Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 19
Capítulo XVIII




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Enquanto Ronald corria, uma fileira de palavrões perpassava por sua mente. Terríveis visões do que poderia ter acontecido com Angelina faziam sua cabeça zumbir. Não importava o quanto tinha se preparado para aquilo, nada no mundo o faria reagir bem a uma possível baixa em sua equipe, por isso perdeu o ar quando entrou na sala e encontrou Johnson desacordada.

Sua primeira reação foi inclinar-se sobre a detetive no intuito de lhe verificar o pulso, o que favoreceu seu oponente no primeiro nocaute. A maleta voou longe e Ron só teve tempo de assimilar o rosto do homem depois de rolar para a esquerda, desviando-se do segundo golpe.

Bartolomeu Crouch Jr tinha os olhos saltados e o mesmo ar tresloucado que Ronald havia observado em suas fotos 3x4. A cara insana seria quase caricata, não fosse o soco inglês na mão direita.

– Eu sabia. – Sibilou, rodeando o detetive. – Senti o cheiro de merda dessa armação de longe. Eu o avisei. Eu o avisei. – E seu corpo tremeu de prazer com a constatação de que estava mais certo que o chefe.

– Porque ele não te deu ouvidos? – Ron perguntou, consciente de que estava em desvantagem e o melhor naquele momento seria manter o homem a falar.

– Sr Borgins peca pela arrogância. Bartolomeu explicou com um sorriso no rosto. – O que seria um problema, se eu não fosse um de seus homens de confiança. Imagine, detetive Weasley, a surpresa que ele terá quando perceber que aquele filho da puta do Snape não passa de um capacho de Dumbledore!

– Capacho de Dumbledore? – Dessa vez, ele realmente não entendera.

– Não se faça de desentendido. – Grunhiu. – Essa é minha chance de subir de posto.

– Se você sabia o tempo inteiro... Porque não interferiu diretamente?

Bartolomeu enfiou as mãos nos bolsos caros.

– Porque eu faria isso? Avisei a Voldemort sobre as minhas desconfianças. Ele riu. Da próxima vez ele pensará duas vezes antes de rir.

– É uma pena que não haverá próxima vez, Sr. Crouch. – E chutou-lhe a perna em um instante em que o dono do cassino se descuidou e se aproximou demais. O desequilíbrio de Bartolomeu fez com que Ronald tivesse tempo de assumir uma postura vantajosa para o embate corporal que começou segundos depois.

Ronald era ótimo nisso.

Em uma situação em que não tivesse uma tira desacordada do seu lado, ele poderia inclusive ter sorrido.

Era preparado para esse tipo de contratempo desde antes de entrar para Academia: crescera com cinco irmãos mais velhos o que o tornara um perito tanto em apanhar quanto em bater, mas até aquele momento, ele nunca tinha vivenciado com tamanha intensidade as duas coisas.

Ele foi perdendo contato com os detetives da DDE à medida que a luta ia estilhaçando os aparelhos eletrônicos embutidos em sua roupa. Enquanto o carpete ia se manchando de sangue, Weasley perdeu a noção de tempo: aquilo poderia estar durando cinco minutos ou uma hora inteira.

Apenas quando Bartolomeu tombou inconsciente ao seu lado ele se permitiu respirar adequadamente. Seus nervos estavam em frangalhos. As mãos ensanguentadas tremiam e ele tinha perdido parcialmente a visão do olho esquerdo que agora inchava com a quantidade de socos que havia recebido.

Arrastando-se, ele constatou novamente a pulsação de Johnson: ela continuava respirando, mas a pulsação diminuíra e fosse o que fosse que tinha lhe acertado a nuca, abrira um corte enorme que estava fazendo com que ela perdesse uma quantidade considerável de sangue.

– Vai ficar tudo bem, Johnson. – Murmurou, levantando-se e procurando o barulho que vinha lhe atormentando desde que entrara na sala: ele não era idiota, sabia que se tratava de uma fragmentadora de papel que provavelmente estava destruindo todas as folhas dos livros que Angelina afirmara ter encontrado antes de ele perder seu sinal e tudo desandar.

Precisava desligá-la e precisava se assegurar de sair dali com a maleta, com Angelina e com todos os fragmentos picotados de papel.

Entretanto, mal havia se levantado quando um tiro na perna o fez cair novamente.

