Pouco Além (A Harry Potter Story) escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 29
Os planos de Excelência


Notas iniciais do capítulo

Ufa! enfim mais um retorno. Esse capítulo demorou alguns dias, mas creio que o esforço valeu a pena.

Seto Kaiba segue relatando seu progresso para o Triunvirato, principal financiador das atividades dos Guerreiros. Mal sabe ele que Excelência o espreita nas sombras, e que também possui informações para discutir com os imperadores do Triunvirato.

Nesse meio-tempo, Matt Stick segue viagem para a América em busca do homem recomendado por Kingsley, e começa a refletir acerca de sua ligação com a família Weasley e seus amigos próximos, em particular Rudolf e Harry.


Chegamos aos 110 comentários, agradeço especialmente aos leitores Louis, Cassiano Souza, Notorious, Artemis Stark e Bilss o Destruidor que abraçaram a fanfic nos últimos meses.



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            - Excelente, Seto Kaiba. Ótimos relatos. Esperamos que continue com seu bom trabalho – disse Nero após Kaiba encerrar seu discurso.

— Esperamos que seu irmão Noah se recupere e se adapte logo ao novo corpo – falou Calígula. – Ouvimos dizer que ele é um duelista excepcional também.

— Os corpos produzidos por nossa organização podem não ser como aqueles que o imprestável Dédalo produzia, mas ainda assim são satisfatórios, como você viu nos dados que te fornecemos – avisou Cômodo.

— Exatamente. Fica nosso voto de pronto reestabelecimento ao seu irmão, e nosso agradecimento por seus serviços, Seto Kaiba – disse Calígula. – Por favor, mais uma vez, lembre-se de transmitir nosso agradecimento também a Sua Excelência. Novamente, vocês provaram ser legítimos amigos de Roma e do legado do Triunvirato.

— É uma honra servi-los, senhores. – Kaiba se curvou respeitosamente, saudando os imperadores. – Transmitirei suas palavras ao Lorde Excelência e meus irmãos.

— Vá em paz, Seto Kaiba, amigo de Roma – disse Nero.

            Kaiba ergueu o braço, estendendo-o para a frente, da forma como os soldados romanos faziam na Antiguidade, exatamente como Excelência lhe havia instruído.

— Ave, Nero Cláudio César Augusto Germânico! Ave, Lúcio Aurélio Cômodo! Ave, Caio Júlio César Augusto Germânico! Ave, senhores de Roma e do legado de César!

            Os três Césares curvaram as cabeças, agradecendo a reverência de Kaiba. Calígula se ergueu primeiro e, com um gesto, sinalizou a Kaiba que saísse, indicando que a conferência havia terminado.

            Kaiba assentiu, e se encaminhou para a porta do salão, indo encontrar seus irmãos. O visor da sala presidencial se apagou.

            Do outro lado da videoconferência, Calígula se levantou de seu trono e começou a andar pela sala do trono da casa imperial de Nero.

— Algo o incomoda, parente? – indagou Nero, observando a inquietação do tio.

— É apenas expectativa. Tudo o que esse garoto Kaiba nos disse está me fazendo pensar. Talvez devêssemos tomar uma atitude mais enérgica. Vocês sabem, falo de enviar agentes para monitorar mais de perto os movimentos desses Guerreiros, ver se eles estão mesmo se esforçando nas batalhas, ainda mais agora que sabemos que eles irão começar sua ofensiva sobre a Europa de forma massiva.

— Vocês dois pensam demais – reagiu Cômodo, voltando a aparentar tédio após o término da conferência com Kaiba. – Deviam agir mais com base nos impulsos e na intuição, como eu faço!

— Chega, Cômodo – ralhou Nero. – E Calígula, tome cuidado com o que diz. Não quer que ninguém nos ouça dizendo esse tipo de coisa. Vai saber se esse garoto Kaiba não plantou algum tipo de escuta mágica na videoconferência para nos vigiar a mando de Excelência. Não queremos que sejam levantadas suspeitas acerca do nosso compromisso com essa aliança.

