse morto. Já tinham tirado um pedaço dele e ele não toleraria que tirassem mais um.

– Aguenta firme, Malfoy. – Harry disse, pisando firme e encarando a arma de Bellatriz a milímetros de seu nariz. – Vamos lá. Atire! Me mate. Ou você está esperando Voldemort? Ele te disse que queria me matar com as próprias mãos, não foi?

Harry assistiu enquanto ela hesitava.

– Ele provavelmente te disse que viria. Vai na frente, eu só tenho que resolver algo antes. – Harry riu, liberando parte de sua cólera. – E você como cachorrinho adestrado ficou aqui, esperando em silêncio... Ele deveria estar aqui não é mesmo?

Bellatriz se empertigou e empinou o nariz.

– Ele já está a caminho e você vai morrer. – Harry percebeu que sua risada dessa vez não soava tão convincente.

– Ele não vem, Madame Lestrange. – Harry gargalhou mais uma vez, tentando ignorar aquele tom insano que escutara vindo de si. – Tem tanto policial aqui que ele não se atreveria a chegar perto, mas mesmo assim a enviou. Que prova de amor!

– Você não sabe o que está falando. – Ela o desafiou com o olhar.

– Ah, eu sei. E também sei que a senha do seu cofre é o aniversário da sua irmã. – Harry encolheu os ombros e fez questão de não perder nenhuma das expressões de seu rosto quando completou: - E mesmo assim você atirou no único filho dela. Acho que você tem mais preocupações no jantar de Natal esse ano.

– Aquele era o... ? – Não parecia ser capaz de completar a frase com o nome do sobrinho. Seus lábios perderam a cor e seu rosto pálido estava tão translucido que ela parecia pronta para se desmanchar como papel antigo.

– Sim. E esse é o Dino. – Ele sorriu, enquanto Dino se aproximava de súbito e algemava as mãos dela. Com o rosto ainda perto do dela, disse bem baixo. – Veja, eu poderia ter te matado e não seria vingança suficiente. Mas talvez passar anos em Azkaban como aquele homem bom que você matou seja. E quando eu for testemunhar e recitar palavra por palavra o que você me disse, como você me mataria com a mesma arma que matou meus pais... Sim, no dia que eu colocar você e o seu Lorde na cadeia, talvez nesse dia os Longbottom, os meus pais, Sirius e quem mais você arruinou ou ajudou a arruinar se sintam em paz e eu vou poder sorrir satisfeito. E esse dia não está longe, Lestrange.

Harry era consciente que Neville podia ouvir tudo agora, uma vez que não mantivera a escuta ligada o tempo todo por medo que Gina o escutasse levando um tiro ou até morrendo – por mais egoísta que isso pudesse soar.

Não podia ver, mas Neville sorria. Ele nem sequer soubera que ficaria tão satisfeito em ouvir Bellatriz sendo presa. Talvez desse pulos e agradecesse ao rei Sol com Luna no dia que ela fosse condenada, por menos paz e amor que a cadeia soasse.

– Agora preciso tirar Sirius daqui. – Harry disse, tentando não pensar que o padrinho estava morto. – E Draco.

Ajoelhou-se receoso perto do amigo que estava imóvel e pálido. Em um ato que lhe exigiu mais coragem do que achava que tinha, sentiu seu pulso.

Malfoy estava vivo.

Mal teve tempo para respirar fundo de alívio. Ouviu Gina dizer pela escuta que conseguira os arquivos e já estava fora. Estava esperando-o na saída da cozinha do estabelecimento, uma rota cheia de câmeras que não serviria para entrar no cassino, mas agora que DDE tinha controle das mesmas era uma saída perfeita.

Harry disse a Dino para mandar a arma para o exame balístico, porque ela era o último pedaço do quebra-cabeças.

– Você fez um trabalho imprescindível, Thomas. – Ele o cumprimentou com respeito. – Obrigado.

