Ao adentrar a casa, eu sabia que iria encontrar muita bagunça e nenhum sinal do Harry. Fechei a porta atrás de mim e tentei me acalmar, observei atentamente o local e vi uma porta ao lado do banheiro entre aberta. Não precisava ser um adivinho para saber que lá dava ao porão e lá estava Harry. Com o meu coração pela boca, obriguei minhas pernas tremulas a se firmarem, assim, comecei a andar em direção à porta. Ao abri-la um pouco mais me deparei com um lance de escadas que desciam, o lugar era estreito e as paredes eram rabiscadas – provavelmente pelos próprios meninos.

Ignorando uma sensação claustrofóbica que se apoderou de mim momentaneamente, comecei a descer aquelas escadas em um ritmo lento e silencioso, tudo que eu menos queria era que Harry percebe-se eu que estava ali sem eu ao menos saber o que falar. Ótimo! Eu tinha que pensar no que falar ainda. Como se diz ao cara que você gosta que aquele beijo com o cara que ele não gosta foi sem querer? “Sem querer” Ninguém beija sem querer, Nina! Eu estava ferrada e não sabia o que dizer. Sem mais, finalmente terminei de descer a escada e fiquei surpresa.

O porão era uma espécie de quarto, tinha cinco camas – todas desarrumadas, claro – e também bastante simples, nada de luxuoso que eu e o resto das Directioners víamos em revistas. “Aqui podemos ser os meninos bagunceiros e moleques. Aqueles adolescentes normais.” Lembrei-me da fala de Harry naquele momento, o quarto era simples porque ali eles queriam ser normais, não super estrelas com super quartos luxuosos. Tinha muitos pôsteres de bandas antigas pelo que eu pude notar, e eu não sabia nem metade qual eram o nome delas. Apenas um pôster eu conhecia. E era dos Beatles.

O pôster ficava em baixo de uma cama e nela... Harry estava sentado de costas. Ele não me via, mas eu o enxergava nitidamente. Suas mãos estavam na nuca e sua cabeça abaixada. Mesmo de costas, ele era lindo, e novamente, senti que não sabia o que iria fazer para acalma-lo. O que eu iria dizer? Minhas pernas involuntariamente se moveram para onde ele estava e sentindo minha presença Harry se virou. Seus olhos tinham lágrimas e estavam vermelhos e meu coração doeu ao ver aquilo.

- Como me achou aqui?

- Aqui é onde o sinal de celular não pega, não é? – Não sorri, sabia que não iria adiantar nada naquela situação. – Harry... Não foi nada do que você está pensando...

- Ah! É claro. – Ele bufou. – Não me venha com essa, Carter, eu vi você beijando o John.

- Harry, ele me beijou! Eu não queria, ele me pegou de surpresa.

- Eu pensei que você fosse diferente, pensei que você não era que nem as outras... – Ele me olhava com aqueles olhos cheios de lágrimas e verdes. Droga! Agora, eu também estava chorando. – De fato, você é diferente delas. Você foi à garota que me decepcionou mais.

- Não fala isso... Você não sabe o que está dizendo. – Eu pedi. – Foi um engano! John percebeu que você estava ali na hora e me beijou para que a gente brigasse!

- E o que ele iria ganhar com isso?

Eu desviei de seu olhar, e passei a encarar uma das camas do porão, não falamos nada por um bom tempo. Até eu finalmente abrir a boca e falar:

- Tem muita coisa que você não sabe. – Eu comecei. – Uma delas... Uma delas é que John me ama. Se você me visse beijando ele, brigaríamos e então, eu ficaria livre para ele ficar comigo. Era o que ele queria. – Ao voltar a olhar para Harry, percebi que seu olhar transmitia raiva e... Ciúmes? Ele estaria acreditando em mim?

- Então parece está livre para ficar com ele! – Harry falou enraivado.

- Eu não conseguiria. – Soltei um riso fraco. – Harry, eu não o amo. Eu amo você, apenas você. Não há espaço para mais ninguém.

