O Herdeiro do Primeiro Peverell escrita por Britz Boll


Capítulo 42
Capítulo XXXII - A Varinha das Varinhas


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde gente,

nem vou falar nada porque eu estou mais ansiosa que vocês para esse capítulo! É O FIM! Então vamos lá, espero que gostem e me desculpem pelas consequências do caminho...

Leiam as notas finais!



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Capítulo XXXII

A Varinha das Varinhas

Da linhagem Primeira

Somente o Herdeiro pode a Varinha tocar,

Do contrário a Morte matreira

Do indigno falsário, então, se vingará.

–*-

As criaturas avançaram pelo fogo como se ele não passasse de uma mera barreira de vento. As roupas chegaram a chamuscar, mas as feras permaneceram incólumes, totalmente protegidas pela pele cinzenta do calor abrasante das chamas. Mason Crowe vinha à frente, mostrando claramente sua posição de Macho Alfa. Tinha o dobro do tamanho comparado aos capangas, garras que ultrapassavam a linha da cintura, e os olhos que brilhavam intensamente amarelos.

– Acabou. – rosnou a criatura que antes possuía a alcunha de Mason Crowe.

Ele fez um sinal e uma das criaturas saiu em perseguição de Malfoy subindo a escada flutuante de Chris. Mason, então desferiu um soco numa das peças que formavam os degraus. A potência do golpe fez o feitiço quebrar e a placa de concreto voar longe, até se estraçalhar contra a parede metálica. As outras peças despencaram em seguida, desfazendo o caminho de fuga dos Aurores segundos depois do capanga galgá-los.

– Já é tarde demais para impedir o meu plano. – sua voz tinha um timbre feérico, algo entre o humano e o animal, capaz de arrepiar até o monstro mais temível. - Mesmo que consigam fazer um antídoto, assim que conseguir a Varinha, a transformação atingirá seu ponto máximo, e a Raça Eterna será criada!

As criaturas urraram em concordância, as bocarras escancaradas, as presas à mostra.

– Dê-me a Varinha, Potter. – a besta bradou para o Auror. – Essa luta não é sua! EU sou o verdadeiro Herdeiro! – seu tom de voz abaixou para um pedido desesperado. - Dê ela a mim, e eu prometo que ordenarei o recuo dos meus companheiros em Londres... Não é a intenção machucar ninguém... O vírus foi criado para salvar vidas, Potter, para curar pessoas. O que você está vendo, - ele apontou para o Patrick deformado e depois para Steven caído no chão. – são apenas efeitos colaterais. Riscos. – ele acrescentou com veemência. – Sacrifícios que precisamos fazer para construir um mundo melhor. Um mundo onde a Morte seja apenas uma intrusa indevida. Um mundo sem dor, sem sofrimento. Dê ela a mim... – pediu.

Harry Potter sentiu a Varinha das Varinhas vibrar em sua mão. Era como se ela estivesse sendo chamada. Por um momento as palavras de Mason rondaram sua mente, mas Harry rapidamente as enxotou. Por mais que houvesse boas intenções por trás da maldade de Mason, ele ainda assim causara danos, e Harry não podia desconsiderar isso. Um lobo em pele de cordeiro, ou um cordeiro em pele de lobo?, o bruxo se perguntou. Mas, por mais que se recusasse a entregar a Varinha a qualquer um dos irmãos, notou que, pela primeira vez, aquela decisão não cabia a ele. Toda a história da profecia sobre o Herdeiro estava fora do seu alcance, e a solução daquele enredo estava igualmente longe de sua capacidade de decisão. Era como se fosse um intruso naquela luta familiar, o descendente do Peverell errado.

– Não o escute Harry! – foi a vez de Siger Crowe chamar a atenção do Auror. – Ele está enganando você, tudo que ele almeja é o poder!

E havia diferença nos desejos do Chefe do Sétimo Esquadrão?, Harry se perguntou. Todos que perseguiam as Relíquias as queriam por um simples e único objetivo: poder. Porque seria diferente agora quando se tratava da Relíquia mais poderosa? Será que haveria viva alma que pudesse possuir aquele objeto, sem que fosse tomado pela ganância?

