Ciel abriu a janela. Era noite. Uma brisa suave e constante envolvia-o. Uma sensação leve invadia seu corpo, tão agradável a ponto dele fechar os olhos para concentrar-se somente naquilo. Subitamente, veio-lhe uma imagem na cabeça.

Sebastian.

Sua pele arrepiou-se; logo olhou para trás. Não havia ninguém. Por quê estava pensando nele...? Um mero... Mordomo.

Uma peça de xadrez.

O garoto volta a contemplar o céu estrelado que não carregava nenhuma nuvem. Acabou, então, por pronunciar o nome daquele que estava em sua mente.

– Sebastian...

E o demônio já estava lá, atrás dele, sem que o pequeno tivesse percebido. Após um longo e melancólico suspiro, Ciel vira-se e se vê encarando o corpo do mordomo.

– ...!

– Hoje o céu está bonito. - comentou Sebastian.

Ciel ficou um pouco corado e seus olhos fitaram o chão automaticamente. Tentando se livrar daqueles pensamentos, abandonou aquela vista e foi em direção à porta.

– Estou entediado. Vamos jogar xadrez. Nesta casa, não tem ninguém além de você que conhece as regras.

Sebastian ficou alguns segundos ali, parado, analisando a atitude de seu mestre; depois, fechou as janelas e o seguiu.

Vinte minutos de jogo. Sebastian parecia ter encurralado Ciel, que estava com as jogadas restritas por falta de peças. Não que não soubesse jogar, pelo contrário; sabia muito bem, mas como vencer um demônio? Certos pensamentos que tivera, há alguns minutos, fê-lo segurar a peça do cavalo e observá-lo.

– Sebastian, este cavalo é você. Devo sacrificá-lo para proteger a majestade?

– Se assim for a vontade do rei...

– Mas e se o rei não quiser?

– O bocchan esqueceu... Que sou uma peça especial? Não tenho movimentos restritos como outro cavalo qualquer .

– Então posso fazer isso... - e Ciel colocou o cavalo que segurava em uma posição ilegal, mas de uma forma que não o sacrificaria nem colocaria o rei em xeque. E o mordomo sorriu. - Sebastian, você é a única peça do meu xadrez que pode movimentar-se em qualquer direção, do jeito que quero...

Sebastian começou a rir.

– Isso realmente foi precipitado... Então quer dizer que sou a rainha?

Ciel ficou corado e sem resposta.

– Não foi isso o que eu quis dizer! E...

– Eu não me importaria com isso.

O garoto arregalou os olhos. Qual o significado daquilo? Várias coisas surgiam em sua mente, quando tentava buscar tal resposta. Ah, esse demônio está brincando, pensava. Mas será que não falava sério? Porque fazia aquela expressão tornava tudo indecifrável. O mordomo aparentava ter olhos sinceros porém traídos pela boca, o qual carregava sempre um sorriso com ar de malícia, de deboche. Logo, dizia - ou parecia dizer - tudo com tom de ironia.

Um beijo.

Sebastian ignorou as peças do jogo, e ao aproximar-se do jovem, derrubou-as ao chão, restando no tabuleiro somente o rei e a rainha.

– Você precisa somente de uma peça. - Disse Sebastian.

– Sim... Só você, meu mordomo, Sebastian Michaelis.

– Meu lorde... Não, minha Majestade.

Caminhando uma casa por vez, protegido pela sua rainha.

"Serei seu até você chegar ao trono da vitória...

Até o xeque-mate."