Sam gritou e se agarrou ao irmão, com medo de cair no meio daquela estranha fenda cósmica que se abriu em cima deles, arrastando-os para o alto, mas com a estranha sensação de que não saíam do chão. Ken segurou firmemente a irmã e olhava, embasbacado, para todas as direções, procurando uma explicação para aquele estranho fenômeno.

Então, quase tão repentinamente quanto havia começado, o redemoinho se encerrou. Ken e Sam olharam ao redor: continuavam no círculo de Stonehenge, mas agora a noite já caíra, e não havia nenhum turista nas proximidades.

– OK, isso foi estranho – disse Sam largando o irmão. – Mas pelo visto, anoiteceu um pouco mais rápido do que esperávamos. Vou ver se encontro papai e mamãe.

Ela começou a andar para fora do círculo de pedras, mas, antes que tivesse chegado perto da parte externa do círculo, alguém gritou.

– Funcionou!!!!

Sam deu um gritinho e se sobressaltou. Ken olhou para os lados, em alerta.

Um homenzinho encapuzado estava parado em frente ao círculo, olhando para os irmãos. Em um pedestal na frente dele, havia um conjunto de cartas semelhantes às cartas de Monstros de Duelo, só que com uma rosa vermelha estampada no verso de cada carta.

– A magia das cartas da Rosa Vermelha é real!! – continuava a exclamar o homenzinho. – Trouxe não somente um, mas dois duelistas!! Preciso avisar à Lady Margaret o mais rápido possível...

Ken pigarreou.

– Com licença, caro senhor. Quem é você? E o que quer dizer com “a magia das cartas é real”?

O homenzinho fitou o rapaz, como se só agora tivesse se apercebido de fato da presença dele.

– Oh, perdoe a minha indelicadeza, caro senhor. Sou Simon McMooran, Alto Druida e servo do príncipe Henry Tudor, herdeiro do trono real da Inglaterra.

Ken ficou boquiaberto. Sam olhou dele para o homenzinho, como se perguntasse para onde a lógica daquela situação tinha ido parar.

– OK, só um momento – disse ela. – Henry Tudor não foi aquele rei da Inglaterra que viveu há mais de quinhentos anos? É impossível que ele seja o herdeiro real, se ele já está morto há...

– Oh, sim, sinto muito, meus senhores, devo-lhes explicações – disse Simon. – É que fui orientado a usar as cartas das Rosas Vermelhas para poder evocar um duelista habilidoso de outra época, para poder nos ajudar em nossa situação atual. Vocês estão no século XV, em Stonehenge, na Grã-Bretanha.

Ken olhou incrédulo para Simon.

– Isso é impossível.

– Eu também achava que era! Até ver vocês dois surgirem aqui no círculo místico, graças ao poder das cartas da Rosa Vermelha!! – exclamou Simon. – Oh, Deus! Minha senhora vai adorar saber que consegui não um, mas dois duelistas!!

– Espera. – Ken pareceu despertar de um transe, e se aproximou de Simon, seguido de perto por Sam. – Você disse que é servo de Henry Tudor. O que significa que estamos na Inglaterra da época da Guerra das Duas Rosas.

Simon aplaudiu e deu alguns pulinhos.

– Precisamente, senhor...! O príncipe Henry foi afastado de sua terra pelo usurpador Richard de York, que está ocupando o trono real! Os Lancastrians e seus aliados se viram obrigados a se exilarem na França. Pode-se dizer que Stonehenge é uma área neutra, visto que a família Tudor ainda tem o controle sobre o sudeste da Inglaterra, enquanto o resto do país está nas mãos de Richard III e dos Yorkists; Stonehenge está localizada mais ou menos na fronteira entre esses domínios.

– E por que precisam de duelistas para ajudá-los na guerra? – indagou Sam.

– Minha cara, tanto os principais nobres dos Lancastrians, da Rosa Vermelha, quanto os dos Yorkists, da Rosa Branca, utilizam as cartas de Monstros de Duelo para se enfrentar. É um jogo antigo, e muito difundido entre os nobres ingleses. Só se pode vencer a guerra possuindo todas as cartas das Rosas, sejam Vermelhas ou Brancas. O lado que obtiver a posse das dezesseis cartas, as oito brancas e as oito vermelhas, terá o direito de reclamar para si o trono da Inglaterra. E a lenda dizia que as Rosas Vermelhas tinham o poder de evocar para nossa época um duelista capaz de reunir todas as cartas das Rosas... Seria chamado de o “Duelista das Rosas”.

Ele fez um gesto, abrindo os braços, como se abrangesse os dois irmãos.

– E vocês, meus caros, que foram trazidos de outra época, são os Duelistas das Rosas, que irão nos ajudar a reunir as 16 cartas e vencer esta guerra.

– E quando foi que concordamos com isso? – questionou Sam.

– Minha cara, não temos escolha. Vocês têm que nos ajudar. Só reunindo as 16 cartas é que a família Tudor poderá reaver o trono britânico e, também, fazer vocês voltarem à sua época.

Sam gelou e agarrou desesperadamente a mão do irmão.

– Ken – disse ela, tremendo nervosamente. – N-Nós estamos presos aqui?

– Calma – disse Ken, acariciando o ombro dela – Sr. McMooran, quer dizer que só poderemos voltar para nosso século se obtivermos as 16 cartas das quais se refere?

– Precisamente, meu senhor. As cartas da Rosa Vermelha podiam trazê-los de sua época para cá, mas só a magia das 16 cartas reunidas poderá mandá-los de volta ao seu tempo.

– Então, acho que não temos opção – disse Ken. – Vamos duelar pelas outras oito cartas para ajudar seu senhor a reaver o trono e para que possamos voltar pra casa.

– Excelente! – exclamou Simon. – Primeiramente, eu devo orientá-los sobre como Monstros de Duelo é jogado em nossa época, sobretudo sobre a forma como os guerreiros Lancastrians e Yorkists utilizam-nas. Depois, eu os levarei para a residência de exílio de meu senhor Henry, para que vocês o conheçam. Depois, voltaremos para a Inglaterra para iniciarmos a jornada pelas cartas das Rosas.