— Certo, certo – disse Calígula, impaciente. – É que é uma preocupação válida, a meu ver. Estamos apostando muito alto nesses bruxos, destinando altos recursos para as missões deles. Se eles estiverem fazendo corpo mole, se não estiverem se esforçando à altura como combinado...

— Sim, é uma preocupação realmente válida, Lorde Calígula – disse uma voz nas sombras. – É por isso que vim pessoalmente tratar deste assunto com vocês.

            Os três imperadores se viraram para o centro da sala do trono, sobressaltados, procurando a origem da voz.

            Então, Excelência se materializou da escuridão, como se tivesse estado ali o tempo todo. Usava seu robe vermelho importado de Antuérpia, que cobria-lhe quase o corpo todo, botas pretas, e alguns anéis dourados nos dedos.

— Ora, ora, Excelência – disse Calígula, voltando-se para o líder dos Guerreiros. – Nosso acordo e nossa aliança são de fato bastante amigáveis. No entanto, não me recordo de incluirmos nos termos dessa aliança que você teria o direito de nos espionar na escuridão, dentro da casa de meu sobrinho Nero, a seu bel-prazer.

— Eu também não me recordo do nosso acordo prever que algum de vocês questionasse os esforços de nossas tropas, principalmente depois de um de meus melhores agentes vir apresentar um relatório de missões para vocês. – Excelência encarou friamente os três imperadores, como se os desafiasse a se manifestar. – Também não me recordo de nosso acordo prever que vocês poderiam tomar a prerrogativa de mandar espiões para o meio de nossas fileiras, a fim de se certificar de que nossos soldados não estão “fazendo corpo mole”.

            Por um longo momento, ninguém falou nada após essa troca de farpas, mas o clima ficou pesado no salão. Calígula cerrou o punho, e baixou uma das mãos na direção de sua espada. Excelência estava com as mãos sobre a barra do robe, perto de onde se achava sua varinha. Cômodo e Nero observavam, apreensivos. Parecia que faltava pouco para que aqueles dois se lançassem numa luta ali mesmo.

            Até que, por fim, Excelência ergueu os braços, como se estivesse se rendendo.

— Mas sei também que acordos como o nosso podem ser flexíveis, e se ajustar a novas demandas. – Ainda olhando fixamente para Calígula, o líder dos Guerreiros indicou a espada do imperador com um leve aceno de cabeça. – Assim, não precisaremos que o imperador demonstre suas habilidades com a espada, nem que eu demonstre o potencial total de meus feitiços. Eu posso relevar os comentários de vocês acerca dos esforços dos meus agentes, e vocês podem relevar a minha aparição inesperada das sombras.

            Calígula cruzou os braços. Ainda encarava Excelência, mas sua expressão se abrandou. Cômodo e Nero, que acompanhavam tensos a cena, relaxaram em seus assentos, fazendo o possível para que Excelência não notasse a mudança de postura deles.

— Claro, Lorde Excelência. A diplomacia sempre é o melhor caminho. E qual seria o motivo de sua visita?

— Ah, sim, vamos recomeçar. – Excelência baixou os braços e exibiu um sorriso contido. – Eu queria acompanhar o relato do jovem Seto a vocês. Mas, ao mesmo tempo, não queria que ele percebesse minha presença. Se eu tivesse aparatado lá no bunker da KaibaCorp, provavelmente ele teria percebido minha presença cedo ou tarde, mesmo eu tendo aprimorado minha habilidade de ocultação. Certamente vocês já perceberam que Seto é um mago extremamente habilidoso, por isso não quis que ele pensasse que eu estivesse lá para vigiá-lo ou pressioná-lo, e com isso acabei vindo para cá. E devo dizer, Lorde Nero, sua casa está cada vez mais encantadora.

— Agradeço, Excelência, mas sem dúvida você não veio até aqui apenas para elogiar minha residência – retrucou Nero. – Conte-nos, o que realmente o trouxe aqui?

