Sea Of Mourning escrita por biazacha


Capítulo 1
Mar de Lamentações


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Bem, é uma drama compridinho, com muita descrição e narração e pouquíssimos diálogos, então tem que ter paciência... mas garanto que ficou bom!
Boa Leitura~~
(dedicado a autora Laryh, pelas ótimas fics e apoio nesse projetinho!)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/251091/chapter/1

As famílias felizes já deixavam o local por conta do horário; crianças sorridentes corriam com seus baldinhos, parcialmente molhadas e com a pele avermelhada, casais andavam de mãos dadas, pessoas tomavam sorvetes ou sucos e o som cristalino dos risos era presente em todas as direções.

Sakura suspirou, sentindo-se cada vez mais pesada; a praia definitivamente não era o ugar ideal para se afogar as mágoas.

Voltou a fitar o horizonte, agora magistralmente belo: o que antes era um Sol escaldante se resumia a uma bela mancha alaranjada no horizonte, em contraste com o anil que logo se tornava um preto profundo, porém ainda com poucas estrelas.

Podia permanecer mais algumas horas ali, sem dúvidas. Os problemas eram tantos, a dor era tamanha que ela não sabia por onde começar a pensar, a solucionar, a entender – vendo e revendo o dia pacato em sua mente, ela adiava o inevitável com pensamentos tranquilos e lembranças do que seus olhos captaram com o passar das ondas.

O céu e suas mudanças, as nuvens que vagarosamente passavam e a asas delta que vez ou outra avistava; a areia se movendo conforme o vento, grudando em seus fios rosados de modo quase irreversível e se moldando ao redor do franzino corpo; a água que quebrava ora com força ora com delicadeza, pegando banhistas desavisados e fazendo sorrisos brotarem nos outros, sobretudo os mais jovens, agora já se encontrava em maré consideravelmente mais alta, batendo vez ou outra nos pés do jovem.

Voltando a realidade apenas parcialmente, ela começava a se dar conta de motivos práticos e pouco questionáveis para sair dali e voltar ao hotel onde estava hospedada havia quase um mês: passou o dia sem comer ou beber, sentada na areia sob o Sol sem proteção.

Nunca a expressão “descamar” se aplicou de modo tão definitivo a sua pele, que estava vermelha ao extremo, enruga e esticada em pontos diferentes, com os primeiros pedaços se soltando como em um réptil – de biquíni e camiseta, não ousava pensar nas marcas ridículas que sem dúvidas já haviam se formado, mais um motivo para querer fugir do mundo, como se a lista já não fosse grande o suficiente. Reparando em seu estado lastimável, todo o seu psicológico pôs-se a trabalhar sob a visão das queimaduras feias e uma parte considerável do seu corpo não ardia, mas sim doía tanto que ela entrou em leva torpor, o próprio cérebro a anestesiando. Até mudar de semblante causava incômodo.

Seu estômago então, deveria ter parado de roncar e implorar por sustento a muitas horas atrás, e o mesmo poderia ser dito sobre a dor; agora só restava o peso horrendo, a sensação de que seja lá o que ocupe o interior de seu corpo se comprimiu e formou uma bola, drenando lhe as forças que tinha. Estas já estavam escassas antes, agora sumiam de vez.

A falta de líquido se fez presente do modo mais torturante possível: a ausência total de líquido aparente. Seus lábios, antes rosados e delicados, estavam até mesmo partidos em feridas em alguns pontos; se sentia respirando o ar vindo de um forno a temperaturas absurdamente elevadas, a sede era tamanha que até a água salgada soava convidativa, a garganta nada além de uma lixa com uma passagem mínima, piscar era como passar os orbes em concreto, tamanha a falta de lubrificação nas pálpebras para polir os olhos castigados pelo vento durante horas a fio; a areia de um dia inteiro grudava em seus poros sem uma única gota de suor que amenizasse o incômodo terrível, este sim até nas partes mais escondidas de seu corpo, que se encontravam irritadiças e ela ousava até dizer... com assaduras.

Ela realmente tentou se levantar, mas as forças não vinham de modo algum. Apenas o que vinha era aquela sensação de moleza que ela sentiu boa parte do tempo, convidando seus membros cansados de suportarem tanto peso a se largarem sem ressalvas.

Acabou desistindo por hora e voltou a fitar o crepúsculo, maravilhada com a escala magnífica de cores e as manchas que as mesmas faziam; as nuvens que recebiam iluminações diferentes, ganhando sombras ora cinzentas, ora rosadas; as estrelas e a própria Lua, que já se faziam presentes na parte do céu que ainda estampava um azul claro como o dia mais límpido de primavera.

Um cenário tão deslumbrante que ironicamente agora só a fazia recordar o quanto sua vida inegavelmente andava patética e sem cor. Seus lábios penderam para baixo e ela piscou inúmeras vezes, até se lembrar de que estava desidratada demais para ter lágrimas – e isso só a fez querer chorar ainda mais.

Reunindo uma parte ínfima de toda a mágoa, frustação, raiva, arrependimento, dor, pânico, desamparo e medo de uma só vez, tentou sem sucesso suspirar para colocar tudo pra fora; sua garganta falhava e seu corpo doía, sendo assim impossível estufar o peito e juntar o ar necessário. O que na prática queria apenas dizer que, ao invés de se livrar de um pouquinho que fosse de tudo que contaminava e oprimia sua alma, ela tornava a situação mais deplorável.

