Color Pencil escrita por Sushi


Capítulo 1
One-Shot




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Muito bem, turma, hoje será desenho livre. — Disse uma mocinha loira e sorridente, a professora do segundo ano. — Quero que vocês desenhem coisas bem bonitas, tá bom? O que vocês quiserem. — Disse ela, distribuindo folhas nas mesas dos alunos.

Gerard Way piscou, olhando para sua folha. Gostava muito de desenhar, embora ainda não tivesse muita coordenação, apenas o que seus 4 anos de idade permitiam. Sorriu para si mesmo, mostrando seus dentinhos de leite. Já tinha uma ideia em mente. Desenharia super-heróis, os achava muito interessantes.

Azul, laranja, verde, amarelo, roxo, marrom.

Vermelho para a capa... Espere.

Oh, não!

Onde estava seu lápis vermelho? Mamãe tinha lhe comprado uma caixa novinha a poucos dias, não podia ter perdido!

Olhou ao redor, correndo os olhinhos verdes pelo chão da sala. Nem sinal de seu lápis vermelho. Talvez o pequeno Mikey o tivesse pego para mastigar ou algo assim.

Gerard pensou em pedir emprestado para alguém, mas sua timidez lhe impedia de se levantar da cadeira e ir até a frente. Olhou para o lado, onde um garotinho de olhos doces cor de mel rabiscava com um lápis azul, cantarolando alguma musiquinha.

— Ah... — O pequeno Way hesitou. — O-oi, será q-que...

— Ham? — O outro levantou a cabeça, olhando para Gerard com seus olhinhos brilhantes. Gerard ficou ainda mais tímido.

— Pode emprestar o... V-vermelho, por favor? — Tinha aprendido com sua avó que era sempre bom ser bem educado e usar as "palavrinhas mágicas" quando pedisse algo para alguém, e Gerard sempre seguia os conselhos carinhosos de Elena.

— Ah! — O outro sorriu, pegando a lápis vermelho no meio da bagunça de sua mesa. — Posso sim, ! — Disse, entregando o lápis para Gerard, ainda sorridente.

— Obrigado. — Gerard sorriu; um sorrisinho pequeno, tímido, diferente do outro.

— Meu nome é Frank, e o seu? — Disse o pequeno, balançando as perninhas, que ainda não alcançavam o chão.

— Ah, meu nome é Gerard. — Respondeu Gerard, se sentindo um pouco desconfortável. Algumas pessoas tinham lhe dito que seu nome era estranho, o que o fazia não gostar muito dele. Mas sua avó Elena sempre costumava dizer que ele tinha um nome muito lindo e elegante (embora o pequeno Gerard não soubesse ao certo o que "elegante" queria dizer).

— Ge... rard. — Repitiu Frank, tentando pronunciar. — Eu gostei! — Sorriu novamente, mostrando uma janelinha.

Gerard sorriu, um pouco mais largo desta vez.

— Sério?

— Aham! — Frank assentiu, pegando um lápis de cor laranja. Olhou para o desenho do outro, arregalando os olhos. — Nossa, você também gosta de super heróis!?

— Gosto, muito! — Gerard até se virou para olhar melhor para Frank; nunca tinha tido nenhum amiguinho que também gostasse das mesmas coisas que ele (nunca tivera muitos amiguinhos, na verdade...).

— Legal! — Frank não tirava o sorriso do rosto, e Gerard gostava daquilo. Ele sempre reparava em detalhes das pessoas que as diferenciavam do resto; como sua mãe, por exemplo, que sempre usava os cabelos loiros e ondulados arrumados num topete, ou sua avó, que sempre usava vestidos delicados e floridos em cores claras. E Frank tinha aquele sorriso. — Qual é o seu favorito?

— Hm... — Gerard pensou por alguns instantes, tentando se lembrar de todos os que conhecia. — Acho que é o Batman. E o seu?

— Eu gosto do Batman também, e do Iron Man. — Sorriu, fazendo uma pose de super-herói que fez Gerard rir.

— O que você está desenhando? — Perguntou Gerard, se esticando para ver melhor o desenho do outro.

— Ah, é o meu vô! — Disse Frank, apontando animado para a figura de palito que parecia estar tocando bateria. — Ele é músico, sabia?

— Puxa, que legal! A minha vó é bailarina... — Gerard sorriu, lembrando-se das fotos antigas que Elena havia mostrado para ele.

— Sério?! — Frank sorriu. — Então eles tem que se conhecer! Aí meu vô toca uma música enquanto ela dança, que tal? — Gerard riu, imaginando a cena. — A gente fica assistindo, eu adoro assistir meu vô tocar bateria. — Disse, voltando a colorir com um lápis amarelo.

— Legal, eu vou perguntar pra minha vó. — Gerard também voltou para seu desenho, colorindo a capa de seu super-herói o mais cuidadosamente possível, embora ainda saísse para fora das linhas às vezes.

— Gerard?

— Hum?

— Podemos ser amigos?

Claro!

— Legal!


                                                     •    •    

— Frank, me empresta o vermelho?

Doze anos depois e Gerard continuava perdendo seus lápis de cor, principalmente os vermelhos. Estava desenhando um gato zumbi, e estava bem satisfeito até agora. Só faltava o sangue.

— Ainda bem que eu tenho o meu, hm? — Frank riu, estendendo o lápis para o melhor amigo.

