New Legends - Cavaleiros do Zodíaco escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 126
O pilar do Atlântico Sul


Notas iniciais do capítulo

Paulo de Órion precisa interromper seu treinamento com Shaka para ajudar seus amigos a enfrentar os monstros marinhos que tentam invadir o Santuário, enquanto o Cavaleiro de Virgem se reúne com seus colegas Cavaleiros de Ouro. O jovem cavaleiro de Órion tenciona usar esse combate para testar as habilidades recém-aprendidas com o mítico cavaleiro de Ouro.
Enquanto isso, Rina de Andrômeda recobra a consciência, se recuperando da doação de cosmo, e se volta para destruir o Pilar do Oceano Atlântico Sul enquanto seus aliados detém o avanço das tropas corrompidas de Poseidon.



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            - Impressionante, meu jovem – disse Shaka de Virgem. – Sua capacidade de aprender se mostrou bastante eficiente. Seu desempenho tem sido veloz e brilhante.

            Atento às palavras de Shaka, Paulo de Órion continuou ajoelhado, com a cabeça voltada para baixo, imerso em sua meditação.

— A seção espiritual de seu treinamento está praticamente concluída – informou Shaka com satisfação. – Você realmente me surpreendeu pela rapidez com que assimilou as técnicas que lhe ensinei. No campo espiritual, você já está com pleno domínio delas. Agora, se quiser passar para a parte física de seu treinamento, sugiro que comecemos...

— Senhor Shaka – falou Paulo, de súbito, levantando a cabeça e olhando para os lados. – Eu sinto uma perturbação no cosmo.

— Hmm, eu também sinto – disse Shaka, erguendo levemente a cabeça, mas sem abrir os olhos.

            Paulo ouvia claramente uma voz ao longe, e essa voz chamava por ele. Paulo...! Vem depressa, vem nos ajudar! Precisamos de você! O Santuário está sendo invadido!

— Há uma voz me chamando – disse Paulo, se levantando, alarmado. – É a voz da minha amiga Marília de Grou. Ela diz que o Santuário está sendo invadido.

— Invadido, você diz? – comentou Shaka. – Eu também ouvi levemente a voz dessa moça através do cosmo e...

— Mestre Shaka, preciso interromper nosso treinamento – pediu Paulo. – Preciso ajudar meus amigos agora. É extremamente importante que eu vá ao auxílio deles.

— Interromper o treinamento, sei – disse Shaka, notando a voz alarmada do garoto. – Meu jovem, não sei se é sensato interrompermos seu treinamento por questões mundanas como amizades ou...

            Nesse momento eles foram interrompidos pela chegada do cavaleiro de Prata mensageiro que Saga havia enviado para a Casa de Virgem.

— Senhor Shaka...! – ofegou ele. – P-peço perdão pela intromissão...

— O que deseja, meu rapaz? – perguntou Shaka. – O que houve para entrar assim, correndo desembestado, na Casa de Virgem?

— Senhor, venho trazer uma mensagem do senhor Saga. Ele e o senhor Aiolos convocam o senhor para se juntar aos Cavaleiros de Ouro na batalha. O Santuário está sendo invadido por criaturas das profundezas do oceano. Diz o senhor Saga que a sua presença é extremamente necessária na linha de frente. Os cavaleiros de Ouro não podem sair do Santuário, devido às ordens do mestre Shion, mas nada os impede de proteger as fronteiras do Santuário contra invasores.

— Entendo. Sendo uma ordem de Aiolos, que é atualmente o Grande Mestre interino, e de Saga que é seu assistente, não tenho como recusar. – Ele se voltou para Paulo. – Meu jovem, por motivos de força maior, como pode ver, teremos que interromper seu treinamento. Eu só lamento não ter tido tempo para ensiná-lo sobre a seção física das técnicas que lhe repassei.

— Não se preocupe, mestre Shaka – retrucou Paulo, confiante. – Creio que enfrentar os invasores do Santuário será uma boa maneira de colocar em prática o que aprendi com o senhor. Talvez até me sirva como treinamento da seção física dos seus ensinamentos, em complemento à seção espiritual.