Resolveu então focar apenas no líquido que serpenteava e espiralava com graça a sua frente; o cheiro da maresia nem se fazia presente em suas narinas sensíveis e queimadas, ela se resumia a ouvir o leve som da água quebrando somado as gaivotas e aos pouco casais que haviam permanecido. A espuma tocava a ponta de seus dedos e trazia pequenas pontadas de dor, pois cada um deles estava terrivelmente lesionado pelo Sol e com bolhas.

Fechou os olhos, ignorando a sensação de peso e ardência que vieram com o ato, e ergueu a cabeça para o alto tentando com todas as parcas forças que lhe restavam despejar lágrimas, pois uma única elas já seria capaz de aliviar seu coração seco e sem vida. Como um soldado que volta da batalha sem o viço da juventude e aquela parcela de ingenuidade e fé no próximo essenciais para cada um sobreviver, dentro de seu peito só havia dor, amargura e indignação disfarçada de descontentamento.

Os fios curtos presos em uma presilha simples roçavam de leve a pele da nuca, mas a sensação era similar a agulhas riscando sua pele sem a mínima piedade. Sentia algo entalado na garganta, mas tampouco conseguia engolir para fazer a sensação passar.

No fim das contas se perguntava se valia a pena continuar assim e mesmo que seu peito urrasse para que ela fizesse o contrário e voltasse ao torpor, buscou em sua mente as lembranças daqueles últimos dias antes do inevitável.

Sakura, desde os doces dias no jardim de infância, sentia algo de especial por Uchiha Sasuke; não sabia dizer o motivo e muitas vezes nem reparava que o fazia, mas sorria sempre que ele entrava em seu campo de visão, o acompanhava insistentemente com os enormes olhos verdes e nunca conseguia lhe dirigir a palavra. O garoto sempre foi indiferente a sua presença; a sua e a de praticamente todos que ela conhecia.

Com o passar dos anos, ficou claro a menina o que era aquilo e o que ele representava em sua vida: o amor. Mas ainda era jovem demais e acreditava com fervor em contos de fadas e finais felizes, ignorando completamente como o famoso sentimento pode levar as pessoas a decisões impensadas e caminhos no mínimo tortuosos. Por isso começou a segui-lo, falar com quem ele falava, se enturmar de modo discreto, porém decidido no seu círculo social – apenas para perceber que ela não era a única a reparar com afeto no menino de cabelos arrepiados e tão pretos quanto seus olhos perfuradores.

Sem nunca se abalar, os anos passaram com palavras frias e cortadas cruéis do alvo de sua adoração e pouco a pouco, ela o viu cedendo a seus avanços lentos e delicados, como borboletas pousando em flores sensíveis. Quando deu por si, estavam namorando.

A felicidade que sentia era diária e só o fato de saber que ele a escolheu tornava cada aspecto de sua existência um sonho utópico, brilhante e açucarado. Sonho este que ganhou uma amplitude maior quando eles se formaram e decidiram por faculdades diferentes – ao contrário de muitos casais do colegial que não sobrevivem ao primeiro mês após a formatura, eles se mantinham unidos e alheios a miséria e solidão do mundo.

Hoje ela era uma médica recém saída da residência e dava seus primeiros passos ao que pretendia ser uma carreira com ótimos frutos, tudo devido a sua vocação natural para cuidar dos outros; já ele era o mais novo administrador de uma das maiores empresas do grupo familiar, um jovem irredutível e com ótimo faro, que aumentava o lucro a passos lentos, porém sempre acima das expectativas severas que lhe depositavam.

A vida de ambos estava fadada a ser grande e servir de exemplo aos outros desde que despontavam seus talentos e potenciais ainda na infância, com notas excelentes – quando passou a ser uma vida conjunta, as línguas mais ágeis comentavam qual seria o saldo bancário do herdeiro que por ventura surgiria.

O noivado foi aclamado e comemorado por esferas diversas na sociedade e ela se viu pelo menos um mês com as noites ocupadas em desfilar ao lado do amado em jantares de executivos, usando roupas de grife e exibindo o anel com a bela safira cercada de cristais minúsculos de diamantes.

Mas, como não existe perfeição nessa vida e as sombras estão sempre a espreita, apenas esperando uma hora para se manifestarem com toda a graça felino e rapidez de uma lâmina fria, aos poucos ela foi se dando conta de fatos inegáveis em sua rotina.

Seu trabalho não recebia o tempo e dedicação necessários, pois ela gastava parte do dia em dormir e comer religiosamente bem, além de manter cada aspecto do corpo impecável para estar a altura do sobrenome que seria seu – médicas não podem se dar a esses luxos, ainda mais em início de carreira – sempre quando ele chegava havia comida quente a mesa, sempre quando ele avisava um compromisso de última hora ela o estava esperando pronta, impecável no porte ideal, nunca repetindo vestidos e nem em sonho aparentando sinais de cansaço. Os finais de semana do casal eram apenas compromissos para os quais ele a arrastava com a casca de felicidade e requinte em estado perfeito ou pior ainda, horas de ócio na qual ela perambulava no duplex deles enquanto ele estava debruçado no computador e dedicado de corpo e alma ao seu precioso trabalho.

