P.O.V James

Eu sou definitivamente a criatura mais idiota que já pisou neste planeta. Com certeza quando minha mãe dizia que idiotice era de família, ela não estava mentindo. Qualquer dia desses, eu vou ter uma conversa séria com o senhor Harry Potter e perguntar por que a genética tinha que me passar isso também. Não é nada justo.

Dominique ficou mais alguns segundos parada ali, na minha frente e eu... É, se você pensou “não fiz nada” acertou. Eu não fiz nada.

-Boa noite- eu disse para porta fechada, antes de subir pesadamente as escadas até o próximo andar, onde meu quarto vermelho e dourado me esperava. Nem isso parecia tão animador.

Mas talvez, só talvez, Merlin fosse um cara legal (mesmo que ele fique cuidando da vida de nós, pobres bruxos) e me desse outra chance amanhã. Na verdade eu nunca tinha mostrado isso a ninguém, nem aos meus pais. Nenhum deles sabia que o filho mais velho, mais lindo e tudo de bom acordava cedo para uma coisa ridícula como essa. E se algumas pessoas (leia-se: Fred e Alvo) soubessem disso, eu com certeza estava ferrado.

Mas eu não era muito eu quando estava com ela. Mesmo que isso significasse ficar cheio de carrapichos... Tá, essa parte de pular a janela foi ideia minha. E, portanto, isso foi culpa minha. O que não me fazia menos idiota. E eu ainda tenho que convencer Dominique de não voltar para a França, e segundo Teddy “continuar sendo um idiota apaixonado assim como ele foi um dia”. Em minha opinião, ele ainda é.

Não conseguia dormir de jeito nenhum, precisava de um plano. Fred achava que eu estava maluco, e que ela nunca sairia da França. Não agora. Mas no fundo, sabia que ele estava errado. Quando você pertence a algum lugar, não pode simplesmente virar as costas e fingir que pertence a outro. E nós pertencemos onde tem pessoas que nos amam.

Três da manhã. E eu finalmente desisto. Não vou conseguir dormir mesmo. O melhor que posso fazer é tomar um banho, e comer alguma coisa. Para tentar pensar num plano descente que tenha chances de funcionar.

Infelizmente, alguém deixou a luz da cozinha acesa. A conversa deve ter durado até tarde aqui, o que era óbvio se tratando dessa família. Mas não tenho tanta sorte assim.

-Dominique?

Ela sorriu, abaixando a caneca. Estava sentada no balcão, com o que parecia um pijama, balançando as pernas e com o cabelo preso meio desarrumado, como se ela tivesse prendido de qualquer jeito e já estivesse caindo.

-E você sempre aparecendo. Quer chocolate? Não fiz chocolate quente, está gelado mesmo, mas... Acho que continua bom.- deu de ombros- O que faz acordado tão cedo?

-Eu não dormi- respondi, enquanto ela me jogou uma caneca edição especial com letras de Celestina Warbreck- Ah, poxa, Nicki, rosa? Com essas letrinhas ridículas?

Dominique mostrou a língua, como uma criança, e começou a cantar:

-“Eu vou fazer procê um caldeirão cheio de amor/ Jogar meu feitiço que vai te fazer se apaixonar/ É minha Felix Felicis sem você vida não há/ Porque vou fazer procê um caldeirão cheio de amooooor”- continuou com uma dancinha esquisita e riu- Fala sério, lembra quando nós fazíamos os shows? Eu e as meninas na escada da Toca, e vocês tinham que ser a nossa plateia...

Eu também ri, subindo no balcão.

-Como esquecer? Caldeirão de Amor era a preferida de vocês, e nós ainda tínhamos que usar encharpes cor-de-rosa.

-Ah, nós cantávamos Esquisitonas também!- ela protestou, balançando a caneca- Bons tempos. Era tudo fácil, não era James?

Dominique me encarava como se estivesse esperando alguma coisa, os olhos azuis intensos. E tudo que eu sabia era que não poderia desaponta-la.

-Era. Era mais fácil sim. - concordo, e ela assente como se pedisse para que eu continuasse- Parece que de repente temos que começar a decidir a vida inteira. N.O.Ms, classes avançadas... Sempre esperam muito dos Potters.

-E dos Weasleys- ela completou, dando um sorrisinho- Eu cresci na sombra da Victorie. Ela é uma irmã fantástica, mas... É sempre “Dominique, a irmã da Victorie”- suspirou, bebendo o resto do seu chocolate. - Você não sabe como é.

-Sei sim. Na maior parte do tempo, parece que ninguém presta atenção em mim. Eu estou sempre protegendo meus irmãos. Cresci ouvindo “James, pare com isso, seus irmãos são menores”. Sempre andava sozinho, na frente dos meus pais que levavam Lily e Alvo. Eu sempre era o problema.

Ficamos algum tempo em silêncio depois disso. Dominique levanta a cabeça, e é quem ala primeiro.

-Você sempre tenta chamar a atenção.

-Você sempre tenta ser diferente.

Nós rimos, colocando o chocolate de lado.

