Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 4
Capítulo 3




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Depois de muitas ruas, becos e bares, finalmente chegamos ao lugar do show. Surpreendentemente, a rua estava vazia, não havia pessoas na porta do bar e, para falar a verdade, o lugar não se parecia nada com o bar qualquer outro bar por onde passamos durante o caminho. Meus pés estavam me matando. Já havia usado salto alto milhares de vezes, mas nunca tinha sido obrigada a andar tanto com eles. Paramos na porta dos fundos do bar e Chip bateu três vezes. Era só o que me faltava, andar a noite toda para assistir um show numa sociedade secreta ou coisa do tipo.

Após alguns segundos uma pequena abertura foi aberta na porta e uma voz pediu que Chip falasse uma senha. Ele respondeu agindo como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo e a porta se abriu por completo para nós. Entramos, ele na frente e eu atrás, o seguindo enquanto descíamos uma escada. O lugar era muito pouco iluminado, apenas algumas luzes vermelhas que vinham do palco e, para completar, estava lotado. “Só de curiosidade, viemos ver a máfia tocar ou alguma coisa assim?” – eu perguntei ainda desconfiada com toda aquela cena da senha. Ele olhou pra mim e soltou uma gargalhada. “Quase isso.”- ele me respondeu apontando para o palco. Realmente, tínhamos vindo ver a Máfia tocar. The Mafia era uma banda composta apenas por mulheres. Elas eram realmente muito boas e suas letras faziam referências feministas. Mas mesmo assim, elas tinham um público bem grande, de todos os sexos.

Continuamos andando pela multidão. Ele ainda na minha frente, abrindo espaço. “Como é que vamos achar minha irmã aqui?” – eu gritei empurrando um cara que estava caindo em cima de mim. “Até parece que você não conhece a irmã que tem. A Bonnie não tem que ser achada, ela simplesmente aparece quando você menos espera.” – ele respondeu parando numa pequena área desocupada. Ele estava certo. Minha irmã sempre foi assim. Por onde passava sempre causava um alvoroço e sabia como ninguém chamar atenção. Não é que ela fosse bonita e sexy, ela até era, mas esse não era o motivo pelo qual ela conseguia atenção. Ela era louca, divertida, extrovertida, independente e completamente espalhafatosa. Totalmente o oposto de mim. Talvez essa seja a principal razão pela qual foi tão fácil pra ela fugir de casa e tentar ganhar a vida por conta própria.

Ficamos curtindo o show por um tempo. A vocalista tinha uma grande presença de palco e tocava guitarra muito bem. Sem dúvida, se meu pai tivesse a chance de ouvi-las iria assinar um contrato com elas. Outra música começou. Dessa vez uma mais lenta que falava sobre abandonar seu sonho por um amor. Em segundos a multidão de pessoas na nossa frente formou casais e todos começaram a dançar como um baile de formatura. Eu e Chip ficamos nos olhando, completamente sem graça. Tínhamos de admitir que aquela sensação já estava ficando comum para ambos. Continuamos a nos olhar até que ele tentou, estranhamente, se mexer tentando me puxar para dançar. “Jerry, pela última vez! Eu não sou sua garota!” –todos ouviram um grito agudo ecoando no salão. Uma menina de mais ou menos vinte anos estava gritando e correndo pra longe de um menino da mesma idade que a seguia e tentava desesperadamente agarrá-la. Chip e eu ficamos olhando a cena de longe. Ele a continuou seguindo e ela cada vez andando mais rápido até chegar relativamente perto de nós. “Por favor, gata. Mais uma chance.” – ele suplicou e se ajoelhou. Ela parou no meio e se virou para ele. “Mais uma chance? Quando eu te dei alguma chance na vida?”- ela disse soltando gargalhadas. Ela continuou rindo até que ele se levantou e a agarrou, dando um beijo nela fazendo com que todos começassem a gritar “uhul”. Bem, todos menos eu.

