Rock Of Ages escrita por AniinhaBorges


Capítulo 10
Capítulo 9




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Os dias foram se passando e a vida também. Chip continuava preso e Ramona estava fazendo tudo o que podia para tentar tirá-lo de lá o quanto antes. Ela havia contratado um defensor público para defendê-lo e todos os dias eles se encontravam para longas reuniões. Enquanto isso, eu comecei a trabalhar como garçonete no Poison. Como Ramona estava ocupada com Chip, quem acabou me treinando foi Bonnie. Ela ficou tomando conta da lanchonete durante esse período, pois era a única pessoa que Ramona tinha plena confiança além de Chip. Além de trabalhar, eu também gastava meu tempo tentando me distrair andando pelas ruas de Los Angeles tentando não me preocupar com a situação.

Mas a verdade era que eu não conseguia pensar em outra coisa. Eu só pensava nele e quando poderia vê-lo livre de novo. Até fui algumas vezes visitá-lo na cadeia, mas ele recusou todas as minhas visitas. Ramona tentou convencê-lo, mas as únicas pessoas que ele recebia era ela, o advogado e Jerry. Como ele era meu único canal de comunicação com Chip, pedia a Jerry para mandar recados e notícias a ele. Mas Jerry nunca me trazia uma resposta, só me avisava que lhe tinha dado o recado e que ele havia o recebido. E eu também sempre perguntava a ele como ele estava. Jerry me disse que ele estava bem, aparentemente. Mas segundo o delegado, ele era um dos presos mais quietos que ele já havia visto. Quase não comia ou falava. Havia recusado qualquer direito a ligação e, como eu já sabia, todas as visitas que não fossem Ramona, Jerry e o advogado.

Meu expediente no Poison começava às quatro da tarde, mas eu sempre tinha que chegar um pouco mais cedo, ainda mais porque era uma novata e por conta de toda essa situação. Por incrível que pareça, acabei aprendendo rápido as manhas de uma garçonete. Só havia derrubado uma bandeja e conseguia driblar todos os clientes chatos que ficavam me perturbando. Os piores dias eram as sextas e sábados, os dias em que todas as pessoas de Los Angeles saíam para se divertir à noite e passavam antes no Poison para se preparar. A lanchonete ficava lotada e eu só conseguia respirar quando chegava em casa, mas em compensação as gorjetas eram ótimas. Só as cantadas que não.

Durante uma quarta à tarde, a lanchonete estava vazia e Bonnie estava me ensinando como fechar o caixa, caso algum dia eu precisasse fazer isso. Foi quando Ramona e Jerry entraram porta adentro, rindo e comemorando. “Chip vai ser solto!”- ele disse correndo para me abraçar. Ele ainda estava chateado com a história de Drew e Bonnie e não havia falado com ela desde aquela noite. “Jura?! Quando?!”- eu perguntei me virando para Ramona. “Amanhã mesmo. O juiz decretou que a pena dele será prestar serviços comunitários.” – ela falou aliviada. “Isso é bom?”- eu perguntei. “Sim, melhor do que ele ficar preso por muito mais tempo.”- Jerry respondeu pulando para o outro lado do balcão e abrindo uma lata de refrigerante. “E quando eu posso vê-lo?”- eu perguntei animada. “Querida, acho melhor você esperar um pouco. Deixe que ele cumpra essa pena e depois, quando ele voltar para o Poison, você poderá vê-lo até cansar.” – Ramona me disse me abraçando e sorrindo, como se fosse uma mãe. “Mas eu quero vê-lo. Eu preciso vê-lo.”- eu insisti. “Eve, eu sei. Eu entendo. Mas é melhor você esperar. Prometa que vai esperar.”- ela pediu calmamente. Eu odiava aquilo. Havia passado tão pouco tempo com ele e, agora que ele finalmente estava livre, eu tinha que esperar mais para poder ficar com ele? Eu a olhei nos olhos e balancei a cabeça, mesmo contra minha vontade. “Sim, eu prometo.”

Na manhã seguinte, acordei e notei que Bonnie não estava mais no apartamento. Ela havia me deixado um bilhete na mesinha de telefone dizendo que ela iria para um teste para um papel em um filme e que havia panquecas no forno. Fui até a cozinha e fiz um pouco de café para acompanhar as panquecas. Passei um pouco de mel nelas e as devorei em minutos. Em seguida, fui tomar um banho e me vesti. Estava cedo ainda para ir para o trabalho, então decidi dar mais uma das minhas voltas por Los Angeles. Resolvi ir dar uma volta na praia. Peguei minha bolsa que havia trocado em um brechó por um vestido e meus óculos de sol novos e sai. Depois de algumas semanas em Los Angeles já sabia andar de ônibus e como as coisas no transporte público funcionavam. Peguei o ônibus no ponto perto de casa e desci alguns quarteirões antes da praia.