Com o corpo magro de Sirius nos braços e Malfoy fraco demais para se comunicar, mas arrastando-se bravamente enquanto apoiado em seus ombros, fez o curto caminho tortuoso pelas escadas até a rua de trás do cassino. Pela escuta, disse que tinha homens feridos, mas que daria um jeito nisso.

– Você me disse que provavelmente eu não teria trabalho. – Astoria disse apreensiva, abrindo as portas da ambulância roubada.

Gina, que alcançara a rua ao mesmo tempo em que ele, o encarou nos olhos para depois mirar seu braço ensanguentado. Harry olhou para baixo desconcertado, jamais a vira sem palavras ou com o rosto vincado por preocupação. Queria apenas abraça-la e prometer que tudo ficaria bem agora.

– Acho que não tinha notado. – Disse, olhando para o buraco da bala em seu ombro.

– Eu dirijo. – Gina falou, pulando para a frente da ambulância e carregando Harry a tiracolo. Astoria tentava se controlar examinando o ferimento à bala de Draco e o xingava de nomes inimagináveis enquanto, prestes a perder a consciência, o rosto dele se contorcia em um sorriso.

Harry olhou desolado para o corpo já gelado de Sirius na maca ao lado da de Draco. E ali no banco da frente com Gina, quase como em uma confidência, deixou as lágrimas grossas e tristes rolarem por seu rosto enquanto encostava em seu ombro.

Astoria cobriu o corpo de Sirius e, logo em seguida, se voltou à Malfoy. Ela ainda precisaria de sessenta e oito dias e doze horas para admitir para si mesma que nutria sentimentos por ele, mas ali, naquele momento, vendo-o mais pálido que o habitual e debilitado de verdade, ela se deu conta pela primeira vez de que poderia amá-lo só por ele ser estúpido o suficiente para correr perigo no intuito de ajudar um amigo. Provava coisas de seu caráter que ele jamais admitiria. E era o suficiente para que, depois que ela estancasse o ferimento, passasse a mão delicadamente por seu cabelo:

– Preciso de você para fins recreativos, Draco. Não ouse deixar minha vida menos divertida. – Murmurou.

Quando a chamada urgente interrompeu a programação do canal de noticias que Hermione estava assistindo para transmitir imagens ao vivo do incêndio no Imperius, a advogada sentiu a pressão cair instantaneamente.

Precisou se escorar no braço do sofá antes de respirar fundo e correr para o carro. Foi difícil dirigir imaginando todas as coisas que circundavam seus pensamentos. Mal reparou no que estava fazendo até estar perto do local: havia muitas viaturas da policia, furgões de emissoras televisivas e ambulâncias. Uma confusão de repórteres, tiras, paramédicos, bombeiros, civis e funcionários do cassino se aglutinavam em torno do prédio.

Hermione foi pedindo licença e se impondo até alcançar a faixa amarela que barrava a passagem de qualquer individuo que não tivesse um distintivo. Apesar de aturdida, tinha se lembrado de levar consigo a autorização da Scotland que a aprovava como consultora civil, então, uma vez dentro do perímetro, ela correu para as ambulâncias. Uma fumaça preta densa ainda manchava o ar, mas o fogo já havia sido contido e extinto.

Felizmente, não foi difícil achar Ronald.

Ele era, obviamente, o detetive teimoso que estava contestando as ordens dos paramédicos e dizendo que não havia necessidade de levarem-no para o hospital, mesmo que seu rosto estivesse transfigurado por hematomas e inchaços e ele estivesse apoiando o peso do corpo nos braços e em apenas uma das pernas.

Vê-lo consciente e sendo irritante encheu o peito de Hermione de alivio. Por isso ela o abraçou com força, ignorando o quanto aquilo poderia ser uma péssima ideia.

Ron sentiu todo o corpo doer, mas decidiu que nada no mundo o faria reclamar em voz alta. Enquanto Hermione disparava perguntas sobre o que tinha acontecido, ele tentava colocar em ordem cronológica os eventos, sem muito sucesso.

