Pequena Travessa escrita por Arline


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

O cap de ontem que fiquei devendo. Se quiserem, comentem.



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CAPÍTULO 4

Eu decidi fazer o que tanto queriam; larguei tudo. Não ia à empresa havia quinze dias e é claro que me fazia falta, eu já estava doido em casa, sem ter o que fazer, mas eu estava firme em minha decisão. Ficar perto de Jasper não estava me fazendo bem... E ficar longe estava sendo pior!

Os sonhos se tornaram mais frequentes e intensos. Oh, muito intensos! Eu nem imaginava que era capaz de fazer todas aquelas coisas, não mesmo... Se fosse a vida real, eu estaria em uma cadeira de rodas depois de tudo aquilo... Ou minhas pernas seriam a parte mais musculosa do meu corpo...

Mas, voltando ao Jasper. De fato ele não tocara no assunto “o senhor estava se divertindo sozinho enquanto sonhava comigo” e tão pouco pareceu importar-se com isso; tratou-me normalmente nos dias que se seguiram. Eu tentei fazer o mesmo, mas não obtive êxito; passei a observá-lo furtivamente, passei a questionar a mim mesmo se ele era bonito, se eu gostava de sua companhia, de seus olhos, de sua voz... E foi completamente assustador notar que eu amava tudo aquilo. Claro que teríamos que dar um jeito em suas roupas, mas era o de menos. Ele mais parecia vestir sacos de batatas...

Eu queria não ser tão covarde e contar logo a todos... Queria não ser tão covarde e dizer a Jasper que eu o amava. Obviamente ele pediria demissão e eu continuaria remoendo aquilo, mas eu tinha que contar. Eu precisava contar.

Outra coisa que me atormentava e alimentava minhas dúvidas quanto a tudo aquilo, era o fato de também pensar muito em Bella. Em alguns sonhos ela também esteve presente, mas sumia tal qual fumaça sempre que seu irmão aparecia, sorrindo. O que eu faria? Nada, provavelmente. Nem sair pra beber eu precisava; meu pai tinha muitas bebidas em casa e eu estava descobrindo como era ter ressaca causada por cada uma delas.

E eu pensava em tudo isso enquanto estava jogado no sofá da sala, tendo minha mãe embolando suas mãos em meus cabelos ensebados. Até eu estava com nojo. Ela me amava. Eu já poderia morrer sabendo que alguém tinha aquele sentimento por mim.

— Querido, você nunca foi bom nisso... Pode abrir os olhos e parar de fingir que está dormindo.

Eu sorri. Nunca consegui mesmo enganar minha mãe. Na época da escola aquilo era uma tortura... Já fui acordado com banho gelado! Maldade com menores. Isso dava cadeia!

— Eu só queria um carinho... — falei e movi minha cabeça, minha mãe riu alto.

— Parece mais um filhote vira-latas! Está quase fedendo igual a um.

As coisas eram assim... Um carinho e uma mordida. E eu sabia que estava fedido; há dois dias eu não me preocupava com banho e só trocava a cueca. Bem, o estado delas era lastimável mesmo.

— Gosto quando você está em casa, mas não assim, filho... Nada de sorriso e piadas sem graça... E você está mesmo fedido... O que está acontecendo?

Ah, seria legal explicar isso! Seria algo como: mãe, eu descobri que sou gay e estou apaixonado por um cara mais estranho do que eu. A senhora está feliz?

— Não é nada. Eu só queria um pouco de descanso.

Ela nada disse, sabia que eu estava mentindo. Delicadamente, ela deixou minha cabeça sobre uma almofada e voltei a fechar os olhos; era o que eu mais estava fazendo ultimamente, ficar de olhos fechados.

Eu a ouvia pela casa, pedindo que não me incomodassem e que Maria, uma de suas ajudantes, me reparasse um café forte. Eu nem estava de ressaca! E juro que não aguentava mais tomar café.

Acabei cochilando e acordei com minha mãe me chamando e dizendo que queriam falar comigo. Estiquei o braço pra trás e peguei o telefone. Quem estava me incomodando?

— O que é? — fui logo grosso e fiquei confuso ao ouvir o barulho da linha e uma gargalhada. Perto demais.

— Querido... A pessoa está aqui, bem atrás de você. — minha mãe tentava controlar a risada, mas não estava se saindo muito bem naquilo.

Levantei, cocei o Júnior — isso era normal, todo homem coça seu companheiro! —, ouvi minha mãe pedindo desculpas a alguém e só então me virei, dando de cara com a irmã de Jasper. Mas que merda ela estava fazendo ali? Éramos amigos?

— Ahm... Sim? — falei e ela sorriu.

— Podemos conversar?

E já não estávamos fazendo isso?

