Living Dead - EM HIATUS escrita por lolita


Capítulo 7
VI - Safe & Sound


Notas iniciais do capítulo

Hello! Aqui está um capítulo novinho, e eu queria agradecer a linda da VeronicaRubim por recomendar Living Dead. Eu fiquei extremamente feliz, tipo: É A PRIMEIRA RECOMENDAÇÃO QUE RECEBO, MDS, MDS, MDS, QLINDO Ç.Ç kk
Enfim, muito obrigada mesmo! E gente, sobre o capítulo anterior, por favor não me matem! Eu prometo pra vocês que tem um motivo por eu ter deixado que o Luke fizesse aquilo à Annie, e isso vai ser explicado futuramente, afinal, ainda há muito coisa à descobrir!
Safe & Sound por Taylor Swift feat. The Civil Wars. Se vocês conseguirem se concentrar na leitura ouvindo música, peço que escutem essa música enquanto lêem a última parte desse capítulo que está pelo ponto de vista do Percy. É só ir ali no kboing e botar pra tocar. É uma música que acho muito linda e que combina perfeitamente com a situação do momento. ç.ç
Ok,estou aqui interrompendo meu almoço pra postar logo pra vocês. Espero que gostem. (:



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Rachel andava de um lado para outro em seu quarto. Não conseguira dormir, Annabeth estava desaparecida e ninguém tinha sequer uma ideia sobre onde ela poderia estar. Elas nunca saíam do palácio, a não ser para algum evento em que deveriam acompanhar a família, assim como o Festival da Lua Azul.

Rachel soubera que algo daria errado. A vida inteira, ela tivera um sexto sentido apurado, sabia quando alguma coisa ia dar certo ou errado, mas nunca falara sobre isso para ninguém. Logo quando seu pai dera o aviso sobre o Festival, Rachel andava com a certeza de que algo não daria certo. Então ela conheceu Luke Castellan, e tudo apenas piorou. Sempre que estava por perto, sentia vontade de fugir, e ela sentia seu mau pressentimento aumentando mais ainda.

Então, sua irmã desapareceu. E tudo o que ela conseguia pensar era em Luke e em como ele estava interessado nela. Ela não sabia como essas duas coisas poderiam se encaixar, mas sabia que ele estava envolvido.

– Rachel, você precisa descansar. – Silena falou. Ela estava em seus trajes de dormir e na sua cama, mas também não conseguira dormir.

– Descansar? Como eu posso dencansar Silena? Nossa irmã está desaparecida e tudo que consigo pensar é em como eu deveria ter cuidado mais dela.

– Não, a culpa não é sua! Você sabe que ela tem mania de se afastar e ficar perambulando por aí.

– Sim, mas ela sempre volta! Por que não voltou dessa vez? – Rachel questionou, claramente aflita. Silena suspirou.

– Eu não sei... – Sua voz estava exausta. – Não consegue pensar em ninguém que pareceu... estranho em relação a Annabeth ou alguma coisa assim?

– Não, a única pessoa que fica vindo à minha mente é aquele Luke Castellan. – Ela respondeu e Silena pareceu ofendida.

– Luke não faria nada com Annabeth, ele é extremamente educado e cavalheiro. – Silena o defendeu e Rachel a olhou enojada.

– Argh! Ele é um grande metido. Galanteou com quase todas as moças da festa, não sei como não percebeu.

– É, talvez, e você pareceu gostar bastante não é? – Rebateu Silena.

– O que você quer dizer?

– Ah, por favor! Eu vi vocês dois conversando! Ele estava todo charmoso para cima de você e aposto que se eu não estivesse lá, você teria retribuído o flerte!

– Silena, eu tenho nojo daquele homem! Eu e Annabeth estávamos ao máximo tentando ficar distantes dele, como você pode achar que eu estava flertando com ele?

– Por que eu vi vocês dois juntos! Como pôde fazer isso, você sabe que o quero e principalmente que papai também o quer para mim!

