Filha De... Tem Certeza?! escrita por Mrs Darcy


Capítulo 2
Pov. Hefesto


Notas iniciais do capítulo

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        Pov Hefesto

        Estava em minha oficina construindo um novo autômato. Tinha que renova-los a cada ano, principalmente agora com o avanço da tecnologia. Desta vez eu estava tentando fazer um modelo feminino, para assim abrir a possibilidade de haver procriação entre eles. Também queria aumentar a capacidade de reproduzir sentimentos.

        Pensar em sentimentos me fazia lembrar da Afrodite. Ela andava muito estranha nos últimos anos, parecia nervosa, confusa; ficava cada vez menos no palácio. Não que eu achasse que ela tinha parado de me trair (seus filhos no acampamento não me permitiam criar essa ilusão), mas de uns tempos pra cá ela andava meio deprimida. Ela parecia pensar que eu não percebia, tentava agir normalmente, como se nada estivesse acontecendo e eu sabia que era encenação; a amava, afinal de contas.

        Ontem a noite eu tinha ido para o quarto na intenção de tirar tudo a limpo. Esperei por ela durante horas e me senti um idiota quando percebi que ela-mais uma vez- não dormiria em casa. Quando acordei pela manha, e a vi adormecida ao meu lado resolvi sair do quarto rapidamente, não queria que ela me visse no estado em que eu estava. Ela provavelmente tinha estado com Ares a noite inteira.

        Parei de trabalhar, cansado. Eu precisava mesmo era de um banho, mas não queria ir ao meu quarto e me arriscar a encontrar minha esposa. Resolvi, então, ir ao banheiro da biblioteca; lá me banhei demoradamente e sai do box logo colocando uma das mudas de roupas que guardava ali para essas ocasiões (sim, elas são mais comuns do que eu queria). Penteei meu cabelo e me olhei no espelho. Suspirei. Não sei como eu pude um dia sonhar em ser amado pela deusa do amor e da beleza; nunca devia ter insistido com minha mãe para casar com ela. Observando minha imagem agora, isso ficava claro. Meu corpo era grande demais. Não que eu fosse gordo, pelo contrario meu corpo era bastante definido pelo trabalho árduo nas forjas, mas eu tinha uma estrutura excessivamente grande. Meu rosto tinha um formato grosseiro e eu possuía muitos pelos. Se não fossem meus olhos azuis e cabelos loiros podia-se dizer que eu não tinha nada dos reis do Olimpo. Além, é claro, do fato que depois que a minha "adorável" mãezinha me jogou para fora de casa (que diga-se de passagem era beeeeeeem alta) eu fiquei corcunda e manco, o que se agravou pelo excesso de tempo nas forjas.

        - Onde esta Hefesto?-perguntou uma voz que eu reconheci como a de Ares do outro lado da porta. Eu até ia sair, mas precisava saber o que eles estavam fazendo NA MINHA PRÓPRIA CASA.

        - Não se preocupe, ele nunca aparece aqui- disse Afrodite.- Está sempre na oficina.

        - Por isso que eu digo que ele não merece uma mulher como você. Ele não lhe da atenção. Uma criatura espetacular como você.

        Houve uma pequena pausa no dialogo eu me perguntei o que estava acontecendo.

        - Às vezes me pergunto o que teria acontecido se eu não tivesse abortado-falou Afrodite. Espera um pouco. A deusa do amor, abortando?-Apesar de tudo era minha filha.

        - Sua e daquele ferreiro desgraçado!-berrou. Espera ai, ele me chamou de que? E o que ele quer dizer com isso? Uma filha minha? Ahn?- VOU TE DIZER O QUE TERIA OCORRIDO! EU NÃO TERIA FICADO COM VOCÊ! FICARIA SEM NINGUÉM QUE A AMASSE! E AINDA TERIA QUE CRIAR UMA FILHA DO FERREIRO, QUE PROVAVELMENTE SERIA TÃO FEIA QUANTO O PAI!

