A rainha estava tão angustiada. Todos gostariam de poder lhe ajudar, mas como? Seu único desejo era ter a filha de volta, e, no momento, isto era inviável.

Gina, Muriel e Harry presenciavam os momentos em que Annelize se afastava e punha-se a observar o horizonte da janela. Como se o horizonte pudesse lhe dar respostas. E se... E se Hermione jamais voltasse? Jamais diga jamais, a não ser que queira dizer para nunca mais repeti-la. Também é bom não pronunciar nunca. A não ser que idem.

Era horrível vê-la assim. O que se passa na cabeça de uma mãe ao saber que sua cria está solta no mundo a fora, voando com suas próprias asas, sem um destino traçado... Por ai, jogada? Indubitavelmente nada de bom. Se ainda pudesse haver algo pior, o aniversário de Hermione seria na próxima quarta. Dezoito anos, quando atingiria a maior idade. E ela nem estaria ali para comemorá-lo. Alias, nem haveria comemoração. Afinal, o que comemorar? O que são dezoito anos de existência quando a aniversariante não está para fazer um pedido, soprar as velinhas e dedicar o primeiro pedaço de bolo para alguém especial? Não, sem motivos de comemoração. Pelo menos todos estavam sendo compreensivos quanto a isso.

Nos últimos dezessete anos, fora elaborada uma grande festa. Um bolo enorme e milhares de convidados. Algo mais parecido com um grande baile. Eram convidados os herdeiros dos tronos de todos os países, além de duques e duquesas, ministros de relações internacionais e muitas outras pessoas. Aquele ano fora tudo cancelado.

E o casamento... Um fiasco total julgando que nem havia acontecido. James e Lily se mostraram solidários com toda a situação, e entenderam perfeitamente. Concordaram em esperar caso Hermione voltasse, mas se demorasse muito eles teriam de encontrar outra princesa que pudesse se casar com Harry. O moreno parecia sensibilizado com o sumiço da nova e ia mais vezes ao castelo.

Ninguém sabia, mas talvez aquela não fosse seu real objetivo. Claro, ele estava preocupado, embora alguém tenha despertado verdadeiros sentimentos nele. Não que Hermione não o tenha feito, mas eram outros sentimentos...

A cada dia que se passava Annelize perdia um pouco de esperança. Ela seria a última a desistir, se manteria de pé até o final, mas a probabilidade de encontrar Hermione estava se tornando mínima. Precisava tomar medidas mais drásticas! Precisava das boas influências dele...

...

Snape acordara de muito bom humor aqueles dias. Parecia ter tomado alguma poção de sorte, ou algo do tipo, pois se sentia a pessoa mais sortuda do universo. Sabe quando o céu está sempre azul, os pássaros parecem cantar a todo instante e tudo a sua volta sorri? É simplesmente maravilhoso!

Severo, até então, tinha tudo o que queria: toneladas de ouro, muitas influências, seus negócios sempre davam certo, entre outros. Tudo indo de acordo com os planos...

Embora tudo estivesse indo muito bem, tinha a parte chata. A parte que ele precisava se certificar de que as coisas estavam bem mesmo. Hermione estava "desaparecida" há quase um mês, e ele só fora ao esconderijo uma vez. Por pura falta de tempo, mas hoje iria. Tinha que acertar com Draco e Crabbe como as coisas seriam feitas. Pretendiam soltá-la em algum ponto da floresta - não muito afastado, para não levantar suspeitas do porquê de Vitor estar ali - e não muito perto... De todo modo, Vitor estaria ocasionalmente fazendo um passeio a cavalo e a encontraria, levando-a para o castelo. Faria um pedido a Hermione, e ela não poderia recusar, pois fora seu salvador. E, diga-se de passagem, Harry não tinha feito muita coisa para achá-la, então seu filho, Krum, seria um pretendente melhor que o cara da cicatriz estranha.

Talvez, Snape nunca tenha escutado falar que o bem sempre - ou na maioria das vezes - vence o mal. E os vilões nunca tem um final feliz. Pelo menos não nas histórias infantis, nos contos de fadas... E se tivesse escutado sobre, estava disposto a mudar as coisas...

