Uma Historia Para Dormir escrita por Phoenix


Capítulo 1
Potterella




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— Papai! Papai! PAPAAIII!!!!! - grita, batendo raivosamente as duas mãos fechadas em punho contra o colchão, chutando as cobertas e retirando-as de seu corpo, começando a gritar mais alto. - PAPAAAAAAAAIIIIII!!!!!

E então, eis que o loiro surge ofegante, com os olhos inchados e as madeixas platinadas em total desalinho apontando para todos os lados; encostando-se no batente da porta, vasculha cuidadosamente o quarto; só após alguns segundos abaixando a varinha em riste.

— Scorpius, posso saber o que esta acontecendo?! - questiona aborrecido.

— Não consigo dormir! - murmura sentando-se na cama e cruzando os braços.

— Problema seu, boa noite. - diz apagando as luzes e saindo do quarto.

Draco já conseguia sentir o calor de suas cobertas e a maciez de seus lençóis enquanto arrastava-se pelos corredores da mansão, mas alguém com certeza não gostava de si lá em cima, pois assim que colocou o primeiro pé sob a cama..

— PAAAAPAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIII!!

"Vai ser uma longa noite..” pensa voltando seus passos com uma veia saltando sob a testa.

Em poucos minutos, encontrava-se novamente com o loiro que encarava-o emburrado, mas diferente da primeira vez, com os olhinhos verdes pidões e chorosos.

— O que foi querido? - pergunta amenizando o tom de voz e aproximando-se da cama.

— Eu já disse, não consigo dormir! - diz abrindo espaço para o mais velho sentar-se ao seu lado.

— E o que quer que eu faça? Uma poção?

— Não! Elas tem um gosto horrível! - murmura fazendo careta, vendo o loiro girar os olhos.

— Então o que quer?

— Me conta uma historia?

— Não.

— Por favor!

— Não!

— Mas papai..

— Sem “mas” Scorpius!

— Você não me ama?! - pergunta com a voz chorosa.

— Scorpius, sabe que não levo jeito para isso. Da ultima vez, você ficou sem dormir por quase três dias, pensando que o salgueiro lutador viria te pegar.

— Mas eu ainda era muito jovem!

— Foi semana passada..

— Exatamente!

— Scorpius..

— Papai, por favor!

O loiro encara-o em suplica durante alguns segundos, tentando fazer com que o filho desistisse da ideia, mas logo suspira derrotadamente, ao deparar-se com o olhar decidido digno de um grifinório.

— Que historia?.. - questiona num sussurro, vendo os olhos verdes do garoto cintilarem.

— Que tal Cinderella? - pergunta sorrindo largamente.

— Cinderella? Aquele conto trouxa?! Jamais!

— Mas papai, você prometeu!

— Eu não prometi nada!

— Papai! - exclama com a voz chorosa, começando a fazer bico.

— Esta bem, esta bem, não chore. Eu conto a historia, mas será do meu jeito. - diz sorrindo de canto.

— Obrigado papai! - diz estalando um leve beijo na face de seu progenitor.

O loiro sorri com o gesto, puxando os lençóis, para em seguida, voltar a cobri-lo, sentando-se na beira da cama.

— Vamos ver.. - murmura pensativamente, penteando as madeixas para trás com as pontas dos dedos.

"Era uma vez, um belo garotinho de olhos verdes tão brilhantes quanto as estrelas e face tão bela quanto a de um anjo chamado Potterella .."

— Err.. papai, “Potterella”, por acaso, teria algo haver com o pai Harry? - questiona encarando-o com a sobrancelha esquerda levemente arqueada.

— O que?! É claro que não! O que o faz pensar que alguém como Potterella teria algo haver com aquele grifinório estúpido?! - retruca indignado, erguendo o queixo em descaso.

— Nada, apenas tive essa impressão..

— Hunf!.. Quer que eu continue ou não?

Vendo o garoto acenar afirmativamente, gira os olhos, bufando de leve, e por fim, retornando a narrativa..

