My Tourniquet Returns To Me, Salvation. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 1
My tourniquet returns to me, salvation.




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               My tourniquet returns to me, salvation. 

Seu nome é Spencer Reid.  Simples como água de chuva, complexo como apenas o ser humano pode ser. Aquele mesmo cara que poderia ser engraçado quando queria, mas poderia ser inconveniente citando estatísticas. O mesmo homem que, segundo David Rossi, tinha chegado ao FBI através de um cesto. Não, não era bem assim. Seu nome era Spencer Reid que, depois de Penelope Garcia, o membro mais sensível da BAU. Talvez o que menos consiga lidar com perdas. Não que ele estivesse orgulhoso daquele seu defeito, estava trabalhando para reparar aquele grande problema, mas sempre algo era suficiente poderoso para abalar – até mesmo destruir – todo o trabalho que ele tinha construído.

                Sua mente, a genial mente de 187 em QI, fazia questão de lembrá-lo de todas as suas perdas. A primeira, seu amigo de infância, Ryan. E foi, exatamente, o fato da morte de Ryan que desencadeou uma nova perda em sua vida. Uma perda irreparável, ele ousava a classificar. Depois que Ryan morrera, William Reid, seu pai, não conseguira mais permanecer em casa. Eram tantas coisas acontecendo naquele ano. Reid perdera um dos poucos amigos que tivera e, logo em seguida, perdera o pai. William foi embora. Abandonou-o para curar sua própria dor, deixando o filho genial lá; para ser criado por uma mente esquizofrênica. Aliás, era bom deixar claro, a mente esquizofrênica era sua mãe e apesar dessa doença, Reid não reclamava dela em momento algum. Era sua melhor amiga e mesmo que, diferentemente da grande maioria das pessoas, não pudesse contar com ela para resolver a maioria dos seus problemas, sua parte favorita era sentar na cama da mãe e ouvi-la ler algum livro da literatura do século XV. Spencer Reid tinha orgulho de ser filho da mente mais brilhante que já conhecera. Orgulho de tê-la como melhor amiga, orgulho de saber que poderia confiar nela e mesmo que a ex-professora achasse que Reid era alguma espécie de herói que vivia cheio de aventuras, ele poderia sempre confiar nela.

                Voltando ao relato de suas perdas, depois de perder seu pai, ele teve uma longa vida de estudos. Em sua mente, ele sempre queria superar seu pai, fazê-lo se arrepender de abandonar sua família, mesmo que ele (no começo de tudo) tenha sempre acreditado que seu pai nunca tenha acompanhado de  perto tudo o que Spencer era capaz de fazer e quando teve a grande oportunidade da sua vida, soltou tudo o que estava entalado e descobriu que seu pai era seu grande fã. “Eu nunca tenho nenhum fã normal”. Depois ele perdeu a pessoa que mais acreditou nele e lhe ensinou coisas. Reid era brilhante, as pessoas esperavam que ele fizesse coisas por si só, mas às vezes, ele só precisava que alguém tivesse um pouquinho de paciência e lhe ensinasse pequenas coisas. Jason Gideon foi um pai para ele. Jason Gideon o compreendia antes mesmo que ele expressasse qualquer palavra. Sabia de sua tendência a acreditar que toda a culpa do universo estava sobre seus ombros e, quando ele estava lá, amarrado e quase sem esperanças, foi a voz de Gideon que ele ouviu dizendo que ele não tinha culpa de nada. Como todas as figuras paternas de Spencer Reid, em algum momento, o deixaram, Gideon não foi diferente. Ele simplesmente foi embora, deixando-lhe uma carta. Especificamente endereçada a ele. Gideon conhecia Reid tão bem que sabia que o doutor jamais deixaria de procurá-lo quando desse por sua falta e que o doutor seria o primeiro a perceber que algo estava errado. Não porque era brilhante, mas Gideon era o homem que o ensinou a se relacionar, a ser mais sociável em seu trabalho e Jason foi quem deu um jeito para que ele e JJ saíssem.