Estava um dia lindo, considerando que ontem havia chovido um pouco. A praia não estava muito cheia, mas a areia estava completamente suja. Folhas, gravetos e até alguns resíduos de lixo estavam espalhados por sua extensão. Andei mais um pouco e me aproximei da praia. Hesitei um pouco e decidi andar na areia, mesmo com toda essa sujeira. Fui andando distraída até avistar um pequeno grupo de quarto pessoas usando um macacão azul limpando uma região da praia. Perto deles havia um policial parado, observando seu trabalho. Pude ouvir quanto este apitou e decretou um intervalo de dez minutos. A maioria das pessoas foi em direção ao mar e o policial as seguiu. Só um rapaz andou na direção contrária ao mar e sentou-se na areia, perto da calçada.

Fui me aproximando do rapaz de macacão, até conseguir ver nitidamente sua silhueta. Era ele, só podia ser. Comecei a acelerar meus passos até finalmente chegar perto dele. Parei ao seu lado e ele timidamente me olhou. Em seguida levantou-se e ficou me olhando com aqueles olhos que eu já estava me familiarizando. “O que você faz aqui?” – ele me perguntou. “Eu vim dar uma volta na praia. Se tornou um hábito passear por Los Angeles desde, bem desde.”- eu não consegui continuar e acho que ele conseguiu entender. “Estou tão feliz por te ver.”- eu disse tentando me aproximar dele. Ele recuou um pouco fazendo com que minha animação sumisse em segundos. “Eve, você não devia estar aqui.”- ele disse. “Como assim? Eu não sabia que iria te encontrar aqui.”- eu disse não entendendo suas palavras. “Acho melhor você ir.” – ele disse desviando o olhar para o mar. “Você está me mandando ir embora?”- eu peguei sua mão, mas ele a soltou como se tivesse encostado no fogo. “É o melhor.”- ele disse friamente. “Melhor pra quem, Chip?”- eu gritei. “Pra você! Eve, olha só pra você. Você é uma menina rica, bonita, inteligente que quis viver um pouco de aventura e olha no que deu. Eu não sou ninguém. Nunca fui e agora com essa mancha na minha vida, duvido que eu vá ser alguém.”- ele continuava tentando não me encarar. “Mas eu não me importo com isso. Eu quero ficar com você. E sei que você quer ficar comigo também.”- eu disse puxando seu rosto. “Nem sempre o que a gente quer acontece, Eve. Agora vá. Eu tenho que voltar ao trabalho.” – o policial e as pessoas já estavam voltando do mar para o local onde estavam limpando antes. “Quantos dias você ainda vai fazer isso?”- eu perguntei. “Não sei. Talvez uma semana, sei lá.”- ele novamente fugiu do meu olhar. “O melhor é você me esquecer. Vamos esquecer isso tudo. Foi só uma aventura. Passou. Siga em frente.”- ele foi andando lentamente me deixando pra trás. Eu corri e agarrei seu pulso. “Por favor, não. Eu não quero esquecer.” – eu disse segurando minhas lágrimas. “Mas nos temos que fazer isso, princesa.” - ele segurou minhas mãos como se nunca mais quisesse soltá-las e beijou minha testa docemente. “É o melhor.” – em seguida, soltou-me e se virou, andando sem olhar pra trás e pra menina que ele havia deixado.

Eu fiquei lá, parada sem mexer um só músculo vendo ele se distanciar. A cada passo que ele dava, meus pensamentos desejavam que ele voltasse e me abraçasse, dizendo eu estava certa e que nós daríamos um jeito sim nessa história. Mas essa imagem ficou apenas nos meus pensamentos. Eu tentava entender seu raciocínio; ele estava com medo. Medo por mim. Ele não queria que alguma coisa acontecesse comigo. Ambos sabiam que nada poderia acontecer, mas nunca se sabe os planos do destino. Outro dia eu estava sendo expulsa do colégio que estudava a poucos meses da minha formatura e hoje estava parada numa praia em Los Angeles vendo a única pessoa que eu amei de verdade escapando de mim.

