O acampamento era, sem dúvidas, incrível. Haviam doze chalés, todos em estilos diferentes. E embora lutar nunca tenha sido minha paixão a quantidade de coisas que tinha por lá já era o suficiente para torná-lo fantástico. Era tudo muito movimentado, haviam pessoas duelando em uma arena mais a direita, e outras correndo como se estivessem muito atrasados para um compromisso importante; tinha uma parede de escalada que eu definitivamente não queria saber como funcionava. Todos se vestiam no estilo greco-romano, usando parte de armaduras e espadas. Andar armado não era algo tão incomum assim para a época em que vivíamos; mesmo presa em um quarto eu me mantinha informada a respeito dos passos de Hitler; mas aquelas espadas não eram muito comuns...

Fomos andando pelo meio do acampamento, e logo observei que a maioria dos campistas eram loiros; tudo bem: em uma Alemanha Nazista isso não era novidade. Mas não achei que isso influenciaria em algo aqui. Apesar de que a maioria dos deuses são loiros. Mas... Hades e Poseidon não, e, até onde eu sei, eles sempre tiveram muitos filhos... Eu daria um jeito de descobrir o porque disso.

- Então- Apolo, ao meu lado, sorriu.- O que achou? 

- Esse lugar é incrível- falei maravilhada.

- Cada chalé representa um deus- explicou meu irmão ao ver que eu os observava.- Cada um fica no chalé de seu pai olimpiano, embora hajam algumas exceções quando meio-sangue é indeterminado ou se pai não tem um chalé aqui.

- Indeterminado? E porque nem todos os deuses tem chalés? Meu pai tem um, não tem?

- Bom, não existem chalés para os deuses menores, somente para os doze olimpianos. Também não existe um para Hades, porque seria meio... Você sabe.

- Pois isso é muito errado! Ele devia não só ter um chalé aqui, como também um trono no Olimpo!- falei irritada e não consegui segurar o tom de autoridade em minha voz, o que fez Apolo me olhar interessado, sem o sorriso convencido de costume e Adam se encolher. Tratei logo de me acalmar ou acabaria matando meu irmão e revelando minha verdadeira forma.-  Não é crime nenhum ser deus do submundo, ele apenas da um lugar para todas as almas viverem, ou vocês gostariam de andar por aí e dar de cara com um monte de fantasmas?

Não me entendam mal; mas a maior parte dos problemas que tive em minha vida foi por causa de pessoas que julgavam as outras pelo seu exterior. Sempre fui julgada pela minha beleza, as pessoas me assediavam e eu não conseguia ser respeitada por isso. Minha mãe me abandonou em nome da aparência tudo por um homem. Meu pai era quem mais sofrera nessa historia, abandonado pela mãe após o nascimento e rejeitado pela esposa anos mais tarde. Ouvir alguém, meu irmão ou não, falar mal de Hades sem nenhum motivo alem desse me irritou.

- Hades alguma vez fez mal a um de vocês dois?-perguntei. - Sem que vocês o fizessem antes- continuei rápido ao ver que Apolo ia falar. 

Eles ainda hesitaram antes de negar com a cabeça.

- E eu aposto que a maioria dos deuses que não tem um chalé não fizeram nada para merecer isso. Muito menos os filhos deles- conclui e sai andando zangada pelo acampamento. Eles ficaram para trás, e eu decidi conhecer tudo sozinha. Tudo bem, talvez eu tivesse exagerado um pouquinho, mas tudo isso está sendo muito difícil para mim. Eu tive de deixar meu pai depois de pouco tempo com ele(por mais que algumas pessoas achem que três anos é muito, eu nunca tive ninguém que realmente me amasse, como pais, antes). Alem dos motivos que falei. 

Resolvi fazer um tour pelo acampamento e passei por cada um dos chalés, que pareciam todos vazios. Eu estava bastante constrangida, conforme eu passava vários olhares se dirigiam a mim, com se eu fosse uma anomalia. Depois de alguns minutos caminhando eu cheguei a uma grande arena onde um casal lutava de maneira mortal. A garota parecia estar levando vantagem, lutava sem dificuldades, enquanto seu adversário parecia sofrer para se defender. Ela tinha olhos escuros e seu corpo parecia forte sem deixar de ser feminino, os cabelos pretos estavam presos firmemente em um coque alto.

- Essa é Elda Graf. Ela é filha de Ares com uma comandante nazista; ninguém a vence em uma luta desde que chegou aqui.- falou meu irmão me fazendo perceber sua presença em um sobressalto.- Apolo já foi. 

- Ótimo- falei observando tudo ao meu redor.

- Quer conhecer o nosso chalé?

- Pode ser.

...

O chalé de era grande e decorado em um estilo muito pratico. Quem entrasse, a principio, veria apenas um quarto normal, com uma dezena de camas, um pouco bagunçado e com alguns computadores nos cantos. Poderiam achar que era um chalé normal de alguns adolescentes normais, mas quem pensasse isso com certeza não tivera a ideia de colocar a mão sobre a mesa digitalizadora em cima da mesa; e essa pessoa também, certamente, não tivera acesso a nenhuma das senhas que davam passagem as outras incontáveis alas do chalé.

