O mês de outubro havia finalmente chegado, mas o outono estava muito distante do fim. Naquela tarde de Sábado, aconteceriam os testes para o time de Quadribol da Grifinória. E eu – como capitã – ficaria a maior parte do tempo daquele dia, ocupada.

– Certo pessoal, vamos começar. – Eu disse.

Perguntei a cada um que estava ali para qual posição do jogo iriam fazer o teste, dividindo todos em duas equipes. Ordenei que todos ficassem em seus devidos lugares e dei início à partida.

O jogo não demorara muito. Acertei a goles cinco vezes nos aros. Hugo, que estava fazendo o teste para apanhador para continuar com a vaga, conseguiu pegar o pomo facilmente.

Depois de pensar um pouco e avaliar cada um deles, decidi que a equipe ficaria a mesma do ano passado. Exceto por Lucas Finnigan, que havia entrado no lugar de Manuela Chang, pois havia terminado seus estudos em Hogwarts.

– Muito bem, vejo vocês nos treinos da semana que vem. Reservei o campo para segunda e sexta. Infelizmente, as outras casas chegaram antes de nós e reservaram os outros dias. – Eu disse para a equipe.

Ao sair do campo, decidi ir para a Sala Comunal dos monitores para tomar um banho e terminar todas as tarefas que os professores haviam passado. Eu apenas não esperava encontrar Malfoy sentado em minha cama ao abrir a porta do quarto.

– Malfoy, você me assustou! O que está fazendo aqui? – Perguntei ofegante.

– Lembra que as rondas da monitoria foram suspensas até o último dia de setembro? Então, hoje é o grande dia Weasley.

Malfoy havia levantado da cama em um salto.

– Sim Malfoy, eu me lembro. Agora por favor, saia do meu quarto!

Malfoy seguiu para a porta, saindo do quarto.

– E você é minha dupla. – Disse ele após eu fechar a porta.

– O que? – Eu disse incrédula, abrindo a porta novamente.

– Sim Weasley, você será minha dupla na monitoria.

– Mas... Não pode ser! Mcgonagall não devia estar em seu juízo perfeito quando decidiu isso. – Eu disse me jogando de braços cruzados no sofá.

– Concordo. Mas, não há nada que possamos fazer.

Fiquei perplexa, pois Malfoy nunca estaria tão tranquilo dessa maneira. Isso não era uma “coisa do Malfoy”.

– Você não parece muito preocupado. – Eu disse franzindo o cenho.

– E não estou. Quer dizer... Por que não podemos ao menos tentar nos suportar em vez de ficarmos nos atacando como cão e gato?

– Deixe-me ver... Por que eu te odeio, você me odeia e... Bom, acho que esta já é uma explicação mais do que plausível Malfoy.

– Sabe por que nós nos odiamos, não sabe? – Disse ele, sentando-se ao meu lado.

– Claro que sim. Por que simplesmente nós não concordamos com as atitudes e pensamentos um do outro, e você é insuportável.

– Não Weasley. Não acredito que há quem diz que você seja inteligente. – Disse ele revirando os olhos, me fazendo lançar-lhe um olhar furioso. – Não percebe? Só sentimos isso um pelo outro por que nossos pais se odiavam. Não é por que eram assim que devemos ser como eles.

Refleti durante um minuto. Por um lado, Malfoy tinha razão. Nossos pais sempre se odiaram, talvez seja a razão pela qual nós não nos suportamos. Lembro-me do dia na plataforma, quando meu pai me deu argumentos realmente convincentes de que ter qualquer tipo de relacionamento com um Malfoy não era nada bom.

Eu não respondi. Havia algumas questões em que eu não me importaria de assumir a Malfoy que eu concordava com ele. Mas esta, definitivamente eu nunca assumiria.

– Não vai me responder? – Perguntou ele.

Abri minha boca para dizer algo, mas não saiu nenhum som sequer.

Para a minha sorte, Lily adentrou na Sala Comunal.

– Rose! Preciso falar com você, é urgente. – Disse Lily, fazendo Malfoy seguir para seu quarto.

– Certo Lily. O que aconteceu?

– Isto vai ser muito difícil para você Rose. Eu... Vi Mclaggen no campo hoje, depois dos testes para a equipe de Quadribol. E... Ele estava beijando uma garota Rose!

