Living Dead - EM HIATUS escrita por lolita


Capítulo 16
XV - Summertime Sadness


Notas iniciais do capítulo

Lana Del Rey - Summertime Sadness

Leiam as notas finais, please.



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I think I'll miss you forever, like the stars miss the sun in the morning skies…

Percy estava imerso em pensamentos enquanto seu corpo mexia-se com o balanço da carruagem. Ele não sabia mais como se sentia em relação aos últimos acontecimentos. Sabia que estava de luto, mas não caía mais em desespero, não tinha ataques de choro ou raiva. Estava entorpecido.

Como temera, o rei realmente dera Annabeth como morta, sem ao menos levar as buscas adiante, por “medo” a segurança de seus guardas, o que era uma enorme e irônica piada, pois aqueles homens serviam para situações como esta. E mesmo assim, agora Percy e sua família estavam a caminho do funeral da princesa caçula.

Seus olhos não se encheram de lágrimas como costumava fazer quando pensava nisto, entretanto, sentiu um grande e doloroso aperto no coração. O que mais lhe incomodava, porém, era a cerimônia para a qual estavam indo, onde pelo menos metade do pequeno reino se encontraria, e certamente todos os nobres iriam, o que, Percy imaginou, seria um grande incômodo para aquela gente esnobe, estar em um mesmo local que tantos plebeus estariam. De qualquer forma, eram todas pessoas que nunca se importaram nem mesmo um pouco com Annabeth. Isto era o que mais estava lhe incomodando.

Iriam todos lá, aproximar-se-iam do caixão fechado, por estar sem corpo, e fingiriam estar sentindo uma tristeza insuportável. Fingiriam que sempre admiraram Annabeth. Que sempre a respeitaram. Fingiriam que estavam de luto, lamentando a morte de uma “oh, tão jovem e encantadora princesa”! E claro, iriam esconder o fato de que a odiavam e mantinham distância dela sem motivo algum. Ele teria que suportar ver Frederick subir no púlpito para fazer seu falso discurso fúnebre. Se é que ele iria fazer algum. Sinceramente, daquele homem Percy não esperava mais nada. Desistira de depositar alguma fé de que ele mudaria.

Percy insistiu para que ele fizesse um, mas seus pais não aprovaram por algum motivo que ele não imaginava qual. Ele queria tanto falar todas as coisas que sempre admirava em Annabeth, queria mostrar para todas aquelas pessoas tudo o que elas sempre se recusaram a enxergar. De qualquer forma, Percy não se irritou por não poder fazer seu discurso fúnebre, pois se lembrou de que ele não acreditava que ela havia morrido. Ele não jogara fora todas as possibilidades de encontra-la. Então não faria sentido lamentar sua partida, pois sabia que ela não se fora. Sentia isto em seu interior.

Após um longo tempo, finalmente chegaram ao cemitério de Bridgeport, que se localizava a floresta norte do reino, bem distante do castelo e da comunidade central. Era uma área vasta e cheia de ondulações, com a capela se localizando no alto de uma pequena colina. Deste ponto, de costas para as portas, você podia ter uma vista de todo o cemitério, com todas suas incontáveis lápides no gramado enorme. Aquela vista somada ao céu cinzento como de costume lhe provocou um arrepio pela espinha, que ele sabia que não por causa da brisa gelada.