– Silena, pare de ser ridícula, você viu as coisas de um jeito e imaginou tudo diferente nessa sua mente fútil, além de estar sendo totalmente burra ao vir discutir comigo ao invés de discutir com ele que é um completo babaca e que só vai se casar com uma de nós por completo interesse no dinheiro! Acha mesmo que ele iria ver você como uma esposa ideal? Acha mesmo isso? – Rachel simplesmente soltou tudo sem pensar e logo depois se arrependeu.

– Não... desculpe, eu... – Ela tentou se desculpar mas Silena desferiu um tapa em seu rosto, a pegando totalmente de surpresa.

– Você... você... – Ela tentou formar alguma frase enquanto colocava a mão no lado do rosto que foi estapeado, mas estava surpresa demais para falar alguma coisa legível.

– Você é uma ladra, eu falei que eu o quero! – Silena falou, totalmente ofendida. Rachel estreitou os olhos, não acreditando no que ouvia.

– Você é tão deplorável quanto ele! – Cuspiu e retirou-se do quarto em um estado de total surpresa e ofensa.




Rachel perambulava pelos corredores do palácio, tentando ao máximo se distrair para que não enlouquecece de preocupação pela irmã. Estava passando perto da cozinha quando ouviu algo que lhe chamou a atenção. Moveu-se cautelosamente na ponta dos pés e adentrou a cozinha, escondendo-se atrás de uma das pilastras.

"Thalia é famosa por aqui." – Uma das cozinheiras sussurrava, o que Rachel pôde distinguir ser Paola, uma das criadas mais antigas no palácio.

"Não me digas" – Respondeu a outra em deboche.

A primeira falou alguma coisa que Rachel não pôde ouvir, então aguçou um pouco mais a audição.

"Ouvi dizer que ela compareceu à festa." – Paola dizia.

"O quê...?"

"Pois é, eu particularmente gostaria de ter visto a reção do povo quando a feiticeira..."

"Não, olhe." – A segunda falou, e as criadas silenciaram-se.

Foi aí que Rachel percebeu que apesar de estar bem escondida, sua sombra estendia-se a sua frente, para o lado, de modo que as criadas pudessem ver que alguém estava ali. Suspirou e saiu de seu esconderijo. Paola e Maura, uma mulher baixinha e gordinha, fingiam cortar alface.

– Que feiticeira? – Perguntou, indo direto ao ponto.

– Não sei do que a senhorita está falando. – Paola respondeu distintamente e Rachel suspirou novamente.

– A feiticeira, quem é ela? – Rachel falou em uma voz estridente e a criada a encarou. Tentou falar mais camalmente. – Eu preciso saber.

Rachel já ouvira falar de Thalia. Sabia que a família Grace já fora exilada de Bridgeport uma vez, mas nunca soube exatamente o porquê. De repente, a ideia de Thalia ser uma feiticeira e ter estado cara a cara com ela a deixou nervosa.

– Eu não sei se posso lhe contar...

– Fale logo! – Rachel disse, batendo os pés e as criadas entreolharam–se.

– Bem, Thalia Grace... – Maura limpou a garganta. – É claro que sabe que a família fora exilada e depois permitida a voltar. Mas o motivo por terem sido expusos é que... bem, o povo descobriu seu segredo.

– Eles envolviam-se com feitiçaria. – Paola finalizou.

– Feitiçaria? – Rachel tentou controlar a voz. – Mas isto não existe, são apenas histórias!

– Bem, era o que o povo dizia. – Paola deu de ombros. – A família de Thalia foi caçada e morta, até que seu irmão, Jason Grace, foi pego e quase morto. Ela rendeu-se e implorou por misericórdia.

– Foi aí que Edward, seu avô, decidiu que: ou ela abandonava a cidade, ou eles seriam mortos.

– Que horror! – Rachel exclamou. – E eles aceitaram abandonar é claro. Mas como hoje ela está de volta a cidade sem causar nenhuma revolta? E seu irmão?

– Bem, seu pai decidiu perdoá-la, em troca ela teve que jurar pelo Rio Estige que não voltaria mais a envolver-se com feitiçaria. Não se sabe o porque de Rei Frederick tomar tal atitude de repente, alguns dizem que ele precisou de sua ajuda para alguma coisa, mas nada foi confirmado. De qualquer forma, ela aceitou abrir mão da magia e voltar para Bridgeport. E seu irmão, para falar a verdade, nunca mais foi visto. – Paola explicou, então franziu a testa e a olhou. – Você já era nascida na época Rachel, sua mãe estava esperando por Annabeth, não se lembra?