                Como se não fosse suficiente, Reid conheceu uma moça em um caso. Uma moça que fez com que cabelos brancos crescessem por seu couro cabeludo em menos de quarenta e oito horas. Ele a beijou na piscina de sua casa, a sua arma ficou toda cheia d’água, impossibilitada de fazer alguma coisa se fosse necessário. Ele a protegeu sem precisar disparar um único tiro. A moça? A atriz Lila Archer. O doutor sabia a diferença entre ser obrigado a voltar pra casa, mas considerava isso uma perda A pesar de toda a liberdade de Lila, sua mente sempre o faz perguntar se teria dado certo, caso eles se relacionassem mais seriamente. E teve a própria JJ que acabou trocando-o por William.

                Aliás, enquanto perda, JJ parecia campeã em machucá-lo. Primeiro com a troca absurda (claro, para ele era absurda), depois por ser padrinho de Henry. Soava como uma compensação por ele não ser o pai do garoto. Padrinho que era como pai, que estava pronto a ser para Henry o que Gideon foi para ele, sem a parte de deixá-lo. Depois do casamento de JJ, ela foi obrigada a ir trabalhar no Pentágono, causando-lhe a maior dor do mundo. Simplesmente não podia acreditar que alguém poderia ser cruel ao ponto de mandá-la pra Washington. Tão, tão, tão distante dele. E, mais recentemente, ele estava perdendo Emily Prentiss e sequer tivera tempo de se despedir dela. Seu coração partido não conseguia aceitar a morte da garota nem por um instante. Não conseguia entender como alguém poderia odiar Emily Prentiss e, e daí que seu passado tenha sido o de uma espiã treinada?  Emily Prentiss tinha confessado, uma vez, que era do FBI para livrá-lo de uma surra e talvez morte.  A dor era forte demais para que ele pudesse suportar sozinho, então, ele ia sempre até JJ para chorar a morte dela.

                Chorar. Spencer nunca fora do tipo que se abria completamente aos sentimentos. Ele não gostava que as pessoas invadissem seu espaço vital e se protegia atrás de seu intelecto brilhante. Mas com Jennifer Jareau ele se sentia a vontade para chorar e ser ele mesmo. Jennifer que era a única pessoa no mundo a chamá-lo de “Spence” e a única pessoa no mundo que ele achava conseguir entendê-lo em relação à morte de Emily. Porque as duas eram unidas demais, da mesma forma que à Garcia que jamais deixara de ser ela mesma para ser imparcial em casos. Ela era tudo, menos imparcial. Reid não admitia que fosse capaz de chorar, até precisar aliviar a dor que ele sentia em relação a aquela perda.

                Em contrapartida estava Derek Morgan. Um homem que nunca teve grandes problemas com perdas, simplesmente pelo fato de ele nunca perder. Seu ego e personalidade caminhavam juntos para que todos ficassem felizes no final. Estava sempre com o astral nas alturas, sem se importar com o próprio passado triste, com tudo o que teve que suportar para chegar até onde conseguira chegar. Ele não se apoiava nos outros, ele servia de apoio para seus amigos e não importava o quando doesse nele. Reid poderia sofrer com a perda, mas cada um tinha seu próprio jeito de sofrer. Todos tinham os mesmos estágios de luto. Ele continuava estagnado na raiva. Ele queria vingança a todo preço. Não ia parar até achar o maldito Doyle e acabar com a vida dele, mas sabia que tinha que fazer isso do modo mais calmo e discreto possível.

                O único problema foi não poder deixar Garcia, sua melhor amiga,de fora daquela investigação. Era perigoso, não somente por se tratar de Doyle, como para a carreira deles. Garcia não era do tipo que cumpria regras quando se tratava de seus anjinhos da guarda, seus amigos, sua família. Dane-se todo o protocolo, ela só queria que Derek ficasse bem. Ela sabia, melhor do que ninguém, que aquele era seu melhor amigo e como bons melhores amigos, ela o conhecia como nenhuma outra pessoa o faria. E também, aquilo a consolava. PG não concordava mesmo com o fato de Doyle sair impune da morte de Prentiss. Alguém tinha que pagar todo o sofrimento que toda aquela equipe estava passava.

