Deixei minha cabeça pender para trás encostando-a na parede da caverna. Meus olhos voltados para o teto do lugar, mas sem realmente vê-lo, deixando meu cérebro absorver as ultimas informações.

Era muita coisa para um dia só, para a ultima hora, e ainda vem mais essa de que Quíron havia dado de boa vontade a espada para eles. O que pelo raio de Zeus estava acontecendo? Porque justo Quíron faria algo assim?

Uma discussão começou por meio dos fones. Cada um falando sua opinião sobre o que tinham ouvido até agora. Os únicos que ficaram quietos, que eu não consegui identificar a voz, eram Annabeh, Nathan, Nico, Fórcis, Polúx e eu. Eu estava até ouvindo Tyson, Lily e Happy entrarem na discussão defendendo o pônei, Tyson nunca parou de chamar Quíron de pônei e deve ter sido assim que ele contou aos outros.

Estava a ponto de tirar o fone e jogar ele para bem longe para ter uma conversa seria com Annabeth. A única de nós que parecia saber de tudo e mais um pouco.

– Clarisse. – Connor falou o nome dela alto o suficiente para se sobressaltar sobre as conversas intermináveis dos outros e isso fez todos ficarem em silencio afinal não é todo dia que ouvimos alguém dizer o nome de Clarisse assim. – O que você sabe sobre isso? – perguntou Connor soando desconfiado.

– Eu estava lá, mané. – retorquiu Clarisse. – Quíron entregou a espada para Luke que estava junto com a aguada mal-amada da garota da ilha e o traidor filho de Apolo, Dalin.

– Dale. – corrigiu Chris.

– Que seja, traidor é traidor. Muito parecido como Quíron agiu. – acusou Clarisse.

– Cala boca, Clarisse, você não sabe de nada. – gritou Annabeth apertando minha mão com força. Ela estava com raiva, muita raiva. Quíron era como um pai para ela desde que ela chegou no acampamento aos sete anos.

– Então me esclarece, princesinha. – disse a filha de Ares com desdém. – Porque Quíron entregou a espada a eles se podíamos dar conta deles e levar a espada para um lugar seguro? Todos queremos saber essa resposta, nerd.

– Alguém gosta de brincar com fogo e não é o Leo. – comentou Travis e ouvi um som abafado, parecia ser um tapa.

– É simples. – rosnou Annabeth por entre os dentes apertando mais ainda minha mão. Estou achando que vou perder a minha mão. – Porque ele salvou sua vida. Impediu que Mikaella ficasse órfã de ambos os pais.

– Não me venha com essa. – retorquiu Clarisse com acidez. – Simples era como as coisas ficariam depois que acabássemos com aqueles três.

– Hum... – Annabeth abriu um sorriso sarcástico. – Então a notória filha de Ares que recebeu a benção do papai achava que só tinha três deles?

Um silencio se instalou no lugar. Nathan olhava para Annabeth com um sorriso de canto parecendo orgulhoso de alguma coisa, não gostei. Nico parecia estar se divertindo com a discussão entre as duas.

E eu estava rezando para Apolo para não perder a mão. Annabeth ainda apertava minha mão com força. Meus dedos já estavam ficando “transparentes” pela falta de circulação.

– Creio que o silencio é um não. – falou Annabeth mordaz. – Será que o papai ainda se sente orgulhoso da filhinha preferida dele?

– Você não sabe de nada, é melhor calar sua boca, princesinha. – disse Clarisse com rispidez.

– Sei mais do que você. – a frase de Annabeth foi seguida de vários “ui’s”.

– Droga, não tem pipoca aqui. Deveria ter trazido. – ouvi Jonathan Holmes resmungando e seus meios-irmãos concordando com ele, até Neal.

– Melhor vocês calarem a boca. – ordenou Kate brava e eles obedeceram até o fim da conversa, inclusive Neal e Jonathan que nem estavam perto dela.

– Elas não estavam amigas, ou coisa do tipo? – a voz de Nyssa soou baixa, mas deu para escuta-la bem, não só eu como os outros também.

– Estavam tipo melhores amigas. – respondeu Max.

– Mas acho que era por causa das crianças. – emendou Jake.

– Isso esta me dando dor de cabeça. – me sobressaltei ao ouvir a voz de Polúx. Eu não tinha ouvido a voz dele o dia inteiro, duvidava até que estava usando o seu fone e participando da nossa “conversa”.