Rachel franziu a testa e balançou a cabeça lentamente.

– Não.

– Bem, foi o que aconteceu. – Ela encolheu os ombros. – Mas por que quer saber?

– Ahn... nada, apenas curiosidade. E Thalia está residindo no centro? – Ela questionou.

– Ah, não, não! Mesmo sendo aceita de volta, prefere manter-se afastada da aglomeração urbana. Ela vive à 20km floresta adentro, a caminho de Saltiville. – Maura falou tudo de uma vez só e Paola lhe desferiu um leve tapa no braço.

– O quê? – Maura perguntou surpresa.

– Por que tamanha curiosidade Rachel? – Paola perguntou e semicerrou os olhos. – Santo Zeus, o que você pretende fazer?

Paola e Rachel se davam muito bem, a moça conhecia Rachel e sabia quando um plano estava formando-se em sua cabeça.

– Paola, não meta o nariz aonde não foi chamada! Vá, vá, continuem seus afazeres... já! – Rachel falou e Paola deu uma risadinha enquanto ela e os outros voltavam a fazer o almoço.

A verdade é que uma ideia absurda viera a mente de Rachel, e ela ainda estava ponderando se executava seu plano ou não quando avistou uma cabeleira loira e encaracolada do lado de fora, o corpo pálido tombado na margem do riacho.

– Annabeth! – Ela exclamou e saiu correndo castelo afora, gritando por ajuda.

Annabeth estava um farrapo. Seu antes belo vestido azul estava imundo e rasgado. Seu corpo flácido e mais branco que o normal encontrava-se também imundo e cheio de arranhões. O cabelo era um emaranho de cachos com folhas, um embolo nunca visto antes.

Ela estava acordada, mas respirava fracamente, o que deixou Rachel ainda mais aterrorizada. Os olhos cinzas estavam opacos e quase se fechando, os lábios arroxeados. Rachel tocou seu rosto e surpreendeu-se com o quanto sua pele estava gelada.

– Santo Zeus, o que aconteceu com você? – Ela murmurou, sem obter resposta. Então de repente Percy estava ali, ajoelhado do outro lado.

– Annie? – Sua voz saíra baixa e fraca, como se estivesse prendendo alguma coisa na garganta.

A mão de Annabeth levantou-se fracamente e ele a segurou, o que o fez ofegar, provavelmente surpreendendo-se também com a temperatura.

– Rápido, precisamos levá-la para dentro. – Ela falou e olhou ao redor, algumas criadas e alguns poucos guardas correndo em sua direção.

Percy, porém, parecia irritado com alguma coisa e rapidamente a pegou no colo, Annabeth parecendo uma simples boneca de pano em seus braços: leve, mole e puída.

Antes que percebesse, lágrimas lhe escaparam pelos olhos. O que diabos acontecera à sua tão jovem e querida irmã, afinal? Vê-la daquele jeito, pálida e gelada, estava formando um sentimento que lhe esmagava por dentro. Annabeth parecia até... morta.




Silena sentia-se completamente fútil e idiota. Há algumas poucas horas discutia com Rachel por causa de um garoto enquanto alguma coisa horrível acontecia à sua irmã. Rachel estava desesperada. O seu sexto sentido estava louco, querendo lhe avisar sobre algo que não conseguia distinguir, não conseguia ver o que era. Percy não sabia se sentia triste, amedrontado ou irritado. O ódio estava vencendo; a verdade era que ele estava farto de ver Annabeth ser julgada injustamente, e tinha certeza que alguém lhe fizera algo simplesmente pelo que diziam sobre ela.

Um médico fora rapidamente chamado. Annabeth fora banhada e posta em baixo de duas grossas cobertas pelas criadas, em todo o tempo ela não dizendo sequer uma palavra. Na verdade, ninguém conseguia dizer nada ali, o choque e tensão reinando no ambiente. Ela estava fraca e sua pele passara de extremamente gelada para extremamente quente. O doutor receitou alguns medicamentos, e estes foram rapidamente adquiridos, é claro.

