Alguns minutos depois, Usui, Misaki e Kanou estavam na sala do conselho. Usui estava sentado numa cadeira e Kanou encontrava-se na sua frente, segurando um fio com uma moeda pendurada na outra ponta.

— Então e assim que vou prosseguir — disse Kanou — eu irei tentar fazer uma hipnose no Usui e o farei voltar por experiências passadas e isso talvez o faça recuperar a maior parte de suas memórias.

— Eu não acho que teremos progresso com isso... — disse Usui com uma cara entediada

— Bem, não custa tentar — disse Misaki, enquanto pensava “tomara que isso dê certo”.

— Então, vamos lá. Usui, quero que olhe fixamente para essa moeda — disse Kanou enquanto balançava a moeda para esquerda e direita.

Os olhos de Usui acompanhavam despreocupadamente o objeto circular. Ele não demonstrava nenhuma mudança, apenas a mesma expressão facial de sempre.

“Droga, creio que a sua descrença pela hipnose não mudou afinal...”, pensou Kanou depois de algum tempo sem mudanças aparentes em Usui. Desapontado, ele interrompeu a sessão.

— Espere um pouco, Usui-san. — disse Kanou enquanto virava-se para Misaki — Misaki-san, posso conversar um pouco com você?

— Hã... Tudo bem... Já volto, Usui-kun.

Eles saíram da sala e foram para o corredor, que ainda estava vazio, já que os alunos estavam na última aula do período matutino.

— Então, — disse Misaki — qual o problema?

— Parece que não vai funcionar comigo. Usui não acredita na hipnose, então acho que ele não vai cair nesse truque.

— Então foi uma tentativa falha, não é? — Misaki soltou um suspiro e recostou-se na parede.

— Ainda não. Tenho uma teoria.

— Hm... Estou ouvindo...

— Não funcionou comigo por conta da descrença do Usui na hipnose. Mas, há uma possibilidade de funcionar se você tentar hipnotizá-lo.

— Como assim?

— Vocês já passaram por tanta coisa juntos, então só de olhar para você, ele, talvez, se lembre de algumas coisas. Isso sem falar que vocês são namorados, então você, claramente é especial para ele... — e acrescentou com um pequeno sorriso — o amor tem uma magia especial nas pessoas, Misaki-chan.

Misaki logo corou.

— Nós não somos namorados! Pare com isso, vamos nos concentrar no nosso trabalho.

— Bem, se funcionar, não teremos dúvidas, não?

— O que você quer dizer com isso?

— Se ele realmente se lembrar, isso provará que ele tem uma queda por você, e que você, realmente é muito especial para ele — disse Kanou com outro de seus sorrisos.

— V-você está falando bobagens — disse Misaki com o rosto vermelho — vamos logo com isso, tenho muitos afazeres quando tudo isso acabar...

—Hai, hai... — disse Kanou com um suspiro — Diga para ele olhar para os seus olhos, eles guardam mais segredos que você pode imaginar...

—Baka!

E, assim os dois voltaram para a sala. Usui olhava para a janela, observando um ninho de passarinhos num galho de uma árvore próxima.

— Etto... Usui-kun, — disse Misaki, tentando chamar sua atenção — eu irei tentar hipnotizá-lo. Então, só... O-olhe nos meus olhos, está bem?

— Sim. — sorriu Usui.

Misaki se debruçou em direção ao rosto de Usui, até que eles se distanciavam por alguns centímetros.

“O que é isso que estou sentindo?” pensou Misaki, com o coração acelerando “Por que sinto essa vontade de ajudar esse alien pervertido? E como nunca percebi esses olhos tão lindos... Deus! O que estou pensando?”.

— Nossa, Kaichou... Você é realmente muito bonita. E seus olhos são tão brilhantes... Perdoe-me, estou te deixando envergonhada? Seu rosto está um pouco mais rosa que o normal...

— Cala a boca seu idiota! Tente lembrar-se de alguma coisa!

— Ok, foi mal...

— Vamos, vamos! Não lembra nem do início do ano letivo? Você era o maior mulherengo do colégio. Todas as garotas sonhavam com você...

— Espere um pouco... Acho que isso me soa familiar. Sim, sim, as garotas eram uma chateação. O tempo todo estavam no meu pé, se declarando a toda hora, todo lugar. Lembro também que você reclamava comigo por rejeitá-las. Mas o que eu podia fazer, elas não me interessavam por algum motivo...

Misaki e Kanou estavam boquiabertos com o rumo da situação. Então Usui falou algo que abriu ainda mais suas bocas.

—S-se eu recusava as garotas, e, ao que parece eu já beijei aquele garoto... Então... E sou gay, não é?

A sala foi tomada por um silêncio espectral.

— E aquela foto sua de maid — continuou Usui — Minha nossa! Eu sou um estilista de roupas de empregada também?

Kanou abafou uma risada. O rosto de Misaki era uma mistura de raiva e perplexidade. Ela, então, finalmente falou algo, deixando escapulir:

— Mas você já me beijou!

— HÃ?! — disse Usui.

Kanou manteve sua cara de surpresa, mas, provavelmente era algo que ele já esperava. Então Usui sorriu maliciosamente e disse:

— Sério? — então deu um suspiro — Ainda bem... Não me lembro disso... Podemos fazer outra vez?