— Você é confiante, meu rapaz, mas também é determinado e bondoso. – Shaka se permitiu sorrir, e se levantou. – Que Atena esteja contigo. Vá ajudar seus amigos, e mostre que nosso treinamento não foi em vão. Quanto a você – o cavaleiro de Virgem se dirigiu ao mensageiro. – Mostre-me o local onde os Cavaleiros de Ouro estão concentrados para combater os invasores.

— S-sim, senhor – gaguejou o cavaleiro de Prata, e saiu correndo em direção à entrada da casa.

            Antes de segui-lo, Shaka se voltou uma última vez para Paulo, que estava indo em direção à saída oposta da casa.

— Boa sorte, Órion... Mostre que você tem potencial para honrar o legado dos Cavaleiros de Virgem.

— Eu mostrarei, senhor Shaka – disse Paulo, lançando um último olhar a Shaka, e em seguida disparando em direção à saída, ansiando por encontrar Marília e os outros para ajuda-los na batalha. – Eu mostrarei.

...

...

...

...

            Isabella continuava com as mãos nos lados da cabeça de Rina, tentando reanimar a amiga. À sua volta, a situação não era muito animadora. Há pouco, ela havia sentido o cosmo de Matt sumir. Pelos cálculos dela, já havia dado tempo de seu amado ter chegado ao Pilar do Atlântico Norte; então aquilo significava que ele havia sido derrotado logo que chegou ao pilar? Que não havia tido chance de combater? Ela não conseguia acreditar. Devia haver uma explicação plausível para...

            Ela se forçou a sair dos devaneios. Defronte a ela, Sorento e Fernanda se empenhavam em manter os soldados marinas corrompidos longe deles, para que não pudessem atacar Rina enquanto ela estivesse indefesa. Mesmo diante da imensa superioridade numérica dos soldados, a amazona de Taça reconhecia que o General do Atlântico Sul e a amazona de Aço estavam fazendo um trabalho esplêndido.

            O estilo de luta de Fernanda já não era novidade para Isabella. A garota treinada no Marrocos e uma das ex-líderes da Rebelião de Aço evocava chamas intensas à sua volta, lançando-as com exímia precisão contra os soldados, fazendo suas armas e armaduras derreterem quase instantaneamente ao entrar em contato com aquele fogo. Ela alternava golpes em forma de meteoros flamejantes com rajadas de fogo liberadas por seus punhos. A única pessoa que Isabella havia testemunhado convocar chamas mais intensas do que aquelas havia sido o próprio Matt.

            Sorento não exibia mais sinais de que havia chegado semimorto ao pilar momentos atrás. A cura de Rina, além de livrá-lo das sequelas dos ferimentos, parecia tê-lo deixado mais forte e mais ágil. Ele se limitava a movimentar as correntes marítimas à sua volta, que tinham o aspecto de correntes de ar por estarem dentro dos limites do Templo Submarino. Sua flauta e sua outra mão livre regiam os movimentos delas. Com o movimento das correntes, ele arrastava os soldados para trás, afastando-os do pilar, ou para o alto, arremessando-os até que fossem soltos pela correnteza e atirados de volta no chão com força. A maioria desses soldados que era arremessada para o alto não se mexia mais após atingir o chão.

            Alguns soldados lançaram lanças, espadas e redes de ferro de pesca contra o General Sirene. Sorento revidava criando um círculo de energia cósmica com sua flauta, que se projetava defronte a ele, fazendo as armas lançadas pelos soldados ricochetearem e voltarem para seus lançadores. Vários soldados se viram presos pelas próprias redes, feridos pelas próprias espadas, e perfurados ou atravessados pelas próprias lanças. Mesmo com a eficiência dos ataques e defesas de Sorento e Fernanda, ainda havia muitos soldados de pé, e parecia que muitos ainda estavam a se dirigir para o pilar. Isabella temia que o general e a amazona acabassem sendo vencidos pelo cansaço à medida que o tempo passava. Sorento, possivelmente devido aos efeitos da cura de Andrômeda, não demonstrava sinais de fadiga ou estafa, mas Fernanda já começava a se mover em velocidade menor, após dar combate a várias dezenas de soldados, como se tentasse se poupar em meio ao combate para que não esgotasse suas energias de vez.

