Chip e eu gelamos ao ouvir a voz de Aaron pronunciando suas palavras. Ficamos em estado de choque, o encarando sem saber o que dizer ou fazer. Ele andou em nossa direção, repetindo sua pergunta dando ênfase em cada sílaba. “Não, Aaron. Que besteira! Não há nada pra interromper. Chip e eu só estávamos conversando sobre umas coisas do Poison.”- eu respondi rapidamente procurando me afastar de Chip. Ele deu um passo pra trás e procurou ir em direção à rua, concordando com tudo. “Ah sim, qual o problema então?”- Aaron perguntou com um tom desafiador. “Nada demais, cara. Só umas coisas.”- Chip disse tentando parecer relaxado, colocando as mãos nos bolsos. Aaron me olhou como se quisesse confirmar algo, eu sorri, balançando a cabeça nervosa. “Ok, que coisas? Eu sou meio que o proprietário de lá, né?”- ele insistiu, virando-se para Chip. “É bobeira, cara. Já conversei com a sua mãe. Fica de boa. Não tem necessidade de você se estressar com isso. Ainda mais hoje. Sabe, o seu show. Você tem coisas mais importantes para se preocupar.”- Chip disse calmamente. Aaron parecia enfim estar convencido.

Sem mais ter o que inventar, Chip voltou para seu carro que estava parado no outro lado da rua e pediu que avisássemos a Jerry que ele o esperaria lá. Em seguida, se despediu sem muitas cerimônias e desejou a Aaron um bom show. Ele fez uma cara de nada e agradeceu, tentando mostrar-se educado uma vez na vida com Chip. “Não gosto desse cara. Você deve ter notado.”- ele disse me abraçando pela cintura. “Sim, sim. Já percebi.”- eu respondi. “Não quero você muito perto dele, nem ele perto de você, entendeu?”- ele me disse olhando fundo nos meus olhos. Eu me soltei de seu abraço para encará-lo. “Aaron, Chip é meu chefe. Como você que quer que eu trabalhe sem estar perto dele?”- eu disse tentando parecer indiferente. “Ué, não sei. Se vira, pede demissão. Só não te quero perto dele.”- ele disse indiferente. “Como assim me demitir?”- eu perguntei incrédula. “Não foi isso que eu quis dizer.”- ele tentou novamente me pegar pela cintura, mas eu recuei. “O que você quis dizer então?”- a raiva que eu estava sentindo por causa do meu pai tomou conta de mim novamente e eu o olhava com uma cara fechada. “Eve, por favor. Não vamos brigar de novo. Hoje não. Olha, me desculpe ok? Eu realmente não quis dizer aquilo.”- ele foi se aproximando novamente e, dessa vez, eu permiti que suas mãos me tocassem. “Acho que estou nervoso por causa de hoje.”- ele sussurrou me puxando pra mais perto, até que nossos corpos estivessem colados. “Tudo bem, sem problemas.”- eu me forcei a dizer. Realmente, não queria brigar com ele e ele parecia realmente ter dito aquilo da boca pra fora. Com minhas palavras, ele sorriu e me beijou apaixonadamente. Seus beijos de desculpa eram sempre os melhores. “Acho que não estou mais nervoso.”- ele brincou ofegante. Eu ri junto e, em seguida, subimos para pegar minhas coisas. Já estava na hora de ele chegar ao Bourbon Room para arrumar as coisas.

O Bourbon Room era um dos lugares mais famosos de toda Los Angeles. Ele ficava na rua mais famosa da cidade, a Sunset Strip, e sempre estava lotado. Seu lema era “girls drink free, dudes pay full price”. E, mesmo assim, eles não tinham prejuízo. Quando havia shows e festivais então, era quase impossível de se movimentar lá dentro. Aaron havia me levado lá algumas poucas vezes e seu sonho era um dia poder subir naquele palco onde ele havia visto seus grandes ídolos tocarem. Quando chegamos lá, tudo já estava sendo montado e preparado para a apresentação da Blood Stain. Os funcionários do bar estavam montando os equipamentos de som e a banda já estava no camarim se preparando para a passagem de som. Assim que entramos fomos recebidos pelo casal que eram os donos do lugar: Dupree e Jeena. Eles aparentavam ter uns 40 anos cada, mas se vestiam como se tivessem 20. “Aí está ele! A grande estrela de hoje. Sentindo-se bem, garoto?”- Dupree gritava com sua voz rouca enquanto eu e Aaron admirávamos o salão. “Como nunca me senti antes!”- Aaron disse como uma criança no Natal quando abre seu presente. Dupree sorriu abrindo os braços e o abraçou forte, dando tapas nas suas costas, como um pai orgulhoso faria. “Acredite, logo você se sentirá melhor ainda, quando estiver ali em cima.”- ele disse olhando Aaron nos olhos. Em seguida virou Aaron para o palco e começou a rir. “Eu mal posso esperar.”- ele disse nervoso se voltando para mim.