— Claro. Pode falar, estou ouvindo. — e sem entender porra nenhuma, mas pode falar.

Se meus pensamentos fossem ouvidos...

— Sente-se, ninguém vai incomodá-los, ok? — minha mãe falou com a menina e saiu.

Eu realmente havia acabado de esquecer o nome dela. Como pode? Eu sonhei com ela e esqueci o nome... Talvez fosse meu lado gay repudiando qualquer coisa ligada às mulheres.

— O senhor deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui, certo? — ela começou e assenti — Pois bem. Pode não parecer, mas me dou muito bem com meu irmão e ele me contou umas coisas que andaram acontecendo... E eu, como o amo muito, tenho o dever de protegê-lo.

Oh, sim! Ele ia precisar de muita proteção! Eu ia matá-lo por ter contado sobre aquilo, ia sim.

— Jasper está sentindo-se mal pelo senhor ter se afastado de sua empresa e pensa até em pedir demissão. Ele vai querer me matar por isso, por ter vindo aqui... Mas nós não podemos perder essa renda, entende? Sua empresa é o primeiro lugar onde ele trabalha e eu ganho muito pouco no Café onde trabalho... Ele me disse que se não tivesse dito nada, que se tivesse saído de sua sala sem comentar o que viu... Ah! Senhor Cullen, por favor, volte pra lá ou converse com ele, sei lá!

Ela até que me comoveu com aquilo. Jasper devia estar mesmo sentindo-se mal...

— Eu não sei... Quero mesmo esse tempo pra mim, entende? Mas diga a ele que continue trabalhando e lembre-o que ele me prometeu que não nos decepcionaria.

— Mas senhor... Meu irmão é cabeça dura e vai sempre se culpar... E se eu disser a ele que o senhor está com a aparência de alguém que não toma banho há dias... Bem, isso será pior.

Ela estava me sacaneando? Tínhamos intimidade pra algo assim? Porque eu não me lembrava de ter dito a ela que poderia zoar com a minha cara.

— Faz o seguinte; vá pra casa, diga ao seu irmão que não se preocupe; que logo eu voltarei.

— É sério? O senhor vai mesmo voltar ou só está tentando me enxotar daqui de forma um pouco educada?

Ela era esperta!

— Não é enxotar... Eu só queria me afastar de tudo aquilo e me aparece você...

— Eu entendo, mas meu irmão se importa com o senhor. Tanto se importa; que mentiu ao contar aquela história do celular.

Oh! Agora aquilo estava ficando bem, bem interessante mesmo!

— Conte. Juro que estou doido pra ouvir!

— Bem... Jasper já me havia dito que o senhor vive enfurnado na empresa, que é louco por tudo aquilo e não saía, não se divertia nem nada disso. Ele sempre me chama de pequena travessa, sabe? Porque apronto muito... Foi aí que ele teve a ideia do celular.

Eu não estava entendendo nada e sentia que entenderia menos ainda.

— Ele deixou o celular na empresa e pediu que eu ligasse; assim o senhor sairia pra me entregar, eu enxeria seu saco e andaríamos um pouco, faria o senhor rir... Ele só queria que o senhor se divertisse um pouco.

Bem, eu não entendi nada mesmo, mas balancei a cabeça, como se dissesse que havia compreendido tudo aquilo.

— Eu agradeço o esforço de vocês, mas não vou voltar agora. Eu preciso mesmo desse tempo.

— Tudo bem, senhor Cullen. Eu falarei com Jasper. Até mais.

Acenei e nem pensei em me levantar e acompanhá-la até a porta. Não era longe e ela não se perderia.

— Merda! Merda! Merda! Sai da minha vida, inferno! Nem sofrer sozinho um cara pode!

Bufando, fui até o bar e peguei uma garrafa de alguma coisa e subi para meu quarto. Pelo menos eu teria alguma coisa com que me preocupar depois.

...

O mundo inteiro estava girando. E era tão legal! Me fazia lembrar quando eu era criança e minha mãe me levava ao parque de diversões pra andar no carrossel. E as luzes brilhantes estavam ali... Os cavalinhos também. Eram tão coloridos! Será que se eu subisse em algum deles eu ia cair? E tinha gente falando, mas elas não estavam felizes. Será que não estavam gostando do passeio?

— Para! Para de querer me beijar! — tinha um homem gritando comigo.

— Mas eu te amo!

— Abre a porra do olho e para de viadagem! Mas que porra! Beber pra ficar assim... E o pior é que nem depois de dormir o efeito passou.

Eu abri os olhos e tudo sumiu. Era bem melhor ver os cavalinhos e as luzes brilhantes do que dar de cara com Emmett.

— Cara, você bebeu ácido? Está muito doido.

