Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 9
Capítulo 8




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Sinceramente, acho que nunca rezei tanto para que uma noite acabasse como fiz ontem. As horas se arrastavam dentro daquele lugar imundo e assustador e a cada minuto que passava eu ficava cada vez mais desesperada, querendo saber onde estava Bonnie ou qualquer outra pessoa que fosse capaz de me tirar daquela delegacia. Por sorte, diferente de Chip, eu não havia sido trancafiada numa cela, mas eu passei a noite na delegacia, algemada, sem saber quando iam me colocar, e se iam me colocar, numa igual à dele.

Sim, havíamos sido presos. Jerry avançou em Drew e Chip partiu pra cima dele, pra tentar ajudá-lo. Acontece que Jerry é um pouco lerdo demais e acabou apanhando. Chip, como bom amigo, revidou, dando três socos em Drew, que logo lhe deu três socos também e um chute na canela. Foi aí que eu me intrometi. Peguei meu sapato e comecei a bater em Drew também. Conclusão: dois olhos roxos e um corte profundo na testa. Esse último, cortesia minha. Assim que a briga começou, os capangas dele ligaram correndo pra polícia que chegou rapidamente no local e levou Chip e eu presos por agressão. Para piorar, revistaram Chip e encontraram o canivete que ele havia usado para arrombar a porta. Conclusão: ele também foi preso por invasão de domicílio.

Durante boa parte da noite, eu e Jerry falamos com o delegado, prestando esclarecimentos e tentando explicar tudo. Assim que chegamos, Chip foi mandado pra cela e nem teve direito a uma ligação. Além de estar aflita com a minha situação, eu me preocupava com ele. Não conseguia me acalmar sabendo que ele estava jogado numa cela suja e, provavelmente, cheia de malfeitores. Bonnie chegou algumas horas depois. Ela havia se livrado, pois logo após Drew contar sobre suas aventuras, ela foi embora e quando a polícia chegou lá, ela já não estava mais na festa. Ela também prestou esclarecimentos e explicou que havia sido ela que tinha pedido que Chip arrombasse a porta e ainda contou a parte sobre não ter recebido seu pagamento por sua atuação no vídeo clipe. Nessa, hora, Jerry pediu licença e se retirou da sala. Ele estava realmente se sentindo péssimo depois de ter descoberto que Bonnie, a Bonnie que ele tanto amava, havia deitado com um idiota qualquer.

Ela foi liberada logo depois de seu depoimento. Jerry ficou mais um pouco me fazendo companhia e tentando me acalmar. Ele era realmente um doce e eu percebi o quanto ele estava chateado, mas mesmo assim fazia de tudo pra me fazer sorrir e tentar me convencer de que Chip e eu iríamos sair dessa logo. Durante a noite, fiquei na sala do delegado sendo observada como um animal. Não conseguia pensar mais nada, só em Chip. Como ele podia estar agora, o que estaria sentindo e se estaria pensando em mim ou em nós. Era inevitável, eu havia me apaixonado por ele. Eu sabia disso, só não queria aceitar. Pelo menos não até ele me beijar. Eu sabia que ele sentia o mesmo. Não só o amor, mas também esse medo. Por mais que nosso sentimento fosse verdadeiro, como iríamos fazer aquilo funcionar? Meu futuro era incerto, não sabia por quanto tempo mais meus pais iriam “deixar” eu brincar de viver. Mas naquele momento, isso não me importava. Eu só queria estar com ele.

No dia seguinte, Bonnie apareceu na delegacia por volta das dez horas. Eu estava dormindo sentada no banco da sala do delegado, com minha cabeça encostada no vidro. Acordei com o barulho da porta se abrindo e o delegado entrando. “Acorda, princesa! Você pode ir.”- ele disse soltando as algemas do meu braço. “Como assim?”- eu perguntei com uma voz arrastada. “Pagaram sua fiança.”- assim que ele saiu do meu campo de visão, vi Bonnie pelo vidro. Ela estava sorrindo e com um café na mão. Ela parecia cansada. Ou triste. “Eve, me desculpe por ontem.”- ela disse me abraçando forte. “Tudo bem.”- eu disse enquanto ela me apertava. “Não, não está. Não era assim que as coisas deveriam ter acabado. Mil desculpas.” – ela disse me soltando e me entregando o café. “Bonnie, tudo bem. Sério. Eu me descontrolei ontem à noite.”- eu disse bebendo o café. O café era tudo que eu precisava agora. Ele estava quente e forte, me ajudou a levantar e a colocar a cabeça no lugar. “Vamos, então?”- ela disse me puxando. “Só um minuto, como conseguiu pagar minha fiança?” – eu perguntei parando no primeiro degrau da escadinha da delegacia. “Irmã, não me mate. Mas eu tive que vender seu carro.”- ela disse envergonhada. “Você o que?!”- eu gritei deixando o café cair no chão. “Era a única saída! Ou você preferia ficar na cadeia por mais um tempo?”- ela me encarou. Realmente, ela estava certa. Melhor livre e sem carro do que presidiária com carro.