– Sei que não tinha só os três lá. – continuou Annabeth parecendo não ligar para o que os outros estavam falando. – Sei que Tritão estava aposto com um pequeno grupo de monstros prontos para fazerem de você e Chris o prato principal do dia.

– Isso faz sentido. – murmurou Chris.

– Annabeth, Clarisse parem com isso agora mesmo. – Piper elevou sua voz em um tom de comando calando a nova discussão que estava apenas começando quando Clarisse começou a rebater o que Annabeth havia dito sem se importar com o que o namorado havia dito.

– Estão em uma discussão que não vai nós levar a nada. – Jason reforçou as palavras da namorada. – E nós não temos a luxo de discutir por nada no momento.

– Jason e Piper estão certos. – se pronunciou Thalia. – Estamos perdendo tempo com isso.

– O pônei é legal. – afirmou Tyson.

– Nathan tem ideia de quando vão começar esse ritual? – perguntou Astrid rapidamente mudando o foco da conversa.

– Um pouco antes do sol nascer. Oceano me disse que isso significava o nascer de uma nova era. – respondeu Nathan um pouco incomodado.

– E como agora eles têm tudo que precisa para o ritual... – Michael não terminou a sua frase e nem precisava. Todos sabiam.

– Você será um sacrifício do que, Nathan? – questionou Clarisse sem pudores.

– Sacrifícios são importantes. Quanto mais virtuosos forem esses sacrifícios melhor. Mas não sei no que meu sacrifício irá ajudar. No começo achei que iriam me usar como o elemento água no ritual já que eu não sabia como eles iriam pegar Percy e também não sabia que vocês tinham uma filha, um legado dos poderes de Poseidon. – falou Nathan. – Nunca haviam mencionado Nina para mim até pouco tempo atrás.

Sinto meu peito se apertar e meus olhos arderem em lagrimas que eu seguro para não saírem. Meus únicos pensamentos estão voltados para meus filhos e em uma maneira de resgata-los antes que seja tarde de mais.

– Então temos que começar o plano amanhã bem cedo, antes do nascer do sol. – falou Albert depois que novamente um silencio tinha se instalado entre nós.

Pela primeira vez eu escuto o plano geral de Annabeth, ainda sim Annabeth deixa claro que pelo menos a equipe de Jason tem outro plano para seguir também assim como a equipe que ficou no navio.

Os planos que os outros tinham que Fórcis e Annabeth disseram a eles já foram feitos. O mais notório era o do grupo de Neal que conseguiu acabar com as cominações do inimigo entre suas bases pela ilha.

O plano não é muito complicado de se entender e logo após reavermos, eles, o plano encerramos nossas comunicações para todos começarem os preparativos para descansarem e se prepararem para o longo dia de amanhã.

Annabeth e Nico ficaram de guarda revezando entre eles. Nathan não tem condições de ficar de guarda e ele precisava descansar mais do que qualquer um de nós se quisesse ser útil para a gente amanhã cedo. Eu não tive escolha já que Annabeth mais uma vez me lembrou do meu misterioso desmaio não me deixando escolha, mas uma pergunta surgiu em minha mente.

– Porque eu sonhei com Nathan? – questionei olhando para Annabeth. – Se ele é importante, porque só agora? Geralmente meus sonhos não são tão em cima da hora assim.

– Hum, talvez porque agora que a hora do ritual esta perto precisam de toda energia magica que conseguirem. – quem respondeu foi Nathan que parecia que não tinha dormido ainda. – É que Circe deve ter tirado a proteção extra em torno da ilha que ela havia lançado para que ninguém se atrevesse a saber quais eram os planos deles.

– Uma proteção continua? – perguntou Annabeth e Nathan assentiu. – Isso explica muita coisa. – murmurou ela ficando pensativa.

– Para você. – Annabeth me encarou e eu sustentei o seu olhar. Ela abriu um sorriso de canto.

– Uma proteção continua quer dizer que essa proteção é sempre renovada ou fortificada a cada dia, ou a cada hora se você tem feiticeiros para isso, e por isso torna difícil quebre-la. Isso explica porque era difícil encontra-los, ou qualquer meio-sangue ter sonhos com eles que pudesse ajudar em sua localização, ou tirar informações.

– Mas eu sonhei com Ashley noite passada. – disse Nico, ele faria o primeiro turno de vigia, tentando se manter controlado por ele mesmo ter tocado nesse assunto.

– Pelo que eles se vangloriam isso é impossível a menos que eles queriam que você visse a garota. – falou Nathan convicto não sabendo.