– Admiro sua persistência, detetive. – Ainda prostrado no chão e com o rosto cheio de hematomas, Crouch sorriu, apontando a arma para ele, numa ameaça muda. Ron supôs que o gesto deveria ter lhe custado caro e que sorrir naquelas circunstâncias deveria ser uma tortura, mas isso não o consolou. – Infelizmente para você, eu jogo baixo. – E levantando-se, ajeitou o paletó do melhor jeito que pode, antes de se levantar (não sem alguma dificuldade) e mancar até a máquina que Ronald procurava. – É isso que você quer? – Desligando-a, ele depositou todo o conteúdo no chão. – Aqui está. – E com um isqueiro de aparência cara, ele botou fogo no montante. – Faça bom proveito. – Agarrando a maleta que o detetive recolhera na outra sala, ele se dirigiu a porta, completando:

– Talvez você deva saber que, assim como você, eu sei uma ou outra coisa de química. – Piscou. – Dentro daquele armário que pegará fogo em instantes tem um ou dois líquidos altamente inflamáveis. Boa sorte, detetive. – E saiu, trancando-os por dentro.

Harry estava dentro do cassino, o segurança estava nocauteado e agora todos corriam contra o tempo para estarem em seus lugares. Para tudo funcionar nada poderia fugir do plano e todos sabiam disso. Principalmente Neville Longbottom que por um instante pensou em como preferia estar em casa jogando videogames e comendo bifes de proteína de soja com Luna ao invés de estar ali colocando todos em risco, inclusive ele mesmo.

Pensou em si mesmo como um cara corajoso que merecia um puta aumento e balançou a cabeça a fim de espantar aqueles pensamentos vacilantes.

Dez, nove...

Enxugou a testa. Hackear computadores era moleza, desvendar senhas e quebrar domínios encriptados se tornaram sua especialidade como funcionário faz-tudo das empresas Malfoy e honorário parceiro de crimes de Ginevra Weasley. Porém, aquilo tudo ia além de seus domínios e poderia não funcionar, o que arruinaria totalmente a operação.

Oito, sete...

O aparelho que Longbottom (como especialista em formas digitais juntamente a uma equipe de engenheiros especializados em formas de energia) estava desenvolvendo na empresa de Draco, tinha como objetivo modular a amplitude do pulso elétrico, oscilando sua frequência e emitindo raios em diversos tipos de frequência, causando uma agitação no campo eletromagnético.

Seria incrível se desse certo, uma vez que ainda estavam na fase de testes. Mas ele estava confiante de que funcionaria. O aparelho digital não teria forças para desligar a energia de uma cidade inteira como o planejado, porém teria meios de possivelmente desligar a energia daquele bloco por aproximadamente 4 minutos e qualquer outro gerador de energia dentro do mesmo intervalo de tempo.

Seis, cinco...

Estava programando o aparelho.

Seu computador e eterno companheiro jamais o deixaria na mão. Não agora quando mais precisava dele.

– Tudo pronto, Neville? – Sussurrou Gina que, de acordo com o monitor, estava precisamente sobre a sala de segurança do Sun’s Town.

– Ainda não. Preciso de mais alguns segundos. – Falou em um tom praticamente inaudível. – Deveríamos estar prontos.

– Sim, deveríamos. – Potter exclamou impaciente, movendo-se lentamente pelas escadas que desciam em direção ao subsolo do cassino. De acordo com as câmeras de segurança, os próximos seguranças estariam em frente à área recreativa de apostas altas e prostitutas de luxo, mas não teria problemas com esses já que teoricamente era um dos clientes. Contou com a sorte: talvez ninguém tentasse se comunicar com o segurança nocauteado que possivelmente só acordaria dali a muitos minutos: a verdade é que podia se gabar de seu gancho esquerdo.

Contudo, aqueles segundos eram importantes se ele planejava não ser notado. Não precisava de testemunhas oculares e nem de alguma câmera de celular ou qualquer outro artifício que denunciasse sua presença ali. Decidiu-se por observar os demais clientes daquela parte ilegal do cassino: todos possivelmente tinham no bolso uma quantia maior que a soma de seu salário anual.

Existia uma chance que pensassem que estavam em alguma cena de um cassino americano clandestino da década de 1930, já que estavam vestidos a caráter e fumando cubanos legítimos. As acompanhantes profissionais sopravam dados, sorriam e aceitavam drinks, oferecendo decotes e pernas em vestidos de cores espalhafatosas, as poucas clientes de gênero diferente, se preocupavam apenas em recarregar seus copos de whisky e limpar os bolsos de seus adversários.

Seus olhos não avistavam a Sra. Lestrange em local algum, o que era um bom sinal.

Quatro, três.

– Estou quase lá. – Neville anunciou com um sorriso nos lábios.

– Finalmente. – Gina falou, trocando sua posição no tubo de ar, para que pudesse descer de forma silenciosa.

Dois.