"Potterella perdera os pais muito jovem, sendo obrigado a morar ainda criança com seus cruéis tios Vernon e Petunia e o filho destes, o irritante Duda. Estes, quando os Potter's encontravam-se vivos, nutriam uma grande inveja pela família, vendo em sua morte, a oportunidade perfeita para vingarem todos os anos de dissabores; obrigando seu sobrinho a trabalhar todos os dias até a exaustão, trajando apenas os trapos que não mais os serviam e alimentando-o com as sobras de suas fartas refeições, fazendo o possível para que o pobre garoto se sentisse a cada dia mais miserável e odiasse, assim como eles, os seus pais; mas apesar de seus esforços, Potterella jamais rendera-se ao ódio, mantendo sua bondade e generosidade acima de tudo, tratando-os com todo o respeito que conseguia e guardando toda a dor para si, amando seus pais em silêncio e fazendo o possível para honrar a memória que mantinha viva de ambos dentro de si; esforçando-se, para desta forma, tornar-se alguém digno de orgulho tanto para estes quanto para si próprio.

Uma certa manhã, faltando poucos dias para o seu aniversário de onze anos, uma carta chega em seu nome, mas Vernon o impede de ler, jogando-a sobre a lareira. No dia seguinte, mais uma carta chega e novamente o seu tio o impede de lê-la; até que cartas e mais cartas começam a surgir, fazendo com que o seu tio em um ataque de fúria, o prendesse no armário que usava como quarto; mas então as cartas passam a ser endereçadas ao armário, levando-o a mudá-lo para o quarto de brinquedos de seu filho, e numa desesperada tentativa de impedi-lo de lê-las, para outra casa, cuja única forma de chegarem era com um barco.

A casa caia aos pedaços e vazava agua por todos os lados, mas seus tios pouco se importaram ao coloca-lo para dormir no chão de madeira gasta; em meio aos trovões e ranger da madeira, tremendo de frio, a criança pede em toda a sua ingenuidade para que os anjos permitissem que os seus pais retornassem e o levassem para bem longe de seus malvados tios, o impedindo de dormir naquele chão molhado e o carregando para um lugar onde pudesse se sentir amado, nem que fosse por uma noite, por alguns minutos, apenas o suficiente para abraça-los e para ouvi-los dizer "eu te amo". Como o esperado, seus pais não retornaram, mas enviaram alguém em seu lugar; um meio gigante que lhe carrega para um mundo totalmente diferente daquele que conhecia, onde a magia transbordava por cada canto.

Neste lugar, Potterrella aprende rapidamente que a magia sempre fizera parte de sua vida; encontra amigos e um inimigo muito charmoso, vivendo intensas aventuras e arranjando outros inimigos (nem tão charmosos quanto o primeiro, diga-se de passagem..). Para salvar aqueles a quem amava, derruba todas as barreiras, desafia a tudo e derrota a todos que se atreviam a lutar contra si. Aos poucos, aquele pequeno garotinho órfão cresce e se torna o herói de toda uma nação, transformando-se na pessoa na qual todos se espelhavam e orgulhavam. Mas aquilo não parecia ser o suficiente para o garotinho, então ele passa a procurar por sua felicidade.

Em pouco tempo, afasta-se dos amigos que agora possuíam sua própria vida; termina o seu relacionamento com a garota sem charme ou graça, que sinceramente, não chegava aos pés de seu charmoso primeiro inimigo e retorna para o reino sem magia no qual vivera durante grande parte de sua infância, passando a viver como somente mais um, na esperança de por intermédio desta normalidade, conseguir a felicidade. E realmente por um tempo esse recomeço lhe traz felicidade; mas aos poucos, tudo torna-se cômodo e novamente se perguntava onde estava o seu motivo para viver.

Certo dia, após chegar de seu emprego naquele mundo sem graça, recebe uma carta que convidava-o para um baile de mascaras que reuniria todos os ex-alunos da escola que tanto amou durante grande parte de sua vida. Por um tempo, reluta em aceitá-lo, mas quando o dia chega decide-se por ir.

