Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 6
Capítulo 5




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Acordei na manhã seguinte me sentindo ainda um pouco cansada. Meus pés ainda me matavam por causa das botas e, apesar de ter dormido bem, estava um pouco dolorida porque Bonnie simplesmente se mexeu na cama a noite inteira. Quando acordei, ela já havia levantado e estava no balcão que dividia a sala e a cozinha, tomando uma xícara de café e lendo jornal. Levantei e andei até ela. “Ai, esses críticos idiotas. Não apreciam uma boa atriz.” – ela resmungava enquanto eu me servia uma xícara de café preto. Bonnie sempre teve esse sonho de ser atriz. Ela fez diversos cursos quando adolescente e realmente amava atuar. Mas é claro, que nossos pais não aprovavam esses planos. Papai queria que Bonnie se interessasse por música para poder assumir a gravadora da família quando ele se aposentasse. Mas sua paixão estava nas artes cênicas. Por isso, numa noite em que mamãe estava dando uma festa, Bonnie pulou da janela, pegou seu carro e fugiu para Los Angeles, destinada a viver seu sonho custe o que custasse.

“Crítica ruim?”- eu perguntei tentando puxar assunto. Ela balançou a cabeça e suspirou. “Eu dei tudo de mim nesses últimos meses pra essa peça dar certo e além de receber péssimas críticas, ainda não vi a cor do meu pagamento.”- ela tomou outro gole de café, esvaziando a caneca e a largando na pia. “Olha, eu vou tomar um banho e depois a gente pode sair e pegar seu carro e suas coisas, afinal, você não vai querer ficar usando minhas roupas por muito tempo.” – ela disse andando em direção ao banheiro. Ontem à noite enquanto conversávamos, ela não tinha deixado claro se deixaria que eu ficasse com ela por um tempo. Eu não queria me mudar para Los Angeles pra sempre como ela, eu só queria ficar um tempo afastada daquela realidade a qual estava acostumada. E até que ficar por aqui não era uma má ideia.

Enquanto ela tomava banho, continuei a beber meu café e tentei achar algo para comer. Ontem quase não tinha comido e eu sempre ficava com muita fome de manhã. Encontrei, por sorte, um pacote de torradas largado no armário e uma geleia na geladeira. Os dois estavam na validade ainda. Sentei-me numa cadeira do balcão e comecei a comer. Estava um dia bonito lá fora. No apartamento havia uma grande janela que dava para a rua. Era engraçado ver toda aquela cidade de manhã e lembrar como ela ficava a noite. Continuei comendo e lembrando ontem à noite, de tudo que eu tinha feito. De certa forma, estava orgulhosa de mim por ter dirigido sozinha até aqui, com pouquíssimas informações para encontrar minha irmã. Foi aí que mais uma vez, ele tomou conta de meus pensamentos. Lá estava eu, de manhã, comendo minhas torradas e pensando em alguém que eu mal conhecia e que sabia tão pouco. Chip estava mexendo comigo, eu não podia negar, mas eu não queira aceitar. Toda aquela personalidade dele, seu jeito de andar, falar, a forma como ele me tratava, tudo que ele fazia parecia tão extraordinário pra mim. Provavelmente, eu só estava assim porque nunca tinha conhecido alguém largado no mundo como ele. Era como se eu fosse uma pesquisadora, descobrindo uma nova espécie de algum animal. Sim, devia ser isso mesmo.

Continuei distraída até que o barulho do telefone me despertou. “Pode atender, Eve! Diga que estou no banho e anote o recado.” – Bonnie gritou do chuveiro. Eu deixei minha torrada no prato e levantei, andando até a mesinha perto do sofá onde estava o telefone. “Alô.”- eu disse com uma voz séria. “Evelyn?”- a voz familiar do outro lado da linha disse, me fazendo gelar. “Evelyn, o que é que você pensa que está fazendo?” – ela gritou com autoridade. “Oi, mãe. Eu até diria que é um prazer ouvir sua voz, mas não é.”- eu disse ironicamente. Talvez Chip tivesse usado muito esse tom comigo, fazendo com que eu o aprendesse rápido demais. “Evelyn, pare de brincadeiras. Posso saber a razão da senhorita não estar aqui em casa comigo?” – ela perguntou. “Pode sim. Eu não quero.”- eu respondi. “Ah, você não quer?”- ela repetiu ironicamente. “Bom, querida, eu também não queria fazer muita coisa na vida, mas acabei fazendo. Então trate de entrar num carro e voltar pra casa já! Você já passou da idade de fugir de casa, não acha?” – ela disse. “Não, não acho. Eu acho que já passou da idade de eu começar a ter minha própria vida.” – eu respondi tentando manter a calma. “Evelyn, por favor, não me faça rir. Você não sabe nada da vida.”- ela disse às gargalhadas. “Não sei por que você e papai não me deixam ter uma vida.” - eu disse impaciente. Era impossível manter a calma conversando com Katherine Griffin. “Ah, então agora a culpa é minha e do seu pai?”- ela retrucou. “Sim, mãe. É sim. Agora, se a senhora não se importa, a Evelyn vai passar uns dias aqui comigo. E mesmo que você se importe, ela vai passar. Ela já pode tomar as próprias decisões sozinha. E se isso te incomoda, me desculpe. Agora se me der licença, eu vou desligar o telefone na sua cara. Mande lembranças ao papai.”- antes mesmo que eu pudesse agir, Bonnie saiu do banheiro e arrancou o telefone da minha mão, terminando a conversa por mim. “Não precisa agradecer. Agora, já que vai ficar aqui por um tempo, você vai precisar de um emprego e de roupas novas.”

