O Herdeiro do Primeiro Peverell escrita por Britz Boll


Capítulo 36
Capítulo XXVIII - Laços de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Depois de quase matá-los do coração, aqui está mais um capítulo fresquinho. Nossos heróis foram capturados pelo misterioso vilão. O Herdeiro do Primeiro Peverell revela suas ambições, e caberá a Harry e sua equipe impedi-lo.
Boa leitura, mais informações nas notas finais! ^^



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Capítulo XXVIII

Laços de Sangue


Harry Potter sentiu seu corpo bater com força no chão.


Assim que as mãos que o trouxeram até ali, largaram-no, o bruxo não teve forças para permanecer de pé e despencou violentamente. Seu corpo estava imobilizado, e a visão turva. Os pensamentos demoravam a se formar em sua mente e de modo nenhum conseguiam chegar até os lábios e articular alguma frase coerente.

– É um grande prazer recebê-los aqui. – disse uma voz em algum lugar distante. - Há muito tempo que espero esse momento.

Harry lutou contra a neblina em seus pensamentos. Meio tonto ergueu um pouco a cabeça do solo e olhou em volta. Havia outros corpos caídos, o resto de sua equipe, supôs. Os homens que os pegaram na cabana estavam na porta de guarda com Jessica Aley num canto, e o autor da voz que lhe falara há pouco estava a sua frente, vestido com uma grande capa preta. Harry não pôde reconhecê-lo, o seu mundo rodopiante estava fora de foco.

O ambiente, entretanto, provocou-lhe leves fagulhas na memória. A sala de paredes cromadas, enormes tanques com animais submersos e caldeirões fumegantes era a mesma que vira ao invadir a mente do lobisomem cativo.

Era ali que o exército de lobisomens estava sendo criado. E era ali que estavam presos.

Harry tentou em vão, se erguer. Mesmo com seu cérebro gritando “levante-se” seu corpo continuava preso ao chão, impassível. O máximo que conseguiu foi um movimento desajeitado com a mão direita que quase lhe custou a perda da Varinha.

– Ah, não se dê ao trabalho. – a voz disse novamente. – Você não vai conseguir se soltar. Nem mesmo com ela.

O garoto sentiu a Varinha pulsar na sua mão em resposta. Provavelmente ele e os colegas estavam sob efeito de alguma poção paralisante, proveniente daquela fumaça branca que viram quando estavam na cabana com a traidora Jessica Aley. Porém, a poção deve ter tido um efeito menor sobre ele. Pois enquanto os seus companheiros estavam de olhos vidrados e corpos imóveis, feito pedras no chão, o bruxo ainda conseguia alguns movimentos simples de mãos e pés.

– Tem razão, a Varinha impede a atuação total da substância. – o homem disse como se lesse os pensamentos de Harry. – Mas é o bastante para que você não me cause problemas, Potter.

O garoto finalmente desviou sua atenção para o desconhecido. Sua visão clareou o bastante para que ele pudesse encarar os olhos azul tempestade e a cicatriz que cortava a parte direita da face. Por segundos conflitantes pensou estar vendo Siger Crowe a sua frente, mas logo tomou conta do seu engano. Havia sim semelhanças nos traços físicos, mas isso era tudo.

O olhar misterioso de Siger não correspondia àquele instigador e alucinado brilho dos olhos do homem. A pose do chefe do Sétimo Esquadrão de quem quer se ocultar nas sombras e passar despercebido, fazia contraste com a do desconhecido que se colocava automaticamente no centro, tomando espaço, reafirmando sua posição de poder. Eram dois opostos, e toda a idéia de que Siger Crowe fosse o grande vilão se dissipou na mente de Harry naquele instante.

Aquele homem era a contradição em si. Tinha um porte que não combinava com o ambiente onde parecia ter tanta familiaridade. Seus movimentos de varinha eram fluídos, enquanto adicionava os diversos ingredientes das prateleiras aos caldeirões espalhados pela sala. A expressão era de sagacidade, típica de alguém que está acostumado a prevalecer pelo intelecto e não pela força, embora seu porte agressivo lhe assegurasse a vitória também no segundo quesito.

– Chega de prelúdios. – sua voz era cortante, carregada. – Vamos ao que interessa. Prenda-os. – ordenou aos capangas.