            Excelência começou a andar pela sala do trono enquanto falava, e Calígula decidiu voltar a se acomodar em seu próprio trono.

— Por mais que eu confie no jovem Kaiba, ele não trouxe a vocês todas as notícias. Decidi trazer alguns relatos pessoalmente, acerca de nossas futuras investidas sobre a Europa.

— Você acabou de nos dizer que esse Kaiba é um mago extremamente habilidoso, e mesmo assim não confiou a ele a simples tarefa de nos relatar todas as missões em que participou e que foram financiadas por nossa organização? – questionou Cômodo.

— Paciência, caro Cômodo – respondeu Excelência. – Kaiba não trouxe todos os relatos porque há missões dos quais ele próprio não participou. Missões essas que supervisionei e em que outros agentes atuaram, e que por isso eu não as incluí no briefing que Kaiba apresentou a vocês. Resolvi que seria melhor eu mesmo informa-los.

— Imagino que você não quis desperdiçar o potencial do rapaz em missões que não estivessem à altura dele, é isso? – ponderou Nero. – Era dele quem você falava quando nos dizia que havia um membro dos Guardiões de Tumbas em quem você enxergava um grande potencial, talvez até para se tornar seu segundo em comando?

— Sim, perfeitamente. Kaiba é praticamente o futuro desta irmandade, meus amigos.

— E o que o Mestre, Pegasus, e Ishtar pensam sobre isso? – indagou Calígula.

            Excelência riu de leve.

— Bom, Lorde Calígula, é uma coisa interessante... Nenhum dos três sabe que estou prestando orientações especiais ao jovem Kaiba nesse sentido, ainda.

— Cuidado, milorde – advertiu Cômodo. – Lidar com tantos egos enormes ao mesmo tempo pode ser perigoso.

— Lorde Cômodo, aprecio sua preocupação, mas eu não temo os Guardiões de Tumbas em nada. Eles é que me temem, especialmente depois que dominei a arte da magia do jogo deles. Todos foram vencidos por mim em seu próprio jogo. Foi uma medida necessária para mostrar a eles quem estava no comando, anos atrás. Alguns deles... Não reagiram bem quando decidi assumir o posto de líder da irmandade, mesmo que tal posto tenha sido um legado do meu pai.

— Ah, seu pai – comentou Nero. – Pelo que soube, ele foi realmente um grande feiticeiro e...

— Sim, de fato, mas não vamos falar disso agora, Lorde Nero – advertiu Excelência, encarando friamente os três Césares, como se os desafiasse a questionar aquele pedido. – O legado de meu pai, tanto para os Guerreiros do Apocalipse quanto para o resto do mundo bruxo, já é algo de conhecimento público, mesmo para aqueles que tentam constantemente diminuir e esconder a importância desse legado: nossos inimigos, de quem falaremos posteriormente nesta reunião.

            Nero entendeu a deixa, mas Cômodo e Calígula ainda pareciam ansiosos por saber a identidade do pai de Excelência. Haviam ouvido boatos sobre ele, mas nunca haviam tido a confirmação. Se Nero sabia a identidade daquele bruxo do passado, não havia revelado a seus colegas, talvez por receio de retaliações por parte de Excelência e dos Guerreiros. O que os três sabiam com convicção era que o pai de Excelência era a figura mais respeitada da história pelos Guerreiros; ele não havia chegado a ser um membro de fato da irmandade, mas todos o consideravam como sendo o pai-fundador do movimento.

— Mas há algo me intrigando, milorde – disse Nero, buscando mudar de assunto, percebendo que Calígula e Cômodo ainda estavam ansiando por saber mais sobre o pai de Excelência. – O senhor afirma que precisou enfrentar os Guardiões de Tumbas em seu próprio jogo mágico para mostrar sua superioridade a eles. No entanto, seus dois principais subordinados atuais, Bakura e Pegasus, pertencem a esse grupo, e você quer apontar outro membro deles como seu eventual “sucessor”.