Como esperado, o lugar estava apinhado de gente de todo o lugar do reino. Talvez até mais pessoas que ele imaginara, o que apenas o deixava mais irritado. Apenas queria que tudo fosse rápido e acabasse de uma vez. Impaciente e sem cumprimentar ninguém que parava para falar com ele, entrou e logo se pôs em seu lugar. Sabia que não era um bom comportamento, e que provavelmente as pessoas falariam sobre isto. Mas francamente, ele não estava ligando para nada no momento.

~~~

Apesar do frio que fazia do lado de fora, não demorou muito para que Percy começasse a soar devido ao calor que a grande quantidade de pessoas dentro de um lugar pequeno causava, e o casaco pesado negro que usava ajudou mais ainda para que a sua temperatura aumentasse.

Percy estava certo sobre Frederick não fazer um discurso fúnebre. Mas o que lhe surpreendeu mesmo foi que o homem não teve ao menos a decência de comparecer! Isto foi o limite. Já não bastavam todas aquelas pessoas, cuja maioria provavelmente nem chegou a conhecer Annabeth pessoalmente, forçando seus lamentos. Ele fazia questão de prestar atenção no rosto de cada uma, e ele percebia, ele sabia que elas interiormente estavam aliviadas por algo tão incômodo finalmente ter partido.

Francamente, não conseguia ficar mais um minuto sequer ali dentro. Não se incomodava com o fato de o funeral ainda não ter terminado, levantou-se e, tentando ser discreto ao máximo – o que sabia que não adiantaria de nada – partiu para o lado de fora da capela. Percebeu sua mãe lhe lançar um olhar de repreensão, como se ele fosse uma criança que não entendia a situação e não conseguia ficar quieto, mas novamente não se importou.

Do lado de fora, inspirou uma grande lufada do ar gelado enquanto abria o casaco para que este se infiltrasse pelo seu casaco de lá negro e refresca-se lhe a pele. Desceu a colina e foi caminhando por entre as lápides, sem um rumo certo em mente, até que percebeu a figura ruiva a alguns metros dele. Andou até lá.

– O que está fazendo aqui? – ele perguntou, dando um susto nela.

– Que droga, Perseu! – Rachel exclamou. – Quase que minha alma fugiu do corpo.

Ele quase riu com a última frase.

– Desculpe. Eu deveria ter pisado com mais força na grama ou algo assim... – Percy disse. – Posso me sentar?

Ela assentiu e indicou o espaço ao seu lado. Percy não reconheceu os nomes nas lápides ao redor deles, e imaginou que ela tampouco conhecia.

– Por que está aqui? – insistiu.

– Creio que pelo mesmo motivo que você – Rachel respondeu e o olhou.

Ele entendeu e concordou com a cabeça. – Eu não consigo engolir tudo isso. Essas pessoas... A maioria nem mesmo a conheceu. E eu sei que eles não ligavam para... – não conseguiu terminar a frase.

– Eu sei Percy. E eu também não consigo engolir. Deuses, nós mesmo víamos o que eles faziam e falavam. Nós víamos como ela ficava, como eles a deixavam. E eles ainda têm a... falta de vergonha de vir e fingir que nada nunca aconteceu? Que a adoravam? – ela soltou um suspiro como uma risada falsa. – Eu não consigo fingir que não me incomodo. E tenho certeza que ela também não iria querê-los aqui.

– Rachel... você sabe que ela não está morta de verdade, não é? – Percy perguntou, temendo a resposta.

Ela mordeu os lábios, uma lágrima escorrendo por sua bochecha.

– Pessoas estão sumindo, Percy – ela falou com um soluço entrecortado subindo por seu peito. – Muitas. Toda semana desde que ela sumiu. E todas foram encontradas mortas depois. Eu não queria acreditar, mas é tudo muito óbvio.