Frederick sequer aparecera para ver a filha, o que irritou um pouco Silena e Rachel, e deixou Percy espumando de raiva. Porém, ele conseguira se conter e deixar sua expressão impassível, o que o surpreendeu, pois achava impossível conseguir esconder tanta raiva.

– Embora seu estado seja preocupante, Annabeth conseguirá se recuperar em poucos dias se seguir os horários dos medicamentos corretamente. Ela está fraca, precisa se alimentar, nem que tenham que forçá-la, ela não pode ficar sem nada no estômago. O xarope vermelho deve ser dado depois do café da manhã, almoço e janta. O branco apenas depois do almoço. – O doutor entregou os remédios para Paola.

Maura era doce demais para não pelo menos parecer abalada com o estado de Annabeth; já Paola parecia um tanto indiferente, e Rachel pensou por um momento que isto estava ligado ao fato de trabalhar ali por um longo tempo, enquanto Maura chegara há apenas poucos anos. Annabeth não ouvia o que o doutor dizia pois dormia em um sono calmo.

– Infelizmente, ela não respondeu minhas perguntas sobre o que lhe aconteceu, o que me impede de saber o que exatamente lhe examinar. Mas não me surpreende. Como eu disse, está fraca, precisa de descanso. É evidente que pegou a tempestade que teve à noite, por isso a febre. – Ele disse e antes de sair pelo quarto, avisou. – Voltarei daqui à dois dias para um exame geral. Até lá, apenas lhe deixem descansar bastante e a faça comer!

– Vamos lá crianças, vocês ouviram, Annabeth precisa descansar. – Elizabeth falou, expulsando-os delicadamente do quarto.

Silena beijou suavemente a testa da irmã e se retirou do quarto. Ela já não parecia irritada com Rachel, apenas culpada. Rachel apertou a mão de Annabeth.

– Mamãe, deixe-me ficar aqui com ela. – Pediu suavemente e Elizabeth hesitou. – Não incomodarei, só quero lhe fazer companhia.

– Tudo bem, querida. É claro que pode ficar. – Ela respondeu.

Antes que todos saíssem, Rachel lançou uma olhadela para Percy e ele entendeu a mensagem. Saiu do quarto junto aos outros e encostou-se em uma das paredes. Quando Elizabeth e as empregadas saíram de sua vista, ele voltou para dentro do quarto. Rachel colocara uma poltrona perto da cama de Annabeth e a observava, séria. Postrou-se ao lado da poltrona.

– Não precisava me mandar " a mensagem", eu voltaria para cá de qualquer forma. – Percy falou baixo e Rachel sorriu fraco.

– É por isso que confio em você, Perseu. – Ela sussurrou. – Sei que nunca abandonaria minha irmã.

– É claro que não.

Seguiu-se um silêncio por alguns minutos com ambos fitando Annabeth. Então ele franziu a testa e perguntou:

– Tem algo que queira me contar? – Rachel revirou os olhos.

– É claro, se não eu não o teria chamado. – Deu uma risadinha antes de continuar. – Eu vou precisar sair Perseu, e quero saber se posso contar com você.

– Sabe que sempre pode contar comigo. Mas sair para onde?

– Vou atrás de uma pessoa... e acho que levará algum tempo para eu encontrá–la.

– Quanto tempo? – Questionou e ela franziu a testa.

– Acho que volto ainda hoje. Mas tarde, muito tarde.

– E o que quer que eu faça? – Percy questionou.

– Preciso que não deixe os outros saber que estou fora, é claro. Diferente de Annabeth, meu pai ficaria desesperado e colocaria toda a guarda atrás de mim. – Ela falou e Percy pôde distinguir uma certa irritação em sua voz. Era triste, mas era verdade, e isso o irritou também.

– Por que ele é assim, Rachel? Por que ele odeia tanto Annabeth?

– Eu não sei Percy. Também quero saber e acho que essa pessoa poderá responder nossas perguntas. – Ela falou e ele a olhou apreensivo.

– Eu não sei, Rachel. Isso parece um assunto delicado e pode ser perigoso para a gente. Acha mesmo que é uma boa ideia?