— Lorde Nero, a morte é uma das poucas certezas que temos. Apesar de eu não ser tão velho quanto, digamos, os senhores, considero-me um homem precavido. Sempre busquei formas de retardar ou mesmo, evitar a morte. Mas ainda não tive sucesso. Sei que Voldemort tentou com afinco atingir o mesmo objetivo, mas ele pensou pequeno demais. Estava satisfeito em conquistar um único país, enquanto nós queremos o mundo. Isso o limitou em sua busca por superar a morte. De todo modo, enquanto não encontro os meios necessários para alcançar a imortalidade e me tornar o Senhor da Morte, preciso considerar a hipótese de que, um dia, os Guerreiros do Apocalipse precisarão de um novo líder. Kaiba é o mais indicado. Quanto ao fato de ele ser dos Guardiões de Tumbas... o jovem pode ser muito bem influenciado a acabar seguindo unicamente os meus passos, e mostrar aos Guardiões que eles continuarão sendo apenas subalternos. Acredite, meu empenho em instruir frequentemente o jovem Seto tem exatamente essa finalidade.

            Os três imperadores fitaram Excelência por um momento, sem saber como reagir àquelas palavras. No fundo, estavam impressionados com a obstinação e o planejamento do bruxo, mas eram orgulhosos demais para admitir.

— Mas chega de falarmos disso. Prometi a vocês notícias do nosso front europeu, e as darei. Tenho a satisfação de dizer que o Trio do Apocalipse, após anos de intenso treinamento, finalmente estão posicionados para tomar de assalto o continente europeu.

— Vossa Excelência fala muito bem desses seus três subordinados – comentou Calígula. – Imagino que tenha desprendido um grande esforço em instruí-los para este grande momento.

— Não diria que foi um esforço, Lorde Calígula – respondeu Excelência. – Foi um empenho em longo prazo bastante proveitoso. Em breve, esta guerra irá completar 15 anos desde que foi deflagrada, apesar de seu ritmo lento até então, mas vai parecer que ela está se iniciando agora, devido à intensidade com que atacaremos a Europa. Os Ministérios da Magia ocidentais estão desgastados, praticamente mendigando qualquer apoio que achem que possa garantir sua sobrevivência. Meribá, Salis e Mouath estão mais do que prontos para subjugarem os inimigos da irmandade, e cairão sobre eles sem misericórdia.

— Os três atacarão ao mesmo tempo? – perguntou Cômodo.

— Não, Lorde Cômodo. Dividimos o plano em três etapas, cada uma delas liderada por um membro desse trio. Se o primeiro deles completar totalmente sua etapa, o segundo entrará em ação em seguida. O mesmo vale se o primeiro fracassar, o que acho particularmente improvável. Como disse, passei anos me certificando de que todas as variáveis desse cenário estivessem ao nosso favor.

— O primeiro deles será Meribá, então? – ponderou Nero. – Imagino que Vossa Excelência não possa compartilhar conosco os detalhes da empreitada que ele encabeçará.

— Ah, meu caro Nero... Alguns detalhes eu posso sim compartilhar. Gostaria de comunica-los de que Meribá e sua tropa irão iniciar o assalto por Roma, nesta primavera. Creio que seja uma ótima notícia para vocês.

            Os três Césares se sobressaltaram, e olharam uns para os outros diante dessa notícia.

— Roma? Mas isso é formidável. – Calígula alisou o queixo, sorrindo. – Alguma motivação especial para começar sua conquista da Europa por lá, Excelência?

— Sim, algumas – admitiu o líder dos Guerreiros. – Mas ainda não posso confidenciá-las a vocês. Quando Meribá fizer contato, dentro de alguns dias... Aí poderemos conversar melhor a respeito disso.

— Seja como for, me parece uma escolha bem preparada – disse Nero. – Ver Roma sendo destruída para depois a reconstruirmos com o nosso esplendor e à nossa imagem. Ah, é claro, depois que Vossa Excelência tiver terminado seus planos nela, evidentemente.