A Varinha vibrou novamente e quase escapou de suas mãos. O tempo estava no fim, Harry não poderia contê-la por muito mais tempo. Teria de dá-la a um dos dois... Mas qual?

– Harry! – a voz de Chris Hareston cortou seus devaneios. O garoto estava a alguns passos de distância, parecia fraco, porém, decidido. – Essa luta não é sua... – ele repetiu as palavras de Mason.

Harry observou o colega, totalmente confuso sobre a intenção daquelas palavras. Chris Hareston trocou um olhar rápido com Siger Crowe, e este balançou levemente a cabeça em concordância.

Chris se voltou para Harry e seus lábios desenharam as palavras que mudariam o jogo.

E então, Harry Potter entendeu.

–*-

Quando viu suas palavras serem absorvidas pelo colega, Chris Hareston virou-se para Mason numa pose resoluta.

– Lamento desapontar, besta-fera, mas acho que devo me apresentar devidamente.

Mason riu com o insulto, mas estava claramente surpreso com a audácia do jovem.

– Não me faça perder mais tempo! – rosnou. – É melhor sair do caminho, ou não terei piedade!

Chris Hareston sorriu, descrente. Sua insolência irritou Mason.

– Ora seu...

– Como eu estava dizendo, - Chris cortou, alteando seu tom de voz. – devo me apresentar devidamente... Chris Hareston, membro do Sétimo Esquadrão de Aurores, exímio praticante de xadrez nas horas vagas, e... – fez uma pausa. – Também, outro descendente direto de Antíoco Peverell.

As faces dos Aurores mostraram surpresa, já a de Mason se contorceu num misto de sensações. Primeiro, incredulidade pela pretenciosa afirmação do garoto. Depois, confusão com a aceitação de uma possível verdade. E por último, ira ao perceber que realmente tinha a chance de perder seu Destino para mais alguém.

– Não... Não... – Mason começou a recuar. – Não é possível...

– Achou que eu só estava me escondendo todo esse tempo, irmão? – Siger perguntou. – Enquanto você andava obcecado pelo seu jogo do Destino, eu estava atrás de uma saída, da última peça do quebra cabeça.

– É, - Chris acrescentou com desprazer. – tenho a grande honra de ser mais um competidor na luta de suas vidas e etc. – ironizou.

Mason continuava em recusa, observando pasmado os dois inimigos lado a lado. A intromissão deste garoto no seu Destino não deveria abalá-lo tanto, mas o fez. Toda a sua vida acreditara que ele e o irmão eram os únicos restantes a disputar a profecia, e fizera de tudo para tirá-lo do caminho. Agora mais um se apresentava para reclamar o posto, e a falta de informações sobre o preparo do novo competidor fazia-o pensar que Siger o havia treinado para isso, que aquele menino era a sua carta na manga.

Porém, Mason já havia falhado uma vez e não poderia se permitir isso novamente. Esse era o sentido de sua existência, a razão para estar vivo. Possuir a Varinha do Destino era tudo que queria, tudo que precisava, e não iria perde-la para o irmão e seu novo brinquedinho Auror. Os olhos relampejaram amarelos e a fera então se adiantou, numa renovada de forças, numa ira crescente perante aquela que era a última chance de sua vida.

– Isso não importa! – rosnou. – Com um oponente a mais, um a menos, EU AINDA SOU O HERDEIRO E NADA PODERÁ ME IMPEDIR!

A fúria de Mason abalou as estruturas da decadente construção. Sua aura de poder emanava em reflexos amarelos, e a sua cólera era dividida perante os comparsas. Era como se os sentimentos de Mason fossem compartilhados através daquela ligação, e fizesse com que os capangas se inflassem de ódio, seguindo às cegas os instintos do Mestre como se fossem os seus próprios.

Toda essa cena já seria assustadora o bastante, mesmo sem se levar em consideração que não só os capangas eram controlados por aquela onda de cólera.

Steven Morris também.

–*-

Loren Price tentou de todas as maneiras impedir.

Enquanto Chris e Siger faziam seu show, ela estava ao lado de Steven, sacudindo-o e tentando trazê-lo de volta. A bruxa havia percebido o que aconteceria assim que Mason e seus capangas se transformaram e a gota d’água foi quando não só a transformação em si começou a exercer influência sobre seu companheiro, mas também a ira dos inimigos começou a atingir Steven.