– Eu sei Percy, mas é necessário. Só vou... tentar entender um pouco as coisas. Eu também não tenho bom pressentimento quanto à isso, mas não suporto mais toda essa confusão! – Ela suspirou, frustrada.

– Eu também não. – Concordou. – Então faça o que for preciso Rachel. Sabe que vou estar do seu lado seja lá o que aconteça.

Ela levantou-se e o abraçou, sorrindo.

– Obrigada Perseu.

Dirigiu-se ao baú que tinha em frente a sua cama e pegou uma capa vermelha que tinha desde criança. Elizabeth fizera uma para cada filha, e aumentava o tamanho da capa de acordo com o crescimento delas.

– Você vai agora?

– Se eu quiser voltar antes da manhã de amanhã... é, tenho que ir agora. – Ela respondeu.

Rachel prendeu sua capa; o tecido sedoso e vermelho estendia-se longo, arrastando no chaõ. Seu capuz iria tampar seu rosto o suficiente para que não fosse identificada como uma das filhas do rei.

– Então tudo bem. Tome cuidado. – Percy falou.

– É claro. E por favor, cuide da Annie por mim. – Ela pediu.

– Sempre Rach, sempre.




Rachel descera as escadas rapidamente e, escondendo-se de quem quer que pudesse vê-la ao todo caminho até o estábulo, pegou Porkpie e partiu pelos fundos das fronteiras do palácio. Primeiramente, ela deveria procurar saber qual era a estrada para Saltville, uma das cidades vizinhas de Bridgeport, e para isso, o melhor caminho a começar era o centro.

A realidade do centro da cidade pegara Rachel de surpresa. Só o visitava em dias de festivais, de modo que estava acostumada a ver o lugar alegre e com bonitas decorações. No entando, o que via naquele momento era as ruas acizentadas e sem vida apinhadas de moradores com os ombros caídos e as juntas inchadas perambulando para lá e para cá. Não havia música ou crianças dançando. A pobreza e desolação eram nítidas, criando uma sensação de desamparo.

Estava com o capuz tampando seu rosto e cabelos, de modo que não era reconhecida e podia muito bem observar a constante curva para baixo nos lábios dos moradores e comerciantes. Então esta é a verdadeira Bridgeport? Isso a incomodou. Por que seu pai deixava que a pobreza reinasse em sua cidade, quando dentro dos muros reais a mesa era farta e os tesouros constantes?

Tentou deixar de lado o que lhe estava incomodando e procurou por locais que pudessem lhe dar informações. Até que avistou dois garotos altos e loiros com sorrisos traiçoeiros correndo na rua. Os únicos sorrisos que vira desde que saíra de casa. Os reconheceu facilmente. Os irmãos Stoll.

Logo atrás vinha um homem rechonchudo perseguindo-os. Ele nunca conseguiria alcançá-los, mas estava furioso e gritava para que alguém os pegassem. Rapidamente, deu meia volta e começou a seguí-los. Não sabia o que eles haviam feito, mas eram seus amigos.

– Rápido, subam aqui. – Ela gritou para os garotos. Não achava que Porkpie seria tão rápido carrregando três, mas teria que ser o suficiente.

Os Stoll correram ao seu lado e rapidamente saltaram atrás dela. Porkpie soltou um relincho em protelação, mas continuou correndo. Seguiram por alguns minutos até que finalmente conseguiram despistar o homem e mais outros dois que o seguiam. Rachel parou em um beco e os irmãos desceram.

– Hey, Rachel! – Connor exclamou.

– Obrigada por nos livrar dessa, docinho! – Travis falou.

– De nada garotos. E Travis, não me chame de docinho! O que vocês aprontaram afinal?

– Ah, nada de mais. Só algumas maçãs e outras coisas saqueadas... – Travis falou.

– Saqueadas? Por que vocês saquearam as frutas?

– Ora essa, você tem que roubar alguma coisa vez ou outra se quiser ter uma refeição decente quando chegar em casa! – Connor falou e Rachel se sentiu incomodada, mas deixou para lá.

– Hm... bem, preciso da ajuda de vocês.

– É claro, moçoila. Um favor por outro favor! – Travis falou.