            A amazona lemuriana estava começando a se alarmar. Logo, eles talvez perdessem o controle da situação. Os três garotos de Bronze haviam avançado para o Grande Suporte Principal, e ela não podia esperar que eles retornassem só para ajuda-los, pois isso atrasaria a missão. E ainda havia Matt, cujo paradeiro ainda estava nebuloso após seu cosmo ter desaparecido. Isabella começou a se desesperar em seu íntimo... Mas a sorte deles estava prestes a mudar.

            Perdida em pensamentos, a garota lemuriana quase não notou quando Rina levantou-se de sobressalto e arfou ruidosamente, como se procurasse avidamente por oxigênio. Isabella olhou embasbacada para sua amiga, surpresa com a velocidade com que ela havia se restabelecido.

— O que houve? O que está havendo?? – indagou Rina, olhando para os lados, visivelmente aflita. – Onde está Sorento? Ele se recuperou?

            Isabella abraçou sua amiga com alívio, para tentar acalmá-la, pois a amazona de Andrômeda havia acordado muito agitada e não parava de movimentar a cabeça, tentando assimilar toda a movimentação a sua volta. Nesse ínterim, a discípula de Kiki de Áries se deu conta de que seu poder de cura não havia sido o responsável pela rápida recuperação de Rina.

— Sua tonta! Que susto você nos deu!! – exclamou Isabella, acariciando a cabeça de Rina e enchendo o rosto dela de beijos. – Nunca mais faça isso, ouviu bem?? Nunca mais, ou mesma vou te matar, Rina de Andrômeda!!

— Tá, tá, tá bom!! – retrucou Rina, afastando Isabella levemente e tentando ficar de pé. A amazona de Prata gentilmente ofereceu as mãos para segurar Rina enquanto ela se erguia. – Mas, afinal, o que está acontecendo aqui?

            Sorento também havia se virado ao ouvir a voz de Rina, mas ficou parado por tempo demais, e suas correntes marinhas cessaram de arrastar os soldados, e vários deles aproveitaram a distração para lançar suas armas contra o general.

            Isabella notou o perigo que Sorento corria, passou o braço pelas costas de Rina enquanto esta se apoiava em seu ombro, e estendeu a mão para o exército corrompido de Poseidon.

Muralha de Cristal!!— exclamou ela, erguendo sua barreira tão larga e tão alta que separou eles quatro da tropa de soldados. As armas deles bateram na barreira e voltaram, indo de encontro a seus lançadores, que acabaram sendo feridos pelos próprios instrumentos de combate.

— Ah, qual é, Branca de Neve!! – ralhou Fernanda, que havia sido afastada da turba de soldados pela barreira de cristal. – Eu estava acabando com eles!!

— Então, você se restabeleceu – comentou Sorento, admirado, olhando para Rina. – Fico contente em saber que também conseguiu ser curada.

— Sorento...? – gaguejou Rina, ainda sem graça perante o General. – Você está bem? Não sente mais os ferimentos? A doação de cosmo funcionou?

— “Doação de cosmo” – repetiu Isabella. – Então é esse o nome dessa técnica maluca. Da próxima vez, faça um aviso com fumaça no céu antes de fazer essa idiotice.

— Sim, deu certo – confirmou Sorento, sem dar atenção às reclamações de Isabella. – Você se saiu muito bem. Seu mestre teria orgulho da sua atitude, não tenho dúvida disso. Eu serei eternamente grato pelo seu gesto.

— Ora, eu... – Rina estava completamente corada. Não conseguia mais raciocinar direito, com Sorento olhando-a daquele jeito. – E-eu só fiz o meu dever... Qualquer um no meu lugar...

— Não, não qualquer um – retrucou Sorento. – Você é uma pessoa ótima, especial, Rina. Nem todo mundo estaria disposto a arriscar a própria vida por alguém que conheceu apenas poucas horas antes.

— Ele tem razão – admitiu Isabella. – Ainda acho que foi uma idiotice, mas foi um ato nobre, também. Vai ver essa foi a primeira vez que você agiu IGUAL ao seu mestre, não foi?