E então, ela começou a chama-lo, a tentar evitar o inevitável.

Mas como era de se esperar quando se tenta evitar o inevitável, Loren falhou.

–*-

Steven sentiu um espasmo furioso percorrer seu corpo. Tão profundo e intenso que a realidade deu um salto em direção à escuridão.

E, de repente, tudo que havia era ela.

A escuridão.

–*-

Um chute? – Steven riu com o termo. Ele e Siger Crowe estavam no subsolo da sala Sete, o “pó-rão”, num horário nada comercial no Ministério.

– É. – o chefe respondeu. – Quase isso. Quando você se transforma, perde o controle de si, mas uma parte do seu “eu” ainda permanece ativa no fundo de sua consciência. Então precisamos concentrar a magia e trazer essa parte de volta, para te dar um “chute” de volta à realidade.

Steven concordou.

– Então o que estamos esperando? Vamos começar...

– Espere. - Siger disse, sério. – Essa técnica só pode ser usada em caso de extrema necessidade, pois exige muito de sua mente. Dessa forma ainda é importante que você aprenda a controlar a transformação para que não precisemos recorrer à ela.

– E como vou fazer isso?

Siger deu um sorriso cansado. Algo entre preocupação e pena perpassou pelos seus olhos.

– Praticando, é claro.

–*-

O espanto perpassou a face dos Aurores.

A figura que se erguia estava longe de ser o amigo que conheciam. Os cabelos esbranquiçados de nada lembravam o loiro de outrora, tampouco os olhos amarelos aquele azul invejável de antes. Não havia nada de familiar naquelas garras afiadas, ou naquela aura de poder maléfica que emanava do ser.

Aquilo não podia ser Steven Morris. E, no entanto, o era.

–*-

O Monstro-Mason sorriu.

– Esplêndido. – ele disse fechando os olhos. Parecia saborear a nova carga de poder que se juntava ao grupo.

– Steven! – Loren gritou, tentando trazê-lo de volta à razão. A fera não deu sinal de tê-la escutado, e permaneceu incólume, esperando as ordens do Mestre.

Mason virou-se para Harry.

– Eu tentei ser diplomático Potter, mas você não me deu ouvidos. Agora faremos assim... - ele fechou os olhos um instante, a testa franziu como se estivesse se concentrando em algo.

Pega de surpresa, Loren Price não teve tempo de se defender. Exausta e ferida a menina foi erguida por um braço, como se fosse uma boneca de pano. As garras que se fecharam em torno de seu pescoço pertenciam a ninguém menos que Steven Morris.

– Ou você entrega o que me pertence, - Mason continuou. – ou ela morre.

A bruxa guinchou num pedido de socorro dolorido enquanto as garras continuavam a apertar e a sugar-lhe o ar. Enquanto os Aurores berravam em protesto, Steven Morris nem sequer lhe dirigiu o olhar, permanecendo completamente indiferente à cena.

– E, - ele acrescentou ao ver as varinhas dos inimigos serem erguidas. – se alguém tentar interferir, ela também morre. Não me testem, posso dar a ordem tão rápido quanto sacam suas varinhas. – ameaçou.

– Solte-a, seu monstro! – Chris bradou, ninguém sabe se para Mason ou para Steven.

– E soltarei meu caro, - Mason pareceu se divertir ao perceber o impacto que causara no oponente. – assim que tiver a Varinha. – ele virou-se para Harry novamente. – Tic Tac, Potter... O que vai ser?

–*-

– Tem certeza de que isso é tudo que podem fazer? – Hermione perguntou no meio do caos.

O bruxo a quem se dirigira era um curandeiro do St. Mungus. Estavam escondidos numa viela escura, bem longe do centro do combate. Ainda assim podia-se ouvir os ruídos da batalha e ora ou outra o tremor de alguma explosão. Ela e o homem estavam agachados ao lado de um corpo inerte; mais uma vítima dos lobisomens mutantes. O rapaz atingido jazia numa poça do próprio sangue, a face retalhada pelas garras da fera era uma massa grotesca de carne e da substância amarela. Apesar da situação deplorável, ele ainda respirava fracamente e o curandeiro testava um dos antídotos desenvolvidos às pressas no intuito de salvá-lo.

