Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 22
Capítulo 21




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Aaron e eu continuamos parados no meio do quarto, ouvindo a grave voz se pronunciar. O homem continuava despejando elogios ao show, mas não aparecia. Estávamos no meio da sala e ele estava parado junto à porta, numa área onde a luz não tocava o que nos impossibilitava ver seu rosto. “Sim, meu rapaz. Seu show e sua banda são impressionantes. Devo dizer que faz muito tempo que não vejo uma banda com tanta energia em cima de um palco.”- ele continuou, começando a se mover em nossa direção. Aaron continuava imóvel, abobalhado pelos elogios. “Você tem um o quê especial. Parece que nasceu para estar num palco. Lá é o seu lugar.”- ele concluiu parando bem em frente a nós, deixando sua expressão familiar e cansada aparecer.

Aaron estava em choque, até mais do que eu mesma. Eu conhecia muito bem Arthur Griffin e todos sabiam que ele não tratava qualquer um daquele jeito. Ele era o típico empresário que tratava suas estrelas com desdém e só as elogiava quando via movimentos positivos em sua conta bancária. “Então, rapaz. Você tem um nome certo?”- ele disse enfiando um cigarro na boca. Não sabia que ele havia adquirido esse hábito. “Aaron, senhor. É um prazer enorme, você não faz ideia.”- ele disse tremendo e estendendo a mão para ele. Parecia de fato que eu estava apresentando meu namorado a meu pai. “Aaron. Ótimo nome.”- ele disse se virando para mim. “Obrigado, senhor. E obrigada pelos elogios. Significa muito para mim.”- ele continuou, gaguejando um pouco e sem esconder seu nervosismo. “Pare com isso, garoto. Deixe de ser modesto. Você merece. É talentoso, canta e toca muito bem. Não é mesmo, Eve?”- ele se sentou no sofá que há pouco eu estava sentada, cruzando as pernas e esticando os braços ao longo do móvel. Mamãe odiava quando ele se sentava assim parecendo um mafioso. Eu o fuzilei com o olhar sem dizer nada e Aaron confuso, voltou-se para mim. “O que? Estou falando alguma mentira? O rapaz é de fato talentoso. Sinto que você herdou esse faro para talentos de mim. Isso não vem do lado ruim da família.”- ele disse dando uma tragada no cigarro sem se preocupar com mais nada. “Herdou?”- Aaron agora se voltava para ele com o mesmo olhar confuso. “Sim, rapaz. Herdou. Não me diga que você é um daqueles moleques que largam os estudos para se dedicar a música?”- ele disse tragando novamente seu cigarro. “Não, é que...”- Aaron se interrompeu. Nesse momento estava claro que a ficha havia finalmente caído.

Depois de pedir cinco minutos para Arthur Griffin, Aaron me puxou para fora do camarim, me agarrando pelo braço com toda sua força. “Eve, que história é essa?!”- ele gritou me soltando. Alguns funcionários do Bourbon passaram por nós, mas ele não ligou. Eu o encarei sem dizer nada. Não era assim que eu esperava que fosse nossa conversa sobre o fato de eu pertencer à família mais poderosa do mundo da música. “Fala, porra!”- ele gritou de novo. “O que você acha que é, hein? O que vem a sua cabeça quando você pensa em herdar?”- eu disse igualando meu tom. “Penso em família, parentes, pais.”- ele gritou sem ouvir o que estava dizendo. Foi então que sua expressão mudou e ele olhou bem nos meus olhos e entendeu tudo. “Prazer, Evelyn Griffin.”- eu disse. Ele me olhou incrédulo sem dizer uma só palavra. Eu tentei desviar de seus olhos, mas eles me olhavam como nunca antes. “Essa é a hora que você diz alguma coisa.”- eu disse com um tom de súplica. “O que você quer que eu diga?”- ele perguntou se jogando contra a parede. “Tipo, que minha namorada é uma mentirosa que escondeu de mim que era a filha do todo poderoso da Griffin Records?”- ele disse se voltando para mim. “Eu não sou mentirosa.”- eu gemi sentindo lágrimas se formando em meus olhos. “Ah não?”- ele voltou a usar um tom agressivo. “Não. Eu só omiti esse fato, simples. E que eu saiba, você também não foi diferente.”- eu o olhei desafiando-o. “É, mas isso é completamente diferente. Minha mãe não é a chefona do pedaço com quem você sempre quis assinar um contrato.”- ele gritou e se virou, andando em direção à porta. “Mesmo assim, Aaron.”- eu tentei segurá-lo, mas ele se soltou. “Mesmo assim nada.”- ele se soltou e voltou a seguir seu caminho de volta para o camarim, me deixando lá largada nos fundos do Bourbon.