            Rina não escutou o que a amiga dizia. Ela olhava fixamente para Sorento, ainda muito ruborizada, e o general marina não estava ajudando em nada para melhorar a situação, ao manter firmemente os olhos fixos na amazona. A garota não sabia, mas a admiração do general por ela havia crescido exponencialmente... Prestes a se tornar um sentimento diferente.

— Rina? Você tá me ouvindo? – disse Isabella, sem perceber a troca de olhares entre os dois.

— Ahn? Eu... – fez Rina, ainda sem conseguir raciocinar apropriadamente.

— Ei, a conversa está muito boa e tal, mas temos um exército para derrotar! – bradou Fernanda, apontando para a barreira.

            Os soldados continuavam a lançar suas armas contra a Muralha de Cristal. Todas voltavam, mas a maioria dos soldados já estava atenta a esse fato e tomava distância ao lançar suas armas, para não serem atingidos por elas ao voltarem. E mesmo essas armas, incrementadas com cosmo das trevas, estavam conseguindo produzir pequenas rachaduras na muralha, devido à distração de Isabella.

— Essa não – ofegou a lemuriana. – Não me concentrei o suficiente. Precisamos derrubar de vez esses soldados. Acho que se derrubarmos o pilar, eles vão finalmente se...

— O pilar?? – Rina de repente despertou de seu torpor, e conseguiu tirar os olhos de Sorento; olhando em volta, ela divisou o majestoso Pilar do Atlântico Sul ao lado deles. – Vocês estão aqui esse tempo todo e não destruíram o pilar ainda?? Você, Isabella, ralhando comigo por que acha que ter doado meu cosmo para o Sorento foi uma idiotice, mas e quanto a deixar o pilar intacto? Isso também não foi idiotice?? Entendo que Sorento não possa destruir o pilar, por ser seu protetor, mas não havia empecilhos para que Fernanda ou você o destruíssem!! Logo você, uma amazona de Prata, tão esperta e...

— Rina. Acalme-se – murmurou Isabella, e usou um pouco de sua telecinesia para controlar os ânimos da amiga, fazendo-a lhe escutar atentamente. – Há uma boa razão para não termos destruído o pilar ainda. É por que você é quem deve destruí-lo.

— Ahn? Como assim? – indagou Rina, perplexa. - Por que você acha que...

— Ora, é simples – falou Isabella. – Todos os cavaleiros de Bronze enfrentaram algum desafio nos pilares anteriores. Na maioria dos casos, o desafio foi enfrentar o general que protegia o pilar. No seu caso, o desafio foi salvar a vida de Sorento e protege-lo dos ataques dos soldados. Você não notou, mas o seu cosmo, mesmo enfraquecido, estava mantendo os soldados longe de Sorento, como se os amedrontasse, até que ele despertasse e ficasse curado. E essa doação de cosmo, por mais louca que seja, foi o que você fez se recuperar tão rapidamente. A minha cura pode até ter ajudado, mas foi o seu ato de nobreza que acelerou a sua recuperação. O mestre Shion me contou que era outro dos efeitos colaterais dessa habilidade, a de restabelecer o cosmo de seu usuário após algum tempo, em retribuição pela sua coragem e sacrifício. Enfim, foi você quem passou por uma grande prova aqui neste pilar, Rina. Não fui eu, nem Fernanda. É você quem deve investir contra o pilar. E aposto que a armadura de Libra também sabe disso.

            A menina lemuriana olhou para baixo, onde a urna da armadura de Ouro da sétima casa repousava aos pés deles. Mal ela terminou de falar, a armadura começou a brilhar. Isabella se abaixou e levou a mão à urna, dizendo o comando em grego para que ela se abrisse. Rina ficou de pé, já conseguindo se sustentar sem o apoio da amiga.

            Na mesma hora, a urna se abriu, revelando a armadura de Libra brilhando intensamente. Então, uma das armas se soltou e voou em direção à mão de Rina: a Barra Tripla, semelhante aos Nunchakus, mas com a diferença de que contava com três hastes interligadas por uma corrente, ao invés de apenas duas.

— Hm, pelo jeito, me dou bem com armas de corrente – comentou Rina, admirando a ferramenta dourada.

