A luz do sol entrava pelas frestas da cortina. 

É difícil lidar com a porra dos olhos azuis. Eles não aguentam nada de claridade. É realmente uma merda. 

Me levantei e fui até o armário. Peguei a primeira roupa que encontrei, a joguei em cima da cama e fui tomar banho. Deixei a água gelada levar a conversa da noite anterior enquanto relaxava. 

Saí e me enrolei na toalha. Fui até o quarto e observei o relógio de relance. Eu estava atrasada para a escola. Droga. 

Coloquei a roupa com uma habilidade incrível que nem eu mesma sabia que tinha. Peguei a escova de cabelos e desci a escada correndo, quase tropeçando em meus próprios pés. 

Abri a geladeira e bebi uma caixinha de leite de 200mL e a joguei no lixo. Sem tempo para comer hoje. 

Terminei de pentear os cabelos e os prendi em um rabo de cavalo. As olheiras eram visíveis, eu estava acabada.

- Merda. - murmurei para o nada. Peguei o corretivo e o espalhei com a ponta dos dedos. Mais rápido, meu cérebro gemia. Eu sabia que não tinha tempo para enrolar, mas não podia ir para a escola com olheiras. Os professores me condenariam.

Voltei para o quarto e peguei a mochila da escola, que estava em cima da cama. Joguei meu celular no bolso da frente e desci de novo. Tranquei a porta e saí na rua, andando o mais rápido que podia. 

...

A escola era a duas quadras da casa que eu dividia com Annabeth, que, de vez em quando, ia dormir na casa dos pais, como ontem. 

Cheguei no colégio alguns segundos antes do primeiro sinal. Entrei na sala de aula e me sentei ao lado de Annabeth, ofegando. 

- Se atrasou, Grace? - ela perguntou, irônica. 

- Não, não, imagina. Vim correndo porque achei engraçado, Annabeth. Tava treinando pras Olimpíadas, sabia não? 

- Idiota. - ela revirou os olhos sorrindo. O professor entrou na sala de aula. Sr. Wicheman. Alto, com seus olhos caramelos raivosos, os óculos de armação, o tufo de cabelo cinza e seus 50 e poucos anos. 

A aula era de Física. Perdi a concentração nos primeiros dez minutos e peguei meu celular na mochila, junto com o fone de ouvido. Coloquei o volume no máximo, bloqueando a voz irritante daquele filho da mãe. 

...

Eu já estava na minha terceira música, quando ouvi um grito.

Quer dizer, um grito bravo, forte e vindo de perto.

Olhei para cima, torcendo para não ser o que eu estava pensando, mas dei de cara com o professor gritando meu nome. 

Rapidamente, tirei os fones de ouvido para pegar somente o final de sua bronca:

- ...saia já da minha sala, mocinha. - ele apontou para a porta e deu um passo para trás, me dando espaço. 

- Mas, professor... - interferiu Annabeth.

- Quieta, Chase. Pode ir fazer companhia para a sua amiguinha. 

Me levantei e coloquei a mochila no ombro. A loira olhava incrédula para o professor.

- Foda-se, Annie, vem. - eu disse. Os alunos riam baixinho da expressão do professor ao ouvir o palavrão. - Que foi, amigo? - perguntei á ele com a sobrancelha erguida.

Saímos da sala de aula e fomos até o refeitório, onde uma mesa toda estava ocupada por nossos amigos. Que divertido. 

Clarisse, Silena, Calypso, Rachel, Piper e Katie, as garotas. Os gêmeos Stoll, Leo Valdez e Jason, os garotos. 

Nos aproximamos, recebendo saudações fervorosas de todos. Menos de Silena. 

Ela se levantou, afobada, pegando nossos braços e nos afastando do grupo. 

- O que foi, Silena? - perguntou Annabeth, atenta. 

- Olha lá! - ela disse para que só nós pudéssemos escutar. A morena pegou nossas cabeças com as mãos e as virou em direção á secretaria. 

No mesmo momento, ele virou a cabeça.

E nossos olhos se encontraram com a mesma intensidade e eu fiquei ali, olhando para aquelas íris negras maravilhosamente perfeitas. 

Como se fossem feitas sob medida para o meu olhar.