Harry sentiu novamente as mãos içarem-no do chão e atrelarem seus pulsos com correntes luminosas presas ao teto, de modo que ele e os colegas ficassem precariamente pendurados em pé. Um Rony inconsciente estava suspenso ao seu lado, seguido de Malfoy, Loren, Steven e Chris.

– Pegue as varinhas Jessica. – foi a segunda ordem dada com descaso pelo homem. – Incluindo a do Potter.

A Varinha das Varinhas, novamente pulsou em resposta. O garoto nunca presenciara tal ação por parte da arma, e se perguntou se não seria impressão sua. O fato é que logo perderia qualquer chance de contra-atracar. Assim que lhe tirassem a Varinha das mãos, não haveria modo de sair dali com vida. Não com tantos lobisomens de guarita, e aquele homem com suas poções paralisantes.

Era agora ou nunca.

Usando toda a concentração que conseguiu reunir na sua mente nublada, Harry focou-se na Magia. Descobriu-a no seu cerne e sentiu a chama se expandir, fluindo para os extremos de seu corpo. Mas o efeito da poção ainda era forte, e mal a corrente ganhava força, começava a recuar novamente.

Malfoy acabara de ser desarmado e Jessica já se encaminhava para Rony. Seu tempo estava no fim.

Vamos, ordenou a si mesmo. Concentre-se!

Porém por mais que insistisse o fluxo de Magia se mostrava impotente para combater a poção. Foi aí que teve uma idéia. Somente sua Magia Interior não era capaz de salvá-lo, mas, felizmente, tinha em mãos um reservatório quase infinito de poder. A menina já retirara a varinha de Rony e agora vinha em sua direção. Harry focou-se totalmente na Varinha, puxando o poder pra si, deixando que ele revestisse todo seu corpo. Automaticamente sentiu os membros formigarem, libertando-se do efeito paralisante. Correntes de Energia irradiavam de seu corpo, limpando sua mente e encorpando suas forças.

Harry permaneceu imóvel. Ainda não estava forte o bastante para se libertar, e mesmo que estivesse sua desvantagem era grande. Tinha de dar um jeito de livrar os amigos primeiro.

Jessica Aley se adiantou para sua mão com um sorrisinho vitorioso e recuou com um grito de dor ao tocar a pele de Harry.

– Mas que diabos...? – ela segurou a mão atingida sem entender. – Doutor? – olhou o homem como que pedindo instruções.

Harry fingiu de desentendido e o Doutor limitou-se a abrir um sorriso insano. Ele olhou de soslaio para o garoto com singular curiosidade.

– Tente de novo. – ele incentivou a cúmplice, com ar de riso.

A menina pareceu receosa, mas obediente estendeu a mão para o punho de Harry. Novamente soltou um urro de dor com o toque, e se recolheu abruptamente, em choque.

Harry não tivera a intenção de machucá-la, mas pareceu-lhe bastante conveniente e ele não pode deixar de sentir certa satisfação por ter tirado o sorriso do rosto de Jessica. Agora só precisava de tempo para se fortalecer e poderia usar a Maximum Potentia para tentar libertar os amigos do efeito da poção. Tinha que tomar o controle da situação, ou ao menos aparentar.

– Eu não tentaria de novo... – conseguiu dizer a Jessica que voltava a se aproximar. Sua voz saiu rouca e ofegante, e foi preciso um grande esforço para adotar aquele ar despreocupado. – Se fosse você.

A bruxa estacou um momento, lançou um olhar de desafio a Harry e deu um passo. Encarou o pulso do garoto e pareceu se lembrar da dor. Com um suspiro de frustração, Jessica Aley recuou. Houve um momento de silêncio e um dos capangas que faziam a guarnição da porta se adiantou para substituí-la, mas a um aceno do Doutor retornou ao seu lugar.

O homem cruzou os braços e observou Harry com um sorriso nos lábios. Pareceu entender o que passava, mas para a surpresa do garoto, sua expressão permaneceu serena.

– O Grande Harry Potter. – o Doutor anunciou em zombaria. – Cheio de truques na manga. – ele analisou o conteúdo de um caldeirão próximo. - Sei o que pretende meu caro, mas eu recomendo que não o faça.

Ele largou o caldeirão, deu alguns passos para trás, fez um aceno de varinha e as duas camas flutuantes que Harry tinha visto num canto da sala, se inclinaram de modo que ele pudesse contemplar os corpos de Patrick Stane e Charlotte Charpentier.