        Tudo o que eu podia ouvir agora eram os soluços de Afrodite. Mas eu não conseguia me prender a isso. Tudo que meu cérebro podia registrar era que eu tinha tido uma filha com o amor da minha vida. E ela tinha abortado.

        - Você está certo Ares. Foi o melhor a se fazer- foi a ultima coisa que eu ouvi antes de os dois saírem da sala.

        Sozinho no banheiro, escorreguei encostado na parede até cair sentado; o rosto sobre as pernas chorei. Como não me lembrava de ter chorado nenhuma vez na vida.

...

        As horas se passavam, tinha certeza que já se aproximava do almoço quando resolvi me levantar. Resolvi ir até o Olimpo, por algum motivo que me é totalmente desconhecido. 

        Uma das vantagens de ser um deus é que seu corpo se recupera rapidamente. Quando entrei na sala do trono e parei diante de meus pais tive a certeza que não havia nada em meu físico que denunciaria que eu havia chorado.

        - Zeus, Hera- cumprimentei. Nunca os chamava de pai e mãe.

        - Hefesto!- pareceram surpresos.- O que você faz aqui?

        - Nada não- disse.- Só queria sair um pouco de casa. Vou passar o dia aqui se não for incomodo.

        - Claro que não filho- disse Hera.- Se quiser passar a noite aqui também sabe que sempre terá um quarto no palácio.

        - Estou indo para lá agora mesmo- falei.

        Hera estava agindo estranhamente, mas eu estava muito cansado psicologicamente para pensar nisso agora. Deitei-me na minha cama e fechei os olhos procurando por um pouco de paz.

        Poucos minutos depois ouvi batidas na porta. Pensei em mandar a pessoa ir embora, mas minha educação falou mais alto.

        - Entre- falei. Devo admitir que fiquei surpreso ao ver a rainha dos céus entrar no quarto e se sentar na beirada da cama.

        - Filho- ela parecia preocupada.- Sei que não confia em mim, e tem muitas razões para isso, mas me diga o que ouve.

        Não sei o que aconteceu comigo. Acho que eu realmente precisava desabafar, pois logo me vi contando tudo a ela. Como eu amava minha esposa, o porque de ter casado com ela, minhas tentativas de me aproximar, o caso conhecido dela com Ares, ela ter tido uma filha, ter abortado...

        Assim que terminei mamãe me olhou surpresa. Não acho que ela alguma vez tenha pensado que eu seria tão sincero com ela, falasse de meus problemas. Sinceramente, nem eu. Ficamos assim, quietos por alguns minutos, nem notei e logo eu estava com a cabeça deitada no colo dela enquanto ela me acariciava como nunca tinha feito.

        - Filho- chamou. E pela primeira vez não me senti deslocado ao ouvi-la me chamar assim.

        - O que?- perguntei.

        - Se ela era sua filha com Afrodite, então era uma deusa-começou.- E se era uma deusa, não importa a idade que tenha, mesmo que ainda não tivesse nascido, não pode morrer-explicou.- Veja o exemplo dos seus tios. Cronos os comeu ainda bebes e seu pai o fez vomitar eles um bom tempo depois.

        A esperança começou a nascer em mim. Talvez eu pudesse encontra-la... E então leva-la pra casa.

        - Mamãe, eu preciso acha-la!- falei ansioso- Por favor me ajude!

        Ela demorou um pouco para responder, parecia muito emocionada, e demorei a perceber que foi porque eu a chamei de mãe.

        - Eu posso olhar no registro de foco divino- ela falou e eu a olhei confuso.

        - É uma espécie de globo, onde mostra, em escala de cores, os maiores focos de poder divino, dando sua localização. Cada deus tem uma coloração diferente, de acordo como que representa. Eu conheço a de vários deuses, essas cores já podemos excluir, e podemos ir até o local onde estão as outras e ver pessoalmente. Se ela não estiver em um local magicamente protegido, poderemos encontra-la.