— BRANCA DE NEVE! – gritou Fernanda, apontando para a Muralha de Cristal. – É pra hoje, ouviu??

            A barreira de cristal estava com cada vez mais rachaduras, devido aos ataques dos soldados, perigando cair a qualquer instante.

— Argh... Minha muralha – lamentou Isabella. – Mesmo que eu passe a me concentrar, não vai dar para sustenta-la por mais tempo. Melhor irmos logo dar combate a esses miseráveis... Rina, enquanto isso, você fere o pilar. Sorento, Fernanda e eu vamos segurar os soldados. Lembre-se, basta um lançamento bem calibrado para derrubá-lo.

— Deixa comigo! – disse Rina, já conseguindo se manter de pé sozinha, brandindo a barra tripla para se acostumar com a arma, e já mirando contra o pilar.

— Boa sorte – desejou Sorento, e Rina corou um pouco mais, sorrindo em resposta. – Vamos, amazona de Taça... Temos muito trabalho pela frente – continuou ele, voltando-se para Isabella.

— Temos mesmo – concordou a lemuriana. – Prepare-se, Fernanda!

            E ela desfez a Muralha de Cristal. No mesmo instante, os soldados avançaram contra eles, e o marina e as duas amazonas lançaram-se contra o inimigo.

            Rina ficou atrás, enquanto os três combatiam. Ela fitou o imenso pilar, e divisou o local onde iria mirar a barra tripla. Ela já havia destruído o Pilar do Pacífico Sul, mas aquilo parecia ter ocorrido em outra vida. A experiência de ficar semimorta havia deixado ela com a memória um tanto nebulosa. Contudo, a lembrança do barulho do Nunchaku de Ouro sendo brandido contra o outro pilar ecoou no fundo de sua consciência, e ela conseguiu se manter firme e confiante para conquistar seu objetivo.

            A poucos metros dela, os soldados se alarmaram ao vê-la postada diante do pilar e segurando uma das armas de Libra.

— A garota vai tentar atacar o pilar! Detenham-na, homens! – ordenou o chefe de tropas.

            Os soldados lançaram suas armas para o alto, visando à garota de Andrômeda, mas foram detidos por Sorento e as duas amazonas.

Meteoros de Fogo!!— exclamou Fernanda, lançando bolas de fogo meteóricas contra as armas dos soldados, derretendo-as e quebrando-as ao meio.

Extinção Estelar!!— bradou Isabella, lançando seus raios de poeira estelar contra as armas, que foram desintegradas pelo contato com o golpe.

Sinfonia Final da Morte!!

            Sorento tocou sua flauta, e as vibrações sonoras emitidas dela paralisaram as armas dos soldados em pleno ar, fazendo-as cair no solo em seguida, longe de onde Rina estava. Ao mesmo tempo, os soldados que haviam lançado as armas levaram as mãos à cabeça, sentindo seus sistemas nervosos ruírem pelo efeito da música do general.

            Sem dar atenção aos soldados, Rina continuou brandindo a barra tripla, até conseguir mirar adequadamente um ponto no centro do pilar.

— Ao ataque, Barra Tripla de Ouro! Atinja seu objetivo! – exclamou Rina, ao lançar firmemente a barra tripla estendida contra o pilar do Atlântico Sul.

            A arma voou em direção ao centro do pilar, fincando-se nele e produzindo extensas rachaduras que se estenderam por todas as direções da superfície dele. O pilar começou a ruir, e logo caiu dividido em dois ao chão do Templo Submarino.

            A queda do pilar causou um efeito desmoralizante na tropa de soldados. Vários deles ficaram paralisados de choque ao ver o Pilar do Atlântico Sul desmoronando, e por isso não conseguiram se defender habilmente dos golpes de Sorento, Isabella e Fernanda, que com isso liquidaram quase a totalidade da tropa.

            Os poucos soldados que ainda estavam de pé bateram em retirada pelas trilhas, possivelmente para se reagruparem com outros soldados que estivessem vindo em direção àquele pilar, ao verem seus colegas sendo dizimados. As duas amazonas fizeram menção de persegui-los, mas Sorento estendeu o braço, indicando para elas permanecerem ali.