– Não... – Percy falou, levantando-se. – Não! Você não pode acreditar nisso! Não assim! Estas pessoas, elas somem quando ninguém está vendo, e elas são encontradas. Mas Annabeth não foi! E você estava lá! Você, sua mãe, Silena, vocês viram!

– Percy... – Rachel tentou intervir.

– Eu não acredito que você também está desistindo, Rachel! Logo você! Vocês estavam lá, vocês viram que ela foi levada. As outras pessoas todas foram encontradas, e confirmaram ser ataque de um animal! Aqueles capangas por um acaso pareciam animais para você, Rachel?!

– Animal ou não, Percy, você não pode fazer isso, não pode pensar assim, isso vai apenas mata-lo por dentro!

– Então que eu morra, Rachel! – ele gritou. – Mas eu não vou desistir como o covarde do seu pai. Eu duvido que ele realmente mandou mensagens para os outros reinos, duvido que ele realmente se esforçou! Porque provavelmente ela foi levada para outro lugar, talvez tenha sido vendida, você já pensou nisso?

– Você está criando esperanças demais... – dessa vez ela havia se levantado. – Você não pode continuar criando esta fantasia. Eu sei que é doloroso, é horrível, mas precisamos aceitar a realidade!

– Fantasia? Eu não estou criando uma maldita fantasia, eu sei que ela está viva, eu sinto isso, essa é a realidade, você acreditando ou não!

– Percy... – ela colocou uma mão sobre seu peito, mas ele a afastou.

– Quem sabe não é isso mesmo o que ele queria, hum? O seu querido paizinho? Quem sabe não tenha sido ele mesmo que armou tudo isso? – ele gritou apontando um dedo para ela, coisa que nunca fez com alguém, mas mesmo vendo a mágoa e a raiva cruzar seus olhos, ele não se importou.

Ele não se importava com mais nada, pois agora descobrira como se sentia em relação aos últimos acontecimentos. Percy se sentia furioso. Ele teve seus dias em tristeza profunda, mas agora sentia como se todas suas moléculas fossem explodir de raiva. A fúria era tanta a ponto de fazê-lo afastar as pessoas que sempre gostou de si sem se importar, pessoas que nunca magoou. E ele enxergava vermelho, sentia-se quente. Tudo com o que ele se importava era em provar o quanto todas aquelas estúpidas pessoas estavam erradas. Ele parecia ser o único que via com clareza o que as pessoas eram capazes.

– Você sabe muito bem, Rachel. Você sabe muito bem o quanto Frederick sempre a odiou, como ele sempre a tratou, tudo o que ele fez. Não é apenas sobre todas aquelas pessoas lá na igreja ou apenas sobre os nobres que a esnobaram e trataram mal, mas ele principalmente. Ele sempre a desejou morta, mas você nunca enxergou tudo o que ele sentia vontade de fazer. Eu enxergo e sei que pode muito ser ele por trás de tudo. Pior, ele pode ter mandado matar as outras pessoas também, apenas para parecer que foi o mesmo que aconteceu com Annabeth.

Percy respirou fundo depois de soltar tudo de uma vez. Talvez tivesse exagerado, ou talvez estivesse mais próximo da verdade do que imaginava. Não importava, ele daria um jeito de provar que todas suas suspeitas eram verdades. Ele apenas precisava encontrar Annabeth.

– Eu vou encontra-la, Rachel. Eu juro por todos os deuses que vou. – Ele continuou, diante do silêncio dela. Mas desta vez, ele dizia mais para si mesmo, fitando nada a sua frente. – Todas as vezes que ninguém sabia onde ela estava... Quando ela fugia, ou quando simplesmente se escondia, era sempre eu que a encontrava, e desta vez não vai ser diferente. Eu não vou desistir. Eu sempre a encontro, e vou sempre encontra-la... - e então sussurrou: - Eu prometo Annabeth.