Gerard rolou os olhos, rindo.

— É, o que seria de mim... — Disse, começando a fazer um filete vermelho escorrendo pelos buracos dos olhos do gato.

— Cara, isso tá muito legal. — Disse Frank, se esticando para ver o desenho de Gerard, sorridente como sempre. — Mas acho que a professora de arte vai te olhar daquele jeito estranho de novo quando ver mas um zumbi coberto de sangue. — Riu.

Gerard riu, encolhendo os ombros.

— Todo mundo já acha que eu sou um psicopata, mesmo...

— E eu tenho certeza. — Disse Frank, levando um soco leve no braço, rindo logo depois.

Gerard devolveu o lápis para Frank quando terminou, e tentou espiar a folha do outro.

— E você, o que tá fazendo?

— Ah! Nada! — Frank corou levemente, escondendo a folha com as mãos.

— Como nada? Claro que é alguma coisa, Frank, deixa eu ver, vai! — Gerard franziu a testa; ele sabia que Frank não era muito bom com desenhos, mas gostava dos do amigo.

— Eu te mostro depois, tá? — Disse Frank, com o olhar baixo, ainda sem tirar as mãos do papel.

— Promete? — Gerard sorriu.

Frank anuiu, sem se importar, achando que Gerard logo esqueceria, e outro voltou a se concentrar nos toques finais de seu desenho.



No hora da saída, Gerard esperou Frank terminar de conversar com o professor de história sobre a nota de um trabalho e sair da sala; os dois sempre iam embora juntos, e na maioria das vezes, passavam o dia na casa um do outro.

— Hey — Começou Gerard, enquanto os dois caminhavam pelos corredores vazios. — Você ainda não me mostrou seu desenho, lembra?

Frank mordeu o lábio, nervoso. Droga, ele havia lembrado.

— Ah, Gerard, não...

— Nada de não, você prometeu! — Disse o outro, infantil. — Vai, eu quero ver. Nada de segredinhos comigo.

Frank rolou os olhos, parando no meio do corredor para pegar o desenho na mochila.

— Hm... — Frank mordeu o lábio novamente, nervoso. — Gee, olha, eu queria conversar com você sobr...

— Depois, não muda de assunto!

— Não tô mudando de assunto!

— Tá sim, agora deixa eu ver! — Gerard pegou rapidamente a folha da mão do amigo, que arregalou os olhos e corou.

— Não, Gee! Esper--

Gerard abriu o desenho e congelou onde estava, assim como Frank. Era tipo um cartão, onde haviam duas figuras de palito (Frank nunca fora bom com desenhos, mesmo), uma de cabelos lisos e um pouco compridos, com dentes de vampiro, uma camiseta preta escrito "Misfits" infantilmente e calças jeans com all star. A outra tinha um moicano e roupas parecidas com a do outro personagem, mas este segurava uma guitarra branca. No meio do desenho havia um coração vermelho e embaixo a frase "be mine" escrita em preto com contorno vermelho escorrido, algo que talvez fosse sangue.

Frank não podia estar mais corado, e parecia a ponto de chorar de vergonha. Gerard tinha uma expressão indecifrável – não aparentava estar bravo, ou achar graça daquilo.

— Gee, eu... Olha...

— Foi você que fez isso? — Gerard sorriu minimamente, sem Frank perceber. Já sabia a resposta.

— Foi, mas, e-eu, eu sei, isso é totalmente...

— Isso é o cartão de dia dos namorados mais legal que eu já vi em toda a minha vida. — Gerard sorriu, e Frank franziu a testa. — Não é dia dos namorados, mas, não importa. — Encolheu os ombros, rindo, e depois olhou para o amigo. — Sou... Sou eu?

Frank suspirou, engolindo em seco e encarando o chão.

— É.

Frank não levantou o olhar, nem ouviu nada de Gerard. Já estava começando a ficar curioso e nervoso quando sentiu a presença do amigo perto de si; e quando notou, estava sendo abraçado.

— Obrigado, Frankie... — Gerard riu, olhando Frank nos olhos e tirando uma mecha de cabelo escuro dos olhos dele. — Eu gostei mesmo disso.

— É sério? — Frank sorriu fracamente, ainda corado.

— Aham. E eu acho que eu gostei da ideia de ser seu namorado também.

Frank arregalou os olhos, mas antes que pudesse dizer algo, foi cortado por um beijo de Gerard. Foi um beijo curto e meio desajeitado, mas muito bom mesmo assim.

— Amo você, Frankie. — Gerard riu, voltando a abraçar o menor.

— Eu também. — Frank escondeu o rosto na curva do pescoço do amigo, aproveitando o momento, embora ainda estivesse incrédulo. Podia durar pra sempre...

— Desde quando? — Perguntou o mais alto, se separando de Frank, que corou.

— Ahm... Faz um tempo, já.

Gerard sorriu, beijando a testa do amigo.

— Vem, vamos lá pra casa, tem um cartão que eu quero guardar e uma maratona de Star Wars que eu quero assistir com alguém. — Gerard piscou, fazendo o outro rir, a risada que ele amava desde os 4 anos.

— Ah, podemos passar na papelaria primeiro?

— Por quê?

— Acabei de ver que eu perdi meu lápis vermelho também.


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Notas finais do capítulo

Eu e essa minha imaginação de retardada, Jesus.