– A situação é complicada moça. – ele respondeu num tom repreensivo. Era baixo, calvo e tinha rugas sobre os olhos. Dependurado no ombro trazia uma maleta com todas as variações de antídotos desenvolvidas até o momento para a mutação. – Essa substância, seja lá o que for, atua de forma particular em cada indivíduo. Ela se torna cada vez mais forte, os antídotos não surtem efeito... E talvez seja melhor assim.

– O que quer dizer com isso? – a bruxa não escondeu seu tom de acusação.

– Na situação em que as vítimas estão... – suspirou. – Os ferimentos são muito profundos, e todas elas perderam muito sangue. A única coisa que as mantém vivas é a substância.

– E não há como impedir que a transformação se complete? Algo para deixá-las desacordadas?

– Receio ser impossível. – ele lamentou já se pondo de pé. – Com a lua a pino e todos esses lobisomens exercendo influência, não há saída, a transformação é inevitável.

A menos que eles recebam uma ordem contrária, pensou Hermione.

– E o que faremos? – Hermione queria uma solução imediata para o problema.

– Para desenvolvermos um antídoto eficaz precisamos da substância original.

Hermione automaticamente se lembrou de Malfoy. A notícia de que ele se tornara o Chefe do grupo de Curandeiros chegara aos seus ouvidos há tempos, diferentemente da informação de que Draco acompanhava Harry e Rony na missão, que lhe fora contada por um Curandeiro qualquer uns minutos atrás. A bruxa sabia a responsabilidade que o loiro assumira ao ir pessoalmente buscar a substância, e no fundo só esperava que ele desse conta do recado. A vida de muitas pessoas dependia exclusivamente disso.

Antes que ela tivesse a chance de se afogar de preocupação pelos amigos, o homem tirou-a dos seus devaneios.

– Mas, no momento eu diria pra sairmos daqui, logo este também acordará. – ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar. – De resto, o amanhecer virá em pouco tempo. Só nos resta esperar.

Hermione se ergueu rapidamente. Olhou uma última vez para o corpo estirado no chão. Pensou em quem devia ser aquele garoto, se tinha família, amigos... Se eles estavam procurando por ele. Era relativamente novo, provavelmente um recém-universitário; mal tinha começado a vida. Não era justo que acabasse ali, não podia deixar que isso acontecesse.

O Curandeiro já na esquina gesticulou para ela, impaciente. Hermione hesitou, o homem lhe jogou uma praga qualquer e partiu. A menina, solitária, abaixou-se novamente, decidida a arrastar o corpo até o centro médico que fora montado no outro lado da cidade. Certamente lá ele teria mais assistência e talvez, quem sabe...

Mãos fortes se fecharam em torno de seu pescoço. Hermione, pega de surpresa, não teve tempo de esboçar uma reação. O garoto, antes desacordado, agora exibia um par de olhos muito amarelos, presas vorazes na boca, e unhas afiadas que raspavam no pescoço dela. A bruxa que deixara cair a varinha no susto, forçava os dedos do monstro com as mãos, tentando afrouxar o aperto em busca de ar. A fera ergueu-a pelo pescoço, aproximando-se, sedento de sangue.

Hermione bateu os pés, que não mais tocavam no chão. Tentou se desvencilhar, mas estava cada vez mais fraca pela falta de ar. Sua cabeça começou a doer, estava prestes a perder a consciência...

Avada Kedavra!

A figura monstruosa tombou, libertando a bruxa do aperto de suas garras mortíferas. Hermione caiu de joelhos, ainda atordoada pela experiência de quase morte. Apanhou a varinha depressa, pronta para atacar, quando o rosto do seu salvador lhe lançou um olhar descrente.

– Vai mesmo me enfeitiçar? – Draco Malfoy zombou estendendo uma mão para ajudá-la.

Recomposta do choque, Hermione ignorou a ajuda e ergueu-se sozinha, limpando a roupa com as mãos e guardando a varinha nas vestes. Malfoy recolheu o braço, indiferente.

– O que faz aqui? – ela perguntou. – Devia estar com Harry e Rony atrás da substância!

