- Sabe o que eu não entendo, Megurine-san?

- O que?

- Por que o Kamui-kun te conta essas coisas, se ele sabe que você vai contar para todo mundo?

Estávamos eu, Luka, Miku e Len numa lanchonete. Shion-kun e Kamui-kun também foram, mas estavam resolvendo um problema “deles”.

É o seguinte: lembram quando a Hatsune começou a desconfiar de alguma coisa entre meu irmão e o Kaito? Então, eu tive que pensar rápido e criar “algo” que aproximasse os dois. Aí eu me lembrei do segundo encontro deles, e que meu irmão ficou impressionado com o lançamento de uma nova versão de um jogo, um tal de The King of Fighters... depois, disse para eles fingirem que falavam de algum bônus ou fase secreta desse jogo. Hatsune-san acreditou na hora.

Só que hoje chega o Kamui-kun, sem saber de nada sobre o Len – nem pra falar que era uma nova “amizade” pro Gakupo, Shion-kun? – e, do nada, sai da mesa.

Convencemos Kaito a ir falar com ele e agora estamos assim: comentando a vida alheia.

- Não sei. – respondeu Luka-san. – Talvez ele só não conte diretamente para vocês porque eu sou mais próxima a vocês do que ele.

- Hum...

- Mas, e os seus casos amorosos Hatsune-san? – essa era a Luka, uma fofoqueira das mais espertas, sabendo quando deve ficar quieta e se deve ou não falar algo para alguém.

Além de estar entrando no ramo musical, – ela ia gravar uma música para um CD de jovens talentos. – tinha peitos grandes, – já eu, sou uma tábua de passar roupa. – era alta – para os meus padrões pelo menos. – e sabia falar inglês fluentemente.

Traduzindo: eu era, tipo, fã dela. Uma pena ela não ser fujoshi como eu...

- Bem... – Miku corou. – ninguém especial, na verdade.

- Soube de certos rumores...

- Você acha mesmo, Megurine-san? A Hatsune atraindo um homem?

- Não sei. – respondeu ela, ficando “em cima do muro”. – Mas que eu ouvi rumores, eu ouvi.

O assunto acabou por não continuar.

Fiquei por “brisar” até fixar meu olhar em Len.

Ele estava abatido, dava para perceber: mantinha o olhar distante, com a cabeça baixa e os dedos incessantes.

- Kagamine-kun, está tudo bem? – Luka perguntou isso sério.

- Tá... – claro que ele não estava bem. E com uma resposta vaga desse jeito, ninguém engoliria a afirmativa.

- É por causa do Shion-kun e do Kamui-kun?

- Hatsune-san! – exclamei.

- Calma! Eu só queria saber...

- É... – disse ele.

O coitado estava realmente preocupado. Nem se importou em esconder para Luka e, principalmente, para Miku. Sorte que, aparentemente, nenhuma das duas suspeitou.

- Já disse para relaxar... – ela bateu levemente nas costas dele. – Shion-kun foi resolver as coisas. Isso se é que tem algum problema...

- Meu irmão não tem jeito mesmo... – disse, num suspiro.

- Ele já vai voltar, tá? – Luka disse isso bagunçando o cabelo dele, sem perceber o sentido em suas palavras.

- Tá...

Ele iria ficar assim até Gakupo e Kaito voltarem...

♥

Eu fui atrás de Gakupo meio que contra minha própria vontade. Mas, eu não entendi direito o que aconteceu. Foi muito rápido...

Ele deveria estar no banheiro. Não teria outro lugar para onde ele poderia ir. Isso, é claro, se ele não tivesse saído da loja.

Antes mesmo de começar a refletir sobre essa possibilidade, o avistei, conversando com uma garçonete de cabelos verdes.

- Mas, como vão as coisas? – conseguia ouvi-los falando.

- Tudo normal. E você?

Decidi esperar o fim daquela conversa para falar com ele.

- Na mesma.

- Mas, faz tempo que não te vejo...

- A vida ficou um pouco mais, então tive que me mudar para cá.

- Aconteceu alguma coisa?

- Nada demais. Eu só queria mudar de ares...

- Gumi-san, – ele estava sério. Muito sério. – aconteceu alguma coisa?

Não pude ver o que ela fez com o rosto. Porém, ele a abraçou fortemente depois.

- Não se preocupe, Gumi-san, vai dar tudo certo.

Quem era essa tal de “Gumi-san”? Nunca tinha ouvido falar nela. Uma espécie de ciúmes tomou conta de mim, não porque uma garota que nunca vira falar conversava com ele, mas, sim, porque ele jamais mencionara tal garota. E parecia que aqueles dois eram amigos de longa data.

- Sabe, às vezes, eu não sei se fiz a coisa certa.

Ele a soltou.

- Qualquer coisa que você precisar me avise, tá bom?

- Tá sim. – ela também balançou a cabeça para confirmar. – Mas, como tá sua faculdade? Já se tornou um grande artista?

Gakupo deu um pequeno risinho.

- Não é fácil. Mas eu tô me virando.

Os dois ficaram quietos por uns dois minutos.

- Você tem meu número de celular, Gumi-san? – ela pegou o aparelho do bolso e conferiu se tinha.

- Putz! – exclamou. – Não tenho.

- Então me dá aqui. – ele pega o celular da mão dela e deve ter, provavelmente, gravado seu número na agenda. – Sua tonta! – disse ele, de forma carinhosa. – o que me irritou muito. – Como você vai me avisar sem poder me ligar?

- Foi mal! – respondeu, dando risinhos.

- Gumi-san! – gritou alguém do caixa. – Você não vai pegar os pedidos da mesa quatro?

- Já vou!

- Então, tá... – suspirou Gakupo. – Tchau, Gumi-san.

Ela já estava saindo quando ele disse isso. Mas, mesmo assim, respondeu, acenando com a mão direita:

- Até mais, nii-chan!

Nii-chan?! Agora era a gota d’água!

- Posso saber quem é a garota de cabelos verdes, Gakupo Kamui?! – disse, depois que ela se afastou o suficiente para não poder me ouvir.