        - Faça isso, por favor-pedi.

        - Vou ir agora mesmo, filho- falou.- E você me espere aqui e descanse um pouco, só eu e seu pai podemos entrar onde o globo está guardado.

        - Certo mamãe-concordei andando em direção a cama enquanto via ela se distanciar.

        - E filho!-chamou-me e eu a olhei.- Me desculpe- pediu, quase implorando. Eu não precisava perguntar porque. Sabia que ela estava se referindo a todo o mal que ela me causara desde o meu nascimento.

        - Tudo bem- disse sinceramente. Isso não importava mais.

...

        Estávamos procurando já faziam horas, nesse meio tempo eu já tinha dado de cara com dezenas de deuses que eu nem ao menos sabia que existia. Minha mãe estava fazendo o mesmo que eu quando bateu seis horas e ela teve de voltar ao Olimpo; porem me permitiu continuar sozinho. Eu já tinha perdido a noção da hora quando parei em frente a um restaurante. O globo indicava um grande foco de poder divino vindo dali. Mesmo com a chance de encontrar minha filha, não pude deixar de ficar feliz com a chance de conhecer esse local. Era um restaurante bastante chique, mas que era todo voltado a tecnologia. Eu era o deus das forjas, não DIRETAMENTE da tecnologia, mas poder conhecer um local como esse era interessante. Tão interessante que eu nem percebi que minhas pernas já se encaminhavam para a entrada.

        - Uma mesa para um, por favor- pedi a funcionaria parada à porta.

        - Tem reserva?-perguntou.

        - Não.

        - Desculpe, mas só temos salas conjuntas agora. Só uma na verdade. Teríamos de coloca-lo com outra pessoa.

        - Tudo bem- concordei.- Contanto que que seja mulher- ainda precisava achar minha filha...

        - Claro senhor- eu a segui olhando ao redor, todos os eletrônicos expostos. Ela me levou a uma sala no fundo do estabelecimento. Assim que entrei percebi que a conversa da garota que estava lá dentro com a garçonete parecia ecoar.

        Quando a vi tive a certeza de que era ela. Tinha uma pele levemente morena e um corpo que conseguia ser mais perfeito que o da mãe. Nela reconheci de mim os cabelos e os olhos azuis.

        Sentei-me de frente a ela e fiquei observando por minutos, fizemos os pedidos e logo estávamos sozinhos. Resolvi puxar assunto, queria saber como ela era.

        - Qual é o seu nome?- ela me olhou com aqueles olhos que me faziam lembrar de mim.

        - Amy- que interessante. Os pais adotivos dela devem a amar muito. Com certeza ela não vai querer ir comigo.

        - Que nome interessante, e diferente. Quer dizer amada, sabia? Seus pais devem te amar muito- porque o seu pai realmente ama, pensei, pena que você não saiba disso.

        - Acho que não- ela sorriu triste.- Eu sou adotada. Quando eu fui encontrada carregava um colar onde tinha registrado esse nome- que estranho... Afrodite não pensava que ela estava morta?- Meus...-ela hesitou na palavra "pais" me fazendo ter esperanças.- As pessoas que me adotaram mantiveram esse nome. E o seu, qual é?

        - O meu é Hefesto- sorri.

        - Como o deus grego- ela ergueu a sobrancelha e eu tive que rir.

        - E-X-A-T-A-M-E-N-T-E como o deus grego. Me diga, Amy, conhece muito de mitologia?- eu tinha decidido contar a ela, e contaria a ela.

        - Não muito. Eu nunca pude estudar- disse fazendo-me sentir arrependido por mais que eu não tivesse escolhido a separação.- Mas conheço um pouco de tudo, um pouco mais desse deus por ser meu favorito...- eu podia ser mais feliz? Bom, talvez se Afrodite me amasse...

        - Que bom que gosta de mim, Amy. Eu sou, de verdade, Hefesto, das historias. E seu pai.


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Notas finais do capítulo

Comentem e eu posto o próximo capítulo!