Não haviam salas ou sofás, como alguém pode vir a pensar, mas a passagem que se abria no meio do quarto dava acesso ao que sem duvidas era o sonho de qualquer mecânico. O espaço era enorme, provavelmente devia ocupar toda a extensão subterrânea do acampamento, e havia tantas coisas que eu nem sabia direito pra onde olhar. Como deusa da tecnologia eu obviamente fui atraída para uma mesa onde havia um computador monumental que sem duvidas fazia todo o monitoramento das atividades na oficina. Depois de uma rápida olhada eu declarei que meus irmãos tinham obviamente feito um milagre em obter tanto de um aparelho tão limitado quanto eram os computadores de hoje em dia. Esse era completamente adaptado e melhorado, mas ainda deixava muito a desejar em relação a qualquer um que eu já criei. Mas daria um jeito nisso. Aparentemente eles tinham câmeras de segurança espalhadas pelo acampamento inteiro e seria bom se captasse tudo com uma imagem melhor.  Por hora eu somente daria uma melhoradinha no sistema, talvez com um pouquinho de magica...

- Você, garota!- uma voz rouca me interrompeu rudemente e eu olhei para traz sobressaltada. Um garoto loiro enorme me olhava fixamente com a expressão tão seria que cheguei a me assustar. Isso até eu perceber que ele me lembrava muito o meu pai, e meu irmão provavelmente não me mataria.- Não pode ficar aqui. Não sei como entrou, somente filhos de Hermes conseguiram invadir esse lugar até hoje, mas peço que se retire. Eu nunca a vi aqui, então deve ser nova, mas os campistas devem ficar em seu próprio chalé.

- Mas eu...

- Amy..!- falou Adam parecendo aliviado.- Eu estava te procurando. O almoço vai ser em alguns minutos e você deve ser apresentada.

Uma risada grossa e falsa interrompeu minha resposta.

- Então essa é nossa irmã? Ela não se parece muito com Hefesto.

- Mas é ela sim- retrucou Adam, raivoso.- Deixe de ser idiota Mathew, ela é tão boa quanto poderia ser.

- Com certeza as filhas de Afrodite concordariam- debochou ele antes de sair.

- Não de ouvidos a ele, Amy. Ele só esta com ciúmes, afinal, papai perece gosta mesmo de você. Você vai ver que os outros vão aceitar tudo muito bem. Matheuw é meio... Difícil. Vamos, os outros devem estar esperando.

Eu somente assenti, o seguindo.

Na parte comum do quarto se encontravam 5 garotos. Dentre eles reconheci Mathew, que pelo que parecia era o líder. 

- Essa é Amy. Nossa mais nova irmã. Eu, você já deve saber, sou Mathew. Esses são Willian- apontou para o que parecia o mais novo dos cinco.-Albert, Peter, Franz- eles acenaram a cabeça conforme foram apresentados, parecendo muito tímidos.

- Prazer- falei envergonhada pela vergonha deles e provavelmente fiquei toda vermelha porque Willian e Adam riram.

- Em formação- eu não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas ao ver que todos formaram uma fila eu fiz o mesmo. O nosso grupo seguiu pelo meio do pátio em direção a uma construção grande e baixa, de onde saia um pouco de fumaça e um cheiro gostoso, provavelmente o refeitório. Percebi que outros grupos também iam para lá, e a maioria das filas era maior que a minha, a quantidade de gente naquele lugar realmente era absurda. Como pode um grupo tão pequeno de seres, mesmo que deuses, procriar tanto? Eles não tem mais o que fazer?!

Bom, o refeitório se tratava de um salão imenso, que se parecia muito com um buffet livre de restaurante, exceto que a comida parecia melhor e as pessoas por algum motivo jogavam parte dela no fogo. Oferendas- lembrei, me achando idiota.

- Agora que estão todos aqui- um homem alto e um pouco gordinho se levantou parecendo extremamente entediado. Seus olhos eram de um castanho meio violeta e ele olhava a todos com uns olhos vidrados que o faziam parecer louco. Ou um homem em abstinência. Não são tão diferentes. De repente seu olhar se fixou em mim e eu pude sentir um cheiro de uvas no ar, uma leve fragrância do melhor tipo de vinho. Dionisio. O que um deus faz no acampamento? (Olha quem fala- debochei de mim mesma).

- Se não é a garota nova. Parece que Hefesto finalmente conseguiu fazer algo que preste.

O ar repentinamente ficou mais denso enquanto eu olhava para ele com raiva.

- Olha, se não é o bebum do Olimpo... O que faz aqui? Isso é uma acampamento, não uma sede da AA (alcóolicos anônimos).

Todos me olharam chocados, mas ninguém com mais raiva que Dionisio, que parecia querer me matar. Eu senti uma pressão em minha mente, com se alguém estivesse tentando mexer com ela e percebi que o velho  estava tentando me enlouquecer como fazia com os mortais que o desafiavam. Abri uma pequena fresta, apenas para que ele pudesse sentir uma parcela de meu poder. Ele ofegou, chocado. Antes de me retirar do refeitório deixei uma pequena frase rodar em minha mente.

Não comigo, velho.

Sentada na beira da praia, horas mais tarde, eu retomei meu dia e tive de rir.

Em apenas algumas horas no acampamento eu já conseguira o ódio do meu irmão mais velho, de um dos 12 olimpianos, que, por acaso, descobrira que eu sou uma deusa.
    E isso que eu queria passar despercebida.