– Vejo que alguém anda acompanhando os meus passos. – ele sorriu. A bruxa não respondeu à provocação e ele deu-se por vencido. – Eu estava com seus amigos. E consegui o que precisávamos. – mostrou o interior da capa, onde um vidrinho com uma substância amarela transparente reluzia.

– E por que o matou? – ela perguntou indignada, olhando o garoto transmutado morto no chão.

– Ele ia matá-la Granger, e não se abalaria com um Estupefaça qualquer. – Malfoy respondeu descrente. Hermione abriu a boca para argumentar, mas o garoto a deteve. – Jura que preferiria que eu tivesse sentado num canto e feito um antídoto enquanto você era estrangulada?

Houve um momento de silêncio.

– Obrigada. – respondeu finalmente.

– Que seja. Agora ande, - ele foi caminhando para a saída da rua. Hermione o acompanhou de perto. – me mostre onde está o Centro Médico. Temos muito trabalho a fazer.

–*-

O primeiro impulso de Harry Potter seria entregar a Varinha e negociar com Mason.

Isso até vislumbrar um sutil sinal que provinha de Siger Crowe. O Chefe do Sétimo Esquadrão tinha uma das mãos com a palma aberta, levemente inclinada em sua direção num aviso de “espere”. A mente de Harry borbulhou, num conflito entre a confiança – que deixara de ter – no Chefe, e a ânsia de salvar a companheira. A não intervenção de Chris Hareston apaziguou a batalha no seu interior e fez com que, ainda que contra sua vontade, Harry esperasse sem manifestar ação alguma enquanto a colega caminhava rumo a morte perante seus olhos.

–*-

– O tempo acabou. – Mason anunciou. – Já tem sua decisão, Potter?

Harry permaneceu em silêncio. A Varinha pesava cada vez mais em sua mão.

– Muito bem. – Mason estava algo entre irritado e entediado. A ordem veio verbalmente. – Mate-a.

A criatura-Steven esboçou algo que lembrava um sorriso de satisfação. Até que Siger Crowe fez um gesto suave na sua direção.

O efeito foi instantâneo. A face de Steven se contorceu em confusão, e ele reduziu o aperto em torno do pescoço de Loren. Parecia não saber como chegara ali, ou o que estava fazendo. Os olhos voltaram ao normal um instante, depois, subitamente, ficaram amarelos de novo. Steven colocou força na mão novamente, Loren guinchou. O garoto sacudiu a cabeça, como se tentasse espantar uma mosca insistente, ou um pensamento de resistência. Depois uma outra parte dele grunhiu, como se para mostrar quem estava no comando. O rosto mostrava uma carranca feroz, mas também de dor. Estava travando uma batalha interior contra si mesmo.

– O que está fazendo? – Mason urrou com raiva. – Mate-a!

Perante a ordem do Mestre, Steven pressionou o pescoço de Loren na parede com violência. Mas no ato acabou virando-se pra ela, e então, seus olhos se conectaram. Do outro lado das íris amarelas Loren pode ver o azul que tanto gostava, e nos seus olhos Steven viu o que precisava.

Com um rosnado ele afastou-se da garota. A força que Steven fazia para libertar-se do controle de Mason, acertou-o com impacto, fazendo-o ficar desnorteado. O Alfa recuou com ambas as mãos na cabeça, urrando em agonia.

Naquela fração de segundo Harry Potter sentiu que a hora chegara. Sabia que aquele era o momento mesmo sem o olhar penetrante de Siger, ou a expressão decidida de Chris Hareston.

– Então que seja... – Mason disse ainda abalado pela insurreição do aprendiz. – Se ela não morre, então... Morra você.

Essa luta não é sua, Chris lhe dissera momentos atrás. A Varinha escolhe o bruxo.

E então, tudo aconteceu ao mesmo tempo.

Patrick Stane se adiantou, obedientemente, as garras à frente, o corpo deformado andando com rapidez...

A Varinha que antes estava firmemente pousada entre os dedos de Harry, sacudiu violentamente e com uma força suprema advinda da própria Magia escapou do seu aperto. Como que cronometrados pelo Destino, as faces de Mason, Siger e Chris se viraram para acompanhar o tão desejado objeto que rodopiava no ar...

Patrick Stane preparou um golpe feroz na direção de Steven...

