Haviam se passado algumas semanas desde aquela cena confusa entre Cato e eu; apesar de sermos "amigos", nós nunca nos falávamos, nem interagíamos de forma alguma. Era algo estranho. Por mais que eu tentasse me aproximar dele na academia, ele se afastava e fingia que nem sabia quem eu era. Por mais decepcionada que sua atitude me deixava, eu tentava ignorá-lo da mesma forma e seguir em frente; quem sabe, tudo aquilo não passou de uma coisa que eu mesma encenei em minha mente?

O ápice do inverno estava começando quando cheguei na escola naquela manhã e Emma veio correndo e minha direção.

— Clove, você soube? – ela estava desesperada.

— Do quê? –  falei curiosa.

— Cato!!! Ele desafiou Thor para uma luta corpo a corpo na academia.

— Qual é o problema dele? Do Cato, quero dizer? – eu bufei... Não tinha contado a Emma sobre nós dois – só porque ele é um dos melhores da academia, não quer dizer que ele é o melhor e que deve desafiar LOGO QUEM para uma luta corpo a corpo... 

— Onde eles estão?

— Eles já foram para lá.

Revirei os olhos, peguei Emma pela mão e fomos correndo para a academia. Não importa o quão babaca Cato estava agindo comigo, ele havia me ajudado quando precisei e eu tentaria impedi-lo de ser um estúpido enquanto ainda havia tempo.

No caminho até a academia, Emma e eu passamos por um monte de gente, esbarramos em algumas dezenas de pessoas e finalmente, quando chegamos lá, nos deparamos com o local mais lotado do que já esteve antes. Tentei avistar Cato, porém, em vão.

"Pensa Clove, pensa..." Claro, o vestuário. Fui até lá e encontrei-o sentado respirando fundo e se alongando.

— Qual é o seu problema? – perguntei brava.

— Clove? O que você está fazendo aqui? – ele parecia confuso.

— Você... você é um babaca! Você quer ser meu amigo e depois nem olha para a minha cara e agora quer desafiar Thor? Thor?? É sério? Você tem algum tipo de retardo mental?

— Vai embora Clove. – ele falou seco.

— Só se você for comigo! Thor vai acabar com você em dois segundos!! Ele vai te matar, eu não vou ficar assistindo à isso.

— VÁ EMBORA CLOVE – ele gritou e eu me senti pequena. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu mordi meus lábios.

— Tá.

Fui embora de lá antes que as lágrimas descessem pelo meu rosto; naquele momento, eu queria que Cato apanhasse mesmo; um peso enorme havia se formado sobre minhas costas.

Eu ignorei o barulho que as pessoas faziam e fiquei me concentrando apenas em Cato entrando na arena. Olhei cada detalhe daquele garoto. Quando Thor entrou na arena, o povo foi a loucura, Thor era muito bom e ele tinha apenas quinze anos, mas já era alto, muito alto e forte; não era a toa que ele estava cotado para ser o carreirista desse ano nos Jogos Vorazes...

Quando a luta começou, Cato deu alguns chutes e socos, mas Thor o derrubou em poucos segundos e começou a socar sua cara. Cato estava caído, uma poça de sangue se formava ao seu redor; havia muito sangue. Contudo, as pessoas não ligavam, nem Brutus nem Enobaria, eles apenas observavam.. uma raiva começou a se formar dentro de mim, eu queria gritar, mas não podia. Então Thor saiu de cima de Cato e levantou as mãos, o público foi a loucura e eles começaram a sair da arena. Apesar de estar magoada com ele, fui em sua direção; ele estava muito machucado e caído no centro da academia olhando paranoico para o teto.

Não havia mais ninguém ali, então eu o apoiei em meus ombros e o levei para a minha casa, sim, era longe, mas Cato havia feito praticamente o mesmo para mim. Foi uma caminhada muito longa e as pessoas pareciam não nos notar; permanecemos quietos durante toda a caminhada. Quando finalmente chegamos em casa, minha mãe me ajudou a colocá-lo em minha cama, limpamos os seus machucados e fizemos sopa para ele.

Ao acordar, ele me lançou um olhar confuso.

— Você se lembra de alguma coisa?

Ele assentiu.

— Eu apanhei muito? – ele parecia triste.

— Demais.

— Eu poderia ter dito que eu avisei, mas, vou te poupar desse comentário.

Ele comeu a sopa e levantou da minha cama.

— Eu vou pra casa Clove.

— Sozinho? Nunca. Vamos, eu vou com você.

Já era escuro quando saímos de casa; o céu estava repleto de estrelas e o frio do inverno cortava a pele. 

— Me desculpa? - ele sussurrou.

— Porque?

— Por eu ter agido feito um idiota, é óbvio. Quero dizer, não sei porque eu fiz aquilo, te ignorar.

— É, acho que sim.

— Hm.

Continuamos andando por um longo pedaço quando eu escorreguei no musgo e caí de bunda no chão.

— Clove, você tá bem?

— Sim.

Ele deu uma risadinha e continuamos andando e conversando. Quando finalmente chegamos à casa de Cato, eu expliquei a situação dele para a sua mãe, e ela me agradeceu. Ela era uma mulher muito legal e o pai dele também. Eles até me convidaram para jantar lá, mas eu tive que recusar porque minha mãe estava me esperando para jantar em casa. Quando eu estava indo embora vi Cato em pé na varanda olhando para mim.

— Nos vemos amanhã então?

— Talvez

— Talvez porque?

— Porque vai depender caso eu estiver afim de falar com você amanhã.

— E você vai?

— Depende.

— Depende do que?

— Depende se você vai merecer falar comigo amanhã – lancei-lhe uma piscadela.

— E você vai querer?

— Talvez

Cato riu e ficou pensativo por um instante, depois ele levantou a cabeça e olhou para mim.

— Hey Clove. Nos vemos amanhã então.

— Quem sabe..

— Então tá.. até amanhã

— Até – eu falei rindo.

Ele ficou me olhando até eu chegar na floresta, fiquei andando sozinha lá, ouvindo os uivos dos lobos e os grilos, eu não estava com medo, eu tinha minha faca ali e podia rasgar qualquer um com ela. Quando cheguei ao laguinho, me sentei lá e fiquei admirando a lua que estava mais linda do que nunca e ela me lembrou de Cato. Depois de um tempo, comecei a ficar com frio e resolvi ir embora

Quando cheguei em casa, minha mãe já estava dormindo, então resolvi dormir também, deitei em minha cama e fiquei admirando a lua. Cato estava olhando para a mesma lua em algum lugar, não sei porque mas eu tinha essa sensação, então, pela primeira vez em semanas eu sonhei com Cato, de novo.