Não pude me conter. Saí correndo em direção ao casal que estava se beijando no meio da pista e comecei a atacar o cara com minha bolsa, batendo em suas costas, cabeça, tudo que fosse. “Larga ela, seu otário! Larga!” - eu gritava como nunca tinha feito antes. Ele foi obrigado a parar de beijá-la e se virou para me encarar. Assim que ele se virou, não tive outra reação. Peguei minha bolsa e com toda minha força, acertei-lhe a cabeça. Não foi forte o suficiente para fazê-lo desmaiar, mas mesmo assim ele caiu no chão. “Eve! O que você fez?” – Chip chegou por trás de mim e ficou olhando para a cena surpreso. “Eu tive que fazer. Você viu o jeito que ele agarrou a Bonnie.” – eu disse nervosa. Ela se virou pra mim, nervosa, e andou na minha direção. Chegando bem perto de mim e quando ela ia abrir a boca para me dar uma bronca, sua expressão mudou completamente. “Eve! O que você está fazendo aqui?!” – ela disse me abraçando. Ela estava tão diferente da última vez que nos vimos. Ela estava mais magra, mais branca do que já era e seu cabelo não era o mesmo loiro que o meu. Ele estava escuro e com mexas roxas. “Eu precisava falar com você. Preciso da sua ajuda.” – eu disse assustada. “Ok, mas como me achou?” – ela perguntou me olhando dos pés a cabeça. “E esse vestido é meu?”- ela continuou. “Chip me trouxe. E sim, é seu.” – eu respondi desviando minha atenção dela e olhando para o cara no chão. “Chip? Chip te trouxe aqui?”- ela perguntou desconfiada e se virando para olhar pra ele com um olhar de desaprovação. Ele sorriu e acenou pra ela sem graça, com uma cara de bobo. Em seguida, ela se virou pra mim com o mesmo olhar.

Bonnie continuava a me encarar, querendo saber como eu havia parado lá e por que. “Hey, gatinha. Você conhece essa louca?” – o cara que eu tinha agredido começava a se levantar do chão com as mãos na cabeça, como se eu tivesse o acertado com tanta força capaz de deixa-lo tonto. “Primeiro, Jerry, pare de me chamar de gatinha! Já disse que não tenho mais nada com você. E sim, essa louca é minha irmã mais nova.” – ela respondeu abrindo espaço para que ele pudesse vir me cumprimentar. Ele veio e acenou com uma cara de bobo, que nem a do Chip. Jerry era um cara engraçado. Não tinha conversado com ele nem nada, mas sua aparência era engraçada. Ele era um magrelo com uma tatuagem no pescoço, provavelmente, aquela não era a única, e cabelos castanho claro que tinham uma aparência de sujo. Bonnie sempre teve uma lista de namorados fracassados, mas aquilo era demais. “Ah, então você é a irmã da minha gatinha.”- ele disse com uma voz de bêbado abraçando Bonnie. “É, acho que sim. Desculpa pelas bolsadas.” – eu disse tentando disfarçar o quão sem graça eu estava. “Ah, relaxa. Estamos em família.”- ele respondeu tentando beijar Bonnie no rosto. Ela rapidamente o empurrou e andou para longe dele, ficando perto do Chip, que assistia tudo aquilo rindo. “Então, Charles, você que trouxe minha irmã até aqui?” – ela disse cruzando os braços e encarando Chip. Eu comecei a rir. Era a primeira vez que ouvia alguém chamar Chip pelo seu nome, nem sua própria chefa tinha feito aquilo. “É, não precisa agradecer.”- ele disse com aquele seu tom irônico que eu estava começando a achar engraçado. “Bem, já que você trouxe, é óbvio que vai levá-la de volta. Vá na frente e a deixe no meu apartamento, eu vou depois, tenho que resolver algo antes.” – ela disse lhe entregando as chaves de casa. “Mas eu quero ir com você.” – eu disse parecendo uma criança mimada. “Eve, nós vamos ter todo tempo do mundo pra conversar, ok? Aqui não é o seu lugar.” – ela me disse usando o mesmo tom que meu pai tinha usado comigo mais cedo. “Não posso nem te esperar aqui? O que você tem pra resolver demora tanto assim?” – eu insisti. Ela me olhou e resmungou algo. “Ok, você fica.” – ela disse andando na direção contrária a minha. Assim que ela foi, Jerry a seguiu como um cachorrinho de senhora e ela começou a reclamar de novo. Chip andou e parou ao meu lado. Ficamos os dois assistindo aquela cena e rindo, até que de repente ela deu meia volta e se dirigiu a Chip. “E você, mantenha seus dois olhos nela.”