— Eles não valem o esforço – argumentou ele. – Além disso, a missão de vocês ainda não está terminada.

            Atrás deles, Rina contemplava, com orgulho, o pilar destruído. Ela, que havia estado semimorta momentos antes, agora constatava com alegria de que havia conseguido derrubar dois dos pilares dos sete mares, sendo a primeira dos atuais Cavaleiros de Bronze a conseguir isso.

            Sorento, Isabella e Fernanda foram até ela, parando ao seu lado, também admirando as ruínas do pilar.

— Nunca pensei que ficaria feliz em ver meu próprio pilar sendo destruído – comentou Sorento, parecendo aliviado. – Bom trabalho, Rina. Tenho certeza de que Shun ficaria orgulhoso.

            Ele chegou perto dela, abraçou-a com o braço livre e beijou sua cabeça. A garota voltou a ruborizar intensamente com isso. Enquanto isso, a Barra Tripla dourada voou de volta do centro do pilar para a armadura de Libra.

— Mais um pilar destruído – anunciou Isabella, acenando com a mão para a armadura de Libra, que se fechou novamente na urna. – Nós devíamos mesmo deixar os soldados fugir? Eles parecem estar ficando mais ferozes a cada batalha que passa.

— Não é necessário – garantiu Sorento, soltando Rina, que continuou olhando para ele. – Eu posso dar conta deles aqui, para impedir que eles tentem impedir o avanço de seus amigos rumo ao Templo de Poseidon e ao Grande Suporte Principal. Embora que, agora que o pilar do Sul foi destruído, eles não tenham motivo para vir para cá. É mais provável que estejam indo para o Suporte Principal, ou mesmo para o Atlântico Norte, onde seu amigo está lutando, para tentar atrasá-lo ou...

— PELOS DEUSES! – gritou Isabella, levando as mãos à cabeça. – Eu esqueci completamente do Matt em meio a todo esse caos que a gente encontrou aqui? E agora, como ele deve estar? Eu senti o cosmo dele sumir pouco antes da Rina acordar, mas aí...

— Detesto concordar com a mocinha pálida – interrompeu Fernanda -, mas eu também me esqueci de sentir o cosmo do Matt em meio à batalha que tivemos aqui. Isso é bem frustrante, mas tenho certeza de que ele...

— Pelo que estou sentindo, há dois cosmos em choque no Atlântico Norte. – Sorento fitou o horizonte soturnamente, como se pudesse sentir a intensidade da batalha no outro pilar como se estivesse ocorrendo na frente deles. – Seu amigo, pelo visto, está conseguindo equilibrar a situação contra o último general. Seja lá quem for.

— Como assim? – indagou Rina. – Quem é esse último general, Sorento? Você não o conhece?

— Não tenho certeza de quem seja. Como eu disse a vocês quando chegaram ao reino de Poseidon, Hades havia conseguido trazer todos os generais mortos na guerra anterior de volta à vida, inclusive o general da escama de Dragão Marinho, que não havia participado da última guerra devido à farsa de Kanon. Contudo, não tenho ideia de quem possa ser esse último general. Mas, se Hades também o trouxe para seu lado, e o colocou como sendo o último, com certeza é alguém muito poderoso. E o cosmo que estou sentindo seu amigo defrontar... É realmente um cosmo formidável, superior ao dos demais Marinas.

— O Matt é poderoso também – insistiu Isabella, angustiada. – Ele pode lidar com qualquer situação, mesmo sendo esse general desconhecido.

— Ele é com certeza bem teimoso— disse Rina. – Se conheço Matt, ele não desistirá de lutar até que tenha feito esse general se..

            Ela se interrompeu. Nesse momento, eles quatro sentiram um impacto estrondoso vindo do Pilar do Atlântico Norte; os dois cosmos em combate haviam se chocado com fúria, e um deles havia se dissipado. E era o cosmo mais familiar para as garotas.

— É o Matt de novo! – exclamou Isabella, levando as mãos à cabeça e se agitando em frustração. – O cosmo dele sumiu mais uma vez! Ele pode estar morto, ou pior, será...