~~~

Desde que o enterro acabara e Rachel voltara para casa, a discussão que ela teve com Perseu não parava de rodar em sua mente. Na verdade, ela pensava nisto desde o momento que ele despertou de seu transe e saiu andando. Ela o observou andar apressado até as carruagens e pedir que o cocheiro o levasse para casa.

Apesar de tudo o que ele gritara para ela, Rachel não estava magoada com Perseu. Irritou-se um pouco sim quando este apontou o dedo para ela, como se a julgasse por algo que não tinha culpa. Entretanto, não era com ele que ela estava triste. Mas sim com toda a situação.

Seu pai nem mesmo comparecera ao enterro da própria filha, e aquilo realmente a desapontou. Para seu terror, todas as coisas que Perseu disse, sobre Frederick ser o culpado por tudo, acendiam-se ainda mais em sua mente com isto. Ela tinha aquela mesma sensação, como um sexto sentido, lhe dizendo que havia algo ali. Rachel sempre confiara neste pressentimento, mas desta vez não queria acreditar. Era demais para sua cabeça.

Ela sabia que Frederick nunca realmente tratou Annabeth bem, mas pensar que ele seria capaz de mata-la, e que mataria outras pessoas apenas para acreditarem que havia algum animal enlouquecido a solta sedento por sangue... Sentia-se deprimida apenas de imaginar que isto seria verdade. E mesmo assim, aquele forte pressentimento não deixava seu corpo.

Então, pela primeira vez na vida, Rachel decidiu ignorar seu sexto sentido. Pela primeira vez iria concluir que não era nada demais. Seu pai não era um assassino. Ele podia ter suas várias falhas, mas isto não! Infelizmente, sua irmã havia sido levada, mesmo que não por animais, como Perseu sugerira. Mas os guardas foram atrás, e eles voltaram sem respostas. Ela sabia, pois vira. Um morrera, outro enlouquecera e teve que ser morto. Eles não podiam continuar buscando Annabeth sem ao menos uma pista. Na situação que o reino estava passando, ela concordava que era uma loucura.

Lembrou-se de como Perseu fez sua promessa, como se Annabeth estivesse ali, ouvindo-o. Rachel sentiu pena pelo amigo, e se sentiu horrível com isso, mas estava realmente preocupada. Ela sofria tanto quanto ele, sua mãe, sua irmã. Mas eles não podiam perder a linha, como estava acontecendo com ele. Perseu chegou ao ponto de criar situações em sua mente para explicar o paradeiro de Annabeth, quando ele já sabia a verdade! E mesmo assim ele insistia que ela estava viva. Rachel realmente sentia a necessidade de alertar a Paul e Sally sobre o que estava acontecendo, sobre o que ele pensava.

Levantou-se, decidindo ir até o gabinete de seu pai para escrever uma carta endereçada aos Jackson. Imaginou que seu amigo ficaria muito enfurecido ao saber o que ela fizera, mais do que ele já estava. Porém, mais tarde Perseu a agradeceria. Ela apenas queria o seu bem.

A caminho do gabinete, passou em frente da escadaria que levava até o salão de entrada no primeiro andar, e percebeu um pequeno grupo de criados conversando aos cochichos. Rachel estranhou e, não segurando a curiosidade, desceu as escadas indo na direção deles. Ao perceberem-na se aproximando, calaram-se e ajeitaram a postura, talvez constrangidos por serem flagrados papeando quando deveriam estar trabalhando. Mas não seria Rachel quem iria dar-lhes um sermão; ela apenas queria saber o que era tão interessante.

– O que é tão interessante? – ela indagou assim que chegou perto das três mulheres e dois homens. Alguns limparam a garganta, mas nenhum respondeu, olhando-a temerosamente.

– Não se preocupem, não vou lhes dedurar. – Rachel insistiu.

Eles se entreolharam, mas por fim uma das mulheres respondeu:

– Acabou de chegar a notícia de que a filha do general foi encontrada... morta. O senhor Frederick acabou de sair daqui com Sir Paul e... – ela a olhou com os olhos escuros arregalados. Só aí Rachel percebeu o quanto todos estavam amedrontados.

– A filha do general... você quer dizer Calipso? – Rachel sabia que Calipso era a única filha de Atlas, mas fez a pergunta estúpida mesmo assim. Eles apenas assentiram.

– Deuses! – outra mulher murmurou. – Tantas mortes... acabamos de passar pelo enterro de Annabeth, e já recebemos a notícia de outro... – a mulher então pareceu perceber o que estava falando e olhou para Rachel. – Desculpe, desculpe, eu não quis lembrar-lhe mais ainda da tragédia, majestade.

