Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 5
Capítulo 4




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O carro de Jerry era bastante apertado. Minha irmã e eu estávamos no banco de trás, dividindo espaço com caixas de pizza vazias e um violão. Na frente, Chip e Jerry também não pareciam muito confortáveis, os dois eram bem altos e o teto do carro era bem baixo, os obrigando a ficarem que nem sardinhas enlatadas. “Bonnie, o que você fez com seu carro?” – eu perguntei. Não que eu tivesse nada contra o fato de pegar carona com alguém que ainda era um desconhecido pra mim, era só que minha irmã tinha um carro antes de vir pra Los Angeles. “Ah, eu vendi. Tinha coisas mais importantes para fazer com o dinheiro.”- ela respondeu dando ombros e olhando através da janela. Já era bem tarde, mas mesmo assim as ruas estavam cheias, os bares tinham filas que invadiam as calçadas e ninguém parecia se importar se estava completamente bêbado ou drogado. As pessoas só queriam se divertir.

“Mas e você, cadê o seu carro? Não me diga que veio de Malibu até aqui a pé?” – ela disse se virando pra mim. “Ele está no Poison. Amanhã eu o levo até o seu apartamento.” – Chip respondeu olhando pra minha irmã através do retrovisor. Ela soltou um suspiro, não gostando muito dessa história. “Por falar nisso, você ainda não me explicou o que veio fazer aqui.” – ela disse cruzando os braços e me encarando. “Já disse, eu precisava falar com você. Só você pode me ajudar.” – eu disse. “Falar sobre o que, Eve? O que houve?” – ela perguntou. Eu olhei ao meu redor antes de responder a pergunta dela. Isso era um assunto meio particular e eu não queria me abrir na frente do Jerry e do Chip. Principalmente, na frente do Chip. Não queria que ele ouvisse sobre meus problemas e sobre como eu realmente era a princesinha do papai. Tinha medo do que ele iria pensar de mim e, para ser bem sincera, eu realmente me importava com o que ele iria pensar de mim.

“Não podemos falar disso em casa?” – eu perguntei constrangida. Ela olhou para os meninos e entendeu minha situação. “Relaxa, cunhadinha. Estamos em família. Bem, quase isso. Só o Chip que não.” – Jerry se intrometeu tentando quebrar a tensão que estava no carro. Só nós duas falávamos e mesmo assim muito pouco. Chip continuava calado desde que deixamos o bar. Ele olhava fixamente para a rua sem mexer um só músculo, preso em seus pensamentos e ideias. Mas quando Jerry falou seu nome, ele saiu do seu estado de transe. “Jerry, pela última vez: eu não tenho nada com você! Lide com isso, ok?”- Bonnie disse sorrindo ironicamente pra ele pelo retrovisor. “Você não tem porque está com medo, eu sei que você me quer gracinha. Um dia, você não será mais capaz de resistir.” – ele disse mandando beijos para ela pelo espelho fazendo seu sorriso virar uma cara de nojo. Enquanto isso, eu e Chip tentávamos não rir das fracassadas investidas de Jerry, mas era quase impossível. Eles continuaram nessa por um longo tempo, até eu me cansar e me distrair com a vista da cidade, esquecendo todo o falatório do carro.

Fiquei distraída por um bom tempo, até perceber que o carro estava em silêncio novamente. Minha irmã estava distraída descascando o esmalte rosa das unhas, Jerry dirigia e Chip estava olhando pra mim pelo retrovisor. Encontrei seu olhar e ficamos assim por um bom tempo. Novamente pude notar aquele olhar cansado dele. Com certeza, havia tanto por trás daquele olhar e eu não podia negar que estava curiosa para descobrir quem era aquele rapaz que inexplicavelmente estava mexendo comigo naquele momento. “Eve?” – minha irmã me cutucou me fazendo acordar e desviar meu olhar. Com o pequeno susto, Chip fez o mesmo, mas mesmo assim, ela havia percebido o que estava acontecendo.

Jerry parou numa rua sem saída, em frente a um prédio simples de três andares. Minha irmã foi na frente, me guiando e me alertando sobre o que eu poderia encontrar no caminho. Coisas como garrafas vazias, camisinhas usadas, gatos, caixas de comida e coisas piores. Subimos as escadas e pude ver com meus próprios olhos que ela falava a verdade. No corredor nos deparamos com dois gatos brancos nos encarando como se fossem feras prestes a nos atacar. “Não liga, você se acostuma com eles. E com os outros quinze gatos da minha vizinha.” – ela disse abrindo a porta do apartamento dela. Ela entrou e acendeu a luz. Esperou que eu entrasse e em seguida fechou a porta. Seu apartamento era um tanto pequeno. Basicamente tudo se resumia a sala de estar que também era a cozinha e o quarto. Só havia duas pequenas portas do outro lado do cômodo, uma era o armário e outra o banheiro. Pelo chão, havia roupas e roupas espalhadas, dividindo espaço com algumas embalagens de comida vazia e produtos para cabelo. “Então, o que achou?” – ela perguntou jogando sua jaqueta no chão e sentando-se no sofá. “É, devo dizer que sua vida não é exatamente como eu imaginei.”- eu disse permanecendo em pé. “Como assim?”- ela perguntou desconfiada. “No telefone você sempre disse que estava bem, tinha seu próprio apartamento, conseguia pagar suas contas, arrumava alguns papéis, mas não pensei que fosse assim.” – eu respondi sentando-me ao seu lado. “Você pensou que eu estivesse como? Morando numa mansão na mesma rua que a Madonna? Eu estou bem irmãzinha, de verdade. Eu tenho minha própria casa, pago minhas contas e trabalho com o que gosto. Estou muito feliz, de verdade.”- ela respondeu segurando minha mão e sorrindo. Sim, ela parecia estar falando a verdade, e eu acreditava nela. “Mas me diz uma coisa, você não veio até aqui pra falar sobre mim né?”