– Vocês conhecem bem as estradas de Bridgeport, certo? Preciso que me digam como encontro a estrada para Saltville.

– SALTVILLE? É a cidade vizinha mais longe daqui! Por que quer ir pra lá? – Connor falou, bastante surpreso.

– Não é da sua conta Connor, é pessoal. Apenas me diga onde fica.

– Bem, se é assim tão importante... fica ao noroeste daqui do centro. Não é difícil de encontrar, mas bastante longe. Talvez você chegue na cidade ao pôr-do-sol.

– Ah, mas não pretendo ir até a cidade. Apenas aproximadamente.

– Hum, tudo bem. De qualquer forma, assim que sair daqui, é só seguir reto até encontrar a Praça Central, que não está longe. Daí é só contornar para a direita e sair da cidade.

– Entendi. Muito obrigada pessoal.

– Precisa de alguma coisa para a viajem moçoila? Talvez algumas maçãs roubadas. – Travis falou.

– Ah não, não. Obrigada, era só isso o que eu precisava.

– Sem problemas. Como eu disse, um favor por outro favor. É uma troca de via dupla! – Ele respondeu.

Rachel riu e se despediu dos irmãos Stoll. Então retornou para o seu caminho à procura de Thalia.




Annabeth dormia em um sono profundo já há algum tempo. Percy estava sentado na poltrona e depois de algum tempo, permitiu-se debruçar e apoiar a cabeça na beirada da cama. Estava curioso para saber qual era o plano de Rachel, mas nada conseguia lhe tirar a preocupação que sentia por Annabeth.

Vê-la fraca, fria e suja do jeito que estava lhe causou um aperto no coração, e de repente um pânico lhe inundou ao pensar que Annabeth se fora. Isso lhe fez perceber o quanto ela era importante para ele. Mais do que ele já sabia que era.

Isso lhe fez perceber também, que Annabeth estava em perigo, e tudo o que queria agora era ficar ao seu lado, protegendo-a ao máximo do que quer que fosse. O sentimento que desenvolvera por ela era descomunal, diferente. Não era como sua amizade e cumplicidade com Rachel, não era como o carinho por Silena. Era mais do que isso, e ele não sabia como, quando ou por que isso acontecera.

Talvez fosse porque de certa forma, ela sempre fora a pessoa que ele mais fora próxima por toda sua vida. Ele via o modo como Annabeth era tratada por alguns e simplesmente não entendia. Não entendia porque, ao olhar para ela, via uma linda garota angelical, carinhosa e extremamente inteligente. Como poderiam detestar algo tão... perfeito?

Não sentia o mesmo por Rachel porque sempre soube que o futuro da ruiva não seria casar-se com algum homem por escolha de outra pessoa, e com este dormir pelo resto da vida e deste, conceber filhos. Não sabia o que seria seu futuro, mas não seria como o de outras mulheres, disso ele tinha certeza.

Não sentia o mesmo por Silena, porque mesmo sendo uma moça bela e esbelta e da mesma idade, não tinha a mente aberta para novas perspectivas como a de Annabeth e a de Rachel. Sua aparência era rara, com certeza. Mas a mente, comum.

Annabeth mesmo sendo dois anos mais nova que ele, era bastante madura para sua idade. Era frágil, muito frágil, pois também não entendia as injustiças que eram feitas para com ela. Mas era inteligentíssima. Era esperta e via as coisas de uma perspectiva diferente. Percy era simplesmente atraído pelo modo como sua mente funcionava. Sua conexão e cumplicidade com ela era maior ainda do que com Rachel. Ele a entendia, mas ao mesmo tempo o intrigava.

Sentiu a cama se remexer e levantou a cabeça. Annabeth abriu os olhos e lá estava novamente aquela sensação calorosa em seu coração ao olhar em seus olhos. Porém, percebeu que os olhos acizentados ainda estavam opacos.

– Ei, você acordou. – Percy sussurrou. Quando ela viu que ele a observava, suas bochechas coraram. No entanto, estendeu sua mão esquerda e ele a segurou.

– Há quanto tempo está aqui? – Ela perguntou depois de algum tempo, a voz rouca e baixa.