A quanto tempo não saiam, não viajavam, não reuniam os amigos, não... se amavam? Sim, até nos momentos mais íntimos e sórdidos da vida de casal, ele já não lhe dava a mínima atenção – talvez boa parte de suas angústias fosse levada pelo vento se ele simplesmente a aninhasse em seus braços na hora de dormir, ou lhe desse um singelo beijo antes de ir para seu escritório.

Passou a comer menos, a chorar mais, a diminuir os sorrisos, a deixar de ligar para os amigos e entes queridos em busca de notícias ou apenas para jogar conversa fora. Era necessária muita mais maquiagem para deixa-la linda nos jantares pomposos em que o acompanhava.

Cada vez mais cansada de sua vida melancólica, resolveu que teria de dar um jeito; era inegável que ainda amava Sasuke, por mais que tenha inúmeras vezes tentado se convencer exatamente do contrário, portanto não poderia abrir mão dele.

Ponderando tudo enquanto a maré avançava de modo cada vez mais obstinado em direção a orla da praia, ela se viu cerrando os punhos; como pôde ser tão tola, tão ingênua? Eles teriam salvação sim... se ela tivesse agido antes.

Flashback On

Respirando fundo enquanto ainda estava no elevador, ela saiu dele decidida a não deixa-lo quebrar a promessa que lhe fez e não abrir mão de um dos poucos mimos que havia conseguido nas raras vezes em que de fato conversou com o noivo nos últimos tempos.

Chegando ao último andar, desceu no hall belissimamente decorado, com os sofás de veludo verde, o piso de madeira envernizada, os quadros de temática clássica, como ninfas, nas paredes e as plantas delicadas e agradáveis ao olhar que se encontravam em pontos estratégicos do lugar dedicado a oferecer conforto durante a espera de importantes investidores e advogados.

A primeira coisa que reparou após correr os olhos pelo recinto impecável, foi que a secretária não se encontrava.

-Melhor assim – murmurou ela baixinho – se não for anunciada, ele não terá tempo de armar desculpas esfarrapadas, uma reunião em andamento ou mesmo sua carranca de indiferença que tanto me irrita.

Com passos decididos, ela abriu a porta do recinto e num rompante, embora não o tenha feito de maneira rude. E a cena que viu a congelou no lugar um milésimo de segundo a mais do que pretendia.

Se lembrava perfeitamente da secretária dele, Ino; estudaram juntas e chegaram a ser amigas – era o tipo de mulher que desde cedo desprezou o potencial do próprio intelecto, se valendo da aparência avantajada e palavras sugestivas com uma voz manhosa para conseguir o que queria. E sabia acima de tudo que até hoje o maior “tesouro” que lhe escapou foi justamente o homem que desfilava em jantares e eventos pomposos, enlaçando Sakura pela cintura. Pelo menos até então.

Agora, vendo-a ali sentada na mesa dele com uma saia lápis e um decote que valorizava ao máximo seus seios fartos, as pernas cruzadas, a maquiagem carregada, as unhas que se assemelhavam a garras e um sorriso malicioso nos lábios, o coração da jovem noiva vacilou; para piorar a situação ele estava só com a camisa, o terno repousado no braço da imponente cadeira de couro negro, hábito esse que ele nunca teve.

Por mais que quisesse negar, era claro que havia interrompido algo.

-Sra. Haruno. – disse a loiro, em tom de falsete; era incrível como ela insistia em chama-la de senhora e se recusava a adiantar o nome de casada, como praticamente todos já faziam.

-Retire-se Yamanaka. – respondeu ela, com ternura e um sorriso no rosto; as convenções sociais exigentes lhe ensinaram a mentir tão bem que as vezes até ela própria acreditava nas caras e bocas que habilmente fazia.

A secretária olhou para o patrão e recebeu de volta um olhar inexpressivo e até mesmo levemente desinteressado; bufando descaradamente, ela saiu do recinto tamborilando os saltos muito finos no carpete creme de modo deselegante.

Fechando a porta de modo definitivo atrás dela, sem lhe dar a chance de terminar a cena do modo dramático que costumava utilizar, a jovem ergueu uma sobrancelha e deu um meio sorriso, fitando-o exatamente do mesmo modo que fazia com seus pacientes mais pirracentos e irritantes. Ele continuava com a atenção voltada para os documentos a sua frente, provavelmente ignorando de modo cruel e proposital o clima tenso que se instalara ali.

-Sasuke. – disse com um tom baixo, porém altamente imperativo; ele ergueu o olhar de leve, um brilho zangado polindo as pérolas negras que eram sua íris. Moveu a cabeça de leve, como se dissesse que ela podia continuar.

Era sempre tão complicado chamar sua atenção de modo efetivo, que ela fez questão de dar um sorriso doce antes e continuar:

-Por favor, não dê tanta liberdade aos seus empregados; detestaria ter de ouvir comentários sobre o herdeiro mais jovem dos Uchiha e... a secretária. – ela sabia que tocava num ponto sensível: a reluzente e imaculada reputação da poderosa família. Era a maneira mais simples e eficiente de garantir que ele não colocaria os olhos na loira tão facilmente assim que ela tornasse a cruzar sua porta em direção a saída.

-Sabe que ela é uma mulher vulgar. – respondeu ele displicente, como quem diz que não é sua culpa o comportamento atirado da outra.