O sorriso de Neville se desfez quando ele viu outra pessoa no encalço de Harry através da câmera do lado de fora da ruela que dava acesso ao subterrâneo do cassino. Suou frio e imaginou o pior, mas antes que pudesse falar qualquer coisa viu o sorriso silencioso e cheio de escárnio de alguém loiro que não deveria estar ali, segurando uma maleta e pedindo silêncio com os dedos.

Claro que ele apareceria sem ser convidado, Neville pensou girando os olhos, desconfortável. Mas não tinha mais tempo de avisar Harry.

Sua comunicação, assim como a de todos os envolvidos seria cortada por breves segundos enquanto ele tentaria confundir os sinais de rádio da equipe de segurança. Talvez não tivesse dito isso a Harry quando teve a oportunidade, mas o detetive poderia ser um gênio do crime apenas por ter armado um plano como aquele e por conhecer as pessoas com meios de financiá-lo.

Um.

O breu da noite escura confirmou: funcionou.

Gina empurrou a janela do tubo de ventilação e ouviu os barulhos nervosos dos técnicos desesperados atrás de lanternas ou qualquer coisa que os permitissem ver um palmo além de seus narizes, abrindo e fechando gavetas ansiosamente. O que possibilitou que Gina se movesse ainda mais rápido já que não notavam sua presença na sala.

Do lado de fora da sala, Moody fazia um escândalo, dizendo que não conseguia ver e não conseguia respirar, que não conseguia encontrar o caminho e que seu braço esquerdo não se movia.

Gina contou os barulhos de passos que escutara. Apenas duas pessoas de três. Ainda havia um imóvel.

Não pensou duas vezes antes de iluminá-lo com a pequena lanterna e acertá-lo com a maleta em sua mão. Levou menos de um minuto para arrastá-lo para o armário que estava ali perto. Esperava que isso não a atrasasse muito.

Abriu a maleta e tirou o minúsculo computador portátil, com o cartão de memória. Hora do show. Disse para si mesma, enquanto cantava mentalmente e digitava a sequência numérica que Neville recitara milhões de vezes e seguia suas instruções: o primeiro passo era soltar um vírus que alterariam os circuitos de TV assim que os computadores fossem reiniciados, dando total controle da sala a DDE. O segundo passo era colocar o drive que conectaria seu computador aos computadores da rede e copiaria os arquivos de imagem que Neville nunca conseguira acessar, com alguma sorte teriam mais milhares de provas bem ali.

Não muito longe dali, Harry nocauteava mais dois seguranças e os empurrava para o corredor, trancando-os do lado de fora do armário de casacos e certificando-se, com a mistura de éter, que eles não acordariam nas próximas horas.

– Foi uma boa ideia essa de apagar as luzes. – Pulou assustado quando escutou uma voz no meio daquela escuridão. – Assim fica mais fácil ultrapassar os alarmes infravermelhos de proteção ao cofre... Estava pensando em como faria isso. Genial, Harry, você tem de fato um talento criminoso desperdiçado para a polícia.

– O que você está fazendo aqui? – Harry perguntou apressadamente e impacientemente, enquanto corria em direção ao grande cofre que deveria estar ali.

– Não recuse a ajuda de um civil voluntário que não quer nada além de justiça. – Draco falou, colocando a mão livre no bolso.

Mesmo na escuridão conseguia ver que Harry tinha sido pego de surpresa, não apenas por sua presença não desejada como pela ausência do tal cofre onde imaginaram que deveria estar. Fazia sentido ele estar ali, ele só não estava.

– Conhecendo a peça, imagino que deva ter uma estúpida passagem secreta por aqui. Ou você acha que titia Bella deixaria o seu precioso cofre com dinheiro não lavado e quilos de cocaína assim à mostra? – Malfoy sorriu na escuridão para o fato de o cofre não ter nenhuma porta aparente.

– Não. – Potter falou, tentando ignorar o fato de que Draco sabia exatamente o que supostamente estava dentro do cofre. Não queria saber como ele sabia. Enquanto mordia a língua para não pergunta-lo, deu pequenos toques na parede até encontrar o ponto oco. Certos truques quase nunca falhavam. – Voilá.

­– Nunca te imaginei um falante da língua francesa, Potter. – Malfoy o empurrou quando este abriu a porta analógica com uma alavanca. Bellatriz deveria ter algum apreço por coisas antigas e estranhas como passagens secretas e métodos medievais de abri-las. Tirou da maleta os pequenos fones de ouvido e o quase imperceptível aparelho que colou na porta do cofre. - Prenez du recul et observez.