- Eu iria pedir para você ir comigo no programa da Caroline. Eu queria que você fosse para ver que entre mim e ela não tem mais nada e que agora em diante, só tem você. – Harry abaixou a cabeça. – Não sei o que eu faço agora.  

- Ela também não é quem você pensa que é.

- Como assim, Nina?

Foi aí que eu falei. Desabafei tudo que estava acontecendo, a ameaça dela, as fotos e John no meio dessa história. Harry me olhava surpreso e não falava nada, pelo menos, eu não via mais lágrimas em seus olhos. Quando eu terminei, ele levantou da cama e começou a andar de um lado para o outro. No fundo, algum me dizia que já era para eu ter contado toda aquela história para ele antes.  

- Você tem ideia do que acabou de me dizer? – Ele falou apreensivo, parando em minha frente.

- Não acha que eu estou inventando, não é?

- Não, mas... – Ele coçou a nuca. – Caroline não é assim, admito que as vezes ela é meio possesiva e ciumenta mas não é para tanto.

- Vai defender ela? – Eu não estava acreditando. – Tá na cara que não tá acreditando em mim.

- Nina, eu não estou defendendo ela! Só é um pouco difícil acreditar nessa história... Parece coisa de filme ou livro.

- Você ainda a ama? – Fechei os olhos e olhei para baixo com medo da resposta.

- Caroline? – Ele suspirou. – Já disse que é apenas físico o que nós tínhamos.

- Ninguém fica com outra pessoa por tanto tempo apenas pelo físico. – Eu sorri friamente.

- Eu... – Ele pausou. – Eu posso ter gostado dela sim.

Era o que eu precisava ouvir. Minhas lágrimas voltaram e eu me virei. Não queria que ele me visse chorando ainda mais. Caroline no final tinha razão.

- Mas eu estou com você agora. – Ele falou ao ver a minha reação. – Ela está no passado, Nina!

- Se você realmente estivesse comigo, você acreditaria em mim. Veria que com John foi um erro e acreditaria nas coisas que disse sobre Caroline.

- Se você realmente estivesse comigo, você confiaria em mim, quando digo que não tenho mais nada com ela. – Ele rebateu.

- Eu confio em você. – Eu falei me virando. – Eu não confio nela. Se eu não confiasse em você, teria acreditado em tudo que ela me falou antes.

- Eu... – Ele parecia cansado agora. – Eu preciso pensar. É muita coisa para digerir... Eu... Preciso ficar sozinho.

- Acho que todos nós devemos pensar. – Eu tentei sorrir, uma tentativa em vão.

Eu me virei pronta para ir, mas ele me puxou e nós nos abraçamos; um abraço longo e carinhoso. Eu sabia o que eu sentia em relação a ele, e também sabia que o que ele sentia em relação a mim. Tentei me convencer que as vezes, dar um tempo, poderia ser uma coisa boa. Poderíamos amadurecer nossas ideias, e quando nos encontrássemos talvez pudéssemos voltar a ser o que éramos.

- Eu tenho que ir para casa. – Eu falei.

- Me promete uma coisa? – Concordei com a cabeça e ele continuou. – Você me espera?

- Só se você me prometer que vai me esperar também.

- Então, eu prometo. – Ele sorriu.

- Também prometo.

- Nos temos uma música. – Ele falou de repente.

- É mesmo? – Indaguei surpresa. – Qual é?

- Wonderwall do Oasis.

- Nunca escutei.

- Deveria, preste atenção na letra quando ouvir. – Harry piscou ao terminar de falar.

- Do que ela fala? 

- Quando você for ouvir, irá saber. Você tem que deixar de ser curiosa! 

- E você menos convencido. 

Não nos beijamos, se querem saber, apenas nos abraçamos. No fundo seria bom ter um tempo, quero dizer, próxima semana as aulas iriam começar e eu precisava resolver minha vida pessoal para que minha vida escolar não sofresse as consequências. Tinha que resolver meus problemas com meus pais, e - por incrivel que pareça - pedir alguns conselhos à minha mãe. Eu e Harry estaríamos juntos no final das contas. Eu sabia que estaríamos e teríamos aquele final feliz como nos filmes. Ou eu só estava tentando me agarrar a uma realidade ilusória?