Ele se lembrava de não ter conseguido abafar o incêndio a tempo, de ter tombado uma mesa com o tampo para o fogo no intuito de proteger-se atrás da madeira junto com Angelina. Lembrava-se de tentar reanimá-la como um louco e do barulho do fogo a crepitar em um prelúdio agonizante de morte terrível. Tossindo como um tuberculoso, viu a fumaça chegar a proporções preocupantes e seu ultimo ato foi de encontrar água e jogar nas roupas de Angelina e nas suas. Pouco antes de perder a consciência ele ainda conseguiu tirar o próprio casaco a fim de proteger o rosto da detetive.

Depois disso, tudo escureceu e quando ele acordou novamente, estava preso a uma maca com Angelina a seu lado. Aparentemente era uma sorte que ambos estivessem vivos. Ela conseguira acordar e se comunicar com o pessoal da DDE a tempo o suficiente para que nenhum deles fosse carbonizado. Uma operação tática de emergência fora mediada por Tonks e graças ao bom trabalho de Oliver – e outros subordinados -, todos estavam bem e embora não tivessem conseguido prender Crouch, a maleta com a qual ele tentara fugir fora interceptada a tempo.

Ron até queria de verdade contar todas essas coisas para Hermione, mas tudo que se viu dizendo foi:

– Você vai considerar muito ofensivo se eu admitir que estou ignorando tudo o que você diz enquanto penso em uma forma não humilhante de pedir para beijar você?

Hermione ergueu uma sobrancelha, mas sorriu.

– Só que não agora, porque eu estou realmente fodido. – Sussurrou. – Mas não conte a eles. – E apontou com a cabeça os paramédicos de braços cruzados a poucos metros de distancia.

Isso a fez gargalhar e tocar os lábios nos dele suavemente.

– Tudo bem. Mas você sabe que vai subir na ambulância e fazer tudo o que eles pedirem, não sabe? – A maneira carinhosa não escondia seu ar autoritário.

– Agora eu sei. – Ele concordou, por fim.

Fora sem dificuldades que Astoria removera a bala alojada no ombro esquerdo de Harry. Ele escutou enquanto ela murmurava que fora por pouco que a bala não atingira a articulação glenoumeral e seu osso do úmero.

Draco, por sua vez, perdera uma quantidade considerável de sangue, mas Astoria só precisou vociferar uma vez para um conhecido colega de profissão para conseguir o tanto de bolsas de sangue que quisesse.

Harry ficaria ali com eles a noite inteira se pudesse. Sabia que Draco tinha se arriscado não apenas por ser arrogante e convencido de si mesmo, ou por achar que tinha alguma dívida com o mundo por sua família inteira estar envolvida até o pescoço. Ele se dedicara a aprender algo para ajuda-lo, arriscara sua vida porque sabia o quão importante aquilo era e, mesmo que Harry nunca precisasse de uma prova, aquela parecia a maior de todas.

Entretanto, Astoria o mandou embora antes que ele começasse a se desesperar de culpa. Disse que sua especialidade era os mortos e que aquele ali não se atreveria a morrer de maneira alguma. Também confessou que um dos remédios para dor que enfiara na garganta de Harry supostamente o faria dormir em algum momento.

– Vamos para casa. – Gina falou, apertando os lábios.

Agora parecia um pouco mais tranquila, mesmo que olhasse para o seu braço o tempo inteiro para checar se não estava sangrando ou se seu rosto não estava sem cor como estava quando o encontrou na saída do cassino. Ela já sabia que o amava, sempre soubera. Eles foram Harry e Gina desde o primeiro dia e, por mais que ele repetisse frequentemente ‘foi só um tiro, tiras levam tiro o tempo todo’, ela sentiu pela primeira vez como se pudesse perder tudo em um segundo e esse simples fato a desesperara.

– Eu amo você. – Harry disse grogue pelos remédios, segurando a mão dela enquanto ela trocava a marcha do carro com a mão livre. – Você está linda de super espiã.