— Controle-se, princesa – disse Fernanda, segurando a outra amazona para tentar acalmá-la, mas Isabella afastou-lhe as mãos e conseguiu se aquietar. – O melhor que temos a fazer é ir até o próximo pilar e descobrir o que ocorreu. Matt vai precisar da nossa ajuda.

            Isabella respirou profundamente, e fitou o grupo.

— Tem razão. Temos mesmo que ir, afinal tempo não é nosso aliado. – Ela pendurou novamente a urna da armadura de Libra nas costas. – Você vem conosco, Rina?

            A garota de Andrômeda olhou rapidamente para Sorento, em seguida fitou o horizonte.

— Eu acho que Matt não iria querer que eu fosse. Essa luta é dele, e ele não ia querer que eu interrompesse. Se fosse o contrário, eu também não ia querer que ele interrompesse uma luta minha. Foi assim quando lutamos contra Kanon no Santuário. E você se lembra da reação dele lá em Asgard, quando tentamos ajuda-lo a enfrentar o Bado de Alkor.

            Isabella assentiu levemente.

— O Matt provavelmente diria a mesma coisa. Ele sempre quer lutar suas batalhas por si próprio, parecido com o mestre dele, embora ele seja bem mais amigável que o Ikki. Já que não vai com a gente, eu presumo que você vai para o Grande Suporte Principal, ajudar os garotos, não é? Nesse caso, acho que o caminho mais indicado seria...

— Não – interrompeu Rina. – Vou ficar aqui no Atlântico Sul um pouco mais. Sorento pode precisar de ajuda.

            Sorento olhou admirado para ela. A garota retribuiu o olhar, e percebeu um brilho diferente nos olhos do homem austríaco. Seria uma alegria escondida que ele estava tentando demonstrar, por saber que ela ficaria mais um tempo com ele?

— Ahn... Então está bem – disse Isabella, olhando de Rina para Sorento, como se tivesse perdido algum detalhe da conversa. – Mas o próprio Sorento tinha dito que os soldados não deveriam voltar para cá. Então será que não seria melhor...

— Acho que a ajuda de Rina será indispensável – cortou Sorento. – Veja, os soldados estão regressando.

            Eles se viraram. Um grupo de soldados, talvez seis dezenas, vinha correndo ao longe pela trilha em direção às ruínas do Pilar Atlântico Sul.

— Pois é, já temos o que fazer – disse Rina, esfregando as mãos. – Pronto, Sorento?

— É claro – respondeu ele. Em seguida se voltou para Fernanda e Isabella. – Jovens, há um atalho que sai por trás deste pilar, que fica escondido entre as algas. Se forem por ele, chegarão mais rápido ao Atlântico Norte. É só irem naquela direção – e ele apontou para algumas algas maiores, que pareciam de fato esconder algo.

— Obrigada, Sorento – disse Isabella. – Boa sorte, Rina.

            Ela se dirigiu para o atalho, mas Fernanda se deteve.

— Sei não, Branca de Neve. Tem muitos soldados ali. Não seria melhor a gente ficar para dar uma mãozinha? Não deve demorar muito. Ou se quiser, você vai em frente e eu fico para atrasá-los, e alcanço você depois de...

            Isabella se virou para responder, mas Fernanda se calou antes que ela tivesse a chance. Os quatro olhavam para a trilha, vendo que os soldados, correndo a uma velocidade incrível, em particular as duas primeiras dezenas deles, já estavam quase alcançando o pilar.

            Porém, uma fileira de corais surgiu do meio das algas, e barrou o caminho dos soldados. Os corais começaram a cobrir os marinas, que tentavam se desvencilhar, enquanto seus colegas retardatários pararam no caminho, observando a cena horrorizados. Por fim, os esforços dos soldados cessaram, quando os corais os cobriram por completo, sufocando todos eles.

— Essa foi... a Cilada de Coral— disse uma voz.

            Um vulto saiu do meio das algas, e pulou sobre uma pedra próxima aos corpos paralisados dos soldados. Olhando atentamente, as amazonas perceberam que se tratava de Thétis de Sereia, já recuperada da influência de Hades, mas ainda exibindo vários ferimentos de batalha na pele, sob sua escama avermelhada.

