Cartas De George Weasley escrita por they call me hell


Capítulo 10
Carta Final


Notas iniciais do capítulo

Aqui chegamos ao fim, espero que tenha gostado. ♥



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— 10 —ᆤᆤᆤᆤ

Fred,

Hoje saí da loja mais cedo e me vi diante de inúmeros pergaminhos e penas. Eles não tinham um motivo específico para estarem ali, além da minha usual bagunça, mas atraíram minha atenção de um modo diferente. Foi como se tivessem sussurrado para mim: "Ei, sente aqui. Você precisa escrever".

Peço desculpas por ter permitido que tantos anos se passassem sem que eu rabiscasse nada nessas folhas. Essas cartas a você começaram como um conselho de Hermione, um conselho no qual eu não acreditei inicialmente, mas hoje sei que cada linha que escrevi me ajudou a superar a sua perda, de algum modo. E falando em superação, tenho que citar que é algo muito complicado de descrever.

Complicado porque não deixei de sentir a sua falta todos os dias, de ficar triste em alguns momentos. Às vezes ainda acordo pela manhã e encaro meu rosto no espelho por longos minutos, vendo você em mim. Também me sento no quarto dos meus filhos ocasionalmente e me lembro de quando aquele era o seu quarto. Você não faz idéia de quantas vezes abri a porta e disse "Ei Fred!", por impulso.

Acho que a superação em si está no modo como passei a ver a sua morte. Antes eu me sentia vazio, morto, egocêntrico por estar vivo enquanto você não estava mais entre nós. Hoje sei que o destino quis assim, infelizmente, e que você morreu por uma causa em que acreditava. É um herói. E eu vivo todos os dias para honrar a sua memória, querendo ser feliz não apenas por mim - mas por você também.

Sabe, as coisas mudaram muito nesses anos em que deixei de escrever. A loja e suas filiais se tornaram muito importantes no mundo bruxo e já não sou capaz de cuidar delas sozinho, então tenho ajudantes que estão fazendo as coisas por mim. Já estou velho. Lembra de quando usamos aquela poção do envelhecimento para trapacear o tri-bruxo? Pois é, estou quase daquele jeito, mas sem toda a barba à la Papai Noel. É engraçado.

Meus filhos já cursaram Hogwarts e, devo dizer orgulhosamente, honraram o sangue que corre pelas nossas veias. Filch pediu para ser afastado de lá graças a eles. Colecionaram tantas suspensões quanto nós dois, acredita? Meus garotos são demais.

A Toca tivera seus dias de glória, recheada de inúmeros novos Weasley. Mamãe chorou de emoção com o nascimento de cada um deles e os amou por igual em todos os momentos, tal como nos amou quando ainda éramos apenas meninos pirracentos.

Nossos irmãos casaram, nossos amigos também. Construíram suas famílias, cada qual ao seu modo, e posso dizer que são muito felizes também. Até Ron arranjou uma namorada, como eu já te contei. Isso foi realmente surpreendente. E falando nessas coisas aleatórias, Gui quebrou a tradição de dar netos ruivos à mamãe, tendo duas filhas loiras como a esposa, Fleur. Também quebrou a tradição de renovar o estoque de Weasleys em Hogwarts, mandando suas filhas para Beauxbatons. Uma chatice.

Quanto a outros acontecimentos mais interessantes - pra mim -, também conto com orgulho extremo que Hermione trabalhou por muitos anos como professora em Hogwarts, até assumir a sucessão da diretoria. Sim, McGonagall escolheu a minha garota para sentar-se na antiga cadeira de Dumbledore. Ela nasceu pra isso, costumo dizer.

Bem, essa foi a nossa vida nesses anos. Mamãe e papai partiram em uma noite de inverno, agasalhados com seus suéteres vermelhos e as pomposas meias listradas que a senhora Weasley tricotava todos os anos. Confesso que odiava aqueles agasalhos e meias, mas hoje sinto falta de ganhar novos todos os anos. Passei a ter grande estima por essas peças desde aquele dia.

Eu havia esquecido de devolver um dos potes em que mamãe me mandara doces e Hermione insistira de todos os modos para que eu o devolvesse imediatamente. Então, vencido, fui. Coloquei o pote em cima da mesa e berrei por mamãe em cada canto da casa, até finalmente chegar ao quarto. No início, achei que eles apenas dormiam. Porém, jamais que ela negligenciaria o chamado de um filho pelo sono.