A Varinha descreveu um arco no céu do esconderijo, indo na direção dos três possíveis Herdeiros. Eles, inconscientemente convergiam para ela, como se chamados pela Magia. Em seus olhos brilhavam a cobiça... A ganância... O poder...

Steven Morris indefeso como estava ao travar uma luta consigo mesmo, não teve reação perante o ataque da criatura...

Os três ergueram as mãos, esperando o contato supremo do valioso prêmio. Ansiando aquele poder que os chamava...

As garras de Patrick cortaram o ar velozmente, e perfuraram o seu alvo bem no meio do peito, quebrando as costelas rumo ao coração...

A Varinha começou a cair lentamente, ainda em linha reta, descendo diretamente para uma das mãos estendidas...

O sangue brotou da ferida aberta quando a criatura desfez o golpe. O líquido rubro encharcou o chão, e os olhos de Steven mostravam choque enquanto ele amparava o corpo que despencava na sua direção. Loren Price tinha se interposto perante o ataque para salvá-lo, um sorriso distante morava em seus lábios agora, e lágrimas escorriam dos olhos sem vida...

E o Herdeiro do Primeiro Peverell fechou os dedos em torno da arma.

–*-

Muitas versões surgiram para tentar explicar o que aconteceu naquela noite, mas ninguém parecia saber descrever com precisão o momento em que a Profecia finalmente se cumprira.

O fato é que, o urro de desespero de Steven ao segurar o corpo de Loren nem sequer foi ouvido, pois no momento em que a Varinha escolheu seu Herdeiro, o mundo em volta deles desapareceu, e a realidade virou de ponta cabeça.

Houve um tremor, e uma enorme explosão de luz cegou os olhos de todos os presentes. Uma onda gigantesca de poder invadiu o ambiente, suficiente para arremessar os bruxos e criaturas na parede cromada. Apenas três vultos permaneciam no meio do caos.

Daquele trio desejoso, apenas um conseguira seu intento.

A Varinha nada mais era do que um ponto de luz ofuscante que repousava firmemente nas mãos de Siger Crowe. O corpo do homem estava envolto em energia, emitindo um brilho azulado provindo talvez de sua própria aura de Magia. Os olhos abertos brilhavam intensos, como dois faróis na noite sombria. A cicatriz também estava iluminada, fazendo uma trilha de Energia que ia desde o pescoço até a mão que empunhava a arma. Ele parecia um ser de outro mundo, como se não fosse mais humano, e sim, a própria Magia encorpada.

A construção inteira começou a tremer violentamente. A parte do teto que ainda restara começou a rachar, e pedaços começaram a despencar no chão do laboratório. O contorno brilhante da Varinha foi pouco a pouco desaparecendo, como se estivesse sendo absorvida para o corpo de Siger através da cicatriz, que brilhava como nunca. Mas não só a Energia dela foi tragada, o Fogo Maldito também resplandeceu azulado, e as chamas ferozes foram puxadas na direção do Herdeiro. Era como se Siger fosse um grande buraco negro, absorvendo toda a Magia que estava por perto.

A Varinha das Varinhas não existia mais.

Existia apenas Siger Crowe e todo o seu Poder.

Poder que ameaçava destruir tudo a qualquer momento.

Os comparsas de Mason debandaram sem esperar outra oportunidade, fugindo pelo buraco aberto no teto. Mas o irmão mais velho não se mexeu, ainda sem acreditar no que via diante dos seus olhos. Chris por mais assustado que parecesse também não conseguia se mover, como se estivesse preso na Aura de Magia de Siger.

Os Aurores estavam presos do outro lado do laboratório, longe da saída, e impossibilitados de chegar até ela pela Magia que emanava daquele centro de Poder. Com dificuldade, agarrando-se às paredes para não ser tragado pela Força, Harry conseguiu chegar até Steven, que agarrava o corpo de Loren com força. Ainda estava transmutado, mas parecia mais humano que nunca.

– Temos que sair daqui! – Harry bradou no meio do caos. As colunas já começavam a ruir logo eles seriam soterrados. O Herdeiro, seja lá quem fosse, não havia se contentado com o Poder da Varinha, e estava absorvendo tudo ao seu redor. Harry duvidava que alguém pudesse armazenar tanta Magia, o que significava uma grande e mortífera sobrecarga logo, logo. – Você me entende? Temos de tirá-la daqui!