-Ora, julgava que ela pudesse ser de confiança – continuou ela no tom melodioso e enfadonho, disposta a alfineta-lo - não precisa de uma meretriz para entreter os clientes não é? Falarei com Mikoto-sama a respeito, ela certamente saberá me orientar na escolha de uma subordinada mais adequada à nova fase que a empresa vive. – ele nunca questionaria algo vindo de sua doce e respeitável mãe, então colocar a questão dessa forma garantia que ela conseguiria tirar o elemento curvilíneo do cotidiano dele.

-Como queira. – respondeu ele.

-Começarei agora mesmo. – contendo a alegria maldosa e velada, caminhou com graça até a sala de espera antes que ele pudesse se manifestar, mantendo a porta aberta para que o rapaz também ouvisse suas palavras.

-Minha cara, está ocupada? – perguntou de modo cristalino, apenas por zombaria; como a loira fitava as garras escarlates, era óbvio que ela estava com o tempo ocioso.

-Na verdade um pouco, Sra. Haruno. – apesar de cínica, ela não possuía a mesma maleabilidade e compostura que a rosada, portanto o tom que pretendia ser cortês saiu forçado e entregou a irritação e o descaso dela.

-Pois bem, então serei direta: sabe que a empresa ganhou lucros consideráveis nesta um ano em que está sob a direção de meu noivo, portanto entrou em uma nova fase, mais voltada ao mercado externo não é mesmo? – seu tom era manso e agradável, como o de a mulher de um político.

-Sim, é claro que eu sei. – rebateu ela sendo extremamente rude; a careca que torceu suas feições a palavra “noivo” não passou despercebida por Sakura. Fitou-a com meiguice.

-Pois bem; andamos ouvindo algumas sugestões a fim de melhorarmos o quanto possível e... alguns clientes se mostraram incomodados com sua conduta e...

-Que clientes???! – corto-a, elevando o tom de voz. A rosada sorriu por dentro só de imaginar como Sasuke estaria reagindo aquela conversa.

-Mas é claro que seria indelicado e antiético falar em nomes não é mesmo? Afinal de contas, eles nos prestaram um favor. – disse isso cruzando os dedos sobre o ventre, com uma postura digna de uma primeira dama – Você será realocada em alguma gerência de menor visibilidade e garantirei pessoalmente que não sofra cortes muitos severas no pagamento; mas por hora, é mais aconselhável que apenas... dê um tempo entende?

-Está me mandando embora?! – ela gritou em fúria.

-Bom, vamos dizer que... estamos te afastando, por um ou dois meses; sabe como o grau de exigência dos estrangeiros é elevado, não é mesmo? – observou com deleite a outra tremer de raiva na sua frente; sabia que devia se censurar pela atitude mesquinha, mas não conseguia evitar. Ser racional com Sasuke no meio era uma tarefa árdua, mas pelo menos mantinha a máscara doce e eficiente com perfeição – Estamos conversadas, esvazia sua mesa até o fim do dia.

-Posso fazer isso agora! – respondeu com raiva, os olhos faiscando na direção da noiva. De uma vez só, ela despejou todos os objetos pessoais dentro da lixeira e pegou sua bolsa com violência, passando por Sakura sem pedir licença e se prostrando na mesa de Sasuke, de modo que o decote ficou ainda mais evidente.

-Está de acordo com isso Sasuke??! – ele nem se deu o trabalho de olhar nos olhos dela antes de responder:

-Deverá tratar esta questão com minha mulher. – a rosada não sabia o que acabou mais com Ino: a rejeição clara dele ou o modo como ele a chamou de mulher, embora ainda não tenham se casado.

-Com os compromissos se avolumando, é natural que eu assumo o controle das questões sem real importância, não é mesmo? – alfinetou, como um golpe final – Mas como uma profissional excelente, tenho certeza e que entende minhas razões completamente.

-Com licença. – respondeu a outra entredentes e saiu batendo o pé.

Fechando a lustrosa porta novamente, ela o encarou, sentindo pela primeira vez a insegurança abalando seu ser e deixando seus movimentos mais lentos, calculados e hesitantes. Com a ponta dos dedos levemente apoiada na mesa comprida e apinhada de papéis, esperou que ele desviasse os olhos dos gráficos que analisava e lhe dar atenção – demorou alguns minutos, mas por fim ele se deu por vencido, bufou de leve e passou a fita-la, sem esconder a irritação nas suas feições alvas e bem delineadas.

-Mais alguma questão? – perguntou frio.

-Sim, na verdade a que me trouxe até aqui – disse com a meiguice e compreensão que ela sabia que só o deixaria mais irritado; e acertou.

-Hn. – resmungou Sasuke em resposta, claramente se controlando para não voltar os olhos para seus gráficos.

-Está sendo muito complicado ajeitar tudo até o fim dessa semana, não é? – perguntou em tom solidário; ele arqueou as sobrancelhas, pela primeira vez reagindo de modo usual a alguma coisa desde que ela chegou.

-E porque exatamente eu deveria ajeitar tudo pronto até o fim dessa semana? – perguntou ríspido e cerrando o cenho. Ela estava chocada e furiosa com a pergunta do noivo e queria mais que tudo agarrar sua gola e chacoalha-lo, mas se conteve e não deixou que nada transparecesse em suas feições delicadas.

-Você me prometeu que nas últimas férias antes do casamento, seríamos só você e eu lembra? Nossos deveres depois de consumamos o matrimônio serão muitos; e tanto as suas quanto as minhas férias começam semana que vem. – explicou calmamente, mantendo um tom agradável.

