Minha mãe me chamou mais umas trinta vezes naquele dia, mas eu apenas tentava ignorar, vencendo a mania de obedercer.

No fim do dia ela veio até o meu quarto e disse:

– Parabéns! Eu estava pensando em não te mudar mais de escola, mas como você não fez tudo o que eu mandei hoje, já era e ainda tenho mais dois castiguinhos para você...

Ela deu um sorrisso malígno, andou até a minha prateleira, pegou todos os livros que eu tinha( meus refúgios) e me chamou para irmos à sala de jantar.

Fomos em um silêncio mortal, a sala era bem grande, com uma mesa para doze pessoas, um lustre grande no centro(eu sei é muito brega!! Geralmente eu desvio para não olhar essa coisa!) e na ponta havia uma clareira, o que fazia a sala ficar mais brega ainda. Jade caminhou até o fogo, que estava bem alto. Confesso que tinha uma ideia do que ela iria fazer, mas depois descartei-a, ela não ia fazer isso... Pelo menos eu PENSAVA que não, mas quando me dei conta, ela jogava todos os livros no fogo.

– Não!! - Foi a única coisa que eu consegui dizer ao ver os meus livros arderem no fogo e se transformarem em cinzas.

–Não é só isso filhinha... Você vai começar na nova escola amanhã.- Ela disse interrompendo os meus pensamentos, mas no momento isso não interessava. Corri até o meu quarto de merda, joguei a porta e pulei na cama, mas quando coloco a minha mão na escrivaninha, sinto o meu cartão de crédito sem limites...

Abro o meu guarda roupa e me deparo com aquelas roupinhas de puta que, segundo minha mae me deixavam "sexy". Joguei todas pela janela, sem nem querer saber quais seriam as consequências e fugi de casa para comprar umas roupas melhores, já que amanhã seria meu primeiro dia de aula.

Fui a pé mesmo, chegando no shopping uns cinquenta minutos depois com a minhas pernas bambas e com uma sede que parecia que eu estava no deserto e sem beber a dois dias.

Entrei e fui direto comprar duas garrafas de água. Andei um pouco pelo shopping e achei uma loja que ficava bem escondida, mas vendia o que eu queria. A loja era relativamente grande, preta e roxa, com as roupas que eu sempre quis, mas nunca pude usar...

De repente uma vendedora mais ou menos baixa, com um pircing azul no nariz vem me atender.

– Então, o que você vai querer? - Ela perguntou em um tom meio debochado e com cara de "tem certeza que entrou na loja certa??". Realmente havia me esquecido que ainda estava usando aquela roupinha rosa de puta, mas não comentei nada sobre aquilo, apenas mostrei as roupas que eu tinha gostado.

Provei tudo e em pouco tempo eu já estava saindo da loja dizendo adeus para a minha nova colega(vendedora).

Eu estava mais ou menos satisfeita, as roupas que comprei são do jeito que eu queria, mas faltava alguma coisa... Foi aí que eu vi uma mulher com as pontas do cabelo pintadas de laranja, era isso que estava faltando!(não, eu não vou pintar o cabelo de laranja, na minha opinião essa cor é muito feia no cabelo, o que eu estou tentando dizer... A você entendeu!!).

Enfim, passei em um salão de beleza e fiz uma mecha roxa grossa só para começar, daqui a pouco vou pintar o cabelo todo.

Voltei para casa no final da tarde e não parecia nem um pouco a garota que tinha saído dali a um tempo atrás. Joguei todas as sacolas no chão e deitei na cama, dormindo em poucos minutos.

#anny#@@@@@

Fui acordada pelo meu despertador 5:30 da manhã. Me arrastei até o banheiro e tomei um banho mais ou menos demorado, peguei qualquer blusa que tinha comprado ontem, uma calça jeans rasgada e coturnos.

Como ainda não tinha carro, fui à pé mesmo. Acabei chegando atrasada, mas também eu andaei mais devagar do que uma tartaruga!

Enfim, a única coisa que eu não queria era chegar na sala e ser o centro das atenções, mas como a minha vida é um cocô de gambá não aconteceu nada como eu previa...

Na hora que eu coloquei a ponta dos meus coturnos dentro da sala, todos os olhares se voltaram para mim. Até mesmo a professora, que estava dormindo, acordou.

– Por que não está com a blusa da escola? - A professora dorminhoca perguntou, quebrando aquele silêcio constrangedor.

– Por que estava dormindo? - Eu a respondi fazendo um sorrizinho de malandra e andando até o final da sala e me sentando ao lado de uma garota morena, alguns sentímetros mais alta que eu, com cabelos castanhos e uma mecha verde escura, que estava exatamente o mesmo local,que a minha...

– Só não te dou uma bronca e te mando para a orientação porque você me pegou no flagra, mas se amanhã não estiver vestindo a blusa... Enfim, sou a professora Mariane... Boa noite...- ela disse e voltou a dormir.

Se passaram duas aulas e continuava tudo um tédio infernal. Todos conversavam e riam, exceto eu e a garota que estava do meu lado.

– É... Oi, eu sou Zamy... - A menina do meu lado falou comigo, ela parecia tímida, mas aposto que logo iria 'se soltar'.

– Oi... Eu sou Anny. Estuda aqui ha muito tempo? - Putz!! Tanta coisa para falar e eu escolho isso?!

– Estudo aqui faz um ano...

– Olá... É... Zamyscluída! - Uma menina ruiva, com uma roupinha de "quero dar para o primeiro que passar" a cortou com uma voz de pato e em seguida olhou para mim e disse:

– E você? Quem é?

– Te interessa? Mas e você, sua esnobe? Quem é? - Perguntei com a voz ríspida e um pouco grossa, afinal odeio o tipo de gente "igual a minha mãe"

– Realmente você e a Zamyscluída se merecem... Mas só falta uma coisa para que vocês fiquem iguais... - Ela disse fazendo um sorrizo malígno e, sem mais nem menos ela rasgou e jogou fora a blusa que eu estava usando.

– Vadia!! Agora você vai ver! - Eu gritei, sem me importar com o meu sutiã preto que estava à mostra (ainda bem que eu estava usando o meu mais composto). "Voei" nela e comecei a espancá-la e estapeá-la, enquanto ela tentava puxar os meus cabelos...

Foram nescessários dois meninos bem fortes para me fazerem sair de cima daquela vaca urbana... Mas, como eu já disse que eu tenho a sorte de um gato preto, quem estava lá para prestigiar e dar a graça ds sua presença? Se você disse a diretora, sim você acertou...

E lá vou eu, no primeiro dia de aula na escola nova para a coordenação e ainda por cima, sem blusa...

Eu mereço...(sentiu o tom irônico no ar?)