– Que? – Harry falou, enquanto Malfoy sentava suas calças no chão e acertava seu moletom preto de mangas longas. Nunca o vira tão confortável. O que era estranho em muitos níveis.

– Dê um passo para trás e observe. – Traduziu e preparou-se para ficar em completo silêncio.

– Não mesmo. – Harry falou, caminhando em sua direção.

– Confie em mim, detetive. – Malfoy piscou na escuridão. – Quantos cofres fortes você já abriu, oh Grande Harry Potter? Te garanto que nenhum modelo no qual você tenha treinado na polícia se compara a esse aqui, então apenas certifique-se que eu não morrerei quando as luzes se acenderem. Ah, e silêncio. Shh.

Uma batalha travou-se no interior de Harry Potter: confiaria no amigo, que já estava sentado concentrado no chão girando o fecho do cofre vagarosamente como se realmente soubesse o que estava fazendo (mesmo que não soubesse se ele realmente era tão bom quanto afirmava) ou se assumia aquela tarefa, porque se tudo desse errado a responsabilidade era sua.

Então lembrou-se que nunca chegaria a lugar algum se não fosse a ajuda de seus amigos e colegas. Talvez a palavra “equipe” nunca tivesse feito tanto sentido como fazia naquele momento. Planejar tudo aquilo dera trabalho: examinar as plantas, procurar brechas de segurança, descobrir como sair de um cassino labirinto como aquele sem que seus parceiros fossem notados, discutir com Neville maneiras de se apagar a luz de um cassino enorme com serviço de gerador próprio – e por consequência ter que participar de uma discussão enorme sobre radioatividade e a diferença em relação a PMW - tudo, do acesso à segurança ao plano de fuga tinha sido planejado nos mínimos detalhes e ele estava orgulhoso de si mesmo.

– Tem certeza que sabe o que está fazendo? – O detetive perguntou, inquietamente.

– Quem você acha que te forneceu os cofres testes, Potter? – Impaciente, Malfoy tentou não desperdiçar sua atenção com ele. – Eu tenho algo que você nunca vai ter, detetive. E eu não estou falando de dinheiro.

Mordeu a língua para não perguntar qual era a diferença entre eles. Pensou que talvez fosse a objetividade, já que por mais que toda a família de Malfoy parecesse estar envolvida naquele caso, ninguém tinha um desejo de vingança maior que Harry Potter: nenhum deles cresceu órfão e teve o único pedaço de família retirado pelo mesmo crápula que matou seus pais e por mais que isso soasse arrogante e prepotente, sentia-se como se tivesse vindo ao mundo para dar um fim a Lord Voldemort. Ou talvez não tivesse nascido para isso, possivelmente teria uma vida completamente diferente se Tom não tivesse se metido em seu caminho. Mas, uma vez que tenha se metido, teria o que merecia.

Mesmo que não fosse a diferença que Malfoy estava apontando, Harry estava certo de algo: tinha sido escolhido para aquele trabalho, tinha sido escolhido para derrotar Voldemort pelo próprio Voldemort quando ele o tirou tudo o que tinha e modificou sua história.

– Todos na escuta? – A voz de Neville voltou a ecoar em suas escutas. – As luzes voltam em 50 segundos.

– Já? – A voz de Gina soava tensa.

Estava tudo correndo conforme o plano, Neville observou. Agora Gina voltaria ao tubo de ar condicionado central para que dali, quando as ondas eletromagnéticas se normalizassem, conseguisse transferir os arquivos e sair sem ser percebida. Harry devia estar concentrado em abrir o cofre – optaram por não usarem explosivos para não denunciar a operação. Thomas deveria estar entrando na parte subterrânea do cassino pelo armário de casacos na parte interna e Moody estava se saindo uma bela distração para que Gina colocasse o microchip no computador central sem ser detectada.

Tudo estava dando certo e parte dele já se sentia aliviado por isso.

Os policiais à paisana já estavam no subterrâneo escondidos nas salas privadas onde as garotas de programas ofereciam finais felizes para os clientes que pudessem pagar por eles. A DDE se certificou de que todos chegassem a seus lugares de forma silenciosa e eficaz. Só precisariam do sinal de Harry. Um comando e centenas de pessoas presas em flagrante pelos reforços que já cercavam o bloco, os Lestrange jamais veriam a luz do dia novamente e não apenas por distribuição e venda de drogas ilícitas, mas por todo o elaborado esquema de lavagem de dinheiro.

Se aquilo não fosse o suficiente, encontrariam mais coisas.

Aquele era só o começo.

– Um cofre assim não se abre em dois minutos. – Malfoy falou entredentes. – Você vai cavar um buraco no chão se não parar de andar de um lado para o outro.