Ele suspirou e esfregou as têmporas com impaciência; mexeu nos papéis de modo aleatório, tudo para manter seus olhos longe dos dela. Sakura por sua vez, previa o estava por vir, mas acreditava piamente que ele faria um mínimo esforço por ela; por mais que ela agisse como se tudo fosse algo normal e aceitável na importante posição do amado, a verdade é que ela não conseguia decidir se estava mais magoada com o fato de ele adiar as férias mais uma vez sem avisa-la previamente ou por ele ter feito tudo sem pensar na promessa que tinha feito a ela. Por mais que eles se distanciassem, vivessem de aparências e tivessem perdido a linha como casal a muito tempo, ele nunca quebrava uma promessa, ainda mais feita a ela; era um dos seus princípios mais primários.

Sentia que não o conhecia mais.

-Nossas férias terão de ser adiadas – resmungou ele, ainda sem ser homem o suficiente para encara-la enquanto a magoava sem piedade – teremos muito tempo para nós na Lua de Mel.

-Não, não teremos. – interveio ela sem perder o controle, embora sua voz não soasse mais meiga como a de uma garotinha e sim fria como a de uma velha amargurada – Você diminuiu até o mínimo plausível, três dias lembra-se? Não podia ficar tanto tempo afastado daqui fora das férias.

-Então nas férias depois. – resmungou ele, este sim demonstrando toda a irritação que sentia de modo grosseiro, fazendo-a agradecer a si mesma mentalmente por ter-se livrado de Ino antes que ela tivesse a satisfação de ouvir a discussão.

-Nas próximas férias, ficaremos na casa de cambo de seu pai durante todo o mês, período no qual todos da família Uchiha farão um balanço das finanças do clã. – respondeu e, sem mais uma palavras, deu meia-volta e saiu; mas não antes de ouvir um suspiro aliviado por parte, que provavelmente julgou sua ida como um sinal de aceitação por parte da noiva.

Mal sabia como estava sumariamente enganado.

Dirigir não era a opção mais segura no momento, pois ela vertia lágrimas ao finalmente se dar conta como todo o futuro brilhante e feliz que arduamente  projetou ao lado de Sasuke estava baseado em mentiras e concessões frequentes por parte da garota – ela não podia mais ceder para as obrigações ridículas que rondavam a rotina dele, não podia mais abrir mão de sua vida para que ele ficasse satisfeito; ele não devia olha-la como alguém útil que cumpre com primazia o papel recebido e sim como a pessoa a quem se dedicava de corpo e alma, a única e definitiva dona de seu coração.

Se perguntando se em algum momento ele a olhou assim, sentiu seu peito se comprimir, apenas uma antecipação com a temida resposta que lhe veio na mente: ela não se lembrava. Em algum momento deixou de ser a namorada para virar a candidata a Sra. Uchiha, mas ela de maneira alguma se recordava com a clareza necessária de como eram seus dias antes disso.

No modo automático, seu pé pisava no acelerador sem dó, ao ponto de o salto do scarpin começar a se fazer sentir pelo pé miúdo.

Chegando abruptamente e cantando pneus ao luxuoso condomínio na parte alta da cidade, foi direto para o apartamento, tão alterada que mal gravou o que fazia no percurso, seu corpo tremia descontroladamente, o coração descompassado lhe dava pontadas, suava frio e a vista estava embaçada pelas lágrimas. Se soluçava ou não, não fazia ideia.

O grande apartamento com a decoração aconchegante que ela montou em tons de creme e salmão não lhe parecia seguro aos olhos magoados; trombando nos móveis de cerejeira e até mesmo derrubando um castiçal dourado no chão, ela foi de modo obstinado até a suíte principal sem hesitar nenhum instante para ponderar se sua decisão não era precipitada.

Pegou a maior mala de viagem que tinham, uma preta opaca com mais da metade de sua altura e pôs se a vasculhar suas coisas atentamente, jogando de modo aleatório suas roupas preferidas e mais práticas, as pastas com os relatórios de seu trabalho, seu notebook, as fotos de seus amigos e família - ignorando sumariamente qualquer uma em que Sasuke estivesse presente – seus documentos e dinheiro. Aos poucos foi parando de chorar, assumindo uma postura fria a amarga para soterrar do modo mais definitivo possível o pesar, antes que o mesmo a matasse.

Com a frieza mais aguda possível, deixou a residência completamente em ordem e camuflou seu ato com as roupas restantes, de modo que ele só perceberia quando ela simplesmente não aparecesse em casa por dias; já imaginava a sua reação raivoso e a de ambas as famílias, inclusive o inflexível e intimidador Fugaku, seu sogro, insinuando que o caçula precisava de uma esposa que melhor representasse a grandiosidade e seriedade da família.

Disposta a encarar qualquer consequência com firmeza e um sorriso de dama cinicamente pousado nos lábios pequenos, ela se foi sem deixar rastro algum, a mente vagando em questões banais para não cair na realidade dolorosa em que se encontrava.

No caminho, ela se deu ao luxo de ficar mais calma e até mesmo admirar a paisagem bucólica do persurso: de um lado da pista, árvores antigas, com seus inúmeros galhos se retorcendo por toda sua magnífica extensão, os troncos grossos e as folhas frágeis, um animal silvestre aqui e ali, assim como as ligeiras e imponentes aves que em círculos e rasantes repentinos comandavam nos céus; do outro, escarpas esculpidas puramente pela ação incessante do vento e da chuva, verdadeiras obras primas da natureza, misturando o letal ao admirável... e por fim o mar logo abaixo delas, suas águas profundas puxando do azul mais escuro ao verde mais cristalino, dependendo de como a luz incidia sobre as ondas.

