Daisuki escrita por AC3


Capítulo 1
Eu... gosto de... você...




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— Eu... gosto... de você...

Era uma tarde de inverno. Ele estava de cabeça baixa, tentando esconder o rosto completamente vermelho. Eu estava em sua frente, sem entender o que estava acontecendo.

Estávamos abaixo das velhas árvores da escola dele, nos protegendo do sol que, naquele dia, não esquentava. Um fino vento batia em nossos rostos e agitava as folhas, fazendo algumas caírem.

As aulas haviam acabado há meia hora, e eu apenas estava ali esperando Miku e os outros que, por sinal, não me tinham visto. Na verdade, ninguém na escola nos via, por estarmos nos fundos.

— Eu... sei... que você...

O nome dele era Len. Um amigo. Não, um colega. Andávamos no mesmo grupo, mas não nos falávamos muito. Na verdade, eu nem notava-o direito até aquele dia.

— Tá... namorando... mas...

Sim, eu namorava. E por isso eu não entendia. Ele sabia que eu namorava. Por que resolver se declarar agora? Era óbvio que eu iria dizer “não, não gosto de você do mesmo jeito”. Só que algo me impedia.

— Eu queria... contar... logo...

Talvez ele soubesse que eu “namorava” apenas para passar o tempo. O termo certo era que eu estava “pegando” alguém. Há uns três dias, aliás.

— Antes... que...

Mas ninguém sabia. Todas as pessoas que eu “pegava” não estudavam com meus amigos. Quando eu falava delas, todos que ouviam acreditaram que era uma pessoa só.

Não vi razão para consertar isso.

— Você... percebesse...

O que pensariam se eu começasse a sair com ele? Não poderia contar para meus amigos. Nem para os meus conhecidos. Seria um segredo que seu teria que guardar. Será que ele já tinha contado alguma coisa para alguém? Será que esse segredo ficaria guardado.

— Alguma... coisa...

E, o pior era que eu não sabia dizer se ele era bonito. Era estranho para mim pensar na beleza.

Só que feio ele não era.

— Des... des... culpa.

Ele se virou e já ia correr. Nem se lembrava da própria mochila no chão.

Queria deixa-lo ir. Queria lembrar-me dos problemas que ele poderia me causar. Queria virar as costas e não vê-lo mais. Queria muitas coisas, mas não consegui nenhuma.

Sabia que, no dia seguinte, ele me diria “oi” com um sorriso e falaria que foi tudo uma brincadeira. Sabia, por que já havia passado por isso.

Não iria deixar acontecer a mesma coisa com ele.

Segurei sua mão e o puxei para mim. Ele era mais baixo e estava um pouco encurvado, então, sua cabeça batia em meus ombros.

Abraçei-o.

— Por... por quê?

— Por que o quê? – disse, com um sorriso compreensivo.

— Você... não... gosta... de mim...

— Claro que gosto.

— Mas... você... não gosta... mesmo... de mim...

Fiquei apreensivo. Eu não gostava dele do jeito que ele gostava de mim. Eu o tinha abraçado. Eu o tinha abraçado! Não poderia voltar atrás agora! Droga!

Ele percebeu meu silêncio e gritou, saindo do meu abraço:

— Eu sei qual é a sua resposta! Por que não fala logo?! É só dizer não e pronto!

Pela primeira vez naquela tarde, ele me fitou nos olhos. Enfim pude ver seu rosto completamente vermelho, com infinitas lágrimas que não paravam de surgir em seus olhos.

Fiquei espantado com a mudança de atitude dele. Quase dei um passo para trás, ou seja, quase o fiz correr para longe dali. Quase...

— Eu... – tentei dizer.

Agora era a minha vez de não ter palavras.

Ele me olhava com uma miscelânea de emoções. Parecia pedir para que eu responder logo, assim ele poderia ir embora e desistir de uma vez.

Pensei por algum tempo. Queria que ninguém saísse ferido, mas já via que ia ser impossível. Ou eu não gostava dele e ele seria desiludido, ou eu gostava dele, tendo que sustentar uma mentira.

E mentir sobre essas coisas sempre traz problemas.

— Tchau! – ele disse.

Seus olhos já estavam secos. E a expressão, fechada.

Inspirei fundo e falei:

— Eu não gosto de você, – ele quase mostrou um sorriso por eu finalmente dizer alguma coisa. – ou melhor, eu ainda não gosto de você.

Ele ficou chocado.

— Como?!

— Você disse que gosta de mim porque você fez um esforço para gostar de mim, não posso negar sua declaração sem tentar fazer o mesmo esforço.

O rosto dele corou, fazendo-o abaixar a cabeça.

— Mas você...

— Eu pensei em possibilidades do que poderia ocorrer entre nós dois e, em nenhuma delas, eu via esse relacionamento dando certo.

Ele parecia praguejar para si mesmo. Como se estivesse se culpando pela situação em que se encontrava.

— Porém, não posso presumir todo o esforço que você teve para gostar de alguém como eu. Se fizesse isso, seria como se eu menosprezasse você.

Pareceu-me que ele sorriu ao ouvir isso.

— Por isso, eu não vou tirar conclusões agora. Eu vou fazer o mesmo esforço que você fez.

“Eu vou tentar gostar de você”.

Só depois que percebi a ambiguidade no que havia falado. Parecia que eu estava debochando dos sentimentos dele. Eu já ia voltar a falar...

— E a sua namorada? – perguntou ele, me interrompendo.

Foi estranha a volta dele para este assunto. Nem me lembrava desse detalhe. E agora eu tinha que me explicar de alguma forma.

— A minha namora... bem... – eu estava meio sem graça, admito. – ela não é minha namora mesmo. Eu só “fiquei” com ela.

Não sei se fui entendido, mas ele levantou a cabeça, sorriu para mim, novamente com lágrimas nos olhos e disse:

— Kaito...

Eu o abracei e ele me retribuiu o abraço.

— Então, você quer sair comigo? – perguntei.

Ele apenas me olhou e afirmou com a cabeça.

Eu teria de tentar vê-lo de forma especial. Teria que esquecer alguns de meus preconceitos. Teria de trata-lo com carinho e afeição. Teria de esconder tudo entre nós de todos.

Ia ser muito difícil...


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou muito ruim, mas comente! Critique, dê sugestões, opiniões...
Espero que se divirtam lendo esta fic!!!