O pior comprovou-se, com a chegada dos nossos irmãos. E novamente eu voltei à estaca zero, me sentindo completamente desumano. Meus pais também? Eu não merecia ter perdido pessoas tão importantes. Principalmente tão cedo. Porque, por mais que papai e mamãe tivessem chegado aos seus noventa anos, eu adoraria tê-los para sempre. Pais deveriam ser eternos. Aliás, nós deveríamos todos ser eternos, para que não tivéssemos de enfrentar esse tipo de perda, que nos sufoca.

Graças a Hermione, aprendi que devo transformar essa saudade de vocês em alegria de viver, vivendo todos os dias sabendo que fomos felizes juntos. Além de tudo, sempre terei comigo as muitas memórias e bons sentimentos pelo que passou. E, sobre nós - além do laço eterno que teremos como gêmeos -, Fabian e Gideon são muito parecidos conosco. Eles me fazem ver o que nós fomos.

Já estou chorando como um velho bobo, mas me perdoe. Os anos me fizeram ver coisas que eu não achei que suportaria ver e, após uma guerra, me sinto fraco com frequência. Vou deixar você em paz com todas essas baboseiras, não precisa me agradecer.

Até um dia,

George

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George Weasley abaixou o pergaminho em que acabara de escrever e deu uma última olhada nas letras grossas. É, estava bom. O impulso de escrever novamente para Fred, após tantos anos, havia sido algo reconfortante e se sentia feliz por tê-lo feito.

Pensando em cada saudade contada, ele apanhou na escrivaninha diante de si uma foto de todos os Weasley. Uma foto da época de Hogwarts até, quando todos eles viajaram para o Egito juntos. Estavam todos muito engraçados naquela foto, ele pensou, mas o mais importante era que estavam todos juntos.

Quando uma lágrima ameaçou transbordar pelos olhos cansados, George obrigou-se a colocar a carta onde sempre a deixava após escrever. Se sentia um pouco idiota quando fazia isso. Afinal, ele acabara de escrever mais uma carta que jamais seria lida e fizera isso continuamente por anos. Seu nível de sanidade deveria estar mesmo muito baixo.

Levantando-se, ele passou pela cozinha e tomou uma caneca de leite quente, hábito que a mãe o acostumara a ter. Depois, foi silenciosamente até o quarto, onde encontrou Hermione adormecida sobre a cama. Isso o fez sorrir genuinamente e ele não demorou a vestir o pijama e deitar-se com ela, sentindo o usual perfume que ela tinha. Se pudesse escolher como morrer, ele pensou, escolheria aquele mesmo lugar. Era reconfortante demais. Perfeito demais.

Longe dali, no escritório da loja, Fred surgira. Ou o fantasma de Fred, como os vivos preferiam chamar. A questão é que não era a primeira vez que estava ali, por isso logo encontrou a carta deixada pelo irmão no lugar de costume. Sentando-se em sua antiga cadeira no escritório - a qual George nunca mais usara -, leu todo o conteúdo do pergaminho, às vezes até mesmo retomando alguns pontos. Ao terminá-la, sorriu. Seu gêmeo era um bom irmão e Fred sentia muito por o tempo ter sido tão cruel com ele.

Quando ele surgiu novamente no escritório, tendo a mão atada a de Hermione, ambos sorriram. Os olhos de George brilharam como não haviam brilhado em todos esses anos, vendo seu irmão diante de si. Sim, era ele. Agora estavam ambos iguais e - pela primeira vez na vida - ele se sentiu completamente satisfeito.

Hermione lhe lançou um olhar incentivante, soltando-lhe a mão. Haviam vivido juntos e morrido juntos, tal com Arthur e Molly. Havia prova de amor maior que essa? De todo modo, sabia que George esperara por aquele momento durante toda a sua vida. E agora ele chegara. Por mais ansioso que ele estivesse, foi Fred quem se aproximou e o abraçou demoradamente. Havia um laço naquele abraço, o laço de dois irmãos que haviam sido separados pela morte, a morte que agora os unira outra vez.
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F I M


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Notas finais do capítulo

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