— Certamente, prezado Nero. Roma voltará a ser de vocês depois que Meribá e seu exército a arrasarem. E depois do que acontecer em Roma... Os Ministérios estarão tão atordoados que nem perceberão nossos movimentos seguintes, alguns bem próximos da “área segura” deles. Se tudo der certo, no próximo ano, Salis dará início a sua ofensiva. E 12 meses depois, será a vez de Mouath comandar sua operação. Coordenando bem nossos esforços, dentro desse prazo, o Ministério, a Ordem da Fênix e nossos demais inimigos estarão todos caídos aos nossos pés.

            Excelência fez uma pausa dramática, e então levou a mão até o lado da cabeça, de forma teatral, como se tivesse se lembrado de algo.

— Ah. Por falar em nossos demais inimigos... Trago-vos outra excelente notícia. Os guerreiros do Trio Elementar lideraram recentemente um ataque surpresa aos Cavaleiros de Atena, com um número relativo de baixas para o inimigo. E claro, o intuito de causar choque ao nos revelarmos para os Cavaleiros foi atingido de forma magnífica. A essa altura, os Cavaleiros estarão se fechando mais e mais dentro de suas fronteiras, deixando de sair para o mundo exterior e torcendo para que, assim, estejam protegidos de nossas forças. Com isso, o Ministério continuará cego pela ignorância, sem tomar conhecimento da existência dos Cavaleiros.

            Dessa vez, os imperadores não esconderam a satisfação. Exibiram largos sorrisos e acenaram efusivamente com a cabeça para Excelência, animados com a notícia. A derrota dos Cavaleiros era algo pelo qual eles ansiavam muito.

— Oho... Por essa eu não estava esperando, Excelência. – Calígula demonstrava estar genuinamente impressionado. – Os Cavaleiros surpreendidos, humilhados diante de seus agentes, e se fechando dentro de suas casinhas. Você derrubou vários pinos numa mesma jogada.

— Certamente, Lorde Calígula. Mal sabem os Cavaleiros que, se se fecharem dentro de seu pequeno território, o Santuário, estarão fazendo exatamente o que esperávamos. E assim, não haverá resistência alguma, além dos Ministérios insignificantes, para movermos nossas tropas pelo interior do continente europeu. E quando os Cavaleiros se derem conta de seu erro, estarão cercados pelas tropas do Apocalipse de todos os lados.

— A situação conspira a seu favor, Excelência – admitiu Nero. – É uma grande vantagem. Só espero que a autoconfiança não fale mais alto e faça você e suas tropas colocarem tudo a perder.

— Isso está longe de ser uma possibilidade, Lorde Nero. Como falei, averiguei todas as variáveis deste cenário para que nada saísse do nosso controle.

— Sei, entendo – falou Nero, embora não parecesse convencido. – De todo modo, a notícia de que os Cavaleiros estão acuados muito nos entretém. Espero que os próximos andamentos de sua operação sejam igualmente bem-sucedidos.

            Excelência fez uma respeitosa reverência, curvando-se para os três romanos.

— Vocês não se decepcionarão com os rumos de nossa empreitada, meus amigos. Podem ter certeza.

— Pois bem, Excelência, você nos deixou esperançosos – afirmou Calígula. – Eu presumo que isso era tudo que tinha para nos dizer?

            Excelência abriu um sorriso perverso.

— Oh, não, Lorde Calígula. Estou apenas começando a trazer as boas novas.

            E ele pôs-se a falar dos demais planos da irmandade para aquela nova fase da guerra.

...

...

...

...

            Em meio à sua viagem de avião até a América, Stick, ainda refletindo sobre o estranho endereço para onde Kingsley lhe havia mandado, e se perguntando sobre o que ou quem encontraria lá, começou a ponderar sobre sua vida.

