Gone escrita por Labi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedicado à Doubleside. Porque ela diz que eu sou maléfica.
É obvio que isto é tudo inventado e também é óbvio que os meus conhecimentos sobre política são mínimos. Desculpem se não faz muito sentido a nível real.



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Tinha sido um jantar normal. Ou quase normal, não fosse a facilidade em demover o português a comer feijoada em detrimento do seu tão adorado bacalhau.

Como sempre, conversavam sobre assuntos sem importância e implicavam um com o outro. Nada que fosse tão fora do comum quanto isso. Eles adoravam-se provocar e sentiam um à vontade tão grande um com o outro que chegava a uma altura em que se riam das próprias tentativas de ofensa.

Depois de arrumarem a cozinha, Afonso puxou Luciano para um beijo calmo que logo foi correspondido. O brasileiro abraçou-o pela cintura e puxou-o para o seu colo, caminhando para o seu quarto e depois deitando o mais velho sobre a cama. O de olhos verdes riu e rolou para o lado, invertendo posições e fazendo algumas piadinhas desnecessárias sobre pessoas apressadas. Inclinou-se para a frente e beijou-lhe o pescoço inúmeras vezes, sem deixar marcas ou mordidas. Luciano tinha achado o comportamento do português no mínimo estranho. Eles estavam juntos há tanto tempo que há muito que as formalidades e cuidado excessivo tinham desaparecido. Não que fossem violentos! Apenas já se conheciam tão bem que sabiam perfeitamente o que cada um gostava mais, e, se diga de passagem, ambos preferiam as coisas bem mais picantes.

Quando o brasileiro notou que os movimentos e toques de Afonso eram mais suaves e calmos do que o que era normal ficou bem desconfiado mas nem comentou o assunto. O português tinha regressado da Europa naquele dia e fazia meses que não se viam... Luciano não deu importância a isso, o que ele queria realmente era estar junto de Afonso.

Sentiu que o mais velho tremia um pouco. Frio não era de certeza, já que o calor entre ambos era ardente, mas seria nervosismo?

Meio que do nada, Afonso se encostou ao ouvido dele e começou a sussurrar, quase que poema, todo o amor que sentia pelo brasileiro.

Este, tinha sido apanhado de surpresa e corou um pouco, mesmo não evitando sorrir feito idiota. Os 'amo-te' foram diminuindo com o tempo, pois como tudo, chega a um ponto que as acções falam mais que as palavras e aquele pequeno idiota conseguia sempre quebrar essa barreira. Talvez fosse a coisa que Afonso fazia melhor... Quebrar a barreira das palavras... Ou não tivesse ele uma alma poética.

O moreno abraçou-o pelo pescoço e puxou-o para um novo beijo, dando assim inicio a uma noite muito longa, tal como todas as outras. Sempre que estavam juntos o tempo esticava e sempre que estavam longe parecia que passava muito mais devagar também.


##


Na manhã seguinte, Luciano acordou e voltou-se para o outro lado da cama, esticando o braço para agarrar no seu português de forma a lhe pedir mimo. Porém, a cama estava vazia.

Suspirou e resmungou qualquer coisa. De certeza que ele tinha levantado cedo para ir buscar pão fresco para o pequeno-almoço e se fosse como o costume, tinha ficado a falar com as pessoas da padaria. Espreguiçou-se e sorriu feito idiota, sentindo que os seus lençóis tinham o cheirinho do português. Levantou-se e vestiu apenas a sua roupa interior. Só para não ouvir um discurso sobre nudismo vindo de Afonso.

Quando chegou à cozinha viu que ainda estava tudo arrumado, "Afonso?", chamou mas não obteve resposta. Olhou para o relógio e franziu o sobrolho. Já devia ter regressado...

Coçou a nuca e ligou a televisão. A repórter estava a falar sobre qualquer coisa mas nem foi isso que chamou a atenção do brasileiro. Ela estava num lugar que ele conhecia... Atirou o comando para cima do sofá e fitou atentamente o aparelho.

"Hey Afonso, está a dar uma noticia sobre a sua cas-"

A senhora estendeu o microfone para um homem, que Luciano reconheceu como sendo o chefe de Afonso e perguntou, "Quais são as medidas que Portugal irá tomar agora que a União Europeia se dissolveu?"

O brasileiro franziu o sobrolho e sentou-se lentamente. Desde quando é que a UE-

"Neste momento a nossa preocupação é tentar chegar a um acordo com o governo espanhol e esperar que aceitem o nosso território."

"O que quer dizer com isso Sr.Passos Coelho?"

O homem, que tinha umas enormes olheiras e um olhar cansado apenas suspirou, "Portugal vai deixar de existir. A bancarrota foi inevitável."

Luciano congelou no lugar, "A-Afonso? O que aconteceu?", chamou e logo se levantou, "Velho, eu sei que você está aí! Não se esconda!", desatou quase a correr pela casa, mas nem sinal do menor.

Com o coração aos saltos e os olhos a ficaram um pouco mais húmidos, o brasileiro voltou a gritar, "Não brinque comigo!"

Queria acreditar que o outro, na pior das hipóteses, tivesse regressado de urgência para Portugal. Ele teria avisado se algo estivesse errado... Não teria.

Tremulamente pegou no telefone e tentou ligar para António, mas ao segundo toque deu o sinal de interrompido.

Deixou o aparelho e cair e correu para o seu quarto, para pelo menos ter a certeza que as malas dele não estavam lá. O seu coração quase que caiu pelo peito fora ao ver que estavam.

Ele não podia ter desaparecido assim... Não podia! Sentou-se à frente da bagagem do português e então notou que havia um cravo sobre ela. Com as mãos a tremer, pegou na delicada flor e um envelope veio junto.

Quase rasgou o envelope e tirou o papel que tinha dentro. Reconheceu imediatamente a caligrafia de Afonso.



Deixou o papel cair ao chão e as suas lágrimas caíram com ele. Ficou a tremer e a fitar um ponto qualquer na parede.

Ele não podia simplesmente ter desaparecido... Mordeu o lábio com força. Porque é que ele não pediu ajuda? Como é que a Europa deixou que isto acontecesse?

Apertou a flor que tinha na sua mão. O cheiro dela era vagamente semelhante ao de Afonso.Desatou então a chorar desalmadamente. Ele devia ter dito alguma coisa... Estúpida mania de guardar os problemas para si.

Abraçou os joelhos. O que era Afonso agora? Uma memória? Saudade? Uma névoa do passado.? Abraçou-se com mais força. O que ele não daria para ser o português a abraça-lo agora. Conseguia ainda sentir as carícias lentas e os beijos suaves da noite anterior. Tinha sido tudo planeado. Quase infantilmente o queria de volta.

Como iria ter de viver uma imortalidade sem ele ao seu lado...?

O que faria da vida agora?

Olhou para a flor, como se o pobre cravo tivesse a resposta para o mais complexos dos enigmas.

“Afonso…”

As palavras poéticas do outro ainda se repetiam no seu ouvido e ele ainda sentia o leve sussurrar. Queria voltar atrás no tempo e poder lhe dizer o quando o amava...Mas… O tempo não volta atrás e agora também ia passar devagar? Até quando?


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Notas finais do capítulo

Peço desculpa pela aleatoriedade, final idiota e caligrafia horrorosa.