– Seria melhor para todos nós.

Estavam ambos desacordados, as faces lívidas de expressão. Vestidos apenas com uma camisola branca, tinham marcas circulares nos pescoços, braços e pulsos. Os dois estavam presos com os mesmos grilhões luminescentes que atavam Harry e sua equipe. Poderiam estar mortos se não fosse a pequena elevação no tórax sugerindo uma rala respiração.

– Solte-os, seu miserável. – Harry se enfureceu, perdendo o foco por um momento.

– Vejo que consegui sua atenção. – o vilão deu um sorriso. – E por favor, chame-me de Mason.

– Solte-os. – repetiu.

– Calma. – seu tom era de quem acha graça da situação. - Eu não posso soltá-los Potter. Ainda. – passou a mão pelos cabelos da Charlotte.

Não era um gesto de carinho, mas de um fascínio desvairado.

– Tenho grandes planos para eles. – riu. - E pros seus amigos também. – seu olhar foi de encontro aos olhos vidrados de Steven.

– É a mim que você quer. – Harry usou uma estratégia diferente. Ele tinha a Varinha das Varinhas, mas era só um. Jamais conseguiria libertar todos a tempo. – Liberte os outros.

– Hã, hã, hã. – Mason negou. – Eu a quero. – ele encarou a Varinha das Varinhas com um brilho de cobiça nos olhos.

­- Por que precisa dela? – Harry tentou incentivá-lo a falar. – Você já tem um exército.

– Chegaremos neste ponto, tenha calma. – respondeu ainda de olhos vidrados no objeto.

Por um momento Harry pensou ter visto um cintilar amarelo.

– Mas primeiro... – ele pareceu despertar de um transe e pôs-se a caminhar pela sala, acariciando os grandes tanques e observando os caldeirões. – Se vamos começar uma festa, melhor que nossos convidados estejam acordados, não?

Harry assistiu enquanto Mason ia até uma das prateleiras e puxava uma grande caixa prateada. Ele a abriu com um aceno de varinha e catou algumas seringas de conteúdo esbranquiçado. Segurou uma entre os dedos e guardou as demais num bolso da capa.

– Você sabia, Potter, - O Doutor se aproximou lentamente de Chris Hareston com a varinha em punho. – que durante o sono, o cérebro da maioria dos animais libera uma toxina paralisante? – com um gesto da arma, fez um pequeno corte na bochecha do bruxo e um filete de sangue escorreu. - É um mecanismo de defesa. Faz com que os músculos relaxem e impede que eles se tornem perigosos a si mesmos. – com a seringa que tinha em mãos, recolheu a pequena gota escarlate e misturou-a ao conteúdo esbranquiçado. - Só que, aplicada em grandes quantidades, causa um estado de inatividade extrema. Um sono perpétuo, do qual o indivíduo consciente, não consegue se libertar de forma alguma. Soa mais como um pesadelo, não? Porém, - ele acrescentou apontando a agulha para o pescoço do Chris desacordado. – há um jeito fácil de voltar ao mundo real.

Com um movimento rápido, o Doutor perfurou o pescoço do Auror injetando toda a substância em sua corrente sanguínea.

–*-

Quando retirou a seringa vazia, Chris Hareston arfou dolorosamente e abriu os olhos desnorteado.

– O... On... Onde...? – balbuciou se contorcendo nos grilhões. Sua respiração vinha em golfadas de ar, como se todo o oxigênio do mundo não bastasse. Os olhos estavam arregalados e em frenesi. – Qu...Quem?

– Acalme-se. – disse Mason observando Chris se debater nas amarras. – Demora alguns instantes até que a mente se recupere totalmente. – disse a Harry.

Um a um, Mason repetiu o processo com a seringa, até que todos os reféns pendurados estavam despertos, gaguejando perguntas desvairadas uns aos outros enquanto tentavam se soltar forçando os grilhões. Houve alguns segundos de uma barulhenta confusão, e então a memória pareceu voltar aos recém-acordados dando espaço para o espanto, e depois a um silêncio apreensivo.

– Agora podemos continuar. – O Doutor se colocou no centro da sala, e todos os olhares se voltaram para ele. – Sou o Dr. Mason – disse grave. Todo o tom divertido de sua voz havia desaparecido. – e esta noite vocês serão meus convidados para testemunhar o mais extraordinário acontecimento. A última instância da evolução material. – sua voz reverberou pelo ambiente. - O limiar entre o exaurível e o perpétuo. A transcendência do ser mortal, para a existência eterna.