            Rapidamente, seus pensamentos se voltaram para a família que o havia acolhido de forma profunda desde que tinha ido para Hogwarts, depois que perdera seus pais e que se mudara de vez para a Inglaterra. Os Weasley praticamente o haviam adotado e sempre haviam estado presentes para ele em todas as situações. Deu-se conta de que o mesmo havia ocorrido com Harry, e até com mais intensidade, visto que Harry havia perdido os pais na mesma ocasião, e não havia conhecido figuras paternas em seus tios, para só depois se encantar pela vivência com a família Weasley. O escocês se dava conta de que ele e Harry eram mais parecidos do que imaginava.

            Lembrou-se de Bill, seu amigo mais antigo, desde aquele primeiro dia no Expresso de Hogwarts. Com exceção de Rudolf e talvez do próprio Harry, nenhum outro amigo havia estado presente para ele em quase todas as ocasiões. Mesmo o tempo em que haviam ficado sem se ver, morando em continentes diferentes, havia feito o laço entre Bill e ele se enfraquecer.

            Pensou em Charlie. Talvez ele não tivesse se dado conta, mas o segundo Weasley também havia sido bem próximo de Matt desde a época da escola. Lembrou-se de que ambos haviam estado no quadribol juntos, Charlie como talvez o maior apanhador da história da Grifinória (até surgir Harry, alguns anos à frente, para disputar o posto), e o agora Chefe dos Aurores como o principal artilheiro da equipe. Várias partidas haviam sido decididas pelo esforço conjunto de ambos. O quadribol podia mesmo fortalecer amizades.

            Lembrou-se de Percy. A princípio, o filho “todo certinho” dos Weasley não havia sido uma figura que parecera amigável a Matt. Quando era o auror encarregado para atuar como supervisor de Hogwarts, Percy já era monitor e, depois, monitor-chefe. Ao contrário de Bill, que havia ocupado as mesmas funções, ele vivia para as regras, o que gerava certa desconfiança no escocês. Depois, houve o tempo em que Percy trabalhou como braço-direito de Bartô Crouch e de Cornélio Fudge, o que só fez a desconfiança de Matt aumentar. Mas, após lutarem juntos na batalha de Hogwarts e nos primeiros confrontos contra os Guerreiros, a opinião dele sobre Percy mudou radicalmente. Aos poucos, ele começou a ver os pontos positivos na pessoa do terceiro filho dos Weasley, e até enxergar certos pontos em comum entre ele e Bill, o que fez Matt passar a considera-lo, também, como um bom amigo.

            Lembrou-se de Fred e Jorge. Matt sempre havia tido uma admiração pelos dois, devido a sua habilidade com os logros, e quase os invejava por isso. Ficou alegre em saber que os dois tinham aberto sua própria loja. Mas a temporada 1997-1998 do mundo bruxo britânico havia sido demasiado pesada para os gêmeos. Jorge perdeu sua orelha num combate, os dois tinham passado boa parte do período se escondendo dos Comensais da Morte para transmitir as notícias da rádio clandestina "Observatório Potter", e Fred acabou perdendo a própria vida na Batalha de Hogwarts. Mesmo sem ter tido tantas conversas com ele, Matt se viu profundamente abalado com a morte dele. Ele sentia que o mundo era um lugar mais triste sem Fred Weasley. Isso o fez se aproximar de Jorge e oferecer não somente suas condolências, mas também sua amizade. Quando Rony começou a ajudar Jorge na loja, Matt sentiu-se um tanto aliviado. Fred não podia ser substituído, mas, ao menos, a Gemialidades Weasley seguiria a todo vapor, trazendo cada vez mais alegria ao mundo bruxo. Até o próprio auror se esforçava para ajudar, divulgando a loja para amigos e parentes escoceses e de outras partes do Reino Unido, pensando que, assim, o legado de Fred continuaria sendo recordado.