– Eu também amo você. – Ela sorriu para a primeira vez que vira seu rosto verdadeiramente sereno. – No próximo caso em que eu estiver querendo saber notícias suas, favor deixar a escuta ligada. Por que se não, eu juro que eu mesma vou te matar na próxima vez.

– Eu não queria que você escutasse se algo desse errado, por que você ia ficar triste e eu amo você. – Harry sorriu de novo e disse antes de cair no sono em seu ombro: - Você deveria se casar comigo.

Gina apenas riu, pensando que se ele estivesse sóbrio, provavelmente diria sim e no quão romântica isso a transformaria. Com uma careta, sacudiu tais pensamentos enquanto estacionava em frente ao seu prédio (que era mais perto que o de Harry).

Acabou pedindo ajuda ao porteiro, que tinha provavelmente uns dois metros de altura e mais força nos braços para carrega-lo sem dificuldades até seu apartamento.

– Analgésicos. – Murmurou para Sr. Rúbeo, que, amigável como sempre, sorriu. Em resposta sorriu também, Harry parecia tão frágil que a única pessoa em quem confiaria a vida era aquele gigante bondoso.

– Bom garoto esse seu namorado policial. – Ele disse, acertando o casaco enorme, após colocar Harry confortavelmente no colchão de Gina. – Lembre de convidá-lo para a cabana, um pouco de caramelo de café com leite com certeza vai ajudá-lo a melhorar!

– Hmm, com certeza! - Gina agradeceu, despedindo-se do homem mais simpático do mundo.

Velando o sono de Harry, deitou-se ao seu lado na cama. Assistiu enquanto seu peito inflava e esvaziava-se, admirando sua pacificidade. Ele parecia tão calmo e bonito que poderia beijá-lo se isso não fosse acordá-lo.

Quando pareceu seguro, ela mesma caiu no sono. Um sono tão profundo e relaxante de quem se sentira segura pela primeira vez em meses que nem ouvira quando Harry despertara cerca de quarenta minutos depois ao som do toque de seu telefone por pouco não descarregado.

Pensou em ignorar a chamada, mas era um policial. Policiais não ignoram chamadas.

– O senhor não sabe a decepção que eu tive ao descobrir que não viria para sua casa hoje, Sr. Potter. – Uma voz familiar soou do outro lado da linha. – Existem momentos em que a gente simplesmente quer chegar a uma conclusão, me compreende?

Harry não respondeu.

– Detetive? – A voz jocosa chamou sua atenção. – Acredito que conheço uma pessoa que gostaria de falar com você, outra surpresa que tive hoje pode servir como dica: ele é um agente duplo que te suspendeu e matou Dumbledore, adivinha? A mando de Dumbledore! Me enganou direitinho, quem diria?

Harry absorveu as palavras de Voldemort uma a uma. A dor da morte de Dumbledore pareceu atrair como ímã toda a dor das mortes que tentara afastar de sua mente, toda a responsabilidade que sentira e o sentimento de peso nos ombros. Arrastou-se com seu braço livre para fora da cama.

– O que você quer? – Harry perguntou entredentes. – Acabou para você. Seus capangas vão ser presos e você vai passar o resto da sua vida em Azkaban.

– Não ouse me dizer o que vai acontecer comigo. – Sua voz se alterou. – Eu sou Lorde Voldemort, sou-

– Tom Marvolo Riddle. – Harry provocou, em tom de voz baixo, enquanto procurava sapatos e as chaves do carro de Gina. – Lorde Voldemort é um nome que não ameaça mais ninguém, que não significa absolutamente nada, que não tem influência nenhuma já que em pouco tempo você vai ser apenas um senhor patético sem direitos a banhos de sol.

Dessa vez quem ficou em silêncio foi Tom.

– Comeram sua língua, Sr. Borgins ou Riddle ou qualquer coisa ridícula com a qual você se identifica? – Harry riu, descendo rapidamente, mesmo que se movesse com dificuldade.

– Sabe de uma coisa, Sr. Potter... – Tom agora tinha seu tom de voz controlado. – As pessoas não me tomam como um leitor da Bíblia que confia mais na justiça divina que na dos homens. Porem há uma passagem, acredito que em Eclesiastes, que diz: Para aquele que está entre os vivos há esperança, porque melhor é o cão vivo que o leão morto. Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem de coisa alguma.