Andamos até o ponto de ônibus mais próximo em silêncio. Eu estava cansada e não queria falar muito. Bonnie parecia cansada também. Ela tentou esconder os olhos com seus óculos de sol, mas tive a chance de vê-los na delegacia. Ela estava com olheiras profundas, como um urso panda. Fiquei me perguntando se eram olheiras apenas de cansaço ou se ela havia chorado ontem à noite. Entramos no ônibus e, por sorte, ele estava vazio. Foi então que algo veio na minha mente. “Bonnie, e o Chip?!”- eu perguntei me lembrando dele pela primeira vez no dia. Se ela havia pagado a minha fiança, será que tinha pagado a dele também? “O que tem ele?”- ela perguntou. “Por favor, me diga que você também pagou a fiança dele.”- eu disse. “Eve, queria dizer que sim, mas não deu. Não consegui muito pelo carro. E além do mais o caso dele é mais complicado que o seu. Ele foi preso não só por agressão.”- ela disse calmamente. Seu tom era um tanto irritante. “E vamos deixar ele na cadeia?!”- eu gritei. Ela tentou me acalmar e olhou sem graça para as poucas pessoas no ônibus. “Eve, se acalme. Eu já falei com a Ramona. Ela vai cuidar dele, ok?”- Ramona era quase uma mãe para Chip. Ela o acolheu e o ajudou muito assim ele chegou aqui em Los Angeles. Ela sabia como era vir fugindo para Los Angeles. Ela mesma havia feito isso.

Ramona tinha nascido em Minnesota e seu sonho não incluía vir para Los Angeles nem nada. Seu único objetivo na vida era ser bailarina profissional. Só que sua família era muito pobre e não podia arcar com as despesas, mas isso não foi problema. Ela arrumou sapatilhas usadas e treinava sozinha em casa até conseguir uma bolsa pra estudar na melhor escola de balé de sua cidade. Lá ela conseguiu com dezoito anos, uma viagem para Nova York para competir. Foi lá que seus planos começaram a se distorcer; ela conheceu um rapaz dois anos mais velho que ela, também bailarino, com o mesmo sonho e também de Minnesota. Os dois se apaixonaram e começaram a namorar escondido, sempre apoiando um ao outro e sempre tentando driblar seus pais e instrutores de balé. Um dia, ambos receberam uma carta de admissão numa escola de balé russo. O sonho deles estava prestes a se tornar realidade quando uma simples noite mudou tudo. Após a primeira noite dos dois, ela engravidou. Quando a escola de balé descobriu, mandou uma carta a Rússia e explicou tudo. Semanas depois, a resposta da Rússia veio; ela havia perdido a bolsa e os pais a expulsaram de casa. Sem saber o que fazer, Ramona procurou seu namorado, mas ele já havia partido. E como os pais dele nunca souberam de seu namoro, eles não puderam ajudá-la.

Sua única ideia foi pegar o primeiro trem e vir para Califórnia. Chegando aqui, ela sabia que Los Angeles seria uma cidade que poderia a ajudar. Grávida e sozinha, ela se virou como pode. Arrumou três empregos logo de cara e conseguiu um apartamento pequeno, só pra ela e pra criança. Quando o bebê nasceu, ela conheceu uma senhora, dona de uma boate que lhe arrumou um apartamento melhor contanto que ela virasse dançarina. A grana era ótima e ela não tinha como recusar. Ficou três anos lá e depois saiu, não podia continuar sendo uma stripper com uma criança para criar, ele não podia crescer naquele ambiente. Quando se demitiu, já tinha dinheiro suficiente para comprar um apartamento próprio e abrir um pequeno bar, batizado com o nome de uma de suas bandas favoritas. O Poison fez sucesso rápido e Ramona se tornou conhecida por todos que frequentam a Sunser Strip.

Numa noite chuvosa, ela estava saindo do Poison após uma briga com seu filho. Ele não queria assumir posto algum na lanchonete. Acabara de montar uma banda e só pensava em ser músico. Ela fechou as portas do Poison e entrou no carro. As ruas estavam vazias e chuva não parava de cair. Foi então que de repente, um rapaz de mais ou menos 16 anos apareceu no seu caminho. Ela quase o atropelou. Ele estava encharcado e carregava uma bolsa pequena e completamente molhada. Ela não teve outra reação a não ser levá-lo com ela. Ele ficou em sua casa por poucos dias até ela ter a ideia de lhe dar um emprego no Poison. Ele aceitou de cara e ela em pouco tempo arrumou um pequeno apartamento para ele. Não era nada grandioso, mas o aluguel era bom e era perto do trabalho. Ela continuou o ajudando e ele foi retribuindo sendo o melhor funcionário possível. Como seu filho havia recusado o posto, ela não pensou duas vezes e lhe promoveu a gerente. Ela nunca havia tido qualquer problema com ele; ele era seu melhor funcionário. Sempre chegou no horário e cumpria tudo que lhe era pedido. Bem, ela nunca havia tido até agora.



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