A implicância em sua frase acertou Nico como se fosse um soco em seu estomago. Pensar que eles queriam que Nico visse o que estavam fazendo com sua namorada, antes já era ruim, agora deveria ser insuportável.

Nico se levantou e disse que iria para o seu posto começar a vigia.

– Esses monstros deviam aprender a não contar seus planos para pessoas que eles acham que vão morrer. – resmunguei mesmo que tenha sido isso que revelou o plano deles para a gente.

Nathan abriu a boca para perguntar algo, mas Annabeth o calou com um olhar e ordenou que todos nós fossemos dormir, teríamos que acordar bem mais cedo do que o planejado.

Annabeth me deu um beijo de boa noite e deitou ao meu lado entrelaçando seus dedos com os meus. Assim, em pouco tempo, nós dois caímos no sono. O dia tinha sido exaustivo demais, mas a noite parecia que prometia mais coisas ainda.

Assim que eu apaguei eu tive um sonho de meio-sangue. O sonho que mudou tudo.

Eu estava em o que parecia ser uma sala de reuniões. Uma mesa retangular no centro com cadeiras, umas dez, postadas em volta dela, todas elas ocupadas pelos responsáveis por tudo que estava acontecendo ultimamente.

Na ponta da mesa estava Oceano e ele parecia concentrado em uma conversa que estava tendo com Luke que estava sentado a sua direita e Calipso a sua esquerda. Anfitrite estava sentada na outra ponta com Tritão ao seu lado direito e monstros ocupavam as outras cadeiras vazias. Nem um sinal de Circe ou qualquer outra pessoa no lugar.

– O barco deles esta protegido magicamente, não dá para saber a localização exata deles, mas pelas ultimas informações que eu tive eles já estão no Mar há algumas horas. – falou Oceano olhando para Anfitrite, que assentiu, como se respondesse a uma pergunta dela.

– Então logo eles estarão aqui. Isso se já não estão. – constatou Tritão olhando desdenhosamente para Luke que fingia não dar atenção a ele.

Por um momento senti meu coração bater mais rápido e minhas mãos suarem quando vi que os monstros concordaram com ele, todos os grupos de meus amigos estavam perto agora do local das mesas de pedra e se fossem começar uma busca por nós já era, mas tinha pessoas que discordavam do meu adorado meio-irmão.

– Duvido. Pelo caminho até aqui a varias emboscadas aguardando por eles. – falou Calipso. – E mesmo que passem por elas, chegariam somente de madrugada.

– E ainda não recebemos nem um sinal dos que estão nas praias, isso significa que eles ainda não chegaram aqui por nem um lado da ilha. – reforçou Luke olhando para Tritão. – E você sabe que o sinal deles não é preciso da sala de comunicação.

– O que me lembra. – Oceano voltou seus olhos para Luke. – Como estão as outras bases?

– Separamos algumas equipes para checar as bases mais próximas. Nada de estranho, somente a falta de comunicação. – assegurou Luke.

– Tecnologia mortal inútil. – resmunga Tritão.

Franzi a sobrancelha confuso. Era impossível eles não terem encontrado nada de estranho, a parte norte, nordeste e leste da ilha tinham meio-sangues não convidados que destruíram armadilhas e mandaram alguns monstros para o Tártaro.

Algo não esta correto nisso, mas não tenho tempo de pensar nisso, pois sinto alguém olhando diretamente para mim. Não preciso nem procurar porque em um piscar de olhos Oceano se materializa na minha frente.

Tento dar um passo para trás, contudo, meu corpo não corresponde aos meus comandos. Odeio sonhos assim em que não posso me mover ou falar.

– Agora que as barreiras não estão mais aqui recebemos uma visita. – cantarola Anfitrite se postando ao lado de Oceano me lançando um olhar mortífero.

– Quem esta ai? – pergunta um dos monstros.

– Meu querido irmão. – responde Tritão com um sorriso maquiavélico direcionado a mim. – Exatamente como planejamos.

– Não tão exato assim já que o plano era falarmos com ele depois da reunião. – disse Luke sorrindo recostando em sua cadeira com os braços cruzados.

Tritão fuzila o filho de Hermes com os olhos, mas isso só faz o sorriso de Luke aumentar.

Porém, não dou a mínima para isso. Engulo em seco não gostando nada do rumo dessa conversa. Eles planejaram que eu viesse aqui? Isso é péssimo, muito péssimo.

– Perceus Jackson, eu lhe proponho uma troca. – disse Oceano sorrindo cruelmente para mim.