– Desde... desde que te colocaram na cama. – Dessa vez ela ficou vermelha feito morango, o que o fez rir. – Como está se sentindo?

Ela apenas balançou de leve a cabeça negativamente. Percy pousou a mão em sua testa e suspirou. Ainda estava queimando.

– Você fica uma gracinha quando está preocupado – murmurou ela. – Suas sobrancelhas ficam juntas e franzidas.

Percy corou, mas apenas balançou a cabeça e pegou um copo de suco de maçã que estava na mesinha ao lado da cama.

– Você está fraca Annabeth. O doutor disse que você deve se alimentar e descansar. – Ele falou e a ajudou a se sentar, segurando o copo perto de seu rosto para ajudá-la a beber.

– Você não estava na mesa na hora do jantar ontem, deve estar faminta. – Percy continuou.

– Não – ela murmurou. – Não estou sentindo nada, só... um pouco fraca, sim.

– Então, por isso deve colocar algo no estômago. – Ela suspirou, mas sorriu e aceitou o copo de suco.

Percy quase pôde ver a cor voltando à Annabeth, os cinza adquirindo novamente o brilho que tão belo os deixavam. Novamente, não pôde imaginar como alguém poderia fazer mau à ela.

– Quem fez isso à você Annabeth? – ele perguntou de repente e ela o olhou assustada. – O que aconteceu?

Ela pareceu relaxar um pouco, mas não respondeu, apenas fechou a cara.

– Por que não quer falar? Isso é importante.

– Eu... não sei se quero falar sobre isso agora. – Sua voz era apenas um sussurro.

– Sabe que mais cedo ou mais tarde terá que falar, não é?

– Como assim? – Perguntou, confusa.

– O médico voltará daqui à dois dias para lhe fazer um exame geral.

– NÃO! – ela exclamou, sua voz adquirindo um tom desesperado.

– Por que não? Você precisa contá-lo, é para o seu próprio bem!

– Eu não quero falar sobre isso – lágrimas começaram a descer rapidamente pelo seu rosto. – Eu não estou preparada... eu não quero lembrar!

Percy de repente se sentiu culpado. Sentiu como se tivesse cutucado um machucado ainda em processo de curamento com uma faca.

– Não, Annie me desculpe. Eu... por favor não se desespere. – Ele levantou-se e sentou ao seu lado na beirada da cama. Annabeth encostou o rosto em seu peito, tentando se acalmar.

– Me desculpe... – ele sussurrava.

– Tudo bem, não foi sua culpa. – ela respondeu, mas ainda estava abalada.

Percy passou um braço ao redor dela. Pegou o copo vazio que estava em suas mãos e colocou de volta na mesinha. Então embalou-a como se fosse um bebê, limpando suas lágrimas.

– Eu sei que isso é importante Percy...

– Shh. Não precisa falar nada, está tudo bem.

Ela respirou fundo e fechou os olhos. A cabeça encostada no peito de Percy enquanto sua respiração se estabilizava. Ali, com os braços de Percy protetoramente à sua volta, sentiu-se sã e salva. Como se seu abraço fosse seu verdadeiro lar, e por um momento, nada mais no mundo importava.

– Promete nunca me abandonar Percy? Promete não me deixar sozinha?

– Prometo Annie, nunca te deixarei sozinha.

Annabeth suspirou e finalmente permitiu-se relaxar. Confiava em Percy. Se não pudesse confiar nele, não poderia confiar em mais ninguém. Sentia em seu mais profundo íntimo que realmente não estava sozinha.

Apenas feche seus olhos, o sol está indo embora. Você vai ficar bem, ninguém pode te machucar agora. Nós ficaremos sãos e salvos. – Percy falou.

Então ele beijou ternamente sua testa, e sussurou:

– Durma minha Annie. Estarei aqui quando acordar, sempre estarei aqui.


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Notas finais do capítulo

#xorei ç.ç
"Você fica uma gracinha quando está preocupado..." O Último Olimpiano - pág. 203
"Apenas feche seus olhos, o sol está indo embora..." Refrão de Safe & Sound. Só não coloquei "venha luz da manhã/ao chegar a luz da manhã (come morning light)" porque acho que ia ficar estranho.