– Uau. – Harry ironizou. – Talvez você possa se mostrar esse conhecedor da Palavra no seu julgamento. Alguém do júri talvez se comova.

– Você não entende, não é rapaz? – Tom riu. Uma risada estrangulada e colérica. – Os vivos hão de morrer. O primeiro a ir foi Dumbedore, depois seu padrinho inocente e amado, e acredito que você esteja a caminho agora para presenciar a morte de Severo Snape. Se você não demorar, eu te espero, nem sempre tenho testemunhas. Por fim, será sua vez de saber coisa alguma.

– Então agora você está ameaçando um policial? – Harry falou, tentando equilibrar o telefone e dirigir para seu apartamento usando apenas uma mão. – Sua lista está apenas aumentando.

– E de que isso adiantará quando estiver morto? – Voldemort disse do outro lado da linha. – Para isso tudo funcionar um de nós precisa estar morto.

– Isso o que? – Harry dirigia rapidamente, com o celular no viva-voz. As ruas de Londres estavam vazias na madrugada, fazendo com que não sentisse falta da sirene de seu carro.

– O ciclo, Potter. – Ele disse e Harry podia ouvi-lo se movendo em seu apartamento. – Só pode haver um vencedor. Eu sou a serpente que matou seus pais e você é o leão, o corajoso, o rapaz que desafiou e desobedeceu ordens para tentar me destruir. Para o ciclo se completar, apenas um de nós pode sair vitorioso.

Escutou enquanto ele puxou uma cadeira e brincou com as travas do provável revolver que estava segurando.

– Sabe, o fato de você ter sobrevivido quando matei seus pais sempre me irritou. – Tom se sentara em frente a Snape amordaçado, Harry conseguia ouvi-lo tentando dizer algo. – Hoje eu entendo que foi só para que eu pudesse mata-lo agora. Completar-

– O ciclo? É algum tipo de justiça poética? – Harry debochou. Estava perto de seu apartamento agora. – Algumas pessoas diriam que eu sou o injustiçado nessa história, afinal você matou meus pais.

Tentou com que soasse corriqueiro falar da morte de seus pais. Mas até ele era capaz de identificar a nota de dor. Esforçando-se, engoliu-a. Crescera órfão, não era novidade para ele: dor era algo com que aprendera a conviver desde cedo.

Agora estava em seu prédio. Tirou o revolver de Gina a contragosto do porta-luvas. Tinha praticamente implorado para que ela não arranjasse um, porque atrairia mais o perigo que o contrário, mas agora agradecia aos céus por ela ser tão teimosa e prepotente. Gastando seu folego para subir as escadas até seu andar e ignorando a dor de seu ombro, foi silencioso até chegar ao patamar.

Terminou a ligação antes de entrar no apartamento. Com os dedos ágeis discou emergência, se identificou e pediu reforços em menos de 30 segundos. Lançando o telefone longe, finalmente entrou em casa.

– Antes tarde do que nunca. – Voldemort levantou-se de sua cadeira, apontando a arma diretamente para Snape. – Esperar não é algo que me agrada.

– Oh, sinto muito. – Harry falou, com o revolver escondido às suas costas. Com as mãos para cima, preocupou-se em se mover a passos milimetricamente curtos. – Eu entendo que você tenha se sentido pessoalmente ofendido pela traição do Comissário, mas o que te faz pensar que eu me importo tanto com a vida dele assim? Afinal, ele matou Dumbledore.

– E mesmo assim você está aqui. – Ele encolheu os ombros. – Nós dois somos órfãos, líderes natos, ambiciosos... Mas a nossa maior diferença, detetive, é que você de fato se importa com as pessoas. O que é uma pena.