A criatura Steven pareceu entender o teor da mensagem. Ele pôs Loren no ombro, ficou de pé e estendeu um braço a Harry.

– Não! – Harry gritou pra ser ouvido. – Pegue o Rony e saia daqui. Vá atrás das outras criaturas, não as deixe fugir!

Steven fez um aceno em concordância, e com sua força sobrenatural, correu paralelo as ondas de Magia, indo na direção de Ronald Weasley. Harry não pode mais vê-los, mas esperava que tivessem conseguido escapar. Agora ele tinha mais um resgate a fazer, antes que tudo explodisse. Ele se virou para trás, procurando um jeito de chegar até Charlotte Charpentier, ainda presa na maca, a alguns metros de alcance do Auror. Com a ajuda de um Protego, Harry foi galgando a distância entre eles, batendo de frente com a Magia do Herdeiro, que de tão intensa, chegava a jogá-lo para trás em alguns momentos.

Ele tinha poucos segundos, pois o pior estava por vir.

No centro de Poder, longe do alcance de visão de Harry Potter, Mason Crowe e Chris Hareston tentavam a todo custo se mover para fugir dali, mas a figura pulsante que era O Herdeiro os impedia apenas com o olhar. Um olhar capaz de gelar até o coração mais valente, um olhar que de tão poderoso que deixara Mason e Chris paralisados de medo.

O Herdeiro então estendeu a mão, na direção de Mason.

A criatura rugiu, tentando erguer a cabeça, como se estivesse sendo alçado por correntes invisíveis de poder. Ele forçava, berrando, tentando avançar enquanto o poder d’O Herdeiro o empurrava cada vez mais para dentro de seu próprio sofrimento. A pele de Mason começou a brilhar, na mesma coloração da do irmão. O monstro urrou, como se o brilho o queimasse; ele arranhou os braços, tentando se livrar da luminescência, mas quando suas garras rasparam a pele azulada, ela se fragmentou em pequenos pontos brilhantes. Desesperado, Mason gritou mais alto, enquanto seu próprio ser se desintegrava.

A palma aberta de Siger sugou a Energia do irmão, tirando daquela criatura maléfica, toda a Magia que havia. Negando a sua própria existência.

O fim estava próximo.

A nova carga de Poder adquirida pelo Herdeiro desestabilizou ainda mais seu deficitário controle. Todo o mundo pareceu girar em torno da esfera de luz que envolvia agora apenas O Herdeiro e Chris Hareston. A sobrecarga era demais, havia Magia demais...

Os olhos de Harry Potter pressentiram o fim. Num último ato desesperado, ele usou todas as suas forças para vencer os metros que o separavam de Charlotte. O chão tremeu, Harry abraçou a moça e fechou os olhos...

A realidade se comprimiu, se condensou, moldou-se em torno d’O Herdeiro; para então explodir violentamente, numa grande onda de Poder. Todo o porão, as prateleiras, os tanques, as macas, tudo foi pelos ares, junto com a casa de alvenaria. Fragmentos de madeira, tijolos e concreto foram arremessados pelo ar, numa velocidade estupenda. As chamas envolveram tudo, destruindo o que ficou para trás, como se para apagar a existência daquele episódio.

Nada ficara de pé, muito menos alguém.

–*-

Harry Potter sentiu braços em torno de si. Havia vozes distorcidas nos seus ouvidos, uma bagunça de palavras e sons. Abriu os olhos. Estavam no local da explosão ainda, ao longe o que restara da casa ainda ardia em chamas. Dentre as figuras estranhas que estavam ao seu redor, seu amigo Rony exibia um sorriso cansado.

– Onde... – Harry formou as palavras com dificuldade. Cada pedaço do seu corpo doía, e sentia que estava ferido em mais de um local. – Charlotte...

– Ela está bem. – Rony apontou pra um canto próximo. A moça estava deitada, com três Curandeiros ao lado, mas parecia-lhe inteira. – Podem ir. – dispensou os bruxos que faziam guarda à Harry. Já havia bastante gente do Ministério no local, provavelmente tentando entender o que se passara naquela cena Apocalíptica.

O amigo o olhou preocupado.