No baile, ninguém parece reconhecê-lo, os anos haviam-no tornado ainda mais belo e o surgimento de um pequeno bom senso ao se vestir havia contribuído para isso; suas vestes negras pareciam moldar-se com perfeição ao seu corpo, assim como sua mascara com detalhes em pequenas esmeraldas que lhe destacavam os belos olhos. Pela primeira vez era notado não por seu nome, mas pelo que era mesmo que de forma superficial e isso lhe faz feliz; apesar de deixa-lo razoavelmente constrangido pela quantidade de olhares cobiçosos destinados a si; e é em meio a estes que encontra o ser mais perfeito; loiro; extremamente bonito e gostoso que seus olhos já tiveram o prazer de deslumbrar, assim que o vira, soubera que aquele ser majestoso e incrivelmente atraente a sua frente estava destinado a ser o amor de sua vida; e num golpe do destino, este o convida para dançar.

A cada passo desajeitado e encarada tímida mais o loiro se encantava pelo possuidor dos olhos mais brilhantes que já tivera o prazer de deslumbrar. Em meio ao encanto daquelas orbes e ao encaixar de ambos os corpos, o loiro puxa-o para si, nem pensando em se conter ao tomar os lábios daquele ser tão belo sob os seus braços. Ao fim do beijo, entretanto, a mascara negra escorrega e com ela vem a revelação de que aquele não era ninguém mais, ninguém menos, do que o herói do mundo bruxo. Assustado e sem saber que ação tomar, o loiro apenas repete o que fizera durante toda sua vida e foge.

O moreno luta bravamente para alcançá-lo, mas assim que sua identidade é revelada, todos passam a cercá-lo. Com muito custo, minutos após, alcança a porta, deparando-se com a amarga derrota, ao notar que o loiro já desaparatara para longe. Sem rumo, caminha sobre o gramado de Hogwarts, avistando um objeto caído não muito longe dali; desolado, caminha a passos lentos até este, descobrindo ser uma mascara branca com diamantes incrustados. A mesma que o seu loiro usava..

Tomado por uma determinação tipicamente grifinória, promete para si mesmo que encontraria o seu príncipe, nem que esta fosse a ultima coisa que fizesse. E assim, começa a sua busca, batendo na porta de cada convidado que estivera na festa. Em pouco tempo, espalha-se a noticia de que o grifinório estava a procura de alguém e esta chega aos ouvidos do loiro, que dividia-se entre a euforia e o desespero.

Em duas semanas as opções haviam reduzido-se drasticamente e sua próxima opção era uma não tão agradável: o seu bonito e charmoso inimigo loiro. Não soubera exatamente o que esperar quando fora recebido na mansão, mas com certeza, tudo se esvaíra por terra quando finalmente depositara os olhos sobre o rapaz.

Não o via há muitos anos, por esta razão, não sabia o quanto este havia mudado; suas madeixas platinadas, agora compridas, eram presas em um rabo de cavalo frouxo, cujas mechas escapavam, moldando a face angelical; seus olhos cinzentos, eram emoldurados por grossos cílios negros e sua face, agora mais madura, dava-lhe um ar tipicamente masculino. Na hora em que o vira, soubera..

— Er.. acho que isso lhe pertence.. - murmura timidamente, estendendo-lhe a mascara.

O loiro que apenas encarava-o sorri, puxando sua face para si até encontrarem-se a apenas alguns centímetros de distancia.

— Você tem razão.. - diz simplesmente, encerrando a distancia entre ambos.

 A partir dali, uma batalha se iniciaria, e esta talvez fosse tão ou mais difícil que derrotar o Lord das trevas; mas o moreno estava preparado para o desafio, pois finalmente, encontrara o que faltava."

Ao fim da historia, com um sorriso sob a face, o loiro constata que o filho adormecera; depositando um beijo em sua testa, levanta-se, ajeitando as cobertas e virando-se em direção a porta, estancando no lugar.

— Ha-Harry?! Há quanto tempo esta ai?! - murmura arregalando os olhos levemente, sentindo a face queimar.

Ignorando a pergunta, o moreno passa a caminhar em sua direção; quando apenas um esticar de dedos os separavam, o loiro pode notar a intensidade na qual as orbes esverdeadas cintilavam, ameaçando desmancharem-se em lágrimas a qualquer instante.

— O suficiente, príncipe Draco..

É a última coisa que ouve antes de ter seus lábios capturados; não notando que Scorpius agora observava-os com um leve sorriso sobre a face, suspirando alegre antes de bocejar longamente, e finalmente naquela noite, adormecer.


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