Farewell escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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Smoker virou a cabeça quando ouviu aquela voz familiar chamando no QG da Marinha. Estava sentado confortavelmente num sofá, havia acabado de se elevar ao posto de capitão, jovem, e aguardava para chegar nela e gabar-se do seu grande feito; porém, quando a viu, Bell-mère estava com uma roupa casual, sem seu uniforme. Ela fumava e sorria.

– Ei! – Ela gritou quando viu o rapaz no sofá. – Roubou a capa de quem, Smokey?

– Sua mulher maluca, eu a ganhei.

– Quem deu de presente?

– Eu sou capitão agora. – Ele cruzou os braços em cima do peito nu. Bell-mère sorriu. Ele ficava bem naquela roupa, pelo menos, mas ela não entendia por que ele optara por ficar sem nada por baixo da capa. Talvez não quisesse que mais nada atrapalhasse a vista da peça.

– Que bom. – Ela disse, assoprando a fumaça do cigarro. – Eu quase saí morta de uma missão, mas descobri que vou ser mamãe.

Smoker arregalou os olhos. Mamãe? Ele tremeu. Não, ela não podia.

– Calma, não estou grávida. – Gargalhou a mulher, rindo da cara dele mesmo. – Eu sabia que você ia cair nessa. É só que encontrei umas menininhas... Nojiko e Nami. Bem, a pequena fui eu quem deu o nome, já que ela sobreviveu a uma tempestade daquele nível, decidi dar-lhe o nome de Nami.

– O que aconteceu nessa missão, Bell-mère?

A mulher ruiva o olhou com a cabeça tombada, um breve sorriso enfeitando os lábios. – Muitas coisas. Mas, eu saí viva de lá, isso que importa. E a partir de hoje vou me dedicar às meninas que me despertaram a vontade de viver novamente.

Smoker ficou genuinamente curioso por conta do assunto, mas não iria perguntar mais. Ela já era suficientemente convencida para ele incentivá-la a ser mais soando interessado em sua história. Olhou-a sério, assoprando a densa fumaça dos charutos presos nos dentes enquanto analisava a expressão dela. Ela sempre foi solta, mas parecia ainda mais feliz do que o costume.

– Eu vim me aposentar.

– Aposentar? Tá longe da idade de aposentar da Marinha.

– Sim, mas agora eu quero viver com as meninas, criá-las. Sabe?

Assentiu. Não sabia, mas não tinha por que discutir uma coisa daquelas. Bell-mère pediu licença para ir conversar com o responsável que a poderia tirar do cargo. Ela caminhou tranquilamente por ali, cumprimentando um ou outro e logo sumiu por uma porta.

Smoker ficou olhando, apenas olhando porque fez isso tempo suficiente para estar acostumado a fazê-lo. Havia tão pouco tempo que não mais apenas olhava Bell-mère, mas sim, podia de fato tocá-la, que não havia se acostumado completamente com o fato. Continuava com pensamentos de hesitação, embora não fosse a sua principal característica, de alguma forma aquela mulher despertava isso nele. Talvez por ser tão segura de si o tempo todo.

Ele voltou à sua posição no sofá. Sentou-se, bem acomodado. Algum tempo depois, Bell-mère surgiu pela porta.

Ela estava radiante. Acendeu um cigarro e caminhou em sua direção.

– Vamos lá, Smokey. Lá fora. O ar em cima da sua cabeça já tá pura fumaça.

Ele ignorou a piada, mas seguiu-a para fora do QG. Lá, alguns marinheiros trabalhavam, faziam ronda, monitoravam etc. Bell-mère caminhou pela parte externa do local, e Smoker foi atrás dela. Não sabia até onde ela iria, mas queria saber, então continuaria para descobrir.

Quando chegaram num local deserto, Bell-mère freou e Smoker parou uns passos antes. A ruiva virou-se e encarou o rapaz. Os olhos se encontraram e uma das sobrancelhas de Smoker ergueram-se, esperando que ela falasse algo.

– Sinto te abandonar, Smokey, mas você logo acha alguma garota mais jovem pra substituir. – Ela sorriu com a expressão dele. – Falei mais jovem, não mais bonita. Acho isso um pouco difícil. Até porque, é disso mesmo que você precisa, garoto.

Smoker meneou a cabeça. Ela era mesmo bem segura de si.

Seria um bom momento para ele falar algumas coisas para ela. Tipo que duvidava achar outra mulher para substituí-la. Substituir? Como se isso fosse possível. Não havia nesse mundo criatura como Bell-mère e ainda estava para nascer uma garota que pudesse chegar aos seus pés. Não importava que ela fosse mais velha que ele. Ele ainda a enxergava como a mulher ideal.

– Vai mesmo sair? A Marinha precisa de soldados como você.

– Eu sei, mas minhas filhas agora precisam de uma mãe, não posso ficar o tempo todo em missões. – Ela assoprou a fumaça do cigarro e atirou a bituca longe. – Tive que tomar uma decisão, e já está tomada.

– Uma pena.

– É mesmo, mas fazer o quê? – A mulher aproximou-se de Smoker e ergueu as duas mãos para tirar os charutos da boca dele. Entendia que ele era um usuário e que a fumaça fazia parte de sua vida, mas ele era um pouco exagerado. – Agora, trate de ser um bom garoto e faça um trabalho honesto, hein?

Ele assentiu. É lógico que faria.

– Quer um beijo de despedida?

Smoker franziu o cenho. Aquilo não soou nada natural. Bell-mère gargalhou gostosamente, sempre se divertia aos montes com o jeito daquele rapazinho. Mesmo que fosse todo durão e sério, grande daquele jeito, ainda tinha um pouquinho de adolescente dentro dele.

Jogou os charutos dele no chão e passou as mãos nos cabelos brancos, sorrindo na direção de seus olhos. Smoker a encarou, mantendo a expressão séria, mas com um desejo incontrolável de sorrir para ela.

A ruiva aproximou os lábios dos dele e o beijou. As línguas se encontraram, num gosto de cigarro misturado àquele sabor mais adocicado dos charutos dele. Algo com o qual estavam acostumados. Tocou-lhe a cintura, abraçou-a. Ela baixou as mãos ao peito nu de Smoker e encolheu-se nos braços dele. Mesmo mais velha, continuava menor.

Era aborrecedor saber que ele não a teria próxima mais. Aliás, talvez nunca mais a visse novamente. Bell-mère viveria sua pacata vida com as filhas e Smoker continuaria na Marinha, trabalhando como desejava, para subir e subir até onde gostaria de chegar.

Anos mais tarde, ele receberia a notícia de que Bell-mère fora assassinada pelo bando de Arlong, fazendo-o desejar caçá-lo até o inferno, mas não poderia fazer isso tendo tantas ordens para cumprir, tantas missões para seguir. E agora ela estava morta e nada poderia fazê-la voltar.

Mas não se pode matar uma lembrança. A lembrança dos cabelos raspados, e do cheiro cítrico que ela tinha, misturado ao cigarro, seu inseparável companheiro, e a um sorriso insolente e o apelidinho irritante. Do corpo incrível que ela escondia por baixo da capa de oficial.

Algo do qual Smoker demoraria a apagar de sua memória.



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