                De repente, um flash veio a mente de Morgan. Ele estava em sua sala, amontoado de papéis que falavam de Doyle, tentando achar ali no meio uma falha do homem. A operação de Valhalla estava toda documentada em suas mãos e mais detalhadamente no laptop de Garcia. Aquele flash em sua mente fez com que Morgan se lembrasse do pôr do sol que ele assistiu junto com Spencer Reid após capturar Adam. Spencer se sentia responsável pelo garoto. Spencer se sentia responsável até por Tobias Hankle, o homem que lhe havia torturado e machucado. Derek nunca aceitou esse fato como Reid. Não conseguia separar Tobias de Charles ou de Raphael. Todos eles faziam parte da mesma corja que machucou Reid permanentemente, que o fez desejar morrer. Que o viciou. Spencer nunca falou exatamente o que acontecera enquanto a câmera estava desligada e só quem assistira o salvamento de Tobias fora Garcia e Gideon que estava na sala de computadores. Depois daquilo, ele não gostava de deixar sequer webcams ligados. Lembrar-se disso fez com que Derek notasse algumas falhas de comportamento de Reid; ele demorava a chegar, demorava a sair, passava tempo demais no banheiro e quando voltava, voltava estranho, com o rosto sem secar direito.

                Derek podia notar que Reid demorava mais para beber seu adorado café e que seus pensamentos estavam sempre distantes. Vez ou outra ele se pegava olhando onde ficava a mesa de Emily e engolindo o choro. Talvez ele pudesse perceber melhor do que os outros a dor causada em Reid que parecia sequer ter forças para defender o adorado Doctor Who.  A perda de Emily Prentiss deixou Reid fora de órbita.  Derek viu o doutor passar apressado para o banheiro e num milésimo de segundo disse que precisava sair a Garcia que franziu o cenho, mas não o impediu. Aliás, ela sabia melhor que ninguém que ninguém poderia impedir Derek Morgan.

“Só não demore muito, Chocolate Thunder. Não quero ter que terminar isso sozinha.” Ela disse, em tom de brincadeira, arrancando um sorriso do outro que deu um passo para trás antes de finalmente responder a ela:

“Eu jamais deixaria isso acontecer, babygirl.” E saiu, apressando o passo para encontrar Reid.

Reid encarava sua expressão cansada no espelho do banheiro da BAU. Havia enormes olheiras em baixo de seus olhos. Ele não sabia o que era dormir a semanas. Pesadelos com Emily e, às vezes, ela nem estava envolvida. Dores de cabeça que insistiam em desconcentrá-lo. Ele não estava nada bem e sabia de uma coisa: esquizofrenia era hereditário. Ele morria de medo de sua própria mente, tinha orgulho da mãe, mas não gostaria de ter herdado a doença. Nem por um instante. Molhou o rosto diversas vezes, na tentativa de melhorar a própria aparência e tentar fazer com que seu foco seja os perfis de seriais killers, mas cada minuto que passava, a pressão em cima dele, era maior. Sua mão foi ao bolso da calça, lá tinha dois vidros de Dilaudid. A dor em seu peito era tão forte, mas tão forte que ele sentia precisar de ajuda para poder suportar. Estava certo que essa seria a única solução estava na droga que ele mesmo lutara com todas as forças para não precisar dela.

                 Então percebeu que sua mãe estava errada e que Charles Hankel estava certo. Ele era mesmo um fraco. Não conseguia suportar o fato de não ter notado antes que Emily Prentiss estava precisando de ajuda. Se ele tivesse ido ao fundo do nervosismo dela ao invés de contar a moça os seus problemas com as enxaquecas – que agora soavam tão medíocres quando comparados aos de Emily – ela estaria viva. Era simplesmente sua culpa e ainda que Gideon surgisse novamente em seu pensamento, em sua vida, e mesmo que ele voltasse – seja lá de onde ele está – apenas para dizer que Spencer estava errado, não teria como acreditar. Era sua culpa. Ele tinha que ter desconfiado antes e simples assim, mas não o fez e jamais seria capaz de se perdoar por isso.  Não se perdoaria porque esse tipo de erro infantil faria o fez carregar o caixão de Emily Prentiss.

