Chuva

We can make this last forever – so please don't stop the rain.

Quando Sasuke abriu a porta de seu apartamento quase teve que controlar a vontade de rir que se apossou dele. De todas as idiotices que poderia ter imaginado que seus amigos fariam, aquela com certeza era a pior e última delas...

Pétalas de rosa vermelha pelo chão e várias velas acesas pelo cômodo. E como se não pudesse ser nem um pouco mais clichê ou ridículo, sobre a mesa da sala de Tv filmes estúpidos como Titanic, P.S Eu Te Amo e outras melosidades encontravam-se espalhados.

Perguntava-se porque diabos eles se davam ao trabalho de tudo aquilo... Não era como se fosse lhes dar aquele prazer de ter um gostinho de vitória nos lábios e ficar ali em seu apartamento. Não mesmo.

Passou a mão pelos cabelos e analisou o relógio de pulso atentamente. Coisas forçadas costumavam sair sempre errado demais... E ele não estava com paciência suficiente para arriscar. E também já era quase oito e dez e nem sinal dela... Impontualidade. Grande erro e péssimo defeito, cujo qual o fazia amaldiçoar Kakashi praticamente todas as manhãs.

Quando seu celular tocou e o nome dela apareceu no visor já era passado de oito e vinte.

"-Pensei que tivesse dito oito horas." – murmurou sarcástico.

"-É o senhor do tempo agora, Uchiha?" – teve vontade de rir do comentário, mas resolveu relevar tal coisa. Incrível como ela parecia ter sempre uma resposta na ponta da língua para qualquer coisa que ele falasse.

"-Espere aí em baixo que estou descendo, vamos com meu carro."

"-Quem disse que estou chegando?"

"-Estou vendo seu carro da janela."

"-..." – quando ela desligou o telefone sem dar qualquer tipo de resposta ele sorriu torto. Quem sabe a noite não fosse ser assim tão horrível e acabasse se divertindo um pouco?

Quem sabe...

ooooo

"-Pensei que tivesse dito oito horas." – resmungou o garoto de cabelos escuros no exato instante em que entraram em seu carro.

"-Pensei que tivesse dito no seu apartamento." – retrucou Sakura, sorrindo de lado ao entrar no banco de passageiros e soltando um suspiro pesaroso.

Que ele a estava a levando a algum lugar era evidente, que esse lugar seria um restaurante era provável e que esse restaurante seria caro demais para que ela pudesse pagar era certeza. Tudo bem que Sasuke estava longe de parecer o tipo de homem que aceitaria ter uma mulher que ele mesmo convidou para sair pagando as próprias despesas, mas nunca se sabe... Ela poderia querer matá-lo até o final da noite e resolver ir embora antes ou simplesmente dar um tapa na cara dele e vê-lo ir embora sem ela... Eram tantas as possibilidades que implicariam no fato dela ter que pagar o restaurante e o táxi até a casa dele para pegar seu carro de novo que ela preferia ficar prevenida.

Ah, mundinho ingrato... Sempre fazendo coisas simples tornarem-se tão irritantemente complexas. E Sakura estava tão absorta em sua linha de raciocínio que quando deu por si ele já havia ligado o rádio e agora ouvia alguma espécie de música clássica erudita ou seja lá qual fosse o nome daquilo.

Torceu o nariz, fitando-o de maneira curiosa enquanto ponderava sobre o quão rude seria se ela simplesmente esticasse o braço e mudasse de rádio.

"-Nunca saiu com uma mulher antes?"

"..."

"-Sabe, quando você convida alguém pra ir jantar costuma conversar com essa pessoa. É o procedimento de praxe, entende como?"

"-Hn." – ele parou o carro e destravou as portas para que um homem as abrisse em seguida, e quando Sakura olhou para fora e avistou o restaurante teve certeza que seu cartão estouraria naquela mesma noite se algo desse errado.

Quando se sentaram à mesa e ele perguntou se podia fazer o pedido por ambos – e ela aceitou – soube também que algo realmente daria problemas. Especialmente porque logo depois uma garrafa de vinho pousou solenemente sobre a mesa, em cujo rótulo ela podia ler em letras perfeitas "Châteux Margaux". Quanto mesmo custava uma porcaria daquelas? Quase mais que seu salário, tinha certeza que havia lido algum dia em uma revista...

Sakura não era o tipo de mulher que bebia muito, mas tinha um sério problema no que dizia respeito à vinhos. Não sabia explicar direito se era falta de resistência àquele tipo de álcool em específico ou se era algum hormônio alterado pela uva, mas...

Realmente tinha um sério problema com eles, e atestou isso mais uma vez assim que o delicioso líquido atingiu seus lábios e desceu por sua garganta. Delicioso.

Depois de um tempo de análise, Sasuke percebeu que ela definitivamente gostava de vinho. Tanto que mal havia tocado na comida, mas em compensação...

"-Pensei que médicos não bebessem." – arqueou uma sobrancelha ao passo que ela levava mais um copo à boca. De soslaio observou a garrafa quase vazia, e ele mal havia acabado seu primeiro copo.

