Até agora, nada tinha dado errado na minha vida, mas não tinha como ser tudo perfeito, não é mesmo? Aliás, acho que esse negócio de perfeição é algo tão inalcançável, acho até que não existe. Agora vou parar de enrolar e contar o problema que existe em mim.

Era uma sexta-feira comum. Acordei e procurei as roupas que tinha separado para ir à escola (minha mãe tinha um combinado meio estranho comigo: toda noite antes de dormir eu tinha que separar a roupa que eu ia vestir no dia seguinte para ir para a escola). Me vesti e fui até a cozinha, tomei um cappuccino rapidamente, peguei minha mochila e sai, andando apressadamente em direção à escola, porque estava meio atrasada. Como de costume, encontrei minha prima, Hannah, ela estudava na mesma escola que eu e era a melhor amiga que alguém poderia ter. Conversamos, enquanto caminhávamos até a escola.

Chegando na escola, encontrei Brandon, meu namorado, ele era o cara mais perfeito do mundo (quer dizer, era o que eu achava na época) e ele era o garoto mas cobiçado da escola. Eu, Hannah e Brandon nos dirigimos para a sala de aula e ficamos sentadas lado a lado, apesar de Hannah não ir muito com a cara do meu namorado, conversando, esperando o início das aulas. As aulas passaram se arrastando, mas finalmente chegou a hora do intervalo.

–Caramba! Ainda faltam quatros horas para eu poder sair desse purgatório.- comentou Hannah em tom de brincadeira.

–Pois é. Se eu for eleita presidente da classe...- na época eu estava concorrendo para presidente de classe.

–Iih. Vai começar o discurso.- interrompeu Hannah. Fiz uma careta para ela e continuamos a conversar.

O sinal tocou novamente e fomos obrigados a voltar para sala, para mais horas intermináveis de aulas tediosas. Tic-toc... tic-toc... Contava os segundos para poder voltar para casa. Finalmente o sinal bateu pela ultima vez naquele dia e fui andando com Hannah para minha casa.

Passei a tarde com minha prima, fizemos os deveres de casa, assistimos nossas séries preferidas na TV... Hannah era como uma irmã para mim, sempre foi a pessoa que mais me ajudou, ela ia para minha casa praticamente todas as tardes depois da escola, era minha melhor e mais verdadeira amiga (mas, no final, percebi que era a única).

Estava anoitecendo e Hannah teve que ir para casa, me despedi dela e fui para meu quarto, peguei um bloquinho de papel que sempre ficava sobre minha mesinha de cabeceira e comecei a folheá-lo, observando meus esboços. Eu adorava desenhar, principalmente roupas, tinha o sonho de me tornar estilista e esse sonho tinha tudo para dar certo, a não ser por um pequeno detalhe...

Ouvi o barulho de chaves e em seguida alguém entrou em casa, passinhos curtos e apressados, com certeza era minha mãe.

–Ellie! Cheguei querida. Fez os deveres?-se ela não tivesse perguntado isso, com certeza não seria minha mãe.

–Olá para você também mãe.- disse sarcasticamente- E, sim, fiz os deveres.

–Vou preparar o jantar, quando estiver pronto eu te chamo.- disse ela, chegando à porta do meu quarto.

Fiquei esperando no meu quarto, rabiscando alguns modelos no meu bloquinho. Alguns minutos depois, ouvi outra pessoa entrando em casa, meu pai. Ouvi meus pais se cumprimentando, depois seu tom de voz se abaixou, pareciam estar discutindo algo que ninguém mais podia saber. Após algum tempo ouvi batidas na porta do meu quarto, meus pais entraram com uma expressão pesarosa.

–Ellie, nós... precisamos falar com...você.- disse meu pai, olhando para minha mãe em seguida, como se quisesse que ela falasse.

–Bem... -minha mãe começou a falar- Quando você tinha uns cinco aninhos... um médico diagnosticou que você tinha...

–Uma doença degenerativa incurável?- perguntei com ar divertido, interrompendo.

–Não!- minha mãe pareceu aflita só de pensar nisso, e eu dei um suspiro baixo- Foi diagnosticado que você tem... você tem...

–Fala mãe!-disse, irritada.

–Você tem daltonismo.