Faz frio em Chicago, as folhas das arvóres são atingidas pelo vento, dançando pelo ar e repousando sobre o chão. William observa atentamente a cena se repetir inúmeras vezes pela janela de seu quarto, um luar pequeno e nao muito confortável, repleto de lembrenças e com um pequeno cheiro de café misturado com nostalgia.

O garoto desvia sua atenção para o retrato que está à seu lado, seus olhos encontrando os de uma bela garota, com seu sorriso brilhante e seus cabelos caindo por sua face delicada. Ela é linda, ele pensa, mas não significa nada pra mim. E ela não é capaz de fazer com que ele se sinta menos solitário.

O vento se torna cada vez mais intenso, fazendo com que o garoto puxe o casaco que está usando para mais perto de seu corpo, na tentativa de que isso seja o suficiente para afastar o frio e o vazio que tomam conta dele nesse momento. Isso nunca foi um problema para William, não eram necessários casacos ou cobertores antes, ele tinha o corpo de Gabe junto ao seu e isso era o suficiente para mantê-lo quente. E completo. Gabe o fazia completo.

Ele sorri ao lembrar das discussões bobas e sem fundamentos que teve com Gabe por causa desse casaco, Gabe insistia em dizer que ele era lilás, enquanto William afirmava que ele era roxo, segundo o homem mais velho, não existia diferença entre as cores, roxo era como um lilás um pouco mais escuro e ele não via sentido em ter outro nome só por ter um tom mais forte, afinal, o azul era azul independente da sua intensidade, por que não poderia ser assim também com o lilás? Era um pensamento bobo e completamente sem fundamento, William sabia disso, mas era interessante ver seu namorado tão empenhado com uma coisa tão banal como uma cor. O engraçado era que agora, tudo parecia sem cor para William, exceto o casaco de Gabe.

Seu sorriso aos poucos é desfeito, Gabe não está mais com ele, eles não irão mais discutir por causa de cores, William não terá mais seu nome substituído por apelidos carinhosos em espanhol, mas ele sabe que é tarde demais. Ele deveria ter dado uma razão para Gabe ficar, mas nada foi feito, nada foi dito. Ele simplesmente assistiu Gabe sair pela porta e levar todas as cores junto com ele. Deixando apenas o maldito lilás para trás.

O relógio na cabeceira da sua cama, indica para William que já passa das 7h, isso não importa. Agora ele se encontra procurando o telefone desesperadamente, os segundos se transformam em o que parece ser uma ternidade e o silêncio no outro lado da linha faz com que o garoto segure o telefone com extrema força, como se sua vida dependesse disso (e na verdade, depende).

Um toque.

Dois toques.

Três toques.

E ele súplica na secretária eletrônica de Gabe.

– Eu sinto muito, Gabriel... E- Eu sei que não deveria estar te ligando e eu não me importo que você tenha escolhido não me atender, eu mereço isso, eu realmente mereço isso... M-Mas eu estava pensando e... Lembra do seu casaco? Ele realmente é lilás, eu consigo ver agora, na verdade é a única coisa que eu consigo ver ver, ele é lilás e tem tem seu cheiro e... Droga, Gabe! Eu sinto sua falta... Eu realmente sinto...

Ele não consegue falar mais nada, porque nenhuma palavra será capaz de mudar o fato de que tudo continua sem cor e o casaco continua sendo lilás e a garota do retrato continua sendo linda, e ele continua sozinho.