– Tudo bem, tudo bem... – Rachel acenou com a mão. – Você está certa. São muitas tragédias. Mas o que você ia dizendo... – alguma coisa parecia cutucar o cérebro de Rachel. – Foi um ataque? De animal? Vocês sabem me informar de algum detalhe?

Os criados entreolharam-se mais uma vez. Pareciam saber, ou no mínimo desconfiar de algo.

– Disseram ter sido ataque de animal. – Um dos homens falou. – Mas majestade, sinceramente, nenhum de nós acredita muito nisso. A história é muito mal contada. Eles nem ao menos dizem desconfiar de qual tipo de animal é este que anda atacando nosso reino!

– Sim, e alguns fatos nos fazem suspeitar de que... – o outro homem falou -, não temos como ter certeza, claro, mas achamos que seja a mesma coisa, ou pessoa que matou a princesa.

– Mas... mas Annabeth foi levada por aqueles homens, ela não foi... m-morta por um animal... – Rachel interrompeu-se assim que todos os cinco a olharam, e ela entendeu o que eles estavam dizendo.

– É a mesma pessoa... – sussurrou.

– Majestade, pense bem – o homem estava nervoso, olhando ao redor com medo de alguém mais ouvir as coisas que eles diziam. – Essas mortes todas começaram apenas depois que vocês foram atacados na estrada. Annabeth foi a primeira vítima, e agora só pode ter sido eles! Seja lá o que querem, parecem que não vão parar enquanto não conseguirem.

A mente de Rachel agora estava a mil com todos os pensamentos correndo sem parar, e seu pressentimento de que havia verdades nesta história que lhes contavam agora voltara mais forte do que nunca.

– A não ser que os homens que levaram a garota tenham sido atacados pelo mesmo animal. – Sugeriu outra mulher no grupo.

– Não tem como eles terem sido atacados, Teresa, se não os corpos teriam sido encontrados pelos guardas! Inclusive o de Annabeth.

Toda aquela conversa sobre como sua irmã fora morta já estava provocando fortes náuseas no estômago de Rachel, e ela precisou se retirar para sentar-se em um canto do salão. Ao longe, ela ouviu a tal Teresa dizer:

– Mas você é mesmo uma “jumenta”, Carol! Não vê que a garota ainda está tentando se recuperar da morte daquela maldita?!

Rachel fez cara feia diante do insulto à Annabeth, e logo ela se levantou e retirou-se dali.

– Obrigada pelas informações – falou de má vontade enquanto seguia o corredor à direita.

Antes Rachel pretendia ir ao gabinete de seu pai para escrever uma carta, mas agora ela queria fazer outra coisa. A primeira mulher disse que Frederick havia se retirado com Paul, o que indicava que ele estava ali no castelo, assim, ela poderia pessoalmente ir conversar com ele sobre seu filho. Mas depois ela o procuraria.

As informações que os criados lhe deram corriam em sua cabeça, misturando-se com as ideias confusas de Perseu. Ela precisava desesperadamente investigar sobre isso. Não achava que seu pai matara alguém coisa nenhum, tampouco que Annabeth ainda estivesse viva, mas Rachel percebeu em seu íntimo que, assim como Perseu, ela também queria desvendar os mistérios não descobertos por Frederick ou Atlas.

O lugar certo para ir era o gabinete de seu pia, de modo que ela continuou o mesmo caminho que seguia antes de parar para a pequena conversa. O Rei certamente possuía documentos e registros sobre o desaparecimento, as mortes ocorridas, a lista de suspeitos e cartas. Pelo menos alguma coisa ele deveria ter sobre estes assuntos. E ela precisava dar uma olhada neles para tentar descobrir alguma coisa, qualquer coisinha que fosse que passara despercebido pelos outros e que lhe desse alguma pista sobre onde e quem procurar.