Senti meus olhos se encherem de lágrimas, minhas mãos estavam frias e tremiam. A raiva e a angústia percorreu todo o meu corpo naquele instante.

– Rose, eu sinto muito. – Disse Lily abraçando-me enquanto minhas lágrimas encharcavam sua blusa de mangas compridas.

– Não sinta Lily. Você não fez nada.

Lily consolou-me durante alguns minutos. Até que, eu não conseguia mais chorar.

– Precisa terminar com ele Rose, hoje.

– Eu sei. – Eu disse observando o fogo queimar a lenha na enorme lareira da Sala Comunal.

Naquele mesmo instante Mclaggen havia entrado na Sala Comunal.

– Oi Rose, pensei em passar aqui e...

Por um impulso, dei um soco no nariz de Mclaggen, o mesmo o fez cair no chão.

– Ficou louca? – Gritou ele após dar um gemido de dor, segurando seu nariz.

– Isso, é por ter me traído. Agora, seja homem e levante!

Risadas que pareciam ser incontroláveis encheram a Sala. Era Malfoy, que estava parado a porta de seu quarto. Lily o acompanhou, os dois riam incontrolavelmente.

Mclaggen levantou-se e segurou meus dois braços com muita força.

– Quem você acha que é para me bater? – Disse ele me fazendo estremecer.

– Largue ela Mclaggen. - Disse Malfoy, parando instantaneamente de rir.

– Não se meta nisso Malfoy. Isto é entre Rose e eu!

Mclaggen apertou meus braços ainda mais. Soltei um gemido de dor e fechei meus olhos. Senti as mãos de Mclaggen soltarem meus braços, e quando abri meus olhos, Malfoy e ele estavam no chão, onde só se enxergavam socos.

Mclaggen tentou se levantar, mas Malfoy o imobilizou e socou sua boca. Pude ver o sangue escorrer para a sua camisa. Malfoy se distraiu por um momento, e Mclaggen aproveitou para dar-lhe um soco no olho. Novamente, Malfoy o imobilizou e lhe deu pontapés.

Malfoy levantou-se e deu um último pontapé na perna direita de Mclaggen.

– Não se bate em uma mulher, seu imbecil. – Disse Malfoy.

Mclaggen levantou-se com dificuldade e seguiu para a porta, saindo da Sala Comunal.

– Oh meu Merlin, você está bem Malfoy? - Perguntei ao ver seu olho extremamente inchado.

– Estou. Só preciso cuidar deste olho roxo.

– Você tem algum quite de primeiros socorros? – Perguntou Lily.

– O que é isso?

Malfoy franziu o cenho.

– Venha comigo.

Puxei Malfoy para meu quarto e ordenei que sentasse em minha cama. Peguei uma pequena maleta branca com uma cruz vermelha que mamãe havia me dado e me ensinado a usar em caso de algum machucado. Ao abri-la, vi que a maleta estava vazia. Haviam apenas algumas agulhas e linhas para costurar roupas.

– Odeio ser indelicada, mas tenho tarefas a fazer. – Disse Lily.

– Tudo bem Lily, pode ir. Eu cuido do Malfoy.

Lily saíra da Sala Comunal e deixou Malfoy e eu sozinhos. Seu olho estava latejando.

– Coloque isto no seu olho. – Eu disse lhe entregando um pano úmido, pois fora a única coisa que achei em meu quarto que provavelmente aliviaria a dor de Malfoy.

Eu não sabia o que dizer. Não sabia ao certo por que Malfoy havia me defendido. Se isto acontecesse há alguns meses atrás, ele nem sequer se importaria.

– Obrigada por me defender do Mclaggen. Foi muito... Bom da sua parte. – Foram as minhas palavras.

– Por nada. Só fiz o que achava que é certo. Uma coisa que meus pais me ensinaram foi que bater em uma mulher é covardia.

Sentei ao seu lado na cama. Alguns minutos se passaram, minutos de silêncio, para ser mais específica.

Malfoy havia largado o pano úmido no chão. Ele me fitava com seus olhos azul-acinzentados intensamente. Coloquei delicadamente minhas mãos em sua nuca, enquanto as dele se depositavam em minha cintura. E pela primeira vez, eu o beijei. Não fora o nosso primeiro beijo, mas foi o primeiro em que ambos queriam. Não fora por vingança, ou por raiva. Foi sincero, doce, delicado. Foi verdadeiramente, um beijo.