– As luzes já vão se acender. – Harry falou, vendo traços de luminosidade, provavelmente provenientes da parte superior do cassino.

Tirou um canivete do bolso e cortou todos os fios da caixa de energia perto do cofre. Ganharemos tempo ou morreremos. Encolheu os ombros. Alguma coisa parecia errada, não sabia se era algum tipo de instinto ou se era simplesmente pessimista, mas as coisas estavam calmas até demais.

Assistiu as luzes se ligando uma a uma em volta do grande cofre. Com a mão no coldre e engatando o revolver que supostamente não deveria ser utilizado uma vez em que estava suspenso, Harry examinou o perímetro. Malfoy parecia tenso e mesmo que ás vezes soltasse alguns guinchos de aparente celebração, o suor de sua testa não enganava.

– Certamente gostaria que eu tivesse me envolvido antes para descobrir a senha dessa porra. – Draco falou entredentes.

– Shh. – Dessa vez fora Harry quem pedira silêncio.

Passos.

Talvez se atirasse em locais menos letais não fosse expulso da força. Ou talvez não se importasse mais.

– Agora diz que me ama, Potter. – Draco disse, girando a combinação do cofre. – Depois de descobrir o primeiro número não foi difícil imaginar os restantes, minha mãe ficaria muito feliz ao saber dessa homenagem e que eu ainda me lembro do aniversário dela.

– Cala a boca Malfoy, tem alguém vindo. – Harry falou, com o revolver na mão.

Não estava tão escuro porque as luzes mais externas do cofre estavam acesas, os fios dos raios infravermelhos e as luzes mais perto do cofre pareciam pertencer àquela caixa que Harry destruiu. Naquela meia luz, tudo acabou acontecendo rápido demais:

– Quem quer que estiver aí apareça. – Harry arriscou, com o revolver nas mãos. Pensou que talvez não devesse se identificar como policial por não ser um no momento ou para não estragar o disfarce. – Vamos, saia já daí.

– Você não atiraria na sua família, não é? – Fora Sirius que saíra das sombras para o alivio e pânico de Harry. Pensou por um instante se era assim que funcionava ter família: ficar feliz em vê-los, porém estar assustado o tempo todo por medo de perde-los. Sentia-se assim em relação a poucas pessoas e decidiu que gostaria de mantê-las por perto por um tempo infinito e assim nunca mais seria o garoto órfão que sempre fora. Faria isso quando tudo acabasse: limparia o nome do padrinho, o arranjaria um teto e ajuda, talvez nos feriados seus amigos se juntariam a eles e Gina para as refeições e ele tivesse um gosto da vida normal.

Não vira Draco abrindo o cofre finalmente e nem em que momento – ou para quem - Sirius apontou uma espingarda antiga.

Apenas escutou uma risada tão estridente que o fez querer ser surdo por alguns segundos.

– Eu atiraria. – Bellatriz disse, saindo de trás de uma pilha super de pacotes dentro do cofre muito iluminado. Armada com uma arma que Harry reconheceu instantaneamente: Luger P 08, uma arma popular na Alemanha nazista.

Lembrou-se como mágica da voz de Astoria no início do caso, quando falavam sobre a morte de Tom Riddle:

– O calibre da arma era nove milímetros, como eu havia dito anteriormente, mas as capsulas são de um modelo muito antigo, por pura curiosidade e para mostrar que eu poderia ser detetive se eu quisesse, eu descobri que são compatíveis com o modelo Luger P 08, que por sinal são armas raríssimas, que deixaram de ser produzidas na...

– Década de quarenta.

Aquela era a arma do crime.

Balística provaria que aquela arma matou Tom Riddle e o serial da arma rara a traçaria de volta ao arrogante Voldemort. Bandidos sempre cometem deslizes achando que nunca serão pegos. Não existem crimes perfeitos, oh Lorde Voldemort, Harry quase sorriu.

Sua excitação durou poucos segundos, pois ouviu Sirius dizer “eu também, apesar de não te considerar família” e atirar com os dedos trêmulos em direção a ela. Talvez tenha sido a meia luz, a miopia ou seus dedos que não conseguiam parar de tremer, mas Sirius não conseguiu acertá-la, o que a fez rir ainda mais.

– Agora vou matar o garotinho que sobreviveu com a mesma arma que matou seus pais. – Ela riu mais uma vez. Sua risada tinha um quê de insanidade, como se ela se agarrasse a algum ponto imaginário de sua mente em que ela era imortal, poderosa e acabaria com todos ali, sozinha. Por isso, atirou.

Sem nem pensar duas vezes, Sirius pulou em frente a bala direcionada ao afilhado.


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