No entanto, assim que Rachel chegou à porta do gabinete e segurou a maçaneta, ela ouviu vozes dentro da sala. Frustrada, largou a maçaneta. Ela esperava que os homens houvessem ido para a sala de reuniões, que era maior e mais apropriada para estas ocasiões. Fez que iria voltar o caminho, mas então lhe ocorreu que seu pai e os outros com certeza estariam conversando sobre a notícia fresquinha da morte de Calipso que chegara ao castelo.

Rapidamente checou se ninguém se aproximava e agachou-se a altura da fechadura, espiando por dentro quem conseguia ver na sala. Ela viu apenas seu pai sentado em um lado da mesa, e Paul do outro. Ao lado dele, em pé e com os braços cruzados, estava... Sally? O que ela estava fazendo ali? Não se lembrava de alguém ter-lhe dito que ela estava ali! Concentrou-se por um momento e lembrou-se da primeira mulher lhe dizendo que Frederick se retirara com Paul e... Ela havia se interrompido exatamente quando ia citar a duquesa. Naquela hora, Rachel achou que o medo em seus olhos era devido à situação, e talvez até fosse também, mas percebeu que a criada na verdade não quis falar sobre Sally. Por quê?

Neste exato momento, Rachel ouviu seu nome ser dito dentro da sala, e sua atenção voltou para a conversa. Ela encostou o ouvido direito na porta e, para sua surpresa, conseguiu ouvir cada palavra dita por seu pai.

“... e já estaria casada agora, se não fosse pela infeliz tragédia de Luke. Ele era um ótimo candidato, mas certamente não melhor do que o filho de vocês, e vocês sabem muito bem do meu interesse nele.”

“Majestade, nós queríamos mesmo casar Perseu com uma de suas filhas... O senhor sabe. Ele estava em dúvida entre Calipso e Annabeth...” Paul dizia, mas foi interrompido.

“Ele queria casar-se com Annabeth.” Sally falou, e prosseguiu-se um silêncio tenso. “Bem, ele achava que ela era a melhor opção por ser sua filha, é claro, Majestade. E eu concordava com ele neste ponto, mas Atlas... Bem, ele estava certo de que meu filho desposaria Calipso”, ela rapidamente acrescentou.

“Bem!” Frederick voltou a falar. “Que bom que ele acabou não escolhendo nenhuma das duas, afinal. Imaginem a situação que seria para ele agora que houve estas terríveis tragédias com ambas as garotas...”.

Rachel desencostou rapidamente seu ouvido para olhar por entre a fechadura. Ela precisava ver a expressão deles! Sally olhava distante pela janela, ainda com os braços cruzados, ainda em suas vestes pretas em luto por Annabeth, e sua expressão era um misto de profunda tristeza com preocupação. Paul parecia sem jeito, como se estivesse desconfortável com aquela conversa. Seu pai tinha a testa apoiada sobre as mãos, que escondiam sua expressão, mas ele parecia como quem estivesse lamentando. De alguma forma, aquilo lhe pareceu muito falso, assim como sua voz quando estava falando há poucos segundos. Colou o ouvido de volta na porta.

“Eu entendo que esta é a última situação em que deveríamos estar pensando neste tipo de coisa...”, Frederick falou e Rachel concordou com raiva. Várias mortes ocorrendo pelo reino e eles estavam se preocupando com casamento? Francamente!

“Mas o tempo urge, e creio que vocês entendam a importância que seria este casamento. A cidade precisa de algo pelo que comemorar, seu filho precisa ocupar a mente com algo novo, além de já estar no tempo perfeito de desposar alguém. Já minha filha... Bem, ela também está no tempo certo, além de em perfeitas e ideais condições para conceber um filho. É disto que Bridgeport está precisando, e logo meu tempo irá acabar. Quero ter certeza de que alguém com grande competência como Perseu irá tomar meu lugar quando for a hora...”

Rachel perguntou-se a quem Frederick estava se referindo quando falou “minha filha”. Fez uma rápida prece para que fosse Silena. Ela era a perfeita para casar-se no momento, certamente!