-Sabe, eu acho que ninguém te vê como “a irmã da Victorie”. Eles te veem como a veela Dominique que não sabe do que é capaz.

-E todos prestam atenção em você. E como assim “do que é capaz”, senhor James? Do que eu sou capaz?- ela perguntou, soltando o cabelo.

Desviei o olhar.

-Ainda não respondeu por que está acordada tão cedo.

Ela me deu um tapa no braço.

-Não é da sua conta, mas... insônia. Você também não me respondeu nenhuma das minhas perguntas na verdade.

Dei de ombros:

-Insônia. Espera as garotas não vão sair para comprar vestidos?

Dominique parou de rir.

-É, ainda tem isso. – suspirou.

-Achei que gostasse dessas coisas, Dominique.

Ela faz uma careta bem engraçada, na verdade.

-Não. Minha irmã gosta dessas coisas, ou acha que foi ideia minha comprar um guarda-roupa novo?- ela riu, olhando pela janela- Mas eu tinha que fazer isso, sabe. No fim, foi até bom. O que não significa que eu ame passar um dia inteiro cercada de roupas e experimentando uma centena delas.

-Não deve ser tão difícil assim encontrar algo que fique bom em você.

-Acredite, é.

Olhei pela janela, o solo começando a aparecer ao longe.

-Ei, Dominique, você não queria perder o nascer do sol, certo?- pulei para o chão, estendendo a minha mão e ela riu.

-Claro que não, sir Potter.

***

-É tão bonito aqui- Dominique disse, enquanto nós nos sentávamos no mesmo lugar, colocando os pés na água- Você estava certo. O amanhecer é melhor.

Eu ri, levantando a cabeça.

-Ah, eu sempre estou certo!

De novo, ela me bateu bem forte para o que eu imaginava. Fiz uma careta, e ela resolveu que era hora de me bater de novo.

-Por que é tão agressiva?- perguntei, passando a mão onde estava a marca vermelha dos dedos dela.

Dominique deu de ombros.

-Porque talvez assim você aprenda, mas acho que não funciona.- riu, jogando a cabeça para trás.

Por algum motivo, ficava ainda mais bonita com a luza ainda meio fraca do sol batia no cabelo loiro, os olhos azuis claros como o céu. Balançava-se de um lado para o outro sem perceber, como se estivesse dançando sua própria música.

E isso soa totalmente gay, mas eu sou um idiota apaixonado, é uma boa razão para poder pensar assim. Ou talvez não. Prefiro pensar que é.

-Ei, o que foi?- perguntou, parando de observar o sol- Tudo bem, James?

Faço que sim, e ela apoia a cabeça no meu ombro. Me contenho para não abraça-la ali, naquele momento.

-Sabe o que é pior?- começa, ainda encostada- Depois que nós dois sairmos daqui, as coisas vão voltar a ser como antes. Aquelas brigas ridículas, o tempo todo.

-Eu não quero- protestei, como uma criança.

Dominique levanta a cabeça, e me obriga a encara-la.

-Eu também não.

Estamos perigosamente perto agora, é como um flashback. Mas sem música no fundo da cena. Agora não podemos mais fazer nada.

Quando nossas bocas se encontram, é como se nada mais no mundo existisse. É diferente agora, mais urgente do que na primeira vez e como se tudo não passasse de um sonho no qual tentamos nos agarrar e prolongar. Porque eu não quero, e não vou perdê-la de novo.

Finalmente nos soltamos, para respirar.

-Isso saiu do controle- ela comentou, surpreendentemente rindo. Por algum motivo, o clima estava mais leve agora, e não o contrário.

-Não foi necessariamente ruim.

-James!

Dei de ombros.

-O que fazemos agora? Você não tem um namorado?

Dominique suspira.

-Sei lá. Talvez. Eu nem sei se eu quero mesmo fazer o sexto ano em Beauxbatons. Eu não sei se quero mesmo continuar com essa coisa de espiões, e investigação. É como se alguém estivesse tentando me distrair com isso... - ela balança a cabeça- Esquece, isso foi ridículo.

-Não. Não foi mesmo- interrompi, me contendo para não levantar. Era isso. Dominique me encara como se eu estivesse louco, mas eu não ligo. Ela continua com a cabeça no meu ombro, então acho que está tudo bem.

Ficamos em silêncio, o que para mim é incomodo. E seguimos em silêncio até a porta do quarto dela.

-Até mais tarde- ela diz, se virando para abrir a porta. Mas dessa vez eu não deixo.

-Desculpe.

Ela ergueu uma sobrancelha:

-Por quê?

-Eu acho que não devia... você sabe.

Dominique riu, colocando a mão no meu ombro.

-Se é isso, a culpa foi minha também. Você me espera ás oito?

-Hã?

Ela revirou os olhos.

-Para o baile, Potter. Você vem comigo. - completou, piscando e me dando um selinho.

Podia ser impressão minha, mas acho que essa realmente será uma boa noite. Porque finalmente as coisas estão dando certo, só precisam de um empurrãozinho.