— É a Thétis! – exclamou Fernanda. – Pelo visto sua cura deu certo, Branca de Neve, mesmo depois de horas.

— Você se deu conta disso só agora, sua obtusa? – ralhou Isabella.

— P-pessoal – balbuciou Thétis, cambaleando até onde eles estavam. Sorento foi até ela e segurou-a, conduzindo-a até onde eles estavam. Rina olhou para a guerreira com um pouco de incômodo, mas não falou nada. – Tomem c-cuidado. Os soldados estão ficando mais ariscos. Agora, o Dragão Marinho ordenou que eles atacassem os Cavaleiros de Bronze sem piedade, pelas costas de preferência. Eles estão armando uma emboscada, no Pilar Principal, para quando os Cavaleiros de Bronze chegarem. Eu tenho conseguido atrasá-los desde que me recuperei, mas ainda estou muito enfraquecida. Não vou conseguir criar outra armadilha de coral como aquela tão cedo.

— Olhem os soldados! – avisou Fernanda.

            O grupo que havia ficado para trás, enquanto os vinte eram consumidos pelos corais, estava se dividindo. Uma pequena parte, cerca de dez, continuou seu trajeto em direção ao pilar. Mas o restante, cerca de três dezenas, partiu para o caminho da direita, que devia levar ao Grande Suporte Principal.

— Estão se dividindo para nos distrair – percebeu Sorento.

— As orientações do Dragão Marinho estão sendo precisamente metódicas – murmurou Thétis. – Ele proibiu os soldados de passarem pelo Atlântico Norte, por que o general quer destruir pessoalmente qualquer cavaleiro de Bronze que passe por lá. Então, eles terão que alcançar o Pilar final por esta trilha, que passa perto do Pilar do Atlântico Sul. Ou seja, tem muito mais deles vindo pra cá, sem falar nos que já estão aguardando no Templo de Poseidon. Vocês ficarão cercados em instantes.

— Temos que atrasá-los para auxiliar seus amigos – disse Sorento para Rina. – Thétis, você consegue nos ajudar?

— Posso t-tentar – disse a Comandante Marina. – Mas estou bem fraca ainda. Posso acabar atrapalhando vocês.

— Fique atrás de nós – disse Rina, enérgica, tomando a frente do grupo e se posicionando diante do fim da trilha, aguardando pelos soldados. – Nós protegeremos você, enquanto enfrentamos os soldados.

            Sorento levou Thétis até a base do pilar destruído, e ela recostou-se ali, sentada com a cabeça apoiada nos escombros.

— O-Obrigada – murmurou ela, extenuada. Alguns instantes depois, a fadiga acabou lhe superando, e a cabeça dele pendeu para o lado quando ela começou a cochilar.

— Vocês duas, vão – disse Rina para as duas amazonas. – Nós damos conta aqui. Já estaremos ajudando Betinho, Gustavo e Thiago a encontrar menos resistência no caminho até o Pilar Principal. Matt precisa da ajuda de vocês.

            As duas assentiram, e correram em direção ao atalho. Rina acionou sua corrente em modo de defesa, ao passo que os soldados começavam a brandir suas armas ao se aproximar dela. Ao seu lado, Sorento se postou diante da trilha, inclinou a cabeça levemente para a direita e soprou a flauta. A melodia alcançou os ouvidos dos soldados que tinham ido pelo outro caminho, e alguns deles, confusos, se voltaram para o Pilar do Atlântico Sul, onde eles estavam, deixando apenas cerca de uma dúzia deles prosseguindo rumo à Fortaleza de Poseidon. Agora havia quase três dezenas de soldados indo ao encontro de Rina e Sorento. Os dois se olharam afetuosamente por um momento, e se voltaram mais uma vez para seus inimigos.

            Num movimento sincronizado quase que perfeitamente, o marina e a amazona estenderam a mão e lançaram seus ataques contra os oponentes, enquanto Isabella e Fernanda se embrenhavam pela trilha de algas, à distância, para chegar ao Atlântico Norte.


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Notas finais do capítulo

Aguardo ansiosamente seus reviews, e o próximo capítulo está quase pronto.



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