“O Percy... Meu filho anda tão aturdido e deprimido ultimamente. Perder uma grande amiga como Annabeth o deixou arrasado, majestade! Sinceramente, não sei se ele estará com cabeça para pensar em casamento agora”, Sally falou.

“Eu entendo, Sally.” Frederick respondeu. “Entretanto, se pensar bem, verá que este é apenas um motivo a mais para aceitarem. A cerimônia e as noites junto de minha filha irão distrai-lo e farão melhor para ele, tenho certeza. Perseu e Rachel sempre foram grandes companheiros também, então será ainda melhor para eles. A união perfeita!”

Rachel congelou. Era sobre ela mesmo que estavam falando. Era com ela mesmo que estavam pensando em casa-lo. Sally parecia inserta sobre o assunto, mas seu pai parecia ter certeza de que... seria a “união perfeita”. Rachel arrepiou-se com o pensamento. Ela e Perseu eram grandes companheiros, sim. Mas nunca conseguira se imaginar casada com ele. Ele beijando-a e... tomando-a todas as noites para que tivessem um filho? Deuses, não! Isto era estranho demais para ela.

Voltou a colar o ouvido na porta apenas para ouvir o que temia.

“Ela... ela é a escolha perfeita. Isto eu não posso negar”, Sally falou.

“Também acredito que a união irá trazer vantagens para todos.” Paul falou. “Perseu irá entender, querida”. Rachel teve a impressão de que os dois estavam se entreolhando.

“Ele... Ele irá ficar satisfeito”, Sally falou.

“Fico feliz que minha vontade os agrade” Frederick disse por fim.

Rachel não quis mais ouvir. Ela se distanciou da porta, e automaticamente deu mais alguns passos para trás, assustada. A última coisa que ela queria havia acabado de ser planejada, e dessa vez ela não sabia o que poderia fazer.

Ela amava Perseu, disso tinha certeza. Mas deuses, nunca como um amante, um marido! Simplesmente não lhe parecia certo! Mas desta vez eles não estavam falando de Luke. Ela não poderia simplesmente ir atrás de um veneno e mata-lo agora. Sentira-se uma sem coração só ao fazer isto com um homem que mal conhecia, quem dirá com seu melhor amigo!

Não! Rachel jurara em seu mais profundo íntimo que nunca se casaria. Recusava-se a unir-se a alguém por quem não nutria sentimentos apenas para agradar aos outros. E sabia que Perseu não gostaria de casar-se assim tanto quanto ela, e não iria ficar satisfeito em casar com a melhor amiga. “Se é que ele ainda me considera sua melhor amiga”, ela pensou, lembrando-se da discussão que tiveram mais cedo.

De qualquer forma, ela precisava arranjar uma solução, e precisava naquele momento! Obviamente não iria mata-lo. Não iria se matar. Sabia que não conseguiria convencer Frederick a mudar de ideia, pois sabia que quando ele colocava algo na cabeça, nada mudava. Principalmente parecendo tão feliz com a ideia de sua primogênita casar-se com o filho de seu duque. Realmente, era perfeito. Mas não para ela.

Uma ideia antiga passou pela sua mente. Uma ideia que considerou várias vezes ao longo dos anos, mas que depois sempre mudava. Agora, no entanto, era a única solução.

Rachel iria fugir. Sumiria para sempre.

Nothing scares me anymore.


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Notas finais do capítulo

MIL DESCULPAS POR ESSE HIATUS IMENSO DE LIVING DEAD, mas eu estou sem internet galera. :( Minha vida anda uma bagunça ultimamente, tá tudo enrolado, mas consegui dar um jeitinho aqui de postar pra vocês, embora seja complicado e precise de paciência, kkk. Próximo fds tento entrar de novo pra postar o próximo capítulo, acho que consigo. AMO VOCÊS, MUITO OBRIGADA MESMO QUEM NÃO ABANDONOU A FIC, isso é muito importante pra mim ♥ Beijos, até a próxima.



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