"-Até onde me consta não estou em horário de trabalho." – Ah, até bêbada ela ainda mantinha seu doce arsenal de respostas sutis. Adorável. – "-Além do mais quem pediu o vinho sem me consultar primeiro foi você. Pretendia beber sozinho, Uchiha?"

Ela era terminantemente impossível, e foi com certo desespero que ele descobriu que ela o era de uma maneira agradável e não revoltante. Bufou qualquer coisa enquanto concentrava-se em terminar seu prato para poder ir embora logo.

E foi com mais desespero ainda que constatou que uma parte dele não queria ir embora logo.

ooooo

Quando um Uchiha planejava algo – por mais simples que fosse, como um jantar – tudo era meticulosamente calculado para que as coisas saíssem exatamente como eles esperavam. E era exatamente por esse motivo que imprevistos – como ter a sua acompanhante bêbada, por exemplo – os deixavam atordoados e um tanto perdidos.

Mas ele já deveria ter esperado, certo? Aquela garota era maluca, uma inconstante, um problema ambulante que seus amigos haviam o obrigado a convidar para jantar em troca da retirada de Naruto de seu apartamento e da retirada deles próprios de dentro do seu escritório.

No fundo de sua mente traidora a palavra intrigante ressoou, fazendo-o focar os olhos na garota cambaleante grudada em seu braço. Ela era bonita de uma maneira exótica, irritante de uma maneira interessante e teimosa de uma maneira adorável.

A ajudou a sentar no banco de passageiros e deu a volta no carro, dando a partida assim que se sentou também. E não demorou muito para que ela começasse a se mexer demais, cantar alto e tentar apertar todos os botões do painel.

Não demorou muito também para ela achar o do teto solar e abrí-lo completamente, colocando a cabeça para fora e começando a assobiar uma música sem ritmo nenhum. Mas não era isso o mais estarrecedor...

"-Você assobia."

Mulheres não assobiavam. Pelo menos não no seu conceito de mulheres civilizadas... E não daquele jeito. Quando assobiavam era baixinho, e não como se estivessem em um estádio de futebol cercada por macacos.

Ela parou e voltou-se para ele com uma sobrancelha arqueada.

"-Você não?"

"-..." – de todas as hipóteses de respostas esperadas aquela não estava entre elas.

"-Você não sabe assobiar!"

"-Claro que sei."

"-Ah, é mesmo? Então assobie pra mim o hino dos Estados Unidos, campeão." – cruzou os braços, desafiadora.

"-Sente no banco."

"-Deixe de ser chato e pare de mudar o assunto!"

"-Eu mandei você sentar direito!" – puxou-a para baixo com um pouco mais de força do que havia planejado inicialmente, e talvez aquela não tivesse sido uma boa idéia ou um bom método de ação... Porque ela perdeu o equilíbrio e caiu praticamente sobre ele, o obrigando a frear novamente mesmo o sinal tendo acabado de abrir.

Estava prestes a xingá-la quando olhou para baixo e deparou-se com olhos verdes bem abertos, o fitando de maneira curiosa e... carinhosa? Não soube exatamente o porque de ter perdido completamente a fala que estava na ponta de sua língua.

"-...Sasuke?"

"-Que é agora?"

"-...Posso..." – ela ergueu o indicador delicadamente até os lábios dele e contornou-os lentamente, mordendo os seus próprios de maneira inconsciente. – "Posso te dar um beijo?"

Se estivesse sã provavelmente teria se dado conta da besteira que havia acabado de dizer... Mas como não estava na sua mais perfeita consciência simplesmente não se importou. Ele era lindo, não havia maneira de negar, e algo a dizia que havia muito mais por trás daquele cara mal humorado de sempre. Se tinha que pagar pra descobrir, aí estava.

Sorriu sem graça ao notar que ele ainda a fitava de maneira curiosa, e desviou o olhar por dessa vez não ser capaz de sustentá-lo. Como era estúpida...

"-Sakura." – arregalou os olhos quando sentiu a mão quente dele tocando seu queixo e a forçando a encará-lo. E foi assim que ficaram por instantes que pareceram uma eternidade para ela, até que ele fechou os olhos escuros e quebrou o restante da distância que ainda havia entre eles.

Não existia nenhuma descrição boa o suficiente para explicar a sensação que invadiu o corpo dela. Era uma mistura de satisfação e desejo que ela havia esquecido há muito tempo atrás e que jurou nunca mais se deixar sentir.

Logo por um estranho... Na verdade um quase estranho. Podia estar decepcionada consigo mesma, mas a maciez dos lábios dele contra os seus e as mordiscadas delicadas que ele lhe dava vez ou outra a faziam perder totalmente a razão.

Ergueu as mãos para os ombros dele, não hesitando em passar uma delas para a nuca e puxar com cuidado os cabelos pretos para baixo enquanto descia os beijos pelo pescoço.

Se parasse agora não saberia o que dizer ou fazer... E também não queria parar.

Quando separou-se dele por falta de ar não ousou abrir os olhos.