– Existem mais algumas diferenças, Sr. Riddle. – Harry falou, sorrindo. Tom parecia ser uma pessoa instável, mas aquela era a maneira de prender sua atenção: provocando-o, desafiando-o. – Mas a maioria delas realmente envolvem o fato de você ser um homem desprezível e eu tentar não ser.

– Alguns diriam isso. – Ele parecia se divertir, enquanto Harry pensava em uma estratégia.

Como tirar Snape dali com vida, prender Voldemort e sobreviver, apenas com um braço? Avaliou suas opções: se chegasse perto de Tom, ele atiraria em Snape; se de alguma forma, derrubasse Snape e o tirasse da mira de Voldemort, ainda assim Snape correria perigo e talvez Harry levasse um tiro. Tom não se deixaria enrolar até a chegada da polícia, era mais esperto que isso.

– Ok. Vamos acabar logo com isso. – Deu dois passos para frente e tirou a mordaça de Snape. – Últimas palavras?

– Harry, você fez um bom trabalho-

E sem nenhum tipo de aviso, Tom atirou no peito de Severo Snape, para depois gargalhar ao sonoro “não!” de Harry.

– Bravo! – Tom Marvolo Riddle disse, passando a mão desocupada em sua cabeça sem cabelos. O rosto desfigurado pelas plásticas e tentativas de se manter para sempre jovem estava claramente satisfeito. – Você conseguiu fazer da cena mais dramática com esse gritinho, meu rapaz. Adorei.

– Agora, qual é o próximo passo? – Harry perguntou furioso dessa vez andando em direção a Voldemort. – Atirar em mim?

– Hoje é o dia em que o garoto que sobreviveu, veio morrer enfim. – Voldemort apontou a arma diretamente para Harry, que rapidamente sacou a sua. – Ora, vejo que veio preparado.

Harry não tinha mais o que dizer, sentia-se frustrado e não porque pensara que tinha alguma chance de salvar a vida de Snape, mas talvez porque em um mundo perfeito a morte de mais uma pessoa não cairia sobre seus ombros. Sentia-se cada vez mais furioso e insatisfeito com aquele desfecho, um desfecho no qual Voldemort tinha o todo o controle com aquela pistola.

Não o mataria. Embora uma parte sua quisesse, matá-lo não parecia o suficiente, uma vez que era simples e fácil demais. Voldemort deveria apodrecer na cadeia sem charutos cubanos e injeções de botox, sem caviar e foie gras cozido em décadas de dinheiro lavado. Deveria ter uma vida miserável porque era isso que merecia.

Morrer é fácil demais quando ninguém no mundo se importa com você.

Harry pensou em todas as pessoas que se importavam com ele enquanto mirava o revolver em Voldemort: se atirasse em qualquer parte dele, provavelmente levaria uma bala em troca.

Havia passado a vida inteira pouco se importando se viveria ou morreria durante a investigação de um de seus casos. Não era como se não ligasse para os poucos afetos que tinha, como seu parceiro Ronald e os outros amigos, apenas sabia que eles dariam um jeito de viver sem ele. E provavelmente isso não tinha mudado, mas dessa vez ele que não queria partir sem ter vivido nem um quarto do que a vida poderia proporcioná-lo: Gina, ter filhos com Gina, ensiná-los a jogar futebol e a montar cidades de Lego, passar os domingos assando churrasco com Ronald e ver seus filhos crescendo juntos. Por mais que parecesse precipitado pensar nesse tipo de futuro, era inevitável quando se via do outro lado do revólver.

Alias, era só pensar em Gina que sentia seu perfume de baunilha.

– Você acaba com a diversão mesmo, senhor Potter. – Voldemort girou os olhos.

– O que você quer dizer com isso? – Perguntou, sem deixar de apontar a arma para ele.

– Você acha que eu não escutei o barulho de alguém andando pela casa? – Tentou que seu tom de voz soasse controlado. – Quem você chamou? Seu parceiro, Ronald? Quando eu acabar com você, poderia acabar com ele também... Três corpos em uma noite. Nada mal.