Jeena se aproximou de nós e logo se pendurou no marido, com uma dose de uísque na mão. “Ei, e essa belezinha? Quem é?”- ele disse apontando para mim e em seguida dando um beijo no pescoço da esposa. “Essa é a Eve. Minha garota. ”- Aaron parou ao meu lado e com um sorriso me apresentou. “Ah sim. Por trás de todo grande homem há uma grande mulher. Aquela que o inspira.”- Jeena disse com uma voz arrastada e meio embriagada. “Sim, Eve realmente é a minha inspiração.”- ele disse com um brilho nos olhos me fazendo ficar vermelha dos pés a cabeça. “Ah, olha querida. Que casal lindo! Eles me lembram de nós dois, quando jovens.”- Dupree disse antes de tascar um beijo apaixonado e de cinema em Jeena, se esquecendo de nós. Aaron soltou um pigarro, fazendo-os se separar e se recompor depois daquela cena. “Bem, o papo está delicioso, mas eu acho melhor você ir encontrar sua banda. Logo o palco ficará pronto e temos que fazer a passagem de som. Venha comigo, garoto.”- ele disse puxando Aaron, sem ao menos ele ter uma chance de se despedir de mim. “Boa sorte, eu estarei aqui!”- eu gritei o vendo ser arrastado para os fundos. Quando me virei Jeena, me encarava com um sorriso malicioso no rosto e com seu copo vazio. Eu sorri para ela, tentando não mostrar que estava desconfortável com aquela situação, mas era meio que inevitável.

Ela fez sinal para seus funcionários e em segundos eles trouxeram duas doses de uísque. E em seguida, me puxou para sentar com ela na mureta do salão. “Então, criança. Você é muito graciosa. Com certeza não é daqui. As mulheres de Los Angeles não tem esse ar jovial e doce que você tem.”- ela começou bebericando sua bebida. “Obrigada.”- eu disse timidamente. “Tudo bem, sem medo. Eu não vou te morder.”- ela disse rindo. “Então, como conheceu seu rock star? Deixe-me adivinhar: bastidores, né?”- ela perguntou com um tom debochado. “Não, na verdade não.”- eu disse me sentindo pior ainda. “Querida, tudo bem. Pode ser sincera comigo. Todas as meninas em Los Angeles têm suas historinhas de back stage. Você não seria a primeira, muito menos a última.”- ela continuou. “Mas eu estou sendo sincera. Conheci Aaron na praia.”- eu disse. “Ah, sim.”- ela soltou parecendo entediada. “E aí?”- ela prosseguiu. “E aí que nós começamos a sair e nos apaixonamos.”- eu disse sem saber se era aquilo mesmo que ela queria ouvir. “Vocês o que?”- ela retrucou. “Nós nos apaixonamos?”- eu disse. Ela soltou uma risada e me olhou nos olhos, com sua vista cansada. “Meu bem, você realmente acha que ele te ama?”- ela perguntou largando o copo numa bandeja de um cara que passava. Fiz o mesmo, mesmo estando com o copo cheio. “Eu acho que sim.”- eu disse timidamente. “Você acha ou tem certeza?”- ela prosseguiu. Eu a olhei com um olhar de dúvida. “Meu anjinho, preste atenção. Aaron parece ser um cara muito legal e tudo mais. Acredite, todos eles parecem ser. Mas garotos como o Aaron e garotas como você eu já vi centenas. Ele diz que te ama, você acredita. Ele escreve músicas pra você, dedica um show inteiro pra você e te leva pra cama. Quando aparece a primeira oportunidade pra ele, ele agarra com todos os dedos e jura que não vai te deixar por nada.”- ela disse com a garganta seca e ainda me olhando nos olhos. “Acontece, que na primeira semana de fama, ele já está na cama com outra ou outras, e esquece de todo esse amor que tem por você.”- ela terminou. “Mas o Aaron não é assim. Ele gosta de mim. De verdade.”- eu protestei. “Eu sei, meu anjo. Mas todos eles amam a fama e amam a montanha de garotas que ela traz. Vai por mim.”- ela disse parecendo triste e pegando minhas mãos. “Como você pode ter tanta certeza? Nem todos são assim.”- eu disse soltando suas mãos. “Anjinho, acredite em mim.”- ela disse. “Como eu disse, já vi milhares iguais ao seu Aaron. Sonham em ter uma banda, montam uma com os amigos, escrevem meia dúzia de músicas e já se consideram os próximos Beatles. Em seguida, meu homem vem e lhe dá uma oportunidade de tocar no Bourbom e quando você vai ver, ele está sentado assinando um contrato e esquecendo que tem uma namorada. A fama muda as pessoas. Vai por mim.”- ela disse. Eu não conseguia dizer nada, só sentia meu estômago latejar, como se um punho tivesse o acertado. “Você pensa que não, mas eu te garanto: essa noite vai mudar a vida do seu namoradinho e a sua também. Eu se fosse você aproveitava enquanto podia.”- ela disse seriamente. “Desculpe, Jenna.”- eu não aguentei mais. “Você está bêbada e errada. Completamente errada. E que eu saiba, não pedi que você se intrometesse na minha vida. Nada mudará entre Aaron e eu hoje. Podemos ter tido problemas, mas isso não interessa.”- eu disse nervosa. “Problemas? Garanto que a banda dele tem um dedo nisso. Estou certa?”- ela interrompeu. “O que?”- eu retruquei. “Sim,sim. Ele já te trocou pela música algumas vezes.”- ela continuou se preparando para acender um cigarro. “Sim, mas e daí? Ele me ama e eu o amo. Eu estou muito feliz e orgulhosa dele. Nada mudará depois de hoje. Nada.”- eu explodi a olhando com os olhos em chamas. “Tudo bem, minhas desculpas. Mas não diga que eu não avisei, docinho.”- ela disse com um tom ameaçador. Ela se levantou da mureta e começou a andar, passando por mim. Em seguida, antes de sumir no salão, gritou: “Aproveite, querida. Aproveite enquanto ele ainda é só seu.”