Misaki, vermelha como uma pimenta, tentou analisar a situação de forma crítica.

— Baka! — disse finalmente — seu alien pervertido, eu nunca iria te beijar. E ainda se pergunta por que eu fico lhe “ofendendo” do nada.

Usui manteve o seu sorriso, mas, dessa vez um pouco menor e disse:

— Eu entendo, me desculpe.

— Eu acho que... — disse Kanou quando foi interrompido pelo toque do almoço.

Os corredores foram tomados pelas vozes dos alunos famintos. Misaki então se recompôs e disse:

— Bem, está claro que não faremos nenhum progresso a partir de agora. Kanou-san, obrigada pela ajuda, falo com você depois. Usui, me siga.

Usui pegou suas coisas e falou:

— OK, para onde vamos agora?

— Não ouviu o toque do almoço? Vamos comer.

— Ah! É isso que significa esse toque... Mas não acho que quero comer algo.

Ele foi logo desmentido pelo ronco saído de seu estômago.

— Etto... Desculpe-me. — disse ele, encabulado.

— Vamos logo! — disse Misaki, impaciente.

Logo, “o casal” estava pegando suas coisas e saindo da escola junto com os outros alunos, andando pela rua em um dia ensolarado e fresco. Não demorou muito Misaki achou o restaurante que ela costumava almoçar após a aula, um lugar barato, simples , de comida boa, limpo e com um bom atendimento. Os dois almoçaram juntos e a comida estava uma delicia, era algo parecido com um obento, Misaki pagou e logo os dois deixaram o lugar.

Ao apreciar a paisagem e o lindo dia, eles andavam lentamente pela rua. Usui, com um leve sorriso, vendo tudo tão lindo, como se fosse sua primeira vez naquele lugar; Misaki, com um olhar flutuante, olhando as coisas, mas não apreciando nem se importando que estava acontecendo em volta dela, apenas querendo que o alien se lembrasse de algo e imaginando alguma forma de fazer ele se relembrar das coisas que já tinham ocorrido.

— Hey, Usui você não está lembrando-se de nada não? Perguntou ela despreocupadamente.

— Não, ainda não me lembrei de muita coisa. Há algo mais que eu precise saber, além de que sou bissexual e estilista de maids?

Misaki soltou um suspiro e levou sua mão à testa.

— Usui, você não é bissexual. Nem estilista de maids. Etto... Aquela foto foi tirada comigo enquanto eu estava no meu trabalho de meio período.

— Você trabalha como empregada?

— Não exatamente. Eu trabalho num maid café na cidade vizinha, para que ninguém me encontrasse e me ridicularizasse.

Usui soltou uma gargalhada.

— O que foi? Vai fazer graça de mim agora?!

— Não, não, é que... Eu não acho que alguém teria coragem de lhe ridicularizar. Você estava tão bonita naquela foto que eu acho que quem descobrisse esse “tesouro”, provavelmente iria querer que ninguém mais soubesse, e fizesse disso seu “tesouro particular”. Além disso, tenho pena do pobre coitado que fizer graça de você um dia, se é que você me entende...

Misaki corou um pouco diante daquele elogio inesperado. Ela desviou os olhos e encarou o chão.

— Etto... Voltando ao assunto, você ia ao maid café de vez em quando (todos os dias você ia lá), e, um dia, a gerente abriu um torneio de cartas entre as empregadas e os clientes. O cliente que ganhasse de uma empregada podia tirar uma foto com ela. E, bem, você ganhou de mim.

— Ah, está explicado então. — ele tirou a foto do bolso e ficou observando-a por uns tempos. — E por que eu levava isso comigo?

— Você meio que passou a considerá-lo um amuleto da sorte. Baka...

A calmaria da rua foi inesperadamente quebrada por uma ambulância. Isso deu à Misaki uma ideia.

“Já sei o que irei fazer” pensou ela “acho que está na hora de levá-lo a um hospital”.

— Usui, — disse ela — acho que é melhor nós irmos a um hospital. Sabe, só para checar se está tudo bem com você... Aquela pancada foi bem forte para deixá-lo assim e... Digamos que a enfermaria do nosso colégio não é lá essas coisas... Ei! Por que você está sorrindo?

Usui estava com um sorriso que ia de uma ponta à outra das orelhas. Ele diminuiu um pouco quando o próprio Usui percebeu que estava sorrindo.

— Eu não sei, acho que só estava feliz por alguém como você estar se preocupando com um cara como eu.

— Mas é claro! — disse Misaki um pouco enrubescida — Como Presidente do...

— Não é isso — interrompeu Usui — pode ser só impressão minha, mas não acho que você faria isso com qualquer pessoa. Eu só queria dizer... Que me deixa muito feliz sua preocupação comigo... Obrigado.

Misaki, agora, realmente estava vermelha.

— Baka! — disse ela — deixe de besteiras e vamos logo para o hospital.

— Hai, hai...

E assim eles continuaram caminhando pela rua, naquele lindo dia ensolarado e fresco. Mas, ao chegarem ao hospital, eles foram surpreendidos por alguém que eles nunca imaginava encontrar novamente...