Chegando em seu destino, suspirou resignada com a situação e desceu do carro. A praia pequena, limpa e escondida, a população hospitaleira, as pessoas caminhando despreocupadamente entre o comércio de caráter familiar; não apenas para descansar e por a cabeça no lugar e sim para fazer um balanço profundo e sem erros do rumo que sua vida pessoal e profissional tomava que ela se encontrava ali.

O destino da primeira vez em que viajaram só os dois para algum lugar; lembrava cada mísero detalhe daqueles dias de Sol, romantismo, risadas e planos otimistas para o futuro a dois com uma nostalgia tão desesperadora que resolveu focar nas próximas medidas a serem tomadas. Nem que gastasse o dobro ou triplo, ficaria ali e no mesmo quarto que utilizaram no passado – seu capricho inusitado poderia ser interpretado de diversas formas e nem a própria Sakura sabia bem o que dizer em relação a ele. Mas sabia que tinha de ser feito.

O prédio de quatro andares com a fachada salmão e coral a fez dar um breve sorriso, mesmo em meio ao seu estado deveras lamentável; não havia mudado nada, ao menos por fora. Deixando o carro no meio fio com a certeza de que o lugar era tranquilo demais para ser assaltada, subiu as escadas e adentrou o lugar – que, para um misto de surpresa, satisfação e ironia, também parecia o mesmo de anos atrás. As paredes bem claras, os sofás azuis, o balcão e a mesa de centro feitos de uma madeira escura e bem charmosa, os quadros de barcos que adornavam as paredes... se havia uma diferença era a recepcionista; mas esta era pouca, visto que as semelhanças entre a menina a sua frente e a mulher sorridente de suas recordações eram tantas que não duvidaria de uma relação de parentesco entre ambas. Talvez fossem mão e filha, gerações que se seguiam felizes sem carreiras astronômicas e rios de dinheiro.

Pediu o quarto específico e deu uma desculpa qualquer para a jovem, mais precisamente valor sentimental; como era uma praia em que muitos casais iam fugir da correria da vida caótica na cidade ou famílias para deixarem seus filhos brincarem com maior segurança do que nas areias mais badaladas e cheias de gente, a menina não pareceu estranhar o motivo e informou que ele estava sim vago. Fez a reserva por um mês, pretendendo ficar ali se possível um tempo inferior a este – por mais que repreendesse o apego aos negócios do noivo, tinha consciência de que foi embora no meio de sua última semana de trabalho antes das férias deixando algumas coisas não resolvidas no hospital e teria de correr atrás do prejuízo depois.

A decoração dentro do quarto 22 havia mudado, mas nada muito gritante: o esquema de cores e objetos seguia o mesmo padrão de antes, apenas havia sido modernizado – os móveis continuavam os mesmos, com seus detalhes ocidentais em estilo rococó nas extremidades, algo digno dos antiquários mais sofisticados. Jogada na cama de casal, olhou para o teto branco tentando inutilmente não direcionar os orbes verdes para as paredes, lilases como antigamente, que continham tantas lembranças saudosas que lhe doíam como um soco bem dado na boca do estômago, causando náuseas e trazendo lágrimas ao olhos.

Flashback Off

E assim começou sua lenta e angustiante rotina, de vagar pela cidade a espera de que ele ligue, apareça, que a polícia bata a sua porta – qualquer atitude, por mais surreal que seja, que prove que ele se importa minimamente com a própria noiva; propositalmente pagou as diárias com cartão de crédito, com a certeza de que com o poder de sua família não seria complicado encontra-la rastreando-o quando ele sentisse vontade, sentisse sua falta. Até o fim da semana, ela pensou; talvez uma, se ele estiver muito zangado ou procurar na direção errada duas. Mas não três semanas e meia sem o mínimo sinal de que ele estava a sua procura, nenhuma ligação ou mensagem, nada.

Faltava pouco mais de duas semanas para o tão aguardado e minuciosamente organizado casamento e suas últimas férias como Haruno chegavam ao fim de um modo terrível, doloroso e incompreensível, completamente diferente do que ela imaginou que seriam – ao lado de Sasuke, felizes e cheios de planos, como o casal era antigamente – não sabia se haveria a união naquela altura da vida; talvez ele tenha acreditado piamente que ela tinha saído de férias mesmo e nem se deu o trabalho de saber seu destino logo após a discussão de ambos; talvez ele, em algum lugar daquela mente estritamente racional e indiferente, acreditava que ela se encontrava com a família, saiu numa demorada despedida de solteira ou algo assim; ninguém ousou confirmar um rompimento ou cancelar a cerimônia, pois todos os sites de fofocas estampariam a novidade com gosto e veneno se fosse o caso.

Ele esperava o quê? Que ela voltasse a tempo para não manchar o nome de sua família? Depois de tanto sofrer por conta de status e aparências, ela não ligaria se cada Uchiha queimasse no tormento eterno do inferno; pois no fundo sabia que a verdade era uma só: ele não tinha sentido sua falta, não ligava nem um pouco para ela.

Não a amava.