Após eu terminar meu café, tomei um banho e, em seguida, Bonnie e eu saímos. Ela queira que eu ajudasse em casa enquanto estivesse por lá. Mesmo nunca tendo um emprego e não gostando muito daquela ideia, entendi seu lado e fui mesmo assim. Seria realmente um incômodo eu ficar por lá sem ajudar em nada e lhe dando despesas extras. Ela continuava em cartaz com uma peça e conseguia alguns pequenos papéis em comerciais ou séries de TV, mas o dinheiro que ela ganhava era suficiente apenas para sustentá-la.  Andamos por algumas ruas até encontrarmos um ponto de ônibus. Era a primeira vez que eu estava andando de ônibus e, para ser sincera, não estava gostando muito do passeio. “Aceite, querida. É assim que as coisas vão ser por um tempo.”- Bonnie me alertou enquanto ajeitava seus óculos de sol e se sentava ao lado de uma senhora gorda. “Eu tenho meu carro esqueceu?”- eu disse sentando-me no banco atrás dela. “Não, mas você vai. Não quero que você ande por aí com o carro que papai te deu. Pensei que quisesse ser independente.”- ela disse. Realmente, eu queria ser independente, poder ter a chance de viver a minha vida, mas será que eu não podia fazer aquilo com o carro que meu pai me deu?

Descemos alguns pontos antes do final, num bairro cheio de lojas de roupas e de cds. Bonnie achava que já que eu ia passar um tempo com ela, eu poderia começar a me vestir mais como ela e como as pessoas se vestiam por lá ao invés de usar meus suéteres e saias Dolce Gabbana.  Entramos em algumas lojas e em todas elas era reconhecida, para ser honesta perdemos mais tempo com ela conversando com seus amigos do que comprando e experimentando roupas. “O que você acha desse aqui?”- ela me perguntou saindo de uma cabine com um vestido preto colado no corpo. “Não faz muito meu estilo.”- eu disse tentando disfarçar. “Bem, eu acho que ele ficou divino. E vai servir para hoje.” – ela disse se admirando no espelho. “Com uma jaqueta vermelha que eu tenho, vai ficar simplesmente maravilhoso.” – ela concluiu. “Hoje? O que tem hoje?”- eu perguntei me virando e andando em sua direção. “Eu não te disse? Vamos a uma festa hoje. Sua primeira festa em Los Angeles.” – ela disse toda entusiasmada. “Festa? De quem?”- eu perguntei assustada. “De um amigo meu.”- ela se virou e entrou na cabine. Eu não estava muito animada para ir. Eu gostava de festas, mas com certeza as festas que minha irmã frequentava eram completamente diferentes das que eu ia. “Ah, e a propósito, o Chip vai com a gente.” – ela disse colocando a cabeça pra fora da cabine e chamando um vendedor.  “Ele vai?”- eu perguntei com um sorriso tímido no rosto. “Sim, ele e o estúpido do Jerry. Eu preciso de companhia masculina pra fazer o que vou fazer.”- ela disse vagamente entregando o vestido preto ao vendedor. “O que você vai fazer?”- eu perguntei. Ela se escondeu de novo na cabine, sem me responder. Eu apenas ouvi alguns risinhos baixos e, em seguida, ela saiu da cabine. “Você verá. Agora, já que você concordou em ir, precisa de algo legal pra hoje. Você não quer que as pessoas te vejam vestida igual a uma princesinha, né?” 


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