Heidor piscou e voltou a montar corretamente sobre o cavalo, partindo aos galopes na frente de Reyna.

Então fora ele o tempo todo. Ele a estava ajudando da maneira que podia. Ele provavelmente sabia o que ela queria (que passava bem longe de ser esposa de Octavian), e provavelmente também sabia o que realmente havia acontecido aquela noite.

Reyna se perdeu em seus pensamentos e logo já estava dentro dos limites do castelo, onde Heidor continuaria pela noite inteira. Cavalgou até o estábulo e lá deixou seu cavalo; e depois se dirigiu com passos rápidos até o interior do castelo, sem saber o que teria de enfrentar. Subiu as escadas tentando fazer o mínimo barulho possível, e mesmo assim seus passos ecoavam levemente nos corredores que a levavam até seu quarto.

Entrou no quarto silenciosamente e se deitou, sem se importar com suas vestes de dormir. Octavian já dormia (o que foi aliviante para Reyna), então não houveram muitos problemas.

Seus sonhos foram conturbados, com visões de guerras, abusos, punições e outras coisas não muito melhores. Mas o último do qual conseguia se lembrar era na verdade um flashback de seu primeiro encontro com Jason.

Quando acordou no dia seguinte, encontrou-se sozinha no quarto. Nem sinal de Octavian. Parecia sorte demais, e ao mesmo tempo um grande alívio. Colocou novas roupas e desceu, e logo sua criada - uma jovem chamada Piper, de cabelos castanhos e lisos e olhos que pareciam mudar de cor dependendo da iluminação - a avisou: Octavian havia saído em uma pequena viagem para ajudar seu pai a resolver certos problemas do reino (na verdade, o rei, pai de Octavian, parecia "ocupado" demais para cuidar de seus negócios e os deixou na mão de seu filho, que recebeu o encargo e a chance de exercer poder com muito prazer e honra). E ele também havia deixado um aviso: Quando ele voltasse, Reyna aprenderia a se comportar.

Reyna agradeceu Piper - que, todavia, parecia 'gostar'  de Octavian tanto quanto ela - e foi até o salão para fazer sua refeição matutina. As palavras ecoavam em sua mente, a deixando ansiosa. Ao mesmo tempo que Reyna sentia ódio e raiva de Octavian, ele também a amedrontava. Talvez não ele em si, mas o que ele poderia fazer. Ela tentou não mais pensar nisso - teria de estar preparada para qualquer coisa, mas medo não ajudaria.

Quando a tarde já caía, Reyna lembrou-se da promessa que havia feito a Jason. Voltariam a se ver. Agora, ela tinha aquela oportunidade - fugir com menos riscos de ser vista. E foi isso que ela fez. Naquele dia e nos outros.

Mesmo com tantos compromissos e conselhos os quais Reyna era obrigada a frequentar, qualquer oportunidade para sair daquele local lhe era válida. Mesmo sem Octavian, as pessoas continuavam lhe dando ordens e mais ordens, lhe dizendo como deveria se comportar, se vestir, comandar, como deveria dar cada passo de sua vida. Muitas das coisas e decisões não pareciam justas, não pareciam corretas. Haviam truques injustos e desnecessários; e toda vez que ela expressava sua opinião, era tratada friamente. "Você deveria saber, queridinha", lhe diziam, "Justiça e soberania são assim".

Saía sem que ninguém soubesse para onde ia, só dizia para as pessoas nas que confiaria sua vida - como Heidor e Piper. E para eles, contava a verdade - ou talvez a parte da verdade que ela mesma se permitia a contar.

Dia após dia, ficava cada vez mais próxima de Jason. Levava para ele alimento e vestimentas, evitando que ele tivesse de roubar e se meter em perigos maiores. Jason a ajudava, a aconselhava, a acalmava.

Semanas se passaram na mesma rotina. Octavian (abençoada seja a pessoa que estivesse o mantendo distante, Reyna pensava) ainda não havia voltado, e Reyna não se incomodava com isso. Estava tendo mais tempo com Jason e desenvolvendo sentimentos por ele. Sentimentos fortes. Amor.

Aquele dia em especial fora o mais ocupado, e quando Reyna finalmente pôde sair e ir ao encontro de Jason, sua cabeça doía. O encontrou no mesmo lugar daquela madrugada, porém em um canto mais escondido, e ele a abraçou ao vê-la. Seus sentimentos por ela não ficavam muito atrás.

Eles comeram e conversaram, até um momento em que tudo que restou foi o silêncio e o cantar dos pássaros, além dos ruídos ao longe.

Jason aproximou-se de Reyna e inclinou-se, juntando sua testa com a dela. Parecia loucura e a maior inflição da lei que ele poderia cometer, mas já deixara de ligar há tempos. Reyna parecia tão propensa a se meter em perigos quanto ele.

Então, aproximou-se mais e a beijou.