Talvez uma semana antes da data marcada, quando finalmente seus sogros se manifestassem indignados, ele a rastreasse com afinco e surgisse ali em sua costumeira fúria gélida e silenciosa, disposto a arrasta-la para o altar se necessário e exigindo que ela desse seu melhor e mais puro sorriso, como a mulher mais feliz do mundo no percurso. Era insano e cruel.

O Sol já havia sumido no horizonte há algum tempo, mas ainda sim sem dúvidas Sakura se sentia mais horrível que nunca: pesada, dolorida e quente, estranhamente quente, uma vez que seu corpo tremia... como, como febre. E em um pânico silencioso, ela percebeu seus sentidos falharem e seu corpo baquear, embora dois braços tenham impedido sua queda antes de a mesma garota cansada afundar na escuridão por completo.

...

Quando tornou a abrir os olhos, reconheceu de imediato o teto branco do quarto 22 que tantas vezes se pegou encarando inexpressivamente nesses tortuosos dias de férias amargas; tentou se mexer mas seu corpo doía e pôde notar com clareza as faixas por seus braços, pescoço, tronco, pernas... ela sabia que havia pego uma terrível insolação devido ao seu ato insano de passar horas sob o Sol forte sem proteção e com sua pele tão clara.

Mas o que realmente a surpreendeu foi olhar para a esquerda e encontrar Sasuke dormindo ao seu lado, ou pelo menos alguém muito parecido com ele, já que o mesmo se encontrava num desleixo tão grande que estava quase irreconhecível: a pele, já assustadoramente branca, estava tão pálida e cinzenta que a lembrava com tristeza de muitos pacientes terminais que conhecia em seu trabalho, as veias se destacando na testa; os cabelos num desalinho fora do que era habitual; as olheiras tão roxas e profundas que o deixavam parecido com um panda, mas não eram suficientes para ocultar o fato de que seus olhos estavam terrivelmente inchados e com sinais de choro recente; as maças do rosto sempre tão másculas e delineadas estavam magras, assim como o resto de seu corpo visível e a barba por fazer, uma mancha cinzenta que ele nunca permitiu que crescesse em suas outrora belas feições.

Além de sinais claros de ansiedade, como o acúmulo de pequenas feridas nos lábios e no entorno das unhas – ao contrário do que julgava como certo, ele sentiu sim sua falta e sofreu cada instante do seu sumiço, mutilando a si mesmo em castigo. Esquecendo todas as dores, angústias e mágoas pelas quais passou, sentiu seu coração apertar, afinal se havia algo que ela não negava era que continuava a ama-lo incondicionalmente apesar de tudo. O braço do rapaz, assim como seu corpo, estava inclinado num ângulo curioso, que sugeria que ele pegou no sono velando sua noiva e segurando-a pela mão. Sem hesitar, ela restabeleceu o contato.

Porém, isso o fez acordar; e ele mal abriu seus olhos – que se encontravam vermelhos – e levanto num pulo assustado e surpreso, sem tirar sua mão da dela.

-Sakura! – disse ele de modo baixo e suave, os olhos marejando por vê-la acordada.

-Sasuke. – respondeu, mas para sua surpresa, soou fria; o início de sorriso que ele havia esboçado murchou numa carranca que ela só conseguia descrever como pesar.

-Sakura, eu... eu sei que falhei com você, ando falhando terrivelmente a meses mas nem por um segundo duvide que a amo. – disse ele, olhando fixamente as íris verdes que eram a razão de sua existência.

-Como posso acreditar em suas palavras depois de me deixar por tanto tempo sozinha, ignorada, desamparada? Onde você vê amor aí Sasuke? – não conseguiu impedir a mágoa de sair em sua voz cansada; ele intensificou o aperto em sua mão.

-Não, eu não o vejo, mas é verdade que o sinto! Sei que tem todos os motivos do mundo para dizer não, para me mandar ir embora, para romper seu compromisso comigo... mas me dê mais uma chance. Para que eu possa agarra-la e nunca mais soltar. – para um homem orgulhoso e estoico como ele, era praticamente inédito vê-lo implorar desesperadamente e verter lágrimas com tamanha facilidade, motivo pelo qual ela acreditou em suas palavras.

-Como me achou aqui? – perguntou, querendo saber o quanto ele se empenhou em encontra-la.

-No dia... em que brigamos – começou ele, desconfortável e soando amargo – sai do escritório mais cedo, disposto a conversar com você sobre nós dois e o rumo que nossa relação tomava... sabia que estava te perdendo e não podia suportar isso. – ele deu uma pausa, na qual a encarou de modo absolutamente triste; ela acenou, incentivando-o a continuar – Quando vi que não estava lá, a primeira coisa que fiz foi procurar suas coisas e vi com alívio que suas roupas estavam ali; como dei por falta de seu computador e dos prontuários que estudava, logo imaginei que resolveu pegar um plantão no hospital para conseguir paz e esfriar a cabeça. Então naquela noite, te deixei em paz.

Ele fez uma pausa e encarou as cobertas, com um semblante sofrido, mas ao mesmo tempo indecifrável; mais uma lágrima escorreu por seu rosto e sumiu na barba. Atordoada com o visível sofrimento dele, Sakura afagou as costas da mão que ele segurava gentilmente, despertando a atenção dele para ela; com um sorriso fraco que não chegava aos seus olhos, ele continuou:

-Então passou um dia e mal fiquei no escritório pela ansiedade; voltei para casa e você não apareceu – sua voz estava tão carregada, que ela sentia sua dor – acordei sexta feira determinado a concertar tudo e fui ao escritório apenas para acertar minhas férias; quando cheguei em casa e você não estava lá, liguei no seu trabalho só para descobrir que não aparecia ali desde o dia de nossa briga, liguei para sua família, para a minha, nossos amigos; ninguém fazia a menor ideia de onde você estava e olhando as suas coisas a procura de alguma pista, comecei a dar por falta das peças de roupa que mais usava. Então realmente entrei em pânico.

