Ela. Jason sabia quem eraela. Reyna. O homem falava de Reyna, sem dúvida. Agora ele entendia a sensação de alerta e perigo que vinha sentindo nos últimos tempos - houvesse ou não uma guerra, Reyna seria atacada por um (se não vários - Jason sentia que aquele comandante, fosse lá o que fosse, não havia revelado todo seu plano em voz alta) homem mais experiente, mais velho e aparentemente mais cruel que Octavian. E o que ela poderia fazer para se defender? Quem poderia protegê-la iria estar exilado ou morto àquela altura, e mesmo que Reyna fosse uma guerreira, ela tinha poucas chances contra praticamente um exército inteiro.

Os homens continuaram cavalgando e discutindo sobre outros assuntos que pareciam menos importantes, e logo desapareceram de vista. Se dirigiam para o castelo, e logo lá estariam. Jason não conseguiria alertar Reyna até lá. Poderia tentar impedi-los e atrasá-los, mas não para sempre.

Mas Jason tentaria.

--x--

Reyna sentou-se sobre a cama, trêmula. Acabara de ter um pesadelo, um que parecera mais real do que qualquer outro. Poucas cenas eram claras em sua mente - a maior parte era apenas flashs turvos e distantes, como se durante o sonho ela estivesse presa e tentando não cair inconsciente enquanto ouvia e via uma batalha cruel. Lembrava-se de sangue sendo espiralado pelo chão. O clangor das espadas e lanças ressoava alto. Homens berravam. Berravam pela fúria que os assomava. Pelo medo de cair. E pela dor excruciante que os tomava enquanto a morte se espreitava até alcançá-los.

Reyna não poderia dizer qual lado estava vencendo e qual estava perdendo. Sua visão estava turva demais e seu corpo queimava. Sentia que algo ou alguém prendia suas mãos e seu tronco - do qual sentia sangue escorrer - e a impedia de se mover.

Os poucos rostos que detectou a incitavam a correr - Jason, sua mãe, seu pai, Piper, Heidor, sua velha 'babá' Teela... todos os quais tinha se apegado tentando batalhar. Tentando sobreviver. Alguns de mãos vazias, outros com armas. Mas logo caiam e desvaneciam diante de seus olhos. E Reyna não poderia fazer nada além de gritar desesperada e tentar alcançá-los, mesmo não conseguindo sair do lugar.

Todas essas cenas ainda estavam frescas em sua memória. Seu coração continuava acelerado. Suas mãos suavam. Ela se sentia passeando rapidamente da realidade para o sonho, como se o que separasse um do outro fosse uma fina linha que agora tremeluzia incerta. No desespero de qual dos dois aquela linha deixaria Reyna?

Respirou fundo várias vezes, até se sentir estabilizada novamente. Uma última cena lhe veio em mente - o mar tomando todo o reino, o afundando em suas águas. Mas o mar estava a quilômetros dali. Todavia... era apenas um sonho, não era?

Reyna ouviu sons na porta -toc,toc,toc.

- Entre. - Falou com a voz trêmula.

Piper entrou no quarto - mesmo com as roupas simplórias e com não muitas condições, ela sempre conservava uma beleza natural... e umtimingperfeito - e se sentou ao lado de Reyna.

- O que houve? - Perguntou. - A ouvi gritar algum tempo atrás, mas sua mãe estava falando comigo e não me deixou vir antes.

- Apenas... tive um pesadelo. - Reyna respondeu. - Mas são apenas sonhos, não são?

- Talvez sim, talvez não. - Piper respondeu. - Alguns dizem que sonhos são previsões do que irá acontecer. Outros dizem que sonhos bons são o que esperamos que aconteça, e sonhos ruins representam nossos maiores medos. E ainda há aqueles que dizem que sonhos representam alguma situação que vai acontecer de maneira indireta, e os bons dizem o que queremos que aconteça durante a situação, os ruins... aquilo que tememos que aconteça. Se algum deles está certo, não sei dizer. Creio que falam apenas dos grandes sonhos, e não dos relances menores. Mas não se preocupe com isso agora.

- Mas pareceu tão real... - Reyna não conseguia se livrar da sensação de que algo ruim aconteceria em breve. Continuava trêmula e suas mãos ainda soavam.

E então... dor. Uma forte dor em sua barriga. Ela não sabia o que estava acontecendo, e tentou disfaçar, porém a dor aumentou rapidamente até começar a se tornar insuportável. Ouviu Piper chamá-la, mas qualquer som lhe parecia distante. E, diferentemente do sonho, não conseguiu resistir. Sua consciência se esvaiu.