Naquela altura, o show já havia terminado. Segundo Chip, logo outra banda entraria no palco e depois mais uma e assim aconteceria até o sol raiar. Ficamos um tempo parados olhando para a multidão na nossa frente enquanto esperávamos pela próxima banda. Não nos falamos muito; às vezes ele me perguntava o que eu estava achando da noite e do lugar e eu respondia vagamente, sem tentar prolongar nossa conversa. “Vem.” – ele disse de repente, quando o próximo show estava para começar. Eu o olhei indo embora sem dizer nada e antes que pudesse perdê-lo de vista, o segui. “Ei, você não ouviu o que a minha irmã te disse?” – eu perguntei indignada. Ele estava de costas pra mim, encostado no balcão do bar. “Sim, mas nós dois sabemos que você consegue se virar.” – ele respondeu me entregando uma garrafa aberta. Eu peguei a garrafa e a encarei. Ele realmente achava que eu iria beber cerveja num show? Do gargalo de uma garrafa? “O que é isso?”- eu perguntei o observando beber um pouco. “O que você acha que é?”- ele disse ironicamente com um sorriso. “Uma garrafa de cerveja.”- eu disse inocentemente. Ele sorriu e voltou a beber. Eu continuei parada, olhando para ele e para a garrafa. “Vai me dizer que você nunca bebeu?” – ele perguntou. Eu olhei para ele e pensei por um segundo. “Claro que já, mas não do gargalo de uma garrafa.” – eu disse meio tímida, fazendo ele rir. “É fácil, é só virar.” – ele me disse me mostrando como que deveria ser feito. “Viu? Agora você.” – ele me olhou e esperou que eu fizesse o que ele acabar de fazer.

Ele não iria desistir tão fácil. Então, como não tinha muita escolha, fiz o que ele tinha dito. Até que não era tão ruim, mas ainda preferia um copo. “Muito bem, princesa. Não foi tão ruim, foi?” – ele disse me aplaudindo. Eu ri sem graça e apoiei minha garrafa no balcão do bar. “Por que você faz isso?” – eu perguntei me virando pra ele. Ele bebeu mais um pouco e me olhou confuso. “Por que me chama de princesa. Eu já te disse meu nome.”- expliquei. Ele parou por um segundo e chegou mais perto de mim. “Porque é o que eu vejo quando olho pra você.” – ele respondeu sorrindo. Eu sorri de volta, ajeitando uma mecha do meu cabelo e desviando do seu olhar. “E isso é uma coisa boa ou ruim?” – eu perguntei, voltando a encará-lo. “Entenda como quiser, Eve.” – pela primeira vez, desde que nos conhecemos, ele havia dito meu nome. Como sempre, ele usou aquele tom irônico que só ele sabia usar, fazendo com que o som da sua voz fosse muito melhor que a música que estava tocando. “Ei, você andou dando bebida pra minha irmã?” – o som agudo da voz da minha irmã me acordou do meu leve devaneio. Ela estava de volta, com um pequeno envelope na mão e com Jerry, atrás dela, como sempre. “O que é isso?” – apontei para o envelope na esperança que ela me diria o que era. “Ah, não é nada. Só posso dizer pra estarem prontos amanhã. Agora vamos.”- ela disse me puxando e saindo na frente. Jerry nos seguiu oferecendo carona e mais atrás vinha Chip, andando com as mãos nos bolsos. Ele andava de cabeça baixa, mas pude encontrar seu olhar quando virei para trás. Ele continuou nos seguindo até a rua, onde paramos em frente a um carrinho amarelo. Por incrível que pareça o carro era de Jerry. Ele era amarelo vivo, daqueles que você consegue avistar de longe. Ele abriu a porta do carona e em seguida deu a volta no carro, indo para o banco do motorista. Bonnie entrou primeiro e eu a esperei entrar, enquanto Chip se aproximava. Ele sorriu pra mim e fez sinal para que eu entrasse no carro. “Primeiro você, princesa.”



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