Se alguém me perguntasse como eu esperava que minha noite acabasse, certamente eu imaginaria vários desfechos, exceto aquele que ela estava tendo. Meu pai estava conversando com meu namorado dentro de um camarim de um bar no meio da Sunset Boulevard e eu não era o assunto principal. Meu pai sabia como ninguém negociar e fechar um bom contrato. Diversas vezes eu o acompanhei em negociações com bandas e cantores e ele sabia como ninguém como convencer alguém a fechar um contrato, por mais que a pessoa estivesse completamente certa de que não iria fechar.

Geralmente, suas conversas eram rápidas e sem delongas, mas dessa vez foi diferente. Com Aaron estava sendo diferente. Ele havia o elogiado demais e, com certeza, estaria fazendo o mesmo agora. Em seguida, ele iria vir com um discurso sobre fama, carreira, dinheiro e sonhos, dizendo tudo que Aaron sempre quis ouvir e o fazendo imaginar coisas que ele sempre imaginou. E para finalizar, ele falaria que tudo na vida tem um preço, que às vezes precisamos abdicar de coisas e pessoas importantes para seguir nossos sonhos. E que, com o tempo, nós sempre recuperávamos elas depois de termos atingido o sucesso.

Eu permaneci nos fundos do Bourbon esperando que a conversa acabasse. Aaron e ele sairiam pelos fundos satisfeitos com a conversa e sua equipe de seguranças em segundos chegaria com seu carro preto caríssimo, fazendo mais um pouco de pressão em cima de Aaron. E Aaron, bêbado e magoado, acabaria concordando com tudo aquilo. Eu podia prever isso.

Depois de alguns longos minutos, tudo que eu previ começava a acontecer. Primeiro, um carro preto surgiu no beco, estacionando perto da escada que dava acesso a porta dos fundos do Bourbon. E em poucos segundos adiantes, a porta se abriu. Meu pai vinha na frente fumando um cigarro que já estava no fim. Não vi Aaron vindo, mas sim, uma equipe de seguranças atrás da figura dele. Levantei-me do chão assim que ele me viu. “Um segundo.”- ele disse ordenando seus seguranças a irem para o carro. “Eve, como é bom te ver.”- ele disse jogando longe o cigarro e vindo em minha direção. “Como sabia que eu estava aqui?”- eu disse recuando. “Eu não sabia. Eu vim aqui a negócios.”- ele mentiu. “Pai, por favor.”- eu debochei. “Ok. Mas eu vinha mesmo aqui a negócios. Ligaram-me dizendo que eu precisava ouvir a banda desse rapaz. E eu vim.”- ele disse. “E então? Satisfeito?”- eu perguntei. “Claro que sim, princesinha. Você sabe que seu pai não perde seu tempo com qualquer um. Aquele lá vale meu tempo.”- ele puxou do bolso aquele que era seu último cigarro no pacote e o acendeu. “Agora, vamos. Passaremos na sua irmã para pegarmos suas coisas. Seu voo parte às 11:30. Eu vou em seguida, após assinar o contrato.”- ele seguiu andando sem reparar em mim. “Vamos, Evelyn. O que está esperando?”- ele perguntou parando na porta do carro. “Pai, eu já disse, eu não vou com você. Tenha uma boa noite e um bom voo.”- eu respondi abrindo a porta e entrando de volta no Bourbon.