-Mas não ligou para mim. – apontou ela suavemente. Ele a encarou.

-Liguei sim, milhares de vezes... até descobrir que você tinha mudado o número de seu celular recentemente. Lembrava de ter me passado um papel com ele, mas na minha tola obsessão pela carreira o perdi em algum lugar qualquer... e mais ninguém que conhecia e tinha contato com você sabia o número; mal sei em que seção do hospital trabalha. – disse ele e fungou sentido. Era verdade, ela havia mudado... e se pegasse o celular dele, provavelmente teriam várias ligações para seu antigo número; a jovem mal acreditava.

-Então – continuou ele – passei a te procurar; sem ter ideia de onde você iria, ou queria que nós dois fôssemos, passei o mês inteiro indo para cada lugar em que estivemos juntos desde que começamos a namorar. Esta praia foi o primeiro destino em que viemos só nós dois e ficou bem para o fim da lista; a propósito, também lembro que ficamos nesta pousada, exatamente neste quarto. – sua voz era quase um murmúrio no fim da frase, mas foi o suficiente para faze-la abrir um enorme sorriso bobo.

-Você lembra? – perguntou feliz e incrédula, ele assentiu, pela primeira vez dando um sorrisinho que parecia sincero.

-Quando te vi... ali sentada, passei a te observar apenas de longe; já eram cinco da tarde quando cheguei aqui, então mais cedo ou mais tarde, você iria levantar e me ver. Mas você não saia de lá. – explicou sério.

-Não, eu não saia. – respondeu ela distante, imaginando a cena na sua cabeça.

-Então comecei achar que tinha algo errado, pois você não mexia um músculo e estava com a pele vermelha, mas bem vermelha e por isso fui me aproximando aos poucos. – continuou Sasuke – e estava perto o suficiente para pega-la quando desmaiou.

-Então eu realmente desmaiei? E foi você que me pegou? – perguntou surpresa e ele confirmou com um aceno de cabeça.

-Quando vi sua temperatura e que sua pele estava marcada por queimaduras de verdade, corri para o hotel e pedi que chamassem um médico urgente, foi assustador – confessou ele, e pelo modo como seus olhos estavam injetados ao se lembrar, ela pôde sentir que era verdade – disseram que tomou Sol demais sem proteção alguma. – terminou ele, ela concordou em silêncio.

Ficaram ali um bom tempo sem se encararem, apenas com as mãos delicadamente dadas; num acordo silencioso por parte de ambos, começaram a aproximar os corpos aos poucos, terminando por ficarem abraçados sob as cobertas de modo cúmplice e apaixonado, como não faziam há muito tempo. Os raios de Sol adentravam o lugar com vivacidade, mas nenhum deles se moveu por algumas horas para fazer qualquer outra coisa: apenas conversaram sobre o mês que cada um passou, as dores que cada um sentia, o que aconteceu com o companheirismo entre eles nos últimos meses, como ficavam os planos para o futuro – tudo entre suaves carícias e cálidos beijos, tomando bastante cuidado com a condição frágil dela, que exigia repouso.

A família Uchiha, assim como os Haruno, surpreendentemente estava em pânico e preocupação sem fim com o desaparecimento dela, colocando seus próprios homens particulares na busca; impressionada, ouvia enquanto ele contava como teve de ligar para cada amigo, parente, conhecido ou similar para avisar que tinha lhe encontrado e que estava bem, apesar de seu estado de saúde se encontrar complicado.

-Então acertei com minha mãe um acordo e ela já o pôs em prática. – murmurou Sasuke, afagando seus cabelos rosados e lhe depositando beijos na testa que ela jurava ser enorme, mas que aos seus olhos de ônix era perfeita como todo o resto.

-Com Mikoto-sama? – ele assentiu – Que tipo de acordo?

-Ela usou o poder da família e conseguiu mais dois meses de férias para cada um, não me pergunte com qual desculpa – começou ele – e adiou o casamento para daqui a um mês; passamos esse tempo nos acertando e só nos casamos no civil daqui a duas semanas, depois da cerimônia oficial, teremos mais um mês para a Lua de Mel. – finalizou ele, tocando a ponta de seu nariz com um leve sorriso nos lábios – Isso se ainda quiser se casar comigo.

-Se eu disser não, vai correr pra Ino? – perguntou Sakura, mas com um enorme sorriso brincalhão no rosto.

-Só se for em pesadelos. – murmurou e os dois riram de leve.

E assim, ambos recomeçaram a trilhar o caminho da vida, juntos novamente; dificuldades viriam, surpresas também e em muitos momentos sem dúvidas eles iriam se perguntar como foram parar ali. Mas enfrentariam a cada obstáculo no horizonte unidos, pois ela jamais tornaria a fugir e ele jamais tornaria a solta-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bonito não? Gostaram? É um capítulo só, não mata deixar reviews!Obrigado e beijos!!
(*--*)//