Lírio escrita por Ryoko_chan


Capítulo 1
Lírio


Notas iniciais do capítulo

Eu já tinha postado essa fic antes, mas tive que tirá-la por questões pessoais... Mas resolvi postar de novo. A todos que deixaram reviews da vez anterior, saibam que eu os salvei antes de deletar a fic, e que volta e meia os releio. Muito obrigada pelo crainho de todos!



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Lírio

 

“É que eu gosto de você.”

Foi essa frase que, proferida por aquela encantadora garota levemente envergonhada, mudou minha vida.

Eu me senti realmente lisonjeada ao ouvir aquilo, embora seja verdade que foi um choque para mim receber uma declaração de uma garota. Apesar de tudo, é sempre bom saber que alguém gosta de você, e o meu grande apreço pelo yaoi me transformou em alguém desprovida de qualquer nível de homofobia.

Mas nada disso conseguiu me levar a uma resposta realmente boa.

“Desculpa, mas eu não curto garotas.”

Aquela resposta era verdadeira, pois naquele momento eu ainda desconhecia a mim mesma. Eu nunca havia me imaginado ficando, beijando ou namorando uma garota. Eu era uma heterossexual convicta.

Enfim, houve aquele silêncio constrangido. Levantamos-nos, falamos alguma coisa e nos fomos, e tudo prosseguiu como se aquele momento nunca tivesse existido. Pelo menos superficialmente era assim.

Desde esse dia, comecei a pensar muito nela.

Nunca fomos aquilo que se pode chamar de amigas. Estudávamos em séries diferentes e falávamo-nos pouco, o que deixou até hoje em mim a curiosidade de saber o que poderia ter chamado a atenção dela para mim.

Bem, ela sempre chamou a minha atenção, mesmo antes dessa confissão.

Lembro-me             que na primeira vez que a vi, a achei muito bonita, embora eu tenha que admitir que tive que olhar duas vezes para me certificar que não se tratava de um garoto. Ela adotava um visual mais masculino. Utilizava roupas um tanto largas, e o cabelo era bem curtinho –e escuro, que contrastava maravilhosamente com a pele branquinha.

Mas mesmo com aquele visual –que, diga-se de passagem, caia super bem nela- aquele rostinho delicado não enganava. Tratava-se de uma garota, que para mim, será sempre a mais bela que já vi na vida, graças àquela perfeita androginia, que é o mais primoroso de conceito de beleza para mim. Se os anjos são de fato andróginos, ela faria inveja a qualquer um deles.

Mas enfim, após achá-la bonita, pude enriquecer minha opinião sobre ela na primeira vez que nos falamos. Sua voz era muito doce, e seu jeitinho, extremamente meigo.

E com aquela voz e com aquele jeitinho, ela me disse que gostava de mim. E como sinto vontade hoje de me castigar por ter respondido o que respondi...

Mas o que importa é que mesmo após minha rejeição, ela continuou direcionando toda aquela doçura e gentileza a mim.

Lembro-me com um sorriso no rosto certa vez em que machuquei a mão –não me perguntem o motivo, foi algo muito patético. Mesmo não sendo nada grave, ela se preocupou comigo. Pegou minha mão entre as dela e foi comigo atrás de gelo.

Pode parecer uma situação banal, mas para mim foi extremamente importante. A preocupação dela comigo fez com que eu me sentisse especial, e a minha mão na mão dela fez com que meu coração batesse acelerado.

Ah, como me senti feliz por andar ao lado dela, como se estivéssemos de mãos dadas, como se fossemos um casal.

Foi nesse dia que finalmente notei que estava apaixonada.

Foi estranho para mim descobrir esse sentimento, não nego. Foi a primeira –e até hoje, foi a única- que me apaixonei por alguém do mesmo sexo, e por isso, não consegui evitar me sentir insegura.

Eu tinha medo, muito medo do que as pessoas iriam pensar –e hoje vejo o quão ridícula fui por isso. Mas o principal motivo para eu não ter dito a ela o que sentia foi o pensamento de que já era tarde demais –e talvez fosse mesmo.

Com que cara eu chegaria até ela e diria que havia “mudado de idéia”? Eu tinha medo, muito mais medo do que ela pensaria de mim. A opinião dos outros não eram nada perto dela. E exatamente por isso, eu não podia correr o risco de receber um ‘não’, como ela recebera.

Eu sempre fui covarde, afinal.

O tempo passou, e nós nos afastamos um pouco... Nunca fomos muito próximas mesmo... Mas isso ajudou a acalmar meu coração, e bem, eu acabei por conhecer um rapaz.

Eu amei esse rapaz, amei muito, e verdadeiramente. Cheguei a ficar noiva dele, e com isso, me afastei quase que completamente dela, ainda mais depois de ter saído da escola para entrar no ingrato mundo dos adultos. Tive belos momentos de felicidade com ele, mas não vou mentir, volta e meia a lembrança dos meus sentimentos por ela voltava...

Depois de quase dois anos, o meu noivado começou a desmoronar, e eu notei que não era ele quem eu queria para dividir o resto da minha vida, principalmente pelo fato de eu preferir ficar me perdendo em sonhos com uma garota que não via há tanto tempo, do que escutar a voz dele.

É muito estranho, e eu não sei mesmo explicar o porquê, mas do nada, os pensamentos e as lembranças acerca daquela encantadora garota envolveram minha mente com um poder que eu jamais havia presenciado antes. Nunca tinha pensado tão intensamente em alguém quanto penso nela. É a todo instante, por todo motivo, ao ponto de eu pensar que minha sanidade está por um fio.

Eu a procurei... Perguntei a tantas pessoas, mas ninguém tinha um contato, uma dica, nada! Fiz de tudo, mas não a achei...

Sei que é loucura, estou me apegando a uma lembrança, afinal... Tudo pode ter mudado, ela certamente mudou. Mas nem essa certeza tira a necessidade que sinto de reencontrá-la.

E talvez, em meio ao meu desespero, meus olhos tenham zombado de mim... Mas hoje, eu jurei tê-la visto andando na rua... Parecia-se tanto com ela... Mas as circunstâncias me impediram de averiguar, e me restou apenas a felicidade da crença de que era ela...

Uma pena que essa crença acabou de ser derrubada por um amigo, que me disse que, ao que tudo indica, ela mudou de cidade.

E o que me resta dessa história são as incertezas e as mais doces e poderosas lembranças que tenho comigo.

Pois ela sempre será para mim o mais belo Lírio, que com sua pureza, doçura e amabilidade, transformou minha forma de ver a vida.

E se algum dia essa flor brotará novamente, eu não sei. Como eu disse, a incertezas permanecem, não apenas em meu peito, mas também nesse texto, que não passa de um desabafo de alguém que ama em um jardim de dúvidas, e que nesse momento, encontra-se perdida em seus medos.

Pode ser que algum dia esse relato mude de fim. Quem sabe algum dia o meu Lírio leia isto e me dê sua resposta definitiva.

Seja qual for –e se um dia de fato vier-, eu ficarei feliz, pois terei tido pelo menos a chance de vê-la mais uma vez e ser novamente testemunha daquela amabilidade sem fim.

 

 

 

Notas:
O final ficou horrível porque eu estava um tanto abalada.


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