Após um bom banho, minha irmã me emprestou um pijama e nos sentamos na cama dela pra finalmente conversarmos. Expliquei tudo a ela; minhas constantes brigas com mamãe, minha vida no internato, meu plano de ser expulsa e de ir morar com papai e, principalmente, sobre o que tinha acontecido naquela manhã. Quanto terminei de falar me senti cansada, como se reviver tudo aquilo tivesse me esgotado tanto quanto viver aquilo. Ela ficou um tempo em silêncio e não fez nada além de me abraçar e me deitar no seu colo. Isso era outra coisa que sempre fazíamos. “Minha pequena, sinto muito que as coisas não deram certo.” – ela começou, alisando meu cabelo. “Você conhece o papai, ele sempre põe o trabalho em primeiro lugar. Detesto admitir isso, mas mamãe fez muito bem em pedir o divórcio. E você sabe que ela é difícil assim. Ela aprendeu com a vovó. Ela só quer o nosso bem.” – ela disse fazendo uma longa pausa. No fundo, mesmo não concordando com ela, sabíamos que era verdade; nossa mãe só queria nosso bem. Só que para isso, ela queria que o alcançássemos através de seus métodos, não dos nossos. “Agora você tem que admitir que também tem um pouco de culpa. Você sempre agiu como se fosse a filhinha deles, nunca se impôs em relação a nada. E agir como você agiu só comprova isso. Pensa, forçar uma expulsão era realmente a única saída pra conseguir morar com papai? Não custava tentar conversar?” – ela disse. Mesmo sendo a mais maluca de nós duas, ela sempre sabia o que dizer e sempre estava certa.

Depois de conversar sobre nossos pais e a aquilo que eu podia chamar de vida, fui escovar os dentes, enquanto Bonnie arrumava a cama para nós. Por sorte o banheiro do apartamento, não era bagunçado como o resto da casa. Pelo contrário, ele era a única parte da casa onde você realmente achava as coisas no seu devido lugar. Saí do banheiro e voltei para a sala, encontrando Bonnie já deitada. “Não somos mais crianças, mas acho que não somos tão gordas a ponto de quebrar a cama.” – ela disse rindo. Deitei- me no outro lado da cama e lhe disse boa noite. Eu estava exausta, só pensava em dormir e descansar. O dia não tinha sido como eu havia planejado. Nos meus planos, há essa hora estaria dormindo num avião ou em algum quarto de hotel, esperando pelo primeiro dia com meu pai. Mas não; estava dormindo em uma quitinete com minha irmã, no centro de Los Angeles com os pés doendo por ter andado por ruas e ruas de salto com um garoto que eu mal conhecia. Foi então que ele voltou a minha mente. Lá estava eu, novamente pensando em Chip Jones, um garçom um pouco mais alto que eu, rei da ironia e do sarcasmo, que tinha olhos cansados e que não conseguia me chamar de outra coisa a não ser princesa. A única imagem que me via a cabeça quando fechava meus olhos, era a dele, abobalhado quando me viu na lanchonete antes de sairmos à procura de Bonnie. “Eve, já dormiu?”- Bonnie se virou para mim e me encarou no escuro. Eu resmunguei e ela entendeu que não. “E o Chip?”- ela perguntou. Mesmo sem ver sua expressão, eu podia imaginar que ela estava sorrindo maliciosamente. “O que tem ele?”- eu disse vagamente. “Não se faça de tonta, eu vi como vocês se olhavam no carro. E como estavam próximos no bar.”- ela disse. “Bonnie, por favor. Não tem nada acontecendo. E nem vai acontecer.” – eu disse querendo acreditar em minhas palavras. “Tudo bem. Eu só acho que vocês formam um belo casal. Sem falar que ele é, aparentemente, o único cara legal em LA.” – ela disse se virando para o outro lado. Ela fazia isso quando queria deixar um assunto pairando no ar e dormir sem termina-lo. “E o Jerry?”- eu perguntei. “O que tem ele? Não acho que ele é o seu tipo.”- senti uma pequena pontada de ciúmes na voz dela e me esforcei o máximo para segurar meu riso. “Não, eu quero dizer, vocês dois.”- eu disse me virando na cama. “Ah, aí sim que não tem nada acontecendo. E jamais acontecerá.” – ela me respondeu, tentando fazer com que eu acreditasse nas suas palavaras.



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