– Ninguém nunca viu uma explosão tão violenta.

– E...Os... – tossiu em busca da voz. - Os lobisomens?

O ruivo fez um sinal para que Harry olhasse adiante. As criaturas que tentaram fugir agora formavam uma fila na estada de terra. Estavam ajoelhadas, e pareciam querer se levantar, mas eram impedidos por uma força invisível. Aquela força provinha de ninguém menos que Steven. Ele estava de frente para a fila, o corpo de Loren pousado ao lado.

Steven parecia mais consciente, mesmo com os cabelos ainda brancos. As íris, Harry reparou, estavam díspares. Uma exibia o tom azulado, e a outra o brilho amarelo. Uma das criaturas ajoelhadas fez menção de se levantar, mas Steven rugiu e fê-la abaixar-se novamente.

Steven Morris agora detinha o poder sobre as criaturas. Tinha se tornado o Alfa.

– Ele também cessou com os ataques em Londres. – Rony explicou. – A Mione mal pôde acreditar.

– E enquanto à Jéssica? – Harry ergueu-se um pouco e percebeu a ausência dela na fila de prisioneiros.

Rony estendeu um braço para ajudá-lo a se levantar. Apontou para dois vultos caídos no canto da estrada.

– Steven disse que não vai pedir desculpas por isso.

Eram os corpos de Jessica Aley e Patrick Stane. A menina tivera o pescoço quebrado, e a fera tivera uma morte muito mais dolorosa e sangrenta, de modo que Harry preferiu desviar o olhar da pilha de carne e sangue.

Harry passou um braço em torno do ombro do amigo e Rony o levou de volta ao centro da explosão. A cratera de cinzas onde antes era o laboratório. Tudo estava destruído, nada restara para contar aquela macabra história de como a Profecia se realizara. Exceto por dois locais incólumes. Um Harry reconheceu como sendo o local da Fonte de Magia, a esfera luminosa que englobara os três possíveis Herdeiros de modo que ninguém sabia o que havia acontecido no interior de suas paredes resplandecentes. Ao lado, uma forma disforme e enegrecida estava no chão.

– Foi o único corpo que encontraram. – Rony explicou.

Mais adiante, o outro local que resistira ao episódio: a maca onde Charlotte estivera, e que Harry alcançou no último segundo.

– E os outros dois? – Harry perguntou, uma ideia lhe brotando à mente.

– O Quarto Esquadrão ainda está investigando, mas acham que foram pulverizados na explosão. Você e a Charlotte foram os únicos sobreviventes, e ninguém sabe explicar como vocês conseguiram se safar.

Não conseguimos, Harry pensou consigo. Alguém nos salvou.

– Acho que acabou não é? – Rony disse soturno.

Harry deu um suspiro profundo. A certeza de suas palavras nem ele próprio conseguira explicar

– Sim. – respondeu. – A Profecia foi cumprida.

Uma brisa leve passou por eles, tão singela que parecia brindá-los com a vitória.


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Notas finais do capítulo

E então pessoal? Valeu enfrentar esse que foi o maior capítulo da fic? Eu espero que sim, pq foi o que definitivamente me deu mais trabalho... Acho que vocês podem ter uma noção se eu disser que aqui, postado, está somente metade do capítulo, porque a outra foram as partes que eu tive que deletar pra que a história não ficasse muito confusa... Me perdoem, mas depois eu posto umas pérolas pra vcs!

Então, farei os devidos agradecimentos depois, porque é claro que quero saber a opinião de vocês sobre TUDO que aconteceu aí em cima! Todos tristes com a morte da Loren? O Steven ter se tornado o Alfa era esperado? O que aconteceu com O Herdeiro? O Siger ter completado a profecia agradou a todos, ou o Mason quem devia ter ganho? O Chris Hareston foi pulverizado na explosão?

E, para a felicidade geral da nação (ou não kkkk) o Epílogo vem aí. E quando digo vem aí, quero dizer daqui a pouco... De verdade, eu juro! Falta apenas um parágrafo nele para esclarecer as coisas à vocês.

Então, comentem, me xinguem, dividam suas dores e alegrias! Eu volto daqui a pouco pra fazer o coração de vocês pular mais um pouquinho!

Mil e 3 beijos da Britz!



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