                Com um pouco de facilidade, o doutor preparava a seringa com a droga. Seus pensamentos estavam vidrados demais em uma única coisa. Havia tanto tempo que não se concentrada em nada que ele sequer percebeu que estava com tanta concentração. Os olhos estavam vermelhos, num misto de sono, irritação e choro, os lábios secos presos entre os dentes. Desamarrou a gravata para fazê-la de torniquete e a amarrou no braço com a ajuda de sua boca. Suspirou. Um momento curto de sanidade parou em seu corpo, mas se desfez rapidamente quando ele direcionou a agulha para seu braço. Foi exatamente nessa hora que Derek Morgan entrou no banheiro e viu a situação em que Reid se encontrava e gritou na intenção de assustá-lo:

Hey, Kid!” Reid, que vidrado em seu intento, assustou-se com o grito de seu amigo e virou-se abruptamente, deixando os vidros – sendo um deles vazio – de Dilaudid caírem. Quando a voz grossa de Derek Morgan invadiu seus ouvidos em um grito, em uma ordem, ele torceu para que os vidros se quebrarem, mas ao contrário disso, eles rolaram até Morgan que pegou os frascos, leu. “Por quê?”

“Eu to cansado, Morgan.” Não havia como, e ele sequer tentou, negar a presença da droga. Os cabelos despenteados, os olhos vidrados, as olheiras, pareciam ser suficientes para que o outro entendesse o motivo de sua necessidade. Então ele se lembrou que não haviam desculpas suficientes para explicar a um não adicto como uma dose daquela seria capaz de fazer tudo ficar muito mais fácil. “Cansado de lutar por coisas que não valem a pena.”

“Quer conversar?” Morgan dissera, se aproximando do mais moço que assentiu fraquinho. “Eu te garanto que sou um bom ouvinte.”

“Questionei ao Hotch se valia a pena permanecer nesse trabalho, mesmo tendo prometido a Gideon que jamais deixaria esse trabalho.” Spencer disse, abaixando os olhos. “Hotch nunca me respondeu e talvez não vá. Só que Hotch é forte para continuar aqui, eu não. Não sem uma ajuda.”

“Criança, todos nós somos seus amigos. Basta você pedir ajuda.” Morgan disse a Reid, colocando a mão no ombro do garoto. “Você não precisa suportar tudo sozinho. Você não deve.”

“Todo mundo tem seus próprios problemas.” Ele negou com a cabeça. “A única coisa que mais dói é saber que eu deveria ter feito alguma coisa. Eu tinha notado que ela estava estranha e ao invés de ajudar, eu a afundei em meus problemas. Não vou cometer o mesmo erro novamente. Não vou enterrar mais um amigo.”

“Olha pra mim, Reid.” Morgan pediu e, com um pouco de dificuldade, porque ele estava envergonhado por ser pego tentando retomar seu vício, ele levantou a cabeça e olhou o mais velho. Estavam muito próximos um do outro, falavam baixo como se trocassem confidências. “A culpa não foi sua. Se alguém teve culpa, foi eu. Eu demorei demais para chegar até ela, demorei para pedir o atendimento médico. Você não teve culpa alguma de nada. Nem por um minuto.”

“Mas eu poderia ter alertado que o hábito dela de roer unhas estava de volta.” Falou, meio arrastado, devido sua indignação. “Eu não tive tempo de me despedir dela, Morgan, e isso dói demais.”

“Não me consola ter visto a Prentiss na situação em que ela estava.” Derek argumentou. “Mas tenha certeza de uma coisa, eu quero prender Ian Doyle e fazer justiça por nossa Emily. Não vou descansar até isso acontecer. Quero que tome isso por consolo, criança, e que entenda que não foi sua culpa, mas, principalmente, quero que nunca mais pense em tomar essa porcaria novamente. Você sempre pode contar comigo, não importa quanto você acha que eu tenha problemas, eu sempre estarei bem aqui por você.”

                Reid apenas deu um sorriso forçado e entregou a seringa para Morgan que lhe deu um daqueles seus sorrisos enormes para compensar o gesto. Jogou os dois frascos e a seringa no lixo e logo voltou para perto de Reid que sentiu necessidade de um abraço. Ele estava destruído e sempre quem o abraçava daquela forma era JJ, mas Morgan estava sendo excepcional e jamais esqueceria aquele momento. Jamais. Não só por causa de sua memória hiperdesenvolvida, mas por causa do que aquele gesto significou para Reid.

“Agora vamos dar o fora daqui, estamos parecendo duas mocinhas trocando confidências no banheiro.” Morgan riu baixo e soltou Reid. O primeiro saiu e o doutor ficou ali refletindo enquanto colocava sua gravata. A vida continuava mesmo sem Emily. Não importa o quanto as perdas pudessem doer nele, Morgan era um alívio muito maior e mais eficaz que a Dilaudid.

FIM.


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