Andei correndo em direção ao camarim na esperança de Aaron ainda estar lá. Por sorte, ele estava sozinho sentado no sofá, virando uma garrafa de cerveja. Parei na soleira da porta e esperei que ele percebesse minha presença, o que não demorou muito a acontecer. “O que você quer?”- ele disse se levantando e me vendo caminhar em sua direção. “Conversar.”- eu respondi seca. “Sobre o que?”- ele largou a garrafa de cerveja na mesa e se aproximou de mim. “Como foi sua conversa com... com... ele.”- eu não sabia como mencionar meu pai na conversa. “Foi boa. Ele me ofereceu um contrato.”- ele disse docemente. “Isso é ótimo!”- eu disse sendo sincera. Ele concordou e começou a andar em círculos pela sala, tentando de alguma forma dar continuidade ao assunto. “E você aceitou?”- eu cuspi as palavras ao mesmo tempo em que ele começava a se pronunciar. “Por que você nunca me contou?”- ele perguntou aflito. “Hein? Por que? Como você mesma disse eu acho que tinha o direito de saber quem é seu pai, sua mãe.”- ele foi aumentando gradativamente seu tom de voz, ficando um pouco agressivo. “Você fez a mesma coisa comigo, Aaron.”- eu insisti nessa desculpa. “Mas eu já disse; comigo foi diferente.”- ele disse. “Sim, com você foi diferente. Sabe por quê? Porque você não é filho do cara mais foda da música. Porque você não faz parte de uma família de ricos e esnobes da qual as pessoas só se aproximam por interesse.”- eu comecei aumentando meu tom de voz também não o deixando falar uma sílaba. “Sabe como é horrível você ter um bando de amigos idiotas que só querem saber do presente que você vai dar, da viagem no jatinho particular que você vai fazer com eles ou daquele vestido lindo que você pode emprestar? Não, você não sabe.”- eu continuei. “Você nunca passou por isso.”- ele me olhava com um olhar envergonhado. “Quando eu cheguei a Los Angeles, eu não queria ser Evelyn Griffin. Eu queria ser só a Eve. Assim, Bonnie me disse pra nunca dizer meu sobrenome, pois eu só conseguiria ser a Eve se as pessoas não soubessem meu sobrenome. E foi isso que eu fiz.”- eu terminei, segurando minhas lágrimas.

“E você acha que eu me aproximaria de você por interesse, é isso?”- ele disse mais calmo. “Eu não sei, Aaron. Não sei.”- eu disse sincera. Ele me olhou nos olhos incrédulo. “Você não me conhece mesmo.”- ele sussurrou para si. “E você? Conseguiria me tratar como Eve sabendo que eu sou uma Griffin? Sabendo que eu podia tornar as coisas muito mais fáceis para você?”- eu disse o encarando. Ele me olhou de volta, hesitando em dar sua resposta. “Eu sabia.”- eu disse sentindo lágrimas de raiva cair. “Ei, sabia o que?”- ele me puxou pelo braço. “Olha, não me interessa se você é uma Griffin ou não, eu te amo!”- ele me disse agressivamente ainda me segurando. “Claro que interessa! Pra todo mundo interessa! Pra você principalmente.”- eu me soltei, mas ele me pegou de novo. “Eve, eu te amo! Você não entende isso?”- ele repetiu. “Entendo. Mas você me amaria muito mais se soubesse de tudo antes. Como eu disse, pra todo mundo interessa.”- eu disse me soltando lentamente. “Pra todo mundo menos.”- eu pensei alto. Aaron me olhou desconfiado. “Menos quem?”- ele perguntou. “Ninguém!”- eu gritei. “Menos quem, Eve?!”- eu recuei ao perceber que ele tentava me segurar de novo e quando dei por mim já tinha dito. “Chip?! Aquele babaca sabia disso e eu não?”- ele perguntou com mais agressividade ainda. “Como ele sabia? Como?”- ele perguntou. “Eu não sei, tá? Eu só sei que ele é o único que não se importa com isso.”- eu disse sem me dar conta do que estava dizendo. “Como é que é? Como você pode ter certeza disso?”- Aaron cruzou os braços tentando entender. Eu não disse nada, percebendo o rumo que aquilo estava tomando. “O que você tem a ver como ele? Como pode ter certeza disso?”- ele perguntou e não obteve resposta. “Eve, o que você teve com ele?”- ele gritou pela última vez. “Eu me apaixonei por ele, tá?! Ele foi a primeira pessoa que eu conheci aqui e a primeira pessoa que me tratou só como Eve. No dia que a gente se conheceu, eu tinha acabado de levar um fora dele.”- eu confessei. Aaron ficou sem reação e eu não sabia se aquilo era bom ou não. Afinal, eu havia confessado que amava seu maior rival. “Vocês se apaixonaram? Você estava chorando por causa dele na praia? Nossa.”- ele repetiu para si. “E você deixou de amá-lo quando me conheceu?”- ele perguntou. “Não, mesmo gostando de você. Acredite, eu realmente amei você.”- eu respondi sincera. “Amou? Você não me ama mais?”- ele perguntou mesmo sabendo minha resposta.


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