Olhei em volta, tentando focalizar o que me havia feito ficar daquele jeito. E encontrei. A garrafa assassina estava jogada ao lado da minha cama e eu poderia jurar que ela ria pra mim. Ou de mim. Vai saber...

— Vamos, vou te ajudar a chegar ao banheiro e a mamãe já vem trazer um café.

Nem consegui responder, só deixei que ele me puxasse e me levasse ao banheiro. Mas eu ainda queria saber por que infernos ele tinha ido ao meu quarto.

Depois do banho consegui me sentir um pouco melhor, mas minha cabeça ainda doía e meu estômago estava completamente embrulhado. Talvez tivesse até um lacinho pra presente. Minha mãe já estava em meu quarto e tentei recusar o café, mas sua cara dizia tudo: ou toma ou enfio pelo seu... Não, era melhor eu beber aquilo pelas vias normais. Com certeza.

Emmett disse que Jasper tinha tentando falar comigo, mas como eu estava praticamente desmaiado, ele ligaria depois. Algo estava acontecendo. Eu sentia isso.

E eu realmente havia desmaiado; passava das duas da tarde de sábado! Segui pra cozinha, onde encontrei meu pai, que me olhou completamente torto.

— Vai beber todas as bebidas que tenho em casa?

— Pelo menos eu só bebo, não é? Na sua época, maconha era super-relaxante! — ele me olhou feio — Pois é; minha mãe me contou umas coisas de quando vocês eram adolescentes...

— Vamos deixar esse assunto de lado, sim? Não é algo que valha a pena ser recordado.

Claro... É como dizem: pimenta nos olhos dos outros é refresco!

— Eu quero saber o que está acontecendo com você! Largou a empresa, está bebendo quase todos os dias, não toma banho...

— Não é nada, pai. Eu só quero ficar em casa. E tomei banho hoje, ok?

— Claro que tomou... Seu irmão te jogou debaixo do chuveiro, não jogou? Ele disse que faria isso.

Era bem a cara de Emmett mesmo... E eu já desconfiava que ele tivesse saído de casa e seguido até ali só pra me dar banho... Ele já havia voltado pra casa...

— Edward... Podemos não ser a família perfeita e nem as pessoas mais corretas, mas eu sou seu pai e me preocupo com você. Me fale o que está acontecendo; você nunca foi assim...

Suspirei.

— Não é nada, ok? Segunda eu volto pra empresa. Está melhor assim? — fui um tanto rude, mas eu não queria ficar me lembrando daquele assunto.

— Tudo bem, filho. Quando quiser, estarei aqui e poderemos conversar.

Assenti e fui procurar algo pra comer, mas desisti assim que senti o cheiro da comida. Aquilo não ia me fazer bem...

Voltei para meu quarto e vi que minha mãe tinha trocado os lençóis; agora dava até gosto de deitar ali, não estava mais com cheiro estranho de roupa que foi guardada depois de usada. Sobre os lençóis brancos e limpos, estava meu celular. Pegar ou não? Teria alguma ligação de Jasper ali ou ele tinha ligado pra casa? Ele queria falar comigo? Estava mesmo preocupado?

Eu estava sentido falta daquela coisa estranha. Estava mesmo. Sentia falta de seus olhares atravessados, das gargalhadas estranhas... Porra! Como aquilo doía! E ainda tinha gente que dizia que amar era bom... Sei... Eu estava me tornando quase um alcoólatra por conta daquela porcaria! E tinha até virado gay! Não era bom! Não era!

O celular ficou rodando em minhas mãos e resolvi ligá-lo. Fui bombardeado com centenas de ligações perdidas. Mentira. Foram cinco mensagens de ligações perdidas e dois recados de voz. Eu ouvi os recados e eram de Jasper, perguntando como eu estava. Antes que eu pudesse pensar em me deter, já estava ligando pra ele.

— Senhor Cullen? — ele atendeu ao primeiro toque e eu fiquei mudo — É o senhor?

Continuei calado, apenas ouvindo sua respiração do outro lado da linha.

— Eu... Eu sinto muito por tudo isso... Bella me disse que o senhor não está nada bem.

Respirei fundo. Ele estava mesmo se culpando... Aquilo era uma grande merda! A culpa era minha, por ser idiota.

— Sei que o senhor está aí, mas entendo que não queira falar comigo... Eu vou desligar, ok? Espero que o senhor fique bem.

E a ligação foi encerrada. Pensei que ouvir a voz dele me faria sentir melhor, mas me enganei; aquilo doeu mais do que estar longe. Eu precisava mesmo voltar pra empresa; voltar e ficar um pouco mais perto de Jasper. Doeria, mas era o certo a fazer.


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