Depois de um tempo parada sem ação, dei meia volta e fui embora. Não conseguia mais ficar ali, não queria que ele me visse e eu não queria mais vê-lo. Sequei minhas lágrimas, calcei meinhas sandálias e atravessei a rua sem olhar pra trás. Por mais que eu não quisesse, as poucas memórias que eu compartilhei com Chip insistiam em passar pela minha cabeça como um filme. Eu andava na rua tentando apaga-las da minha cabeça e lutando para parar de ouvir sua voz me chamando de princesa, mas era inevitável. Você não esquece alguém com a mesma facilidade que se apega a essa pessoa.

Continuei andando, sem prestar atenção onde estava indo ou em qualquer pessoa que passava por mim. Muitas esbarravam em mim e eu devo ter quase caído umas três ou quatro vezes. Pelo menos não estava chorando mais e estava conseguindo controlar-me para não voltar a me afogar em lágrimas. De repente me encontrei numa rua que eu não conhecia. Quero dizer, não conhecia todas as ruas de Los Angeles, mas aquela área era completamente nova pra mim. A rua não estava deserta, mas não havia muitas pessoas passando por ela e, para piorar, não avistava nenhum ponto de ônibus por perto. Resolvi parar e ver se achava alguma placa ou qualquer coisa que pudesse me informar de alguma maneira. E quando eu achava que meu dia não podia piorar, acontece mais uma pequena desgraça. “Você não olha por onde passa não?”- eu gritei assim que a água suja de uma poça atingiu minhas pernas me molhando e me sujando. Uma moto havia passado em cima de uma poça perto da calçada onde eu estava a toda velocidade e havia jogado água para todos os lados, principalmente em cima de mim. A moto parou perto do sinal mais a frente e deu meia volta vindo em minha direção. Ótimo, só faltava ser um assaltante ou assassino para me matar e acabar com o meu dia.

O rapaz da moto parou na minha frente e tirou o capacete. “Como é que é?”- ele perguntou. Ele tinha uma expressão arrogante e um sorriso um tanto malicioso. “Você não olha por onde anda não? Olha o que você fez.”- eu disse apontando para as minhas pernas. Ele olhou e riu. “Lindas pernas, mas eu não tive o prazer de fazê-las.”- ele disse descendo da moto. “Idiota.”- eu murmurei. “Calma, eu estava só brincando.”- ele disse se aproximando. “Você precisa de ajuda?”- ele perguntou parando ao meu lado, mantendo uma distância razoável. “Não, estou bem.”- eu disse friamente. “Pelo visto você não parece muito bem.”- ele insistiu. Eu olhei para ele e suspirei. Ele tinha olhos claros e seu cabelo estava completamente bagunçado, mas mesmo assim era bonito. “Ok, pode ser que eu não saiba onde estou.”- eu confessei. “Hm, não conhece Los Angeles direito, certo?”- ele perguntou passando por mim e parando do outro lado. Eu balancei a cabeça sendo obrigada a concordar. “Eu até conheço, mas não essa parte da cidade.”- eu disse seguindo-o com o olhar. “Eu moro e trabalho no outro lado.”- eu disse olhando pra baixo. “Posso saber aonde?”- ele perguntou. “Numa lanchonete, o Poison. Você conhece?”- eu disse com um tom desafiador. Ele olhou pra mim, soltou uma risada e andou em direção à moto. “Pode ser que sim.”- ele montou na moto novamente e se preparou para ligá-la. “Sobe aí. Eu te levo.”- ele disse. Eu continuava parada no mesmo lugar com uma cara de desconfiada. Como poderia pegar carona com qualquer um? “O que? Pode deixar, eu não mordo nem sou o lobo mau, Chapeuzinho.”- ele brincou. Ironicamente, eu estava de blusa vermelha e havia um lobo na camiseta dele. “Ok, já entendi, seus pais lhe ensinaram a não falar com estranhos, né? Nesse, caso, prazer Aaron.”- ele insistiu e esticou sua mão. Ok, eu estava perdida e tinha um cara fofo me oferecendo ajuda. O que podia dar errado? “Eve.”- eu falei andando em sua direção e subindo na moto, ainda um pouco desconfiada. Ele me entregou o capacete e me pediu para colocar. “E você?”- eu perguntei fazendo o que ele havia dito. Ele não respondeu, só ligou a moto. “Eu se fosse você segurava na minha cintura.”- ele disse com um sorriso malicioso. “Isso é uma cantada?”- eu perguntei. “Não, é só uma medida de segurança. Como você pode notar, eu costumo ir bem rápido.”- ele disse e eu não tive escolha a não ser acatar mais uma de suas medidas de segurança.



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