Estou numa sala, ela é escura, não tem móveis, não tem portas, apenas um grande espelho e uma janelinha por onde passa uma faixa de luz.

Presa na sala, procuro mor uma saída, sem varinha, não passo pela janela, o chão é de carpete, não há nada oco. Dirijo-me ao espelho. Levo um susto.

Ao olhar minha imagem refletida no espelho percebo que estou diferente mas igual, o formato do meu rosto não mudou, nem as curvas do meu corpo, somente as roupas que marcam e os olhos vermelhos como um par de rubis bem lapidados. Mas tem algo errado, não é a cobra em meu braço, é como se fosse certo ela estar gravada em me braço, como uma tatuagem trouxa.

Não, não é certo comparar algo tão único como algo trouxa. Franzo as sobrancelhas. Desde quando penso assim? Encontro o erro.

Meus olhos, meu sorriso, minha feição, juntos formam uma cara tão cruel – piscicopatica – é como se não me importasse com ninguém. Não me importo, sou melhor que todos.

Acordo.

Estou extremamente assustada, as imagens dos meus últimos dias passam pela minha cabeça como um filme acelerado, tenho vontade de chorar mas me recuso, apenas fracos choram tanto. Não sou fraca, sou melhor que todos.

Arregalo os olhos, estou pensando assim de novo… É por causa da poção? Nunca pensei desse modo antes, eu tenho consiência de que sei mais que quase todos dentro de Hogwarts, até meso de alguns professores mas nunca me achei melhor que eles antes, mesmo sabendo que sou. Mesmo lutando contra as lágrimas não consegui impedi-las, quer dizer que vou me tornar uma pessoa assim? Cruel, mesquinha, esnobe… Eu não quero ser assim, eu sou Hermione, quero continuar sendo Hermione, apenas numa versão uma versão melhorada.

Suspiro e me levanto, ainda estou no quarto estranho, na mansão estranha, no lugar estranho. O quarto tem três portas, uma delas obviamente vai dar num corredor, ao abrir uma das que se encontram em frente a cama realmente me surpreendo. É um closet cheio de roupas e jóias (jóias mesmo, não bijuterias), observando melhor quase todas as roupas são pretas, a maioria vestidos e todos do meu tamanho, ou seja, todas essas roupas são pra mim.

A outra porta dá num banheiro enorme, uma banheira funda com várias torneiras, uma pia e um grande espelho levemente inclinado para reflectir o corpo inteiro a partir de certa distância. Tirei meu uniforme surrado e abri todas as torneiras para encher mais rápido, assim que encheu pulei duma vez  e logo fui envolvida com o aroma doce dos vapores d’água. É relaxante, lavei meu cabelo com um xampú que estava na borda e só saí da água quando meus dedos começaram a enrugar. Enrolei-me numa toalha que apareceu e voltei para o quarto.

Tenho que usar uma das roupas do coset mas antes de eu alcançar a maçaneta a porta é aberta, por ela passa um Professor Snape com sua capa flutuando atras. Ao me ver ele arregala os olhos e cora. Oh Meu Merlin! Acabei de ver o morcegão das masmorras com a cara totalmente vermelha, teria rido se o motivo dele estar assim não fosse eu.

Senti meu rosto esquentar, entrei o mais rápido possível no closet e tranquei a porta. Meu professor de poções acabou de me ver seminua, eu nunca mais vou conseguir olhar na cara dele!

Aproveitei para escolher uma roupa e torcer para quando sair não dar de cara com ele.

∞-∞-∞

Após a reunião com o Lord, Snape permaneceu na sala, não havia recebido ordens de se retirar, então ficaria lá até ter certeza de que poderia se retirar. Passaram-se horas, eventualmente levantava-se e andava em círculos para não ficar com as pernas dormentes.

Já era quase seis da manha quando alguém atravessou a porta novamente, Voldemort em pessoa estava diante dele, então ele soube que teria mais uma longa reunião particular…

∞-∞-∞

— Perdoe-me Milady — a voz de Snape chegou a meus ouvidos  quando abri a porta. É ele ainda estava lá, só que agora sentado numa das poltronas olhando fixadamente qualquer ponto que não fosse na direcção que eu estava. — Devia ter insistido mais batendo na porta antes de entrar.

— Tudo bem — digo, não estava tudo bem mais não ia criar um escândalo agora. Ele é a pessoa mais próxima de ter confiança nesse lugar, tenho que acreditar que ele pode me ajudar. Por algum motivo ele se encontra extremamente desconfortável, será porque ele me humilhou por tantos anos em suas aulas e agora tem receio de eu fazer algo contra ele sabendo que sou filha daquele que ele colocou acima de si próprio, ou porque quando me viu “levantou a barraca”? Balanço a cabeça, realmente não quero saber.

— O Lord me pediu para que a levasse ao encontro dele — não é como se eu tivesse a escolha de não ir. — Vamos almoçar.

— Ok — Ele se virou para me encarar surpreso, não imaginava que eu fosse aceitar tudo tão facilmente, rapidamente escondendo isso em seu usual tom frio dirigiu-se a porta:

— Siga-me