Harry ão chamara Ronald porque soubera por Astoria que ele não estava em sua melhor forma. Então respirou fundo e imaginou quem poderia estar ali, já que a polícia provavelmente teria anunciado sua presença com freios e sirenes.

– Vamos acabar logo com isso. – Voldemort disse, mirando em Harry com atenção.

– Vamos nada. – A voz feminina disse, fazendo Tom e Harry virarem-se para a porta da cozinha segundos após o primeiro ter puxado o gatilho.

– Esse é seu tipo de reforço? – Voldemort riu, para a figura despenteada e ainda assim impecável de Gina Weasley, que o encarava com uma faca em punhos. – Me perdoe, senhorita, mas eu estava esperando alguém mais... Útil.

– Pouco machista. – Gina apertou os lábios ao ver a perna de Harry sangrando.

Fazia pouco tempo que tinha aberto os olhos com as batidas fortes na porta de seu apartamento. Tinha se assustado quando não vira Harry ao seu lado e nem as chaves do seu carro. Sr. Rúbeo informou que vira seu namorado sair a poucos minutos com o semblante consternado e preocupado, com pressa e dificuldades em dirigir. Disse que o escutara dizer o endereço para o GPS, talvez por estar dopado em analgésicos e não querer pensar no caminho em que estava dirigindo.

Isso fez com que Gina fosse forçada a pegar um táxi e subir escadas quando não estava nem um pouco desperta. Quando viu o celular de Harry jogado no meio do caminho, pensou no pior. Quantas vezes pensaria no pior naquela noite?

Muitas.

Em um segundo ouvira o barulho de um tiro e só não invadiu o apartamento naquele instante de mãos vazias porque escutara a voz do namorado logo em seguida. Harry não faria aquilo de morrer logo agora, não mesmo. Com cuidado, havia procurado as chaves do apartamento e entrou pela cozinha, procurando por qualquer coisa que pudesse usar para machucar quem quer que fosse que estivesse ali.

Com uma faca em punhos e outra no bolso da calça, andou lentamente até a sala de estar para escutar Voldemort dizer que estava na hora de acabar com tudo. Aquele maldito não acabaria com nada, aquele desgraçado não tiraria dela mais uma pessoa que amava. Não mesmo.

– Essa sua distraçãozinha me fez errar o tiro. – Dessa vez seu tom de voz que vivia oscilando como seu humor vulnerável, soava furiosa. – Viu o que você me fez fazer, garotinha?

– Se me chamar de garotinha tem a intenção de me diminuir ou me ofender, você pode começar a se arrepender do que disse agora, meu senhor. – Gina falou, segurando o cabo da faca com a ponta dos dedos. – Eu sou Ginevra Weasley, tenho uma faca na mão e uma mira excelente. E a gente não pode falar o mesmo de você.

A última declaração tocou no âmago de Tom Riddle, que por sua vez voltou a apontar o revólver para Harry.

– Últimas palavras para sua amada? – Voldemort tinha um sorriso afetado no rosto e Harry já aprendera como aquilo funcionava. Não abriria a boca.

Poderia atirar em sua perna e desestabilizá-lo, assim não precisaria mata-lo.

Mas Gina estava ali e ele poderia atirar nela no minuto em que caísse no chão. Voldemort estava com o dedo no gatilho e sua namorada estava com a mão na faca. Talvez tivesse perdido um pouco a noção das coisas, mas quase não vira quando ela, notando que Voldemort estava prestes a puxar o gatilho, lançou uma faca em sua direção com uma força que Harry não sabia que ela possuía.

A faca viajou com grande velocidade e acertou Voldemort perto da clavícula. Harry viu seus olhos atingirem quase uma tonalidade de fogo enquanto ele estava prestes a atirar em Gina.

Não pensou nem duas vezes e atirou. Em segundos viu o corpo de Voldemort tombar perto da cadeira em que jazia o corpo sem vida de Severo Snape.

Não pôde evitar dizer:

“Acho que esse é o fim do ciclo, o leão vence a serpente enfim” antes que Tom Marvolo Riddle fechasse os olhos para sempre.


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