As palavras pairaram no ar em um momento de tensão.

– Desde épocas remotas a humanidade não se contentava com sua existência efêmera e buscava pela imortalidade. A ordem dos alquimistas chegou perto de uma resposta com a Pedra Filosofal, mas o elixir da vida não era o bastante para as almas mais sedentas. Como vencer a morte para sempre? Como se livrar desta fatalidade? Alguns dizem que a fonte da juventude resolveria os problemas, mas para mim ela é tão imprestável como o elixir. Existe, porém, outra teoria, outra resposta...

Mason encarou Harry com um ar ardiloso. O Auror sabia onde ele queria chegar. O Doutor, como muitos outros bruxos por aí, acreditava no poder das Relíquias da Morte.

– As Três Relíquias. – ele confirmou triunfante. - A Capa, a Pedra... E a Varinha. – acrescentou com um olhar pretensioso para o objeto. – Quem juntar as três, seria o Senhor da Morte, é o que dizem as histórias. Muitos já caíram nessa. – sorriu. – Mas a saída desse impasse mortal, é uma coisa tipicamente natural. Trata-se de Evolução.

O homem se prostrou diante da cama de Charlotte, fez um aceno de varinha e a moça abriu os olhos sutilmente. Parecia fraca e debilitada e Harry não queria sequer imaginar o que lhe teria acontecido durante todo aquele tempo ali.

– Tempos atrás, - Mason continuou. – houve uma profecia. Ela previa que o herdeiro do primeiro Peverell, um homem “marcado pela destruição fraterna” – seus dedos passaram distraidamente pelos contornos da cicatriz em seu rosto. – em posse do seu bem legítimo, a Varinha das Varinhas, traria a eqüidade entre os seres e subjugaria a morte. Ele criaria o ser perfeito, imortal.

O Doutor acordou Patrick Stane com outro aceno de Varinha e seus olhos se abriram, amarelos. O choque perpassou a face de Harry e de todos os Aurores. Patrick tinha a face ensandecida e não dava mostras de tê-los reconhecido. Rosnados investiam dos seus lábios descarnados.

Não era homem, e sim animal.

– Você é louco! – Loren conseguiu encontrar forças pra gritar.

Ele riu como se achasse o comentário da moça ingênuo.

– Ora, e o que é, pois, a loucura se não a libertação da mente? – se aproximou da menina com um ar decidido.

O homem ficou face a face com Loren.

– Você seria uma ótima cobaia. – sussurrou. - Esse seu lado raivoso com o estímulo certo poderia se tornar algo formidável.

– Você me dá nojo. – ela rebateu se afastando dele o máximo que as correntes permitiam.

Mason deu meia volta e se afastou sorrindo descontraído.

Harry aproveitou a oportunidade para dirigir um olhar rápido para Chris. O tempo estava passando e se eles fossem escapar dali, os dois teriam que trabalhar juntos para montar um plano. Para sua surpresa, o Auror estava o encarando de volta, provavelmente com os mesmos pensamentos.

– O destino às vezes é engraçado. – disse o Doutor ainda de costas.

Harry fez um movimento pequeno com a mão direita para que a Varinha entrasse no campo de visão do colega. Rony percebendo o intento se deslocou alguns centímetros para frente, liberando a visão. Chris acenou positivamente e dirigiu um olhar demorado para um ponto a sua frente. Harry seguiu a direção do seu olhar e notou a mesa de metal onde Jessica havia posto as varinhas capturadas. Hareston fez um aceno em direção aos grilhões luminosos, um para a mesa e depois um para o caldeirão onde estava a substância amarela. Harry compreendeu, eles precisariam daquilo para que Malfoy pudesse desenvolver o antídoto.

– Ele nos prega peças... E nos torna peças do seu jogo.

Harry meneou a cabeça em entendimento e voltou a sua posição, observando Mason num canto da sala a revirar os diversos frascos, caixas e potes das prateleiras. Ele encontrou um recipiente qualquer e despejou o conteúdo no caldeirão, voltando-se para eles em seguida.

– A substância funciona de forma particular em cada um. – olhou de relance para Charlotte na maca. – Inicialmente só houve uma transfusão de sucesso. Depois de vários testes, descobri que os lobisomens adaptam melhor a ela devido ao veneno que corre em suas veias e que inibe, em parte, os efeitos colaterais do meu soro. O único modo de eliminá-los de vez, e potencializar ainda mais a substância seria com uma grande quantidade de magia. Com um objeto de poder infinito. – seu olhar relampejou para a arma que Harry empunhava.

Harry apertou mais a Varinha entre seus dedos.

– Só uma transfusão de sucesso você disse? – Malfoy perguntou, por dentro do plano, para atrair sua atenção.

Harry usou o momento para concentrar-se novamente na Magia para tentar quebrar os grilhões. Suas forças voltavam lentamente, ele só poderia arriscar um golpe quando estivesse totalmente recuperado.

– Sim. – Mason respondeu com interesse. Era do tipo que se interessava por discussões, ainda mais quando se tratava de algo que estivesse diretamente envolvido. – Claro, que há casos especiais.

Seu olhar recaiu em Steven.

– Você não me parece muito bem. – disse ao loiro. Steven estava ficando cada vez mais pálido, e a tez suava. – Diga-me, não sente falta de algo? – ele apertou o rosto do bruxo observando com curiosidade seus olhos, agora nos tons normais de verde. - Talvez uma intensa necessidade de liberdade? Ou uma fome incontrolável?

– Vá... Se... Foder! – Steven respondeu entre dentes.

– Eu só estou... Curioso. – afastou-se com um sorriso de canto. – A querida Jessica me falou muito sobre você. Sobre todos vocês. – acrescentou aos demais.

– Vagabunda. – Loren murmurou.

– Eu escutei isso. – Jessica rebateu do fundo da sala.

Loren ignorou o comentário e se dirigiu a Chris, da maneira mais indignada que os grilhões permitiram.

– Não acredito que dormiu com ela!

– Eu estava fora de mim... – O Auror começou a se justificar com um olhar de reprimenda para a garota.

– E dentro dela! – a bruxa acrescentou com escárnio.

– Loren, eu não acho que isso seja hora para... – Chris Hareston a encarou de forma reprovadora e depois, súbita e estranhamente, mudou o tom de voz. – E de qualquer forma, você dormiu com um Lobisomem.

Harry não percebeu de imediato a conexão entre os dois, e o que significava de fato toda aquela conversa. Porém viu ali mais uma oportunidade de apressar o carregamento de suas forças, e agradeceu intimamente seja lá o que fosse que os colegas estivessem aprontando.

– Então temos dois casos especiais, hm? – Mason mostrou interesse em Loren mais uma vez. – Eu estava certo em dizer que você seria uma ótima cobaia.

– Do que está falando? – Loren pareceu realmente surpresa. Chris a olhou de uma forma ainda mais estupefata.

– Ora, minha querida. – ele sorriu insano. – Você também está contaminada.

– Como assim? – a menina se desesperou. - Como isso é possível?

– O vírus infecta o sangue, logo... – ele se aproximou em êxtase. Esticou as pálpebras da garota e examinou seus olhos atentamente. – Talvez em menor quantidade... Ou quem sabe... – pareceu decepcionado com a ausência de brilho amarelo. –... Por falta de estímulo. Que pena.

Caminhou até a prateleira novamente e se virou para um de seus capangas que estava mais próximo.

– Pensando bem, traga-a até aqui. - ordenou.

–*-

Rapidamente dois homens robustos se aproximaram, de varinhas em punho e despregaram as correntes luminosas do teto, atando as mãos da menina às suas costas. Loren se debateu, protestando aos gritos, jorrando insultos sobre os lobisomens que a arrastavam. Com violência eles a jogaram aos pés de Mason.

– Tire as mãos dela! – a voz de Steven veio carregada de fúria.

Mason agarrou com força os cabelos da menina ignorando seus gritos de dor, e os protestos furiosos de Steven.

– Isso, grite! – ele incentivou o loiro. – Fique com raiva! Vamos ver até onde o seu autocontrole prevalece! Existe pouco soro no sangue dela para que ocorra a transformação, mas você meu caro, está mais do que apto. Só precisa de um empurrãozinho.

O Doutor apontou a varinha para Loren. A menina urrou, apertando os olhos em agonia. Todos os Aurores berraram em protesto, mas dentre as vozes a angústia de Steven prevaleceu.

– PARE! – pediu desesperado antes que Mason iniciasse mais uma sessão de tortura. – Por favor...

Loren gritou novamente, dessa vez mais alto. O som gutural abalou tanto a todos os presentes que se Chris não tivesse lançado um olhar advertido a Harry, o garoto teria se interposto naquela hora. A sinfonia de horrores pareceu durar horas, até que a menina reduzisse seu grito a um choramingo e abrisse os olhos que escorriam sangue.

– Seu... MOSTRO! – Steven berrou transtornado. Todo desespero havia se convertido numa fúria irrefreável.

– Tragam-no aqui. – Mason ordenou indiferente.

Mais dois capangas foram libertar um Steven furioso. Por um momento houve um cintilar amarelo naqueles olhos verdes, mas ao vislumbrar o Patrick animal acorrentado na maca, o loiro pareceu se dar conta do que estava prestes a se tornar e a raiva repentina desapareceu. Enfraquecido pelo esforço de se controlar, despencou feito uma pedra no chão.

Mas era tarde demais.

– Loren... – Steven murmurou baixinho enquanto tentava se erguer. Ele soltou um grunhido de dor e voltou a cair. O garoto se debateu no chão em profunda agonia. Estava enfim, se transformando.

– Vai funcionar assim Potter, – o Doutor disse decidido. Havia em seu semblante uma aura atemorizante. – ou você me entrega a Varinha, ou vamos ver quantas vidas são necessárias para satisfazer um Lobisomem descontrolado.

Harry não precisou olhar para Chris que balançava a cabeça positivamente para saber que aquele era o momento. Reunindo de uma só vez todo o poder da Varinha ele se concentrou nos grilhões luminescentes e os sentiu se dissolverem aos poucos.

– Eu tenho uma idéia melhor... – com um movimento brusco, Harry se livrou das amarras que desapareceram numa explosão luminosa. Estava fraco pelo gasto de energia e não poderia fazer feitiços poderosos, mas Mason não precisava saber disso. – Se quer a Varinha, porque você mesmo não a pega?

O momento de surpresa perpassou por segundos a face de Mason, antes que o Doutor se postasse a rir desvairado.

– Garoto ingênuo. Ela responde a mim! – sua aura inflamou-se. Parecia achar tamanho insulto que Harry pensasse em desafiá-lo daquela maneira, e ainda mais em posse de seu bem legítimo. - Ea mim!

– Então prove! – Harry se ouviu bradar.

Mason empunhou a varinha, Harry também. O único jeito de provar qual dos lados tinha razão era em duelo. Os capangas de um lado da sala se prepararam para um embate, mas o chefe pediu que se afastassem com um gesto. Aquela luta era sua.

– A Varinha me pertence por direito Potter, - Mason enunciou em fascínio. - pois eu sou o Herdeiro do Primeiro Peverell!

– Está enganado. – uma voz vinda das sombras sobressaltou a ambos.

Da entrada atrás deles, onde antes havia uma porta de metal trancada e guardada por dois Lobisomens se encontrava uma figura de preto ladeada por dois corpos inertes.

– Ora, - Mason abaixou a guarda encarando o recém chegado com um misto de curiosidade e descrença. – quem diria?

O espectro deu um passo a frente, deixando que a luz iluminasse seu rosto manchado de sangue.

Os Aurores partilharam um suspiro coletivo de estupefação.

Era Siger Crowe.

– Então, nos encontramos novamente... - Mason abriu os braços numa reverência. – Irmão.



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Notas finais do capítulo

Tcharaaaam! Espero que tanta demora não tenha desanimado vocês. Eu poderia pedir desculpas, mas desculpas não cabem em palavras. (Apesar de este ser o maior capítulo da fic!)
Só peço mais um pouquinho de paciência para chegarmos ao fim desta trama!
Digam o que acharam, e se alguém já desconfiava de algo parecido! Afinal o Siger estava envolvido, de uma forma ou de outra...!
E aproveitando, quero agradecer aos novos leitores que agora também terão o papel de me aturar daqui pra frente, e aos antigos que me deram bastante força/ideias para continuar.
Mil e 3 beijos da Britz, grita aí quem gostou dos irmãos Crowe! Até logo (espero, rs)
Ps.: O que deve acontecer ao Steven?