Montado em seu cavalo, cavalgou pela floresta, para uma parte afastada. Enquanto sentia o vento bater em seus cabelos compridos - que batiam em seus ombros -, ele pensava em tudo o que já tinha passado. Tinha tido outro plano, uma vez, mais isso fazia muito tempo. Um plano parecido, que precisou de anos para chegar a está continuação. As coisas teriam sido bem mais fáceis se não tivessem o chamado para a guerra da Bulgária. Ele poderia estar reinando agora, bem mais rico e poderoso...

Estava se aproximando da antiga casa. Notou Draco sentado em uma cadeira na pequena varanda que ela tinha. Percebeu que o jovem loiro ficou rígido ao vê-lo.

— Chefe... — havia um pequeno tom de apreensão em sua voz...

— Aconteceu algo?

— Na verdade... Na verdade... - Draco tentava não encarar Snape, que mostrava impaciência com o modo do rapaz.

— Fale logo Malfoy.

— É que...

— Ei Draco - Crabbe vinha com um pedaço de frango na mão, do interior da casa, e parecia não ter notado a presença de Snape. - Já pensou em alguma forma de contar ao rabugento do Snape que a princesinha conseguiu fugir? - petrificou-se ao ver o "chefe" parado com uma expressão mortífera. - Ah... Oi chefe, vossa senhoria por aqui. A que devemos essa agradável companhia?

— Vocês. Deixaram. A Hermione. Fugir? - Snape tentava regularizar sua respiração. Isso indica as palavras pontuadas. Nunca sentira tanta raiva na vida. - Como vocês deixaram isso acontecer? - sua voz ficou tão elevada que os pássaros nas árvores fugiram.

Seguiram-se alguns minutos onde Severo ficou explicando a importância daquele plano, e que tudo tinha sido estragado pelos dois imbecis.

— Será que vocês não podem fazer algo direito? Era tão simples! Seus imprestáveis! E agora, o que sugerem que eu faça? Eu deveria matar os dois! Hermione está desaparecida, e eu não tenho a mínima ideia de onde encontrá-la! E meus planos, como eles ficam? Melhor eu ir embora, antes que cometa uma loucura! Vocês estão muito encrencados!

E com isso, voltou-se ao seu cavalo. O que faria agora? Por causa de Draco e Crabbe, precisaria arquitetar todo um novo plano. Sua cabeça estava muito quente para pensar em algo que não fosse acabar com a raça de Draco e Crabbe!

...

— Tenho notado que anda bastante sorridente Ginevra. O que houve?

— Não é nada de mais, minha mãe.

Muriel tinha toda razão. Gina tinha seus motivos para estar alegre. Não estava totalmente alegre. Uma parte de seu corpo estava entorpecida de expectativas e pensamentos felizes, enquanto outra parte estava cheia de remorso, se sentido a pior das pessoas. Um conflito interno.

Enfim, seu coração tinha achado aquela pessoa que seria capaz de arrancar suspiros apaixonados dela. Que a faria viver os melhores anos de sua vida. Que a faria feliz por toda a eternidade. Em resumo, a pessoa de seus sonhos. Tudo perfeito até então. O problema é que essa pessoa não podia ficar com ela, pois estava noivo de outra. E essa "outra" era o que a fazia se sentir mal. Ela estava perdidamente apaixonada por ninguém mais ninguém menos que Harry Potter. Mas Harry tinha sido tão... Compreensivo com ela... E ele também parecia nutrir sentimentos por ela. Eles se olhavam de uma maneira diferente, passavam horas juntos, e ninguém via nada de mal nisto.

Em uma recente conversa, Gina confessara ao moreno que sentia algo diferente quando estava ao seu lado, e que isso não era bom. Harry disse que sentia coisas parecidas, e que estava confuso, mas tudo ficaria bem no final. Eles conseguiam viver em harmonia, e pareciam um casal. Gina não queria desapontar ninguém, e muito menos se machucar, porque estaria a viver um romance impossível. Temia pelo o que a prima pensaria, afinal, ela era a noiva de Harry.

— Ah, Hermione, seria tudo tão mais fácil se você estivesse aqui...

Gina não sabia, mas Hermione nem se lembrava de Harry. Estava ocupada demais com um ruivo de sardas e olhos azuis...