Outros Universos, Outras Realidades escrita por Cíntia


Capítulo 16
Medo




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"–Estou com medo.

– Os sentimentos dão medo. E às vezes machucam. Se você não sente dor, não sentirá nada."

Gente como a gente

POV Walter

Tenho vivido nesse mundo reduzido, em cadeiras de rodas com dificuldade de me mover e me lembrar de detalhes, mas até que isso tem suas vantagens. Meu filho Peter está de volta. Eu e ele evitamos falar sobre os eventos que nos separaram, mas começo a pensar que ele já não tem tanto rancor, e quem sabe me admira e gosta de mim. E de qualquer forma tem sido bem paciente com seu velho pai.

Estou pensando em fazer um pudim especial, o seu preferido de quando era criança. Ou quem sabe possa dar uma incrementada na receita, acho que ele ficaria extremamente feliz. Meus ajudantes Asteróide e Jonas podem me auxiliar nisso.

Eles me trazem os ingredientes e eu vou colocando tudo. Qual é o modo de fazer mesmo? Agora devo colocar em banho Maria? Ahh, o que isso importa, vai ficar tudo ótimo. Asteróide parece não acreditar no que estou fazendo, mas me passa as coisas sem pestanejar. Jonas é mais calado, gosta de observar, não sei, ele nunca fez nada errado comigo, mas as vezes, acho que ele me olha de maneira estranha. Será que há algum problema com o rapaz?

Está tudo resolvido, coloquei no forno. Agora resta esperar duas horas, ou serão uma? Hummm. Meus ajudantes arrumam a bagunça enquanto espero tudo ficar pronto. Nossa, como seria bom fazer algo como dissecar um animal ou um corpo humano enquanto espero. Mas eles não me deixam fazer nada do tipo. Ou quem sabe fazer um híbrido. Acho que um animal formado por DNA de cobra com cachorro daria um belo animal de estimação. Já pensou que gracinha, uma cobra com pêlos de poodle antialérgico ou um cachorrinho cheio de escamas? Adorável! Vou investir nisso na minha próxima pesquisa.

De repente, vejo Asteróide correndo até o forno. Que inconveniente, ela não sabe que ainda não está pronto? Vai estragar a minha receita:

– O que você está fazendo, Asteróide?

– Nada , só tirando o seu carvão do fogo – comecei a sentir um cheiro forte de queimado e vi o meu pudim praticamente carbonizado nas mãos dela

– A culpa é sua, devia ter tirando o meu pudim do fogo antes... E agora, o Peter não poderá comer isso- falei um pouco alterado, mas eu não estava com raiva de verdade

– Sinto muito, Walter. Mas só segui as suas instruções!

– Qual é o problema pessoal? – Peter perguntou aparecendo na sala

– Estava tentando impedir o Walter de colocar fogo na casa- respondeu Asteróide

– E parece que foi bem sucedida nisso, apesar de não ter conseguido salvar esse bolo- ele falou sorridente, parecia feliz, tenho reparado que ele está mais contente nos últimos dias

– Peter, que surpresa! - vejo Anna atrás dele e continuo – Ah, você também, Anna. Adoro suas visitas.

– Eu estou hospedada aqui, Walter. Sem contar que eu trabalho para você. Então não podemos dizer que é uma visita! – a graciosa Anna me responde

– Ahhh, adoro a sua presença. Por que não vamos à sala enquanto Asteróide e Jonas arrumam aqui? O cheiro não está muito agradável!

– Claro, Walter – responde Anna

Eu, Peter e Anna fomos até a sala do piano. Ela é a namorada de Peter, e acho que parte da felicidade dele nos últimos tempos se deve a ela. Os dois tentam disfarçar, pois pensam que sou tolo, mas não conseguem. Eu vejo o olhar deles. Como são bobos. Achavam que eu não notaria isso? Adoro a companhia dela, ela é um pouco tímida, mas é inteligente e deixa meu filho muito feliz. Que pai não gostaria disso? Penso em como será a nossa convivência depois do casamento dos dois.

– Então soube que Peter deu um show em Nova York? – começo repassando umas conversas que ouvi, ambos parecem assustados

– Como assim? – ele pergunta confuso

– Você tocando e cantando na festa. Ou fez ou outro show lá?

– Ahh, sim. As pessoas gostaram, não é? – ele falou um pouco tímido

– O que você achou do nosso Peter, Anna? - perguntei

– Peter foi ótimo. Parecia que nasceu para cantar e tocar guitarra.

– Isso é porque você não o viu tocando piano!- falei enquanto Peter sorria

– Piano? Dessa eu não sabia! – ela falou

– É exagero do Walter – Peter tentava se menosprezar

– Exagero, nada. Desde criança, eu ficava emocionado quando ouvia Peter tocar piano. È um dos pianistas mais talentosos que já ouvi. E eu adoro música. Nem sei por que ele trocou o piano pela guitarra.

– É verdade, Peter? Você toca piano?- perguntou Anna animada

– Tem um exagero do Walter, mas toco sim – ele ria para ela

–Vai filho, mostra para ela. As mulheres gostam disso, não? Ela não vai resistir – falei olhando para Anna

– Walter! – ele falou ensaiando uma entonação de raiva, mas sabia que era só pose

– Eu gostaria, Peter – ela o incentivava – E nem precisamos mudar de sala. –se referia ao piano que ficava ali e há algum tempo parecia somente um enfeite

– Ele está afinado, Walter? – ele me perguntou

– Claro, sempre mando afinar. Nunca perdi a esperança que você voltasse a tocar nele!

Peter sentou a frente do piano e começou a tocar, o som tomava conta da casa. E uma sensação doce me preenchia, há muito tempo aquela melodia não ecoava pela mansão. Ele tocava a Rapsódia de Paganini, uma música romântica para sua garota. Ela o olhava encantada. E ele retribuía os olhares. Era tão bonito ver os dois assim.

Após a música, notei que o telefone da casa tocava. Mas não pretendia atendê-lo. Peter se levantou e começou a falar. Que pena, aquele som irritante estragara a apresentação do meu garoto. Em pouco tempo, ele passou o aparelho para mim:

– Querem falar comigo? – perguntei surpreso, devido ao meu estado, há algum tempo as pessoas tinham parado de me ligar

– Sim. È Carla Warren, ela parece nervosa. – nem me lembrava da última vez que tinha conversado com ela, mas se estava me ligando devia ser importante, ela já começou falando descompassada

– Sinto muito, Walter. Eu tentei resistir, mas eram dois homens que pareciam dominar a minha mente, e me faziam sentir tão mal.

– Do que você está falando, Carla? –ela estava muito confusa, até lembrava eu mesmo nos últimos tempos

– Dois homens vieram aqui. Queriam saber coisas da época em que nós trabalhávamos juntos. Pareciam adivinhar o que eu pensava, e a presença deles me fazia sentir tão mal. Acabei falando o que não devia, eles acabaram descobrindo coisas que prometi não contar a ninguém. Sinto muito, Walter, eu não consegui resistir- ela parecia desesperada

– O que eles descobriram?

– Sobre a Janela. Eu falei sobre ela!

Um medo tomou conta de mm. Isso não podia acontecer. Peter não podia saber sobre a janela, ainda mais agora que estávamos bem. Ele não podia saber das tramas em que tinha me metido, e das fraudes que havia participado. Ele era um homem bom, íntegro. Não iria me perdoar. E eu não agüentaria vê-lo indo embora novamente.


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