            Lembrou-se de Gina. Ele havia passado a admirar a caçula dos Weasley, por sua personalidade, caráter, e força. Na Armada de Dumbledore, havia se tornado proficiente com o feitiço Redutor, a azaração do Bicho-Papão, e outros encantamentos. Depois, havia se tornado uma das principais jogadoras de quadribol da Grifinória quando Harry e os gêmeos haviam sido banidos da equipe pela Umbridge. Quando Harry, Rony e Hermione havia saído em busca das horcruxes, ela havia assumido a liderança da Armada junto com Neville e Luna, atuando na resistência em Hogwarts. E isso tudo após ter se recuperado do choque de ter sido manipulada mentalmente pelo próprio Voldemort a abrir a Câmara Secreta e liberar o basilisco, quando ainda estava no primeiro ano da escola. A força de Gina era algo impressionante. Era uma pessoa muito especial, e Matt entendia perfeitamente como Harry havia se encantado por ela. Com pequenas diferenças, a história dos dois fazia-o lembrar de sua própria história com Thaila.

            Pensou em Molly e Arthur. De certo modo, eles o faziam se lembrar de seus próprios pais. Era difícil não se sentir acolhido pelo casal Weasley, pela forma amável com que tratavam os filhos e os amigos deles. Para Matt, que já não contava com seus pais por perto, eles eram uma família fantástica.

            Pensou, por fim, em Rony. Matt o havia visto crescer, junto com Harry e Hermione em Hogwarts e vivendo as mais diversas aventuras. Tudo aquilo havia feito Ronald se tornar um homem responsável, marido exemplar e pai de família, além de um auror esforçado e dedicado, apesar de alguns deslizes aqui e ali. Ei, ninguém é perfeito. Matt sentia orgulho de poder chama-lo, tal qual a Harry e Hermione, de um de seus melhores amigos. E com aquela guerra que se intensificava a cada dia, manter esses amigos próximos e unidos seria cada vez mais essencial para eles.

       Realmente, Harry e ele tinham muitos motivos para considerar aquela família incrível como sendo também a sua própria família. Com satisfação, Stick se deu conta de que Harry provavelmente tinha o mesmo pensamento acerca dos Weasley que ele havia acabado de ponderar durante a viagem.

            O piloto anunciou que o avião estava perto de iniciar os procedimentos de pouso. Stick olhou pela janela: a cidade e o aeroporto de Boston assomavam abaixo dele. Aquele não era seu destino final, mas Boston tinha o aeroporto mais próximo do local para onde precisava ir.

            Ele não pisava em solo americano havia muito tempo. Thaila e ele haviam passado férias por lá uma vez. Pensou, então, em seu amigo Rudolf, que às vezes vinha fazer palestras e lançamentos de livros naquele país. Àquela altura, Rudolf deveria estar entretido com Emily em alguma praia paradisíaca lá no Brasil. Matt pensou em ligar para o amigo historiador quando pousasse. Mas achou que não valia a pena, ao menos naquele momento, incomodar Rudolf com suas preocupações (que eram muitas) acerca da missão que precisava cumprir ali nos Estados Unidos. Além disso, o brasileiro tinha a sorte de morar num país que “ainda” não estava sendo tão afetado pelos avanços dos Guerreiros do Apocalipse. Não havia razão para Matt deixa-lo em alerta com eventos ocorrendo em outros continentes, ainda mais com Rudolf curtindo aquele relacionamento com Emily. Thaila lhe daria uma bronca se soubesse que Matt estava atrapalhando o novo casal para incomodar Rudolf com questões de cunho acadêmico.

            Ele fez uma nota mental de que tentaria falar com Rudolf quando aquela situação se resolvesse. Quando estivesse voltando para a Inglaterra e quando aquela missão em solo americano já estivesse resolvida, e com suas implicações passando a fazer mais sentido para o escocês, aí sim ele buscaria a opinião de Rudolf, que já havia sido tão essencial a ele no passado. Tinha o pressentimento de que iria precisar muito do conhecimento de Rudolf em breve, para as missões que Kingsley